Planeta dos Macacos A Origem

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Planeta dos Macacos: A Origem | Crítica

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Aproximadamente três décadas antes de uma pavorosa reinvenção dirigida por Tim Burton, a franquia Planeta dos Macacos se abriu com um clássico da Sétima Arte e rendeu outros quatro exemplares que, ainda que uns tenham sido melhores do que outros, consolidaram uma pentalogia que despertava boas discussões sobre intolerância, brutalidade, irracionalidade e/ou a humanidade presente onde era menos esperado. E eis que, quase quarenta anos após o encerramento da saga original, é uma surpresa gratificante constatar que a atual indústria cinematográfica hollywoodiana ainda é capaz de produzir um material igualmente intrigante; e se o desastroso longa de 2001 fracassava monumentalmente ao eliminar qualquer riqueza temática em prol de um entretenimento vazio e superficial, este Planeta dos Macacos: A Origem segue a vertente contrária e se concentra mais na narrativa do que na ação desenfreada.

Roteirizado e produzido pelo casal Rick Jaffa e Amanda Silver, o filme se passa milhares de anos antes do cenário visto no longa de 1968 (mesmo sem ser um prequel, vale lembrar) e nos traz ao cientista Will Rodman, que luta para descobrir a cura para o Alzheimer que vem devastando seu pai. Com isso, testes com compostos são realizados em chimpanzés e, quando uma tentativa finalmente dá certo numa primata grávida assassinada após um ataque protetivo, nasce o símio Caesar, que demonstra notável inteligência conforme o passar dos anos. Um dia, entretanto, o chimpanzé agride violentamente um ser humano na tentativa de garantir a segurança do pai de Will e é mandado para um abrigo de primatas, onde é maltratado por seus novos donos. Revoltado com a selvageria humana, Caesar usa seu intelecto avançado para aplicar o material que originou sua inteligência em outros macacos e liderar uma revolução primata.

Graças à habilidade por parte dos roteiristas, A Origem é cauteloso ao estabelecer um equilíbrio ideal entre a tentativa de servir como um início à uma nova cinessérie e a possibilidade de ser um prelúdio do clássico que lançou a franquia nos cinemas. Ao que tudo indica, a primeira alternativa parece ser a mais convincente, especialmente quando consideramos as diferenças entre a origem de Caesar neste filme e o que vimos ao longo dos três últimos exemplares daquela cinessérie. Mas ainda assim, é de se admirar que ainda seja encontrado um espaço considerável para firmar fortes correlações e rimas narrativas entre esta produção e os cinco filmes originais, como o potencial ofensivo que o termo “macaco” pode exercer sobre primatas e o fato da primeira palavra dita pelo líder dos símios ser um lendário “não”.

Ainda que, por fins narrativos, seja incapaz de ser tão denso e conceitualmente instigante quanto a pentalogia original, este reboot/prequel coloca o desenvolvimento dos personagens e a consolidação daquele universo num grau de relevância superior ao da ação, e graças aos esforços do roteiro e do diretor Rupert Wyatt, o longa se torna uma obra absolutamente interessante graças a Caesar e à sua trama facilmente atraente. Como complemento, esta nova versão ainda merece aplausos por arriscar seu potencial em prol de uma coerência minimamente necessária para que o visto em tela não se torne excessivamente fantasioso ou questionável: é notável que Planeta dos Macacos: A Origem parece refilmagem de A Conquista do Planeta dos Macacos (que trazia Caesar liderando uma revolução contra a crueldade humana), mas se lá a escravidão símia servia como um reflexo interessante do racismo e justificava de forma insatisfatória o desprezo dos humanos pelos macacos, aqui não há uma manifestação simbólica tão eficiente quanto aquela justamente para que possamos aceitar suficientemente as ações realizadas pelos primatas enquanto a riqueza temática é prometida para o futuro da franquia, o que faz com que não haja um prejuízo narrativo sintomático.

Mas isso não seria admirável o suficiente se não fosse a presença de Caesar, um personagem cujas facetas são reproduzidas com excelência por Andy Serkis, que empresta todos os seus movimentos ao chimpanzé. O talento e determinação do ator (sim, ator!) merecem prêmios, e apesar das múltiplas camadas de computação gráfica por cima de sua face, Serkis exibe expressões faciais que indicam perfeitamente cada emoção do personagem e não deve nada à boa performance de Roddy McDowall nos dois últimos filmes da cinessérie clássica. Como se não bastasse, a qualidade técnica da película é igualmente louvável e, com isso, os símios vistos em tela contam com uma aparência fantasticamente realista, com pelos e texturas que tornam os primatas extremamente convincentes junto à movimentação fluída dos mesmos – e percebam como este cuidado influencia na própria concepção do “estado de espírito” dos macacos, quando estes deixam de andar sob quatro patas e, à medida que se tornam mais livres, fazem uso somente das pernas.

Infelizmente, os equívocos existem, e por mais que o diretor seja competente ao compor quadros simbólicos, planos belíssimos (como aquele que acompanha alguns primatas indo para baixo da ponte Golden Gate) e um terceiro ato verdadeiramente eletrizante tanto no aspecto técnico quanto no conceitual, sua experiência pouco numerosa no Cinema (este é o segundo filme que dirige – o anterior foi The Escapist, de 2008) implica em movimentos de câmera que aparentam ter sido idealizados para uma produção televisiva. E se a insuportável trilha incidental de Patrick Doyle comenta excessivamente cada passagem da narrativa, o roteiro faz dos seres humanos o grande ponto negativo do longa, o que se deve aos diálogos tediosos, rasos e óbvios que ainda são conferidos a personagens que ganham um tempo de tela maior que necessário – e por mais que o trabalho de James Franco seja eficiente, a primatologista vivida por Freida Pinto é desinteressante e inexpressiva demais para fazer com que valorizemos sua relação amorosa (rasa) com Will.

Com uma ótima montagem que, além de manter uma coerência lógica do ponto de vista cronológico e saber transitar maravilhosamente entre uma sequência e outra, ainda confere um ritmo correto à narrativa, este reboot é um blockbuster raro e que prova como ainda há salvação no Cinema hollywoodiano de hoje. Quando consideramos que Planeta dos Macacos: A Origem foi uma grata e inesperada revelação no mesmo ano do surpreendente X-Men: Primeira Classe, percebemos que a Fox realmente se empenhou para melhorar sua reputação e ainda irá além não apenas com efeitos visuais ou ação explosiva, mas com um estofo temático amplamente rico.

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