Divertida Mente 2 (3) (1)

Título Original

Inside Out 2

Lançamento

20 de junho de 2024

Direção

Kelsey Mann

Roteiro

Meg LeFauve e Dave Holstein

Elenco

Amy Poehler, Phyllis Smith, Maya Hawke, Kensington Tallman, Liza Lapira, Tony Hale, Lewis Black, Ayo Edebiri, Lilimar, Grace Lu, Sumayyah Nuriddin-Green, Adèle Exarchopoulos, Diane Lane, Kyle MacLachlan, Paul Walter Hauser, Yvette Nicole Brown, Ron Funches, Yong Yea, James Austin Johnson, Steve Purcell, Dave Goelz, Kirk Thatcher, Frank Oz, Paula Pell, June Squibb, Pete Docter, Paula Poundstone, John Ratzenberger, Sarayu Blue, Flea, Bobby Moynihan e Kendall Coyne Schofield

Duração

96 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Mark Nielsen

Distribuidor

Disney

Sinopse

Com um salto temporal, Riley se encontra mais velha, passando pela tão temida adolescência. Junto com o amadurecimento, a sala de controle também está passando por uma adaptação para dar lugar a algo totalmente inesperado: novas emoções. As já conhecidas, Alegria, Raiva, Medo, Nojinho e Tristeza não têm certeza de como se sentir quando novos inquilinos chegam ao local.

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Divertida Mente 2 | Crítica

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Ninguém esperava que Divertida Mente seria o que foi. Quando aquele filme chegou aos cinemas, a Pixar vinha passando por uma crise criativa tão evidente que nem o maior fã dos trabalhos do estúdio poderia negar – e foi neste período que começaram a surgir tropeços inexplicáveis como Carros 2, até hoje o pior de todos os longas produzidos pela empresa (Valente Universidade Monstros são bacaninhas, mas nem de longe remetem à grandeza das várias obras-primas que vieram antes). Com isso, aquela produção surgiu como uma grata surpresa, reacendendo a chama do estúdio ao revelar-se o trabalho tematicamente mais ambicioso da Pixar (ao lado de Wall-E, é claro) – e poucos filmes me fizeram chorar tanto quanto os cinco minutos finais daquela obra, rivalizando, neste sentido, com o inesquecível desfecho de Toy Story 3. E é um alívio perceber que, passados nove anos desde aquele longa, este Divertida Mente 2 se revela uma continuação bastante digna, levando a imaginação e as discussões propostas pelo original a caminhos novos e eficientes.

Marcando a estreia de Kelsey Mann na direção de longas, Divertida Mente 2 já começa tomando uma decisão eficaz ao escolher se situar um tempinho após os eventos do primeiro filme: se antes Riley tinha 11 anos e enfrentava o drama de mudar de cidade e entrar numa nova escola, agora é uma adolescente de 13 que está prestes a entrar no ensino médio e que busca se enturmar com as alunas mais populares da classe. Ou seja: a mentalidade e a forma de agir/reagir da menina obviamente passam por uma drástica transformação, também conhecida como “puberdade”. Assim, os comandos dos sentimentos de Riley (numa sacada brilhante do roteiro) tornam-se excessivos, como se qualquer toque de Alegria, Tristeza, Raiva, Nojinho e Medo na mesa de controle desencadeasse a variação mais extrapolada possível de cada reação – e é esta dificuldade que as velhas emoções têm em lidar com a nova fase da garota que exige a chegada de novos membros para manejá-la melhor: a Inveja, o Tédio, a Vergonha e, claro, a Ansiedade (tem também a Nostalgia, mas ela fica quietinha no canto dela). O que as cinco integrantes originais não esperavam, porém, era que a Ansiedade conspirasse para expulsá-las da sala de controle e atirá-las nos confins da mente de Riley, manipulando-a sozinha – e é claro que o trabalho feito pela Ansiedade resulta num desastre que só piora a vida da menina, obrigando as emoções já conhecidas a correrem para voltar ao centro operacional.

Novamente criando um mundo que impressiona em sua imaginação e na riqueza de suas ideias, esta continuação é, como seu antecessor, um espetáculo visual que se mostra sempre inventivo na maneira com que “materializa” conceitos abstratos e/ou puramente psicológicos, introduzindo criações inéditas que revelam nuances novas sobre a mente de Riley (afinal, esta cresceu e, portanto, o espaço para novidades só aflorou). Umas são mais literais, como a “chuva de ideias”/“brainstorm” que surge em dado momento e que envolve de fato uma tempestade de lâmpadas caindo do céu (e que representam ideias em potencial); outras são mais elaboradas, como a ilhazinha que reúne as várias convicções/certezas da garota (que compõem sua persona, seu jeito de ser) suspensas por cabos iluminados, criando um ambiente que parece Pandora à noite. Mas a sacada mais divertida talvez seja a de retratar as fofocas que chegam para Riley através de… jornais, equiparando fofoqueiros a jornalistas (nada mais apropriado, não?).

Mas a maior novidade desta sequência, no entanto, reside na figura da Ansiedade, que é tratada pelo filme com densidade e maturidade dignas de aplausos. O curioso é que, ao contrário da abordagem conferida à Tristeza no longa anterior (que jamais era retratada como vilã), a Ansiedade é claramente posicionada como a real antagonista da trama, como um problema a ser detido/contido pelas protagonistas. Isso, contudo, não é uma escolha ruim (ou maniqueísta demais), já que faz todo o sentido: diferente da Tristeza, que é uma emoção básica que está presente desde o princípio, a Ansiedade é algo que vem do nada e começa a passar por cima de tudo – aparentemente, com um propósito que, se não é bom, ao menos é compreensível e bem-intencionado: ajudar a antecipar situações ruins que podem acontecer a Riley a fim de preservá-la delas (e, neste aspecto, é ótimo que o filme consiga posicionar a Ansiedade como antagonista sem transformá-la em vilã ou numa figura má, deixando claro que, no fim das contas, ela legitimamente deseja o melhor para Riley).

O problema – e, se você ainda não assistiu ao filme, talvez seja uma boa pular para o próximo parágrafo – é que a Ansiedade (sentimento e personagem) nunca tem soluções concretas para as projeções terríveis que levanta – e, com isso, é natural que ela termine por quebrar ainda mais Riley, criando convicções novas e distorcidas que servem apenas para destruir o pouco de autoconfiança que restava da menina. Assim, a melhor decisão que o longa poderia tomar é a de lembrar que a Ansiedade nada mais é que um acúmulo de más suposições (“e se…?”), sendo particularmente fabuloso que, em dado momento, a Alegria tente combatê-la gritando hipóteses de coisas boas que podem acontecer a Riley – e este empilhamento de receios vai crescendo e acelerando até alcançar um clímax digno dos melhores momentos da Pixar.

Com um ritmo que equilibra bem os aspectos cômicos e dramáticos da história (desta vez dando mais espaço ao bom humor e criando momentos genuinamente engraçados a partir das naturezas e personalidades dos personagens, como, por exemplo, aquele em que certo personagem saído de um videogame tenta caminhar por um cenário e acaba soando “travado” em função de seus lags/bugs), Divertida Mente 2 mantém a narrativa sempre movimentada e inspirada em cada novidade que apresenta, mesmo que, aqui e ali, o desenvolvimento da trama em si careça de frescor – e o roteiro de Meg LeFauve e Dave Holstein não tem muita parcimônia em reaproveitar alguns elementos do original, como a jornada das “emoções tendo que correr contra o tempo para voltar à sala de controle” e até um “personagem fofinho esquecido nos fundos da mente de Riley” (que, inclusive, resgata as emoções num momento muito similar àquele em que Bing Bong ajudava a Alegria a escapar de um desfiladeiro). Dito isso, sempre que o longa parece familiar demais, logo surge na tela um conceito absolutamente contagiante em sua criatividade.

Interessante ao ilustrar o amadurecimento das personagens (a Alegria e a Tristeza, em especial, já se encontram em perfeita sintonia desde o início, já que a relação turbulenta entre elas foi resolvida ao fim do primeiro filme) e ao encontrar elos coesos nas interações entre as velhas e novas emoções (faz todo o sentido, por exemplo, que a Tristeza crie intimidade mais rapidamente com a Vergonha), Divertida Mente 2 é uma continuação que expande o universo do original à medida que melhor compreende seus personagens e os sentimentos destes. Não é uma obra-prima como o longa de 2015, é verdade, mas… e daí? Nem precisava ser.

Obs.: assisti ao filme dublado, já que a cabine assim o foi. O hábito da tradução de incluir o tempo todo referências a memes e gírias do momento não poderia ser mais irritante. Uma vez ou outra, ok, até vai – e o Tédio dizer que algo é “muito cringe” até faz sentido de acordo com a personalidade do personagem, mesmo que o hype da discussão entre “boomers”, “millenials” e “geração Z” (que tomou a Internet por um tempo) já tenha passado há uns dois/três anos. De modo geral, porém, a dublagem abusa do vocabulário “interneteiro” a ponto de torná-lo insuportável, como um recurso que distrai ao chamar atenção para si em vez de ajudar a colorir o quadro geral. E o cúmulo é quando a Raiva usa a expressão “arrasta para cima” num momento que nada tem a ver e que soa forçada por simplesmente não parecer algo que aquele indivíduo, com seu jeitão particular, tenderia a diria. #xateado

Assista também ao vídeo que gravei sobre o filme:

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