Wicked capa

Título Original

Wicked: Part I

Lançamento

21 de novembro de 2024

Direção

Jon M. Chu

Roteiro

Winnie Holzman e Dana Fox

Elenco

Cynthia Erivo, Ariana Grande, Michelle Yeoh, Jeff Goldblum,Jonathan Bailey, Ethan Slate,r Bowen Yang, Marissa Bode e a voz de Peter Dinklage

Duração

160 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Marc Platt e David Stone

Distribuidor

Universal Pictures

Sinopse

Na Terra de Oz, uma jovem chamada Elphaba forma uma improvável amizade com uma estudante popular chamada Glinda. Após um encontro com o Mágico de Oz, o relacionamento delas logo chega a uma encruzilhada.

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Wicked | Crítica

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Quando o escritor L. Frank Baum e o ilustrador W.W. Denslow publicaram O Maravilhoso Mágico de Oz, em 1900, certamente não imaginavam estar criando uma trama que ressoaria por mais de um século e que inspiraria artistas de todos os tipos e em todas as mídias, desde quadrinhos até séries de tevê, passando por games, peças teatrais e, é claro, uma penca de adaptações para o Cinema. Sidney Lumet se aventurou no universo de Oz ao dirigir uma versão em 1978 (estrelada por ninguém menos que Diana Ross e Michael Jackson) e, mais recentemente, Sam Raimi percorreu a estrada de tijolos dourados num spin-off centrado em James Franco e Mila Kunis. Mas, verdade seja dita, nenhum destes esforços chegou perto da magnitude do clássico de 1939, comandado por Victor Fleming e protagonizado por Judy Garland – um filme até hoje encantador, que aproveita com inteligência os avanços da linguagem cinematográfica (como, por exemplo, a transição do preto-e-branco para o colorido) e que salta bem entre o macabro e o ingênuo para construir uma lição de moral mais poderosa do que poderíamos supor.

O que nos traz a Wicked, um prelúdio que narra a origem de Elphaba, anos antes de tornar-se a Bruxa Má do Oeste, e a amizade que não sabíamos que ela tivera com Glinda, a Bruxa Boa do Sul. Baseado no musical homônimo que Stephen Schwartz e Winnie Holzman idealizaram para a Broadway em 2003 (e cujo sucesso foi estrondoso a ponto de quebrar recordes e até hoje permanecer em cartaz por lá), este longa dirigido por Jon M. Chu representa apenas a primeira metade de um projeto que promete se concluir daqui a um ano, quando a Parte 2 terminar de adaptar o ato final da peça original. No mínimo, uma demonstração inequívoca da confiança da Universal acerca do interesse do público por esta produção – uma confiança que, ao menos por enquanto, se mostra bem-sucedida, já que Wicked: Parte 1 é, por si só, um filme competente que, mesmo com problemas aqui e ali, me surpreendeu ao revelar detalhes sobre o passado das personagens de Oz que eu sinceramente não esperava que valessem a pena descobrir.

Aliás, o primeiro aspecto que salta aos olhos em Wicked é, também, o maior trunfo do projeto: as duas personagens centrais da narrativa, já que as atrizes que as interpretam não só são mais do que qualificadas para uma obra deste gênero específico (ambas são cantoras já reconhecidas pelo talento que têm), como ainda executam bem todo o resto. Eficaz ao retratar tanto a vulnerabilidade quanto a força da protagonista, Cynthia Erivo revela uma potência impressionante ao transmitir, pela expressão sofrida e pela intensidade do olhar, as dores internas de Elphaba por se sentir um peixe fora d’água (afinal, o tom verde de sua pele a torna alvo de bullying na escola). O que é interessante, contudo, é que este drama da personagem não elimina o bom humor presente na composição de Erivo, que é hábil, também, ao ilustrar a empolgação que surge conforme Elphaba se descobre/aceita e até mesmo uma irreverência pontual, quando reage a alguma bobagem de Glinda com um ar meio superior, de cima para baixo. Para completar, quando é preciso que se projete imponência, o vozeirão da atriz mostra-se hábil o bastante para cumprir sozinho com a tarefa.

Dito isso, foi a performance de Ariana Grande que me pegou de surpresa. Não que eu duvidasse das capacidades interpretativas da atriz/cantora/“diva pop”; apenas não tinha familiaridade com sua carreira pregressa. Aqui, porém, ela não só demonstra um timing cômico perfeito (sabendo bem qual entonação empregar para tornar uma fala mais espontânea, ou qual expressão adotar que vá soar mais inusitada), como também exibe uma presença forte a ponto de quase roubar todas as cenas para si – e, se isso não ocorre, é porque há, ao mesmo tempo, um importante cuidado para não permitir que ela se sobressaia em relação a Cynthia Erivo, alcançando um equilíbrio que leva as duas a se destacarem sem que uma roube o espaço da outra. Da mesma forma, Grande é bem-sucedida ao aproveitar-se de uma persona meio artificial, que costumamos esperar de certos ícones do mundo pop, para compor Glinda como uma jovem que diverte justamente em função disso, como se enxergasse o mundo como se feito de plástico. Além disso, quando chega a hora de Glinda virar a chave e passar a manifestar uma empatia súbita por Elphaba, a atriz costura esta transição sem fazê-la parecer uma conveniência de roteiro, soando, em vez disso, como resultado de ingenuidade e inconsequência sinceras.

Trazendo Michelle Yeoh e Jeff Goldblum em interpretações eficazes (saltando com cuidado da confiança que seus respectivos papeis transmitem no início para a desconfiança que passam a inspirar mais tarde), Wicked faz jus às boas canções de que dispõe ao construir os números musicais com dinamismo e vivacidade. Os figurinos de Paul Tazewell e a direção de arte de Nathan Crowley, por sinal, representam um dos maiores prazeres do longa, criando um mundo que soa tangível em cada peça de roupa ou objeto de cena (desde a armação dos óculos de Elphaba, num formato que parece um oito, até as roupas de Glinda, que são volumosas ao ponto do exagero). Não menos curioso é perceber como os cenários refletem as personalidades de seus ocupantes, transformando o quarto das duas bruxas praticamente em uma casa da Barbie, o andar do Mágico de Oz em uma versão fabulesca de um escritório de CEO de empresa e a sala do professor Dillamond em um lugar escuro e abandonado no qual quase podemos sentir um cheiro de mofo. Com isso, a sensação que se tem é a de que há, de fato, uma sociedade (de humanos e animais) funcionando ali – e o fato de vários daqueles cenários e objetos serem práticos, filmados em um set real, ajuda a conferir “peso” àqueles ambientes, criando uma fusão eficiente com as criações digitais.

O problema, no entanto, é que Jon M. Chu nunca foi um cineasta com um senso estético particularmente apurado ou inventivo – e, infelizmente, isso se reflete bastante na fotografia de Alice Brooks, que é problemática a ponto de sabotar (ao menos, em algum grau) o ótimo trabalho que havia na direção de arte e nos figurinos ao remover boa parte de suas cores, chapando-as, enfraquecendo seu contraste e sua intensidade e deixando-as… lavadas, chapadas. Por consequência, várias sequências de diálogos (que não envolvem cantoria diretamente) aparentam não ter vida ou energia – algo que só piora quando nos deparamos com vários planos nos quais a luz surge estourada (e não por um motivo estilístico; apenas por puro descuido) e com tantos outros momentos em que a fotografia elimina a noção de profundidade e perspectiva nos fundos atrás das atrizes em primeiro plano.

Mas o que mais enfraquece Wicked, no fim das contas, é o seu ritmo extremamente truncado: se empenhando em prolongar ao máximo possível uma premissa essencialmente simples a fim de justificar sua divisão em duas partes (cada uma com duas horas e quarenta, o que já era, em retrospecto, quase a duração total da peça original), o filme parece acreditar que uma metragem tão longa é necessariamente um sinal de ambição artística – e não é. Assim, Chu, as roteiristas Winnie Holzman e Dana Fox e o montador Myron Kerstein se estendem desnecessariamente em situações que nem são das mais elaboradas, mas que, esticadas até a exaustão, acabam drenando o impacto de uma história que pedia mais agilidade. Por último, é meio frustrante perceber como estas “obras sobre vilões/vilãs” sempre preferem percorrer o caminho mais fácil ao explorarem as imperfeições de suas personagens, preferindo apenas suavizá-las (e jogar o outro lado na escuridão) em vez de sujar as mãos e realmente assumir que giram em torno de indivíduos moralmente comprometidos.

Com um subtexto para o fascismo (com a perseguição dos humanos contra os animais, que se tornam uma minoria na sociedade em que convivem) que me parece que só será aprofundado de fato no próximo filme, Wicked é uma obra que, embora imperfeita, enriquece a obra original de O Mágico de Oz em vez de enfraquecê-la com detalhes em excesso. E é por isso que, mesmo reconhecendo os eventuais problemas desta produção, encontro-me curioso desde já para conferir a metade final de sua história, daqui a um ano.

Assista também ao vídeo que gravei sobre o filme:

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