Friends 25 Anos

Há exatos 25 anos, Friends estreava na TV norte-americana

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Em 22 de setembro de 1994, Cheers já havia terminado há mais de um ano e Seinfeld já era o grande hit da TV norte-americana quando a NBC (responsável por estes dois programas) resolveu apostar em uma nova sitcomFriends. Na época, os roteiristas David Crane e Marta Kauffman tinham acabado de amargar o cancelamento de uma série que criaram para a CBS (Family Album) quando souberam que Warren Littlefield, o presidente da NBC, estava em busca de um programa que girasse em torno de um grupo de… amigos. Assim, Crane e Kauffman começaram a escrever uma nova sitcom ainda em novembro de 1993, sob o título de Insomnia Cafe – que, mais tarde, virou Friends Like Us. Que, mais tarde, virou Friends. As expectativas eram otimistas, mas ninguém sabia ao certo qual seria o alcance da série; a única coisa que todos queriam era que ela desse certo de alguma forma.

Eis que 25 anos se passaram e ainda estamos falando sobre Friends.

Como todos sabem, a série se passava em Manhattan e acompanhava um grupo de seis amigos: Rachel Green (Jennifer Aniston), Phoebe Buffay (Lisa Kudrow), Chandler Bing (Matthew Perry), Joey Tribbiani (Matt LeBlanc) e os irmãos Ross (David Schwimmer) e Monica Geller (Courteney Cox). Ao longo dos dez anos de Friends, nos deparamos com diversos elementos que se tornaram icônicos: a cafeteria Central Perk serviu de palco para vários momentos memoráveis e chegou a virar uma franquia de verdade, com uma penca de filiais espalhadas pelo mundo (um dia, ainda visitarei uma delas e tirarei uma foto sentado naquele sofá!); a inconfundível música-tema que Danny Wilde e Phil Solem criaram exclusivamente para a série, “I’ll Be There For You”, ainda hoje é tocada em festas, aniversários e eventos de todos os tipos (eu mesmo fui a uma boate há cerca de dois meses e fiquei surpreso quando botaram esta música para tocar na playlist, levando o público inteiro a cantar o tema da série inteiro); e o famoso chafariz que aparecia na abertura se fez presente ao longo de todas as dez temporadas.

Ainda assim, um dos grandes méritos de Friends estava na sua capacidade de refletir na tela um monte de pequenos acontecimentos que também eram (e ainda são) comuns na vida dos telespectadores, fazendo com que nos identificássemos com as situações retratadas na tela. Aliás, quando revejo um episódio hoje em dia, me pego constantemente dizendo algo como “Caramba, isso é muito a gente (meu grupo de amigos)!” – e isto se deve não só à narrativa dos episódios, mas também às ações dos personagens: quando Ross, Chandler e Joey conclamam “Hora de morfar!“, como se fossem três crianças brincando de Power Rangers, isto automaticamente me remete a alguma babaquice que eu tenha feito junto a outros dois ou três amigos, por exemplo. Além disso, é fácil se identificar com o momento de vida atravessado pelos personagens, que, embora tenham chegado à idade adulta, ainda sentem-se inexperientes e obrigados a tomar várias decisões que podem determinar seus futuros (principalmente nas últimas temporadas).

Muito disso vem do fato de a série levar os dramas dos personagens a sério: diferente de Seinfeld, que seguia a filosofia particular do “sem abraços, sem aprendizado” e que girava em torno de quatro pessoas sem caráter algum (o que funcionava perfeitamente dentro da proposta daquela sitcom), Friends aspirava à solenidade em diversos momentos-chave e mergulhava em melancolia com uma frequência inesperada, surpreendendo o espectador ao fazê-lo se importar, por exemplo, com a dinâmica entre Rachel e Ross (não à toa, o instante em que eles finalmente se beijam pela primeira vez foi também um dos mais emocionantes, ao passo que o término do namoro dos dois trouxe o peso dramático que uma situação como esta exigia). O roteiro, por sinal, apresentava algumas sacadas bem inteligentes, sendo a minha favorita aquela que liga o fim da quarta temporada ao início da quinta, quando Ross, prestes a casar com Emily, sem querer diz “I love you, Rachel” no altar – e, no meio disso tudo, ainda somos pegos de surpresa ao descobrirmos que Chandler e Monica formariam um casal, o que funcionou maravilhosamente bem.

O que nos traz justamente àquilo que fez tantas pessoas se apaixonarem por Friends: os seis amigos. Jovens adultos de personalidades complementares, Rachel, Ross, Monica, Chandler, Phoebe e Joey formavam um grupo de indivíduos que realmente se importavam uns com os outros, mesmo quando se submetiam a competições tolas e a discussões acaloradas. Mas o mais interessante, no entanto, era acompanhar a evolução dos personagens: Rachel foi de “patricinha mimada” a “adulta que lutava para subir na vida”; Ross deixou de ser um bonachão desajeitado para se tornar um cara bem mais extrovertido (ainda que inseguro); Chandler foi expondo cada vez mais detalhes inesperados a respeito de sua persona; Monica tentava se afastar da imagem que as pessoas tinham dela na adolescência, o que se refletia nas suas paranoias do presente; Phoebe sempre foi a mais… digamos, excêntrica do grupo, mas também nos fazia compadecer com as dificuldades que enfrentou na infância; e Joey fazia rir em todos os “How you doin’?” que saiam de sua boca, revelando-se cada vez mais absurdo à medida que a série avançava.

Não que Friends não tivesse seus problemas: sempre foi difícil entender, por exemplo, como alguns personagens conseguiam morar nos apartamentos em que moravam mesmo tendo empregos que dificilmente garantiriam uma renda que bancasse por aquelas condições de vida (especialmente se lembrarmos que eles todos moravam em coberturas no centro de Manhattan). Além disso, a série se prolongou mais do que precisava, sendo notável como os executivos da NBC fizeram de tudo para não terminá-la e custaram a encontrar algo que ainda justificasse dez temporadas – neste sentido, a tentativa de tensão sexual entre Rachel e Joey soou particularmente problemática, ao passo que as idas e vindas entre Rachel e Ross já haviam perdido boa parte de seu impacto quando a narrativa chegou ao fim.

(Aqui cabe uma observação: de uns tempos para cá, a Internet passou a acusar Friends de homofobia, misoginia, gordofobia e elitismo. Sim, a série trazia várias piadinhas que se enquadravam nestas categorias – não foram uma ou duas; foram várias. O que também não podemos esquecer é que, naquela época, estas piadinhas não eram vistas com maus olhos; se fossem feitas hoje, no entanto, seriam devidamente condenadas. E que bom que seriam, pois isto é um indício de como amadurecemos e repensamos nossas atitudes desde então! Dito isso, acho injusto querer condenar ou “cancelar” Friends com base nos padrões de 2019. Basta assistir à série, reconhecer que certas gags não podem ser reproduzidas hoje e, principalmente, seguir evoluindo nossa percepção de mundo. Simples assim.)

De todo modo, quando o episódio final foi exibido em 6 de maio de 2004 e bateu recordes de audiência, os telespectadores se comoveram com a resolução dos arcos dos personagens, reconheceram como aquele momento (de todos colocando as chaves do apartamento sobre a mesa) era especial e guardaram a memória da série com tanta saudade que ainda hoje vivem especulando um reunion de Rachel, Ross, Monica, Chandler, Phoebe e Joey.

E se Friends conseguiu isso, é porque definitivamente acertou em alguma coisa.

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