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Título Original

Turma da Mônica: Laços

Lançamento

27 de junho de 2019

Direção

Daniel Rezende

Roteiro

Thiago Dottori

Elenco

Kevin Vechiatto, Giulia Benite, Gabriel Moreira, Laura Rauseo, Rodrigo Santoro, Fafá Rennó, Paulo Vilhena, Mônica Iozzi, Luiz Pacini, Ana Carolina Godoy, Beto Schultz, Angélica Paula, Adriano Paixão, Adriano Bolshi, Cauã Martins, Sofia Munhoz, Gabriel Blotto

Duração

97 minutos

Gênero

Nacionalidade

Brasil

Produção

Jonas Rivera e Mark Nielsen

Distribuidor

Downtown Filmes

Sinopse

O Floquinho desaparece. Para encontrar seu cachorro de estimação, Cebolinha conta com os amigos Cascão, Mônica e Magali e, claro, um plano infalível.

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Turma da Mônica: Laços | Crítica

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É praticamente impossível viver no Brasil e não estar familiarizado com os personagens criados por Mauricio de Sousa. Não adianta: as revistinhas da Turma da Mônica estão presentes em escolas, em recepções de médicos, em salões de cabeleireiros e em milhares de outros lugares que inevitavelmente despertam a curiosidade de um possível leitor – isto porque nem levei em conta as várias animações já produzidas em torno de Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali, Bidu, Floquinho, Chico Bento, Papa-Capim, Penadinho, Horácio, o Astronauta, etc. Aliás, não acho exagero dizer que a obra de Mauricio de Sousa talvez seja um dos maiores patrimônios da cultura brasileira nos últimos sessenta anos – algo que nem o próprio cartunista deve ter imaginado quando criou estes personagens.

Isto, porém, dificulta ainda mais a tarefa de adaptar as histórias da Turma da Mônica para o live-actionjá que, como comentei ao discutir o recente Aladdin, o desenho animado permite que seus realizadores concebam os personagens como verdadeiras caricaturas, não sentindo a necessidade de representar a forma de um ser humano com exatidão e realismo – e isto, querendo ou não, é algo que se perde quando os tais desenhos são substituídos por atores em carne-e-osso, já que estes são realistas por natureza. Se somarmos isto ao fato de todos os brasileiros estarem tão habituados a enxergar Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão a partir das ilustrações marcantes de Mauricio de Sousa, a missão de transformá-los em live-action torna-se quase impossível.

Felizmente, a produção de Turma da Mônica: Laços foi inteligente o bastante para reconhecer que, para a empreitada ser bem-sucedida, a direção tinha que ser destinada a alguém capaz de dar conta do recado – e, neste caso, a escalação de Daniel Rezende (Bingo: O Rei das Manhãs) pode parecer inusitada, porém revela-se um acerto imenso: respeitando a personalidade de cada um dos integrantes da “turma” em si, o cineasta consegue adaptar para o Cinema a lógica cartunesca do universo criado por Mauricio de Sousa sem deixar de levá-lo a sério, o que é uma proeza e tanto.

Baseado na graphic novel homônima que Vitor e Lu Cafaggi criaram como parte da coleção Graphic MSP (e que, confesso, não li), Turma da Mônica: Laços gira em torno do sumiço de Floquinho, o cachorro verde de Cebolinha. Após todos os moradores do Bairro do Limoeiro se comoverem diante do sofrimento do menino, seus amigos Cascão, Mônica e Magali se oferecem para ajudá-lo na busca. A partir daí, o quarteto parte em direção à floresta proibida e se colocam em risco iminente, já que qualquer ameaça (provavelmente oferecida por um adulto) pode machucar as crianças – e isto, por consequência, leva a população da cidade inteira a ficar preocupada com a turma.

O primeiro acerto do filme consiste em não tentar ancorar a história e o estilo de Mauricio de Sousa em qualquer tipo de “realismo” – o que, convenhamos, seria um erro fatal em uma obra que conta com a presença de um cachorro verde e de uma mulher chamada Dona Cebola (aliás, é preciso reconhecer a eficácia de Mônica Iozzi ao chamar outra pessoa de “Dona Cebola” sem perder a compostura). Assim, a produção abraça sem reservas as composições exageradas que sempre fizeram parte do universo dos quadrinhos, preservando elementos como os dentes da Mônica, os cinco tufos de cabelo que explicam Cebolinha se chamar Cebolinha, o guarda-roupa da personagem-título (que conta basicamente com quinhentos vestidos vermelhos idênticos) e, claro, o fato de Floquinho ser realmente verde. Além disso, a diretora de arte Mariana Falvo concebe o Bairro do Limoeiro como uma “versão brasileira” da cidadezinha de Edward Mãos-de-Tesoura, com diversas casinhas que nunca repetem as cores umas das outras.

E o mais admirável é que, mesmo lidando com composições tão caricatas, o roteiro de Thiago Dottori e a direção de Daniel Rezende fazem questão de levá-las a sério, o que é fundamental para o sucesso do filme (caso contrário, se o próprio filme enxergasse aquilo tudo como uma imensa bobagem, dificilmente seríamos capazes de nos relacionar com o que é mostrado na tela). Aliás, várias das situações retratadas no longa são emocionalmente importantes não só para os personagens, mas para o espectador – e isto é reconhecido pela fotografia de Azul Serra (carreada de cores quentes, sentimentais e nostálgicas) e pela própria maneira como Rezende filma alguns momentos que são icônicos por natureza (quando Mônica aparece pela primeira vez, ela surge com um sorriso no rosto, em contra-luz e em câmera lenta). Como se não bastasse, o filme percebe o valor que algumas pausas podem ter para a narrativas, intercalando momentos de humor e aventura com passagens mais… emocionais (há um interlúdio musical, por exemplo, que me lembrou um similar de As Boas Maneiras).

Mas é claro que Turma da Mônica: Laços não funcionaria caso a dinâmica entre as crianças não fosse bem estabelecida, sendo um alívio, portanto, que o filme consiga ilustrar o apego que aqueles meninos sentem um pelo outro. Além disso, é difícil não admirar o desempenho dos quatro atores principais – e dirigir crianças costuma ser um desafio para qualquer cineasta, mas Rezende é bem-sucedido até mesmo nisso: Giulia Benite revela-se uma promessa imediata, já que sabe retratar não só a força sempre notável de Mônica, mas também os sentimentos que, sim, são determinantes para a personagem-título; Kevin Vechiatto vive Cebolinha como um moleque espirituoso e entusiasmado, mas que precisa aprender a conter um ego que frequentemente o leva a tomar decisões erradas; Gabriel Moreira encarna com precisão a lealdade que Cascão tem por seus amigos (e, como não poderia deixar de ser, o medo que sente quando se vê diante de uma única gota de água); e Laura Rauseo garante algumas risadas ao interpretar a comilona Magali, que deve aprender a conter sua famosa obsessão por melancias (só é uma pena, no entanto, que esta piada eventualmente torne-se repetitiva).

Eficaz ao oferecer resoluções para os arcos de cada um dos quatro personagens, colocando-os em situações onde terão que enfrentar suas fraquezas particulares (Cebolinha terá que reduzir seu ego; Mônica terá que se desprender do Sansão por alguns minutos; Cascão terá que superar seu medo de água; e Magali terá que conter sua necessidade de ingerir toda e qualquer comida que surgir à sua frente), Turma da Mônica: Laços traz ainda Rodrigo Santoro em uma ponta que, mesmo rápida e até meio deslocada, merece destaque graças à sua intensidade corporal e à sua caracterização perfeita. Já o vilão responsável pelo sequestro do Floquinho é um sujeito mal-encarado que poderia soar genérico e desinteressante, mas que conquista o espectador através de uma única cena na qual cantarola enquanto prepara um almoço e que, por isso, torna-se surpreendentemente humano, divertido e, até certo ponto, simpático.

Por outro lado, Turma da Mônica: Laços também conta com sua parcela de problemas – e o mais notável é a dificuldade que o roteiro sente em definir quem é o protagonista da história: sim, o nome da Mônica é o que está presente no título do filme, porém o personagem que passa pelo maior arco dramático é, sem dúvida, o Cebolinha (não é à toa que tudo na narrativa gira em torno dele e que até mesmo os arcos de seus amigos existem basicamente para servi-lo). Além disso, alguns elementos tradicionais dos quadrinhos demoram a funcionar em suas versões live-action – e confesso que custei a aceitar a dicção de Cebolinha, já que Kevin Vechiatto nem tenta simular a voz esganiçada que nos acostumamos a esperar do personagem, soando como uma criança normal que apenas troca o “r” pelo “l” em suas falas (no início, isso é meio estranho; com o tempo, no entanto, fui me acostumando).

Respeitando a obra que Mauricio de Sousa construiu e que é adorada pelo Brasil inteiro há mais de sessenta anos, Turma da Mônica: Laços certamente deixa o espectador interessado em reencontrar aqueles personagens em futuras produções. E mais: espero que os responsáveis por esta adaptação não demorem a levar outros personagens clássicos para o Cinema – afinal, o Universo Estendido Maurício de Sousa não pode parar.

Assista também ao vídeo que gravei sobre o filme:

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