Star Wars A Ascensão Skywalker

Título Original

Star Wars – Episode IX: The Rise of Skywalker

Lançamento

19 de dezembro de 2019

Direção

J.J. Abrams

Roteiro

J.J. Abrams e Chris Terrio

Elenco

Daisy Ridley, Adam Driver, John Boyega, Oscar Isaac, Carrie Fisher, Ian McDiarmid, Anthony Daniels, Joonas Suotamo, Keri Russell, Naomi Ackie, Domhnall Gleeson, Richard E. Grant, Billy Dee Williams, Kelly Marie Tran e Lupita Nyong’o

Duração

142 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

J.J. Abrams, Kathleen Kennedy e Michelle Rejwan

Distribuidor

Disney

Sinopse

Com o retorno do Imperador Palpatine, todos voltam a temer seu poder e, com isso, a Resistência toma a frente da batalha que ditará os rumos da galáxia. Treinando para ser uma completa Jedi, Rey (Daisy Ridley) ainda se encontra em conflito com seu passado e futuro, mas teme pelas respostas que pode conseguir a partir de sua complexa ligação com Kylo Ren (Adam Driver), que também se encontra em conflito pela Força.

Publicidade

Star Wars – Episódio IX: A Ascensão Skywalker | Crítica

Facebook
Twitter
Pinterest
WhatsApp
Telegram

Se existisse um filme inteiramente criado a partir de algoritmos, este seria Star Wars – Episódio IX: A Ascensão Skywalker. Acovardados diante das pedradas (injustas) que receberam depois que Rian Johnson ousou tirar o universo da franquia de sua zona de conforto no excelente Os Últimos Jedi, os executivos da Disney e o diretor J.J. Abrams resolveram se submeter à condição de cordeirinhos bem comportados que se preocupam em cumprir exatamente com as ordens de seus pastores, transformando esta conclusão da saga Skywalker em uma colcha de retalhos feita a partir das exigências dos internautas revoltadinhos que se dizem “fãs” do universo criado por George Lucas, mas que não hesitaram em xingar (em alguns casos, até ameaçar de morte) toda a produção do último filme a ponto de obrigar parte do elenco a abandonar as redes sociais. Assim, o desejo primordial por trás deste Episódio IX não é ser uma obra artisticamente interessante, mas um mero produto que seja mais atraente aos olhos de seus consumidores (até dos mais raivosos) e, por consequência, dos acionistas da Disney.

Escrito por Abrams (O Despertar da Força) e por Chris Terrio (Argo – até aí, tudo bem –, Batman vs Superman e Liga da Justiça – aqui começa o problema), A Ascensão Skywalker gira em torno de… muitas coisas. O que dá para dizer de forma objetiva é que, depois de assumir o posto de novo “Líder Supremo” em Os Últimos Jedi, Kylo Ren voltou a ser rebaixado ao status de “pau mandado de um grande líder Sith” – no caso, ninguém menos que o próprio Imperador Palpatine, que, mesmo após ter sido jogado em um abismo no final de O Retorno de Jedi, parece ter encontrado um meio de sobreviver e voltar a ameaçar a galáxia. Ao saber do retorno de Palpatine, os membros da Resistência começam a se locomover de planeta em planeta em buscar de maiores informações – e, depois que a investigação procede um pouco, Rey sai à procura de uma bússola Sith que a levará ao destino do Imperador. Mas é claro que, no processo, a jovem Jedi será atrasada pelas constantes investidas de Kylo Ren, que segue tentando fazê-la sucumbir ao lado sombrio da Força.

Obviamente encarando todas as decisões tomadas por Rian Johnson em Os Últimos Jedi como um acidente de percurso, J.J. Abrams utiliza os 142 minutos de A Ascensão Skywalker para enfiar à força no último capítulo da trilogia um monte de coisas que, pelo jeito, tentam se conectar a outros elementos de O Despertar da Força e retomar o caminho inicialmente planejado e que havia sido “interrompido” pelo filme anterior. Assim, se a ideia original era, por exemplo, fazer de Snoke o grande vilão dos três longas e isto não mais acontecerá graças ao fato de Johnson tê-lo matado no meio do Episódio VIII, Abrams decide retomar parte de seu planejamento inicial trazendo de volta um personagem que preencha a lacuna deixada por Snoke – no caso, o Imperador Palpatine. Ora, mas por que Abrams não aproveita a oportunidade deixada por Johnson e ao menos tenta dar um direcionamento novo aos personagens, em vez de seguir tentando recriar os Episódios IV, V e VI? Simples: porque é o caminho mais seguro (mesmo sem fazer o menor sentido).

Desta maneira, A Ascensão Skywalker corre contra o tempo para apresentar um milhão de conceitos, personagens e conflitos que, se fossem tão importantes, deveriam ter sido estabelecidos lá atrás – e isto resulta num caos narrativo que nem a montagem de Maryann Brandon e Stefan Grube é capaz de impedir, investindo num ritmo terrivelmente atropelado e que falha em permitir que o espectador respire entre uma cena de ação e outra para absorver as informações bombásticas que lhe foram mostradas. Além disso, J.J. Abrams não parece entender que não adianta introduzir um elemento dramaticamente importante no último capítulo de uma saga e esperar que o público dê o valor necessário a ele – algo que fica particularmente claro não só na volta bizarra de Palpatine, mas no fato de certa personagem de repente se sentir obrigada a se sacrificar porque… ora, porque sim (e é óbvio, portanto, que o tal sacrifício acaba não causando impacto emocional algum). E se toda a história envolvendo os Sith e aquela multidão misteriosa que aparece no terceiro ato não despertar ao menos uma reação de “WTF?”, é porque o espectador provavelmente já havia sido preparado pelas teorias malucas que leu/criou em fóruns de Internet.

Ainda assim, o que realmente mata A Ascensão Skywalker e o posiciona como o pior filme de toda a saga é mesmo seu desespero em agradar ao maior número possível de fãs de Star Wars – em especial, àqueles menos exigentes. (E, a partir daqui, sugiro que prossiga com a leitura somente quem já tiver assistido ao filme.) Chegando ao ponto de enfiar os Ewoks nem que seja em uma ponta absolutamente descartável que dura uns cinco segundos, o filme ainda decepciona ao transformar a esperada volta de Lando Calrissian em um mero deus ex machina, usando o personagem apenas para poder dizer que o usou. Como se não bastasse, a premissa inicial que tanto J.J. Abrams quanto Rian Johnson pensaram para Kylo Ren (de que ele seria um vilão tentado pelo lado claro da Força, mas que no fim apenas sucumbiria cada vez mais ao lado sombrio) é abandonada aqui apenas para atender ao apelo dos fãs que queriam uma redenção para o personagem – e pior: dando razão àqueles que viviam shippando “Reylo” nas redes sociais (um ship que sempre considerei besta, por sinal).

Para piorar, Chris Terrio comprova sua ligação com Batman vs Superman ao criar uma cena de alucinação/lição de moral idêntica àquela que trazia Kevin Costner de volta à pele de Jonathan Kent, substituindo-o por Han Solo desta vez – o que, ainda assim, é menos embaraçoso do que as constantes tentativas de desconsiderar certas informações que Os Últimos Jedi havia estabelecido, mudando, por exemplo, a ideia dos pais de Rey não serem “ninguém”. Aliás, há um momento em que Rey, inconformada por algo que aconteceu na trama, atira um lightsaber em direção ao horizonte e este é subitamente pego pelo espectro de Luke Skywalker, que responde “Isto lá é forma de tratar um item tão importante quanto este?”, numa alfinetada clara à memorável piada do filme anterior na qual o mesmo personagem jogava o artefato em questão para trás ao recebê-lo da protagonista.

Mas o pior, no entanto, é perceber como o desespero levou J.J. Abrams e os executivos da Disney a darem razão aos incels que, por terem odiado a jovem Rose Tico em Os Últimos Jedi, se sentiram no direito de atacar a atriz Kelly Marie Tran a ponto de fazê-la sair das redes sociais – e, temendo esta reação, aqui a personagem foi reduzida a duas ou três cenas nas quais mal abre a boca. Por outro lado, é curioso que a Disney adore se vangloriar de uma diversidade que ela não possui por ter incluído um beijo lésbico entre duas figurantes e que dura cerca de três segundos – uma vangloriação que o estúdio faz mesmo tendo apresentado, ao longo do filme, duas personagens mulheres que nunca haviam sido sequer mencionadas até então, mas que passaram a existir só para fazer par com Finn e com Poe, desconstruindo, portanto, o ship homoafetivo que a Internet criou entre eles dois.

Dirigido por J.J. Abrams de maneira absolutamente protocolar, filmando apenas o básico necessário para que o filme exista (e não exibindo nem um traço do esforço que havia demonstrado quando comandou Star Trek ou O Despertar da Força), A Ascensão Skywalker ainda é uma obra esteticamente aborrecida, trazendo sequências de ação genéricas e nem um pouco memoráveis em sua concepção – o que é agravado pela fotografia de Dan Mindel, sempre pautada em planos ridiculamente fechados e aproveitados pelo cineasta da maneira mais óbvia possível. Para completar, há vários momentos em que os atores falham em corresponder à carga dramática das cenas em questão porque Abramas não soube dirigi-los direito, o que se torna bem óbvio na sequência em que os personagens acham que Chewbacca morreu, mas reagem sem manifestar a dor que certamente sentiriam diante de uma perda como aquela.

Ocasionalmente divertindo graças a uma ou outra piadinha mais inspirada (como aquela em que Rey usa um lightsaber para iluminar uma caverna mesmo tendo uma lanterna bem mais prática ao seu lado), A Ascensão Skywalker é o reflexo de um tempo em que um grande estúdio de Hollywood resolve gastar dezenas de milhões de dólares para mudar o design do Sonic (cujo filme a seu respeito sairá em breve) só porque a Internet reagiu mal àquele apresentado no trailer. Um produto que seguiu à risca uma checklist feita para atender à demanda de seus consumidores mais reclamões, não demonstrando interesse algum em criar algo que julgue eficiente dentro de suas próprias vontades artísticas.

E o mais engraçado é perceber que o longa foi feito e lançado por uma das empresas mais ricas, intimidadoras e estrategicamente predatórias do mundo. Sim, até mesmo a poderosa Disney é capaz de ficar apavorada diante de alguns “fãs” mais barulhentos, se submetendo a uma condição ridícula para deixá-los satisfeitos.

Feitas estas considerações, só me resta uma conclusão: A Ascensão Skywalker é o filme mais medroso de 2019.

Textos sobre os “Episódios” anteriores: Uma Nova Esperança; O Império Contra-Ataca; O Retorno de Jedi; A Ameaça Fantasma; Ataque dos Clones; A Vingança dos Sith; O Despertar da Força; Rogue One; Os Últimos Jedi; Han Solo.

Mais para explorar

Gladiador II | Crítica

Mesmo contado com momentos divertidos e ideias interessantes aqui e ali, estas quase sempre terminam sobrecarregadas pelo tanto de elementos simplesmente recauchutados do original – mas sem jamais atingirem a mesma força.

Ainda Estou Aqui | Crítica

Machuca como uma ferida que se abriu de repente, sem sabermos exatamente de onde veio ou o que a provocou, e cujo sofrimento continua a se prolongar por décadas sem jamais cicatrizar.

Wicked | Crítica

Me surpreendeu ao revelar detalhes sobre o passado das personagens de O Mágico de Oz que eu sinceramente não esperava que valessem a pena descobrir, enriquecendo a obra original em vez de enfraquecê-la.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *