Não sou fã de Independence Day, longa que Roland Emmerich dirigiu em 1996 e que trazia os norte-americanos “chutando bundas de ETs” (palavras do próprio filme): prejudicado pelo excesso de piadinhas tolas e por um patriotismo que chegava a ser engraçado de tão ridículo, o projeto trazia uma quantidade de coadjuvantes muito maior do que o necessário e sofria especialmente graças à exageradíssima duração, que se alongava em cerca de duas horas e meia. Por outro lado, é difícil negar que Will Smith e Jeff Goldblum exibiam um carisma digno de nota, da mesma forma como é improvável que alguém não tenha se impressionado com as sequências onde Los Angeles, Nova York e a Casa Branca eram obliteradas pelos alienígenas – e é inquestionável que aquela produção mudou a forma como Hollywood criava filmes-catástrofe (não necessariamente para melhor, mas mudou).
Pois perto deste O Ressurgimento, o primeiro Independence Day é uma verdadeira obra-prima.
Creditado a Emmerich, Dean Devlin, Nicolas Wright, James A. Woods e James Vanderbilt, o roteiro do novo longa leva em conta que 20 anos se passaram entre os eventos do original e o início desta continuação. Após a batalha ocorrida em 4 de julho de 1996, uma nave extraterrestre largada na África enviou mensagens para os alienígenas requisitando reforço; o que faz com que as criaturas de outro planeta retornem para contra-atacar a Humanidade, levando os personagens do primeiro filme a voltarem à ativa, reassumirem cargos importantes e despertarem de comas para liderar uma segunda guerra contra os invasores (e vale lembrar que, desta vez, o piloto vivido por Will Smith está ausente por ter morrido – ou por ter se tornado o Pistoleiro de Esquadrão Suicida).
Concebido como mais uma daquelas sequências que, na realidade, são refilmagens disfarçadas de continuações (como Jurassic World, Star Wars: O Despertar da Força, Procurando Dory e etc), Independence Day 2 é uma repetição de todas as falhas do primeiro, porém nula em carisma ou empatia: voltando a falhar amargamente em suas tentativas de humor, a película tropeça ao incluir comentários engraçadinhos que cortam o sentimento de urgência que deveria haver em algumas situações (“Por que eu comprei este barco?!”) e causa vergonha alheia numa piada que envolve as calças que certo indivíduo não está vestindo. E se o presidente interpretado por Bill Pullman tratava o resto do mundo como quintal dos Estados Unidos ao discursar para as tropas norte-americanas prestes a enfrentar os alienígenas, desta vez o espírito estadunidense é correspondido com uma cena onde uma nave gigantesca se arrasta pelo solo e só para quando encontra um obstáculo resistente e poderosíssimo: a Casa Branca (o que, confesso, me fez rir de imediato).
Por sua vez, Roland Emmerich aparenta não ter evoluído como diretor nos últimos 20 anos (como atestam O Dia Depois de Amanhã, 10.000 AC, 2012 e a versão de Godzilla lançada em 1998) e parece não ter compreendido algo importante: uma coisa era destruir a Terra em 1996; outra é destruir a Terra em 2016. Nas duas décadas que conduziram o primeiro projeto ao seu sucessor, o mundo foi devastado inúmeras vezes e nada do que é apresentado em Independence Day 2 consegue sair do lugar-comum. Sim, é verdade que os efeitos visuais são de alta qualidade, mas de que adianta enfeitar a produção com computação gráfica se ela é empregada em sequências conduzidas com a maior preguiça e falta de imaginação que se pode imaginar? O único conceito realmente interessante presente aqui é a ideia de que os seres humanos se aproveitaram do que foi deixado pelos alienígenas para evoluir tecnologicamente, o que oferece ao design de produção uma boa oportunidade para criar helicópteros que voam sem hélices, armas lasers, robôs e bases na Lua.
Ainda assim, o pior pecado do longa consiste no pavoroso… “roteiro”, se é que podemos usar tal nomenclatura pra definir aquilo: cometendo erros primários ao introduzir novos personagens por volta da metade da projeção, Independence Day 2 é uma genuína bagunça que se sente na obrigação de acrescentar uma ideia nova a cada cinco minutos, e cada uma é mais boba do que a anterior (não bastava “apenas” uma invasão extraterrestre? Precisávamos de outra raça de alienígenas, uma guerra alternativa, vida virtual e blábláblá?). E como se já não bastasse um indivíduo que acorda e pega os óculos na mesa ao seu lado após passar 20 anos em coma (agora sim, peço uma salva de palmas!), os diálogos alternam entre a imbecilidade e a exposição extrema (eu cheguei a listar alguns deles, mas não serei capaz de reproduzir todos aqui): “Você poderia estar fazendo algo pior do que rebocar uma arma que custou um trilhão de dólares“; “Jake está na lua, não se lembra?“; “Charlie, cadê você?“, pergunta um piloto antes de ser correspondido com “Estou no meu pior pesadelo!“; “Essa nave é definitivamente maior que a última” (frase que é repetida duas vezes).
Por fim, nem mesmo o retorno de antigos conhecidos é satisfatório: Jeff Goldblum, por mais eficiente que seja, é digno de pena por ser submetido a um projeto desses (e chega a ser deprimente vê-lo gritando de medo dentro de um veículo espacial) e Bill Pullman desempenha o papel de “velhinho maluco” até que chega Brent Spiner, que… assume a postura de “velhinho maluco 2.0”. E se o inexpressivo Jessie Usher não tem nem 1% do carisma de Will Smith, Liam Hemsworth (o irmão do Thor, que não é o Loki) se limita a berrar do início ao fim. De todo modo, nada se compara à presidente que diz “sim” para todas as sugestões e propostas, resolve tudo na base do “Vamos atirar os foguetes! Vamos atacar! Morte aos ETs!” e ignora a recém-chegada ameaça dos alienígenas para celebrar o 4 de julho (e se eu estivesse do seu lado quando ela diz “Espero que tenhamos feito a coisa certa“, minha reação seria de perguntar “Jura que você só pensou nisso agora?!).
Chato e cansativo, Independence Day 2 é um daqueles longas que certamente serão defendidos com argumentos do tipo “Você assistiu ao filme da forma errada!” (ok, então me esclareça o significado desta obra supercomplexa que eu não fui capaz de entender), “Não se deve ver algo assim esperando o suprassumo da seriedade!” (concordo, mas também não quero que me menosprezem como espectador), “Isso daí foi feito pra divertir!” (sim, e cadê a diversão?) e outros. Pois posso apostar que o destino desta continuação não será outro além de cair no esquecimento.