Ninguém esperava que Jumanji ainda pudesse se tornar uma franquia bem-sucedida 22 anos após seu lançamento original. Mas aconteceu: lançado em 2017 sob a direção de Jake Kasdan, Bem-Vindo à Selva se revelou uma expansão divertida e orgânica do universo apresentado há mais de duas décadas por Joe Johnston (com base, é claro, no livro homônimo de Chris Van Allsburg), explorando com competência o potencial de sua própria premissa e se beneficiando da inteligente escalação de elenco, que se dava ao luxo de trazer atores conhecidos por interpretarem tipos específicos de personagens basicamente para desconstruí-los ao longo da narrativa (o que permitia que Dwayne Johnson surgisse sob a pele de um adolescente inseguro, por exemplo). Felizmente, os ingredientes responsáveis pelo sucesso daquele filme também estão presentes em Próxima Fase, uma continuação que demonstra como o universo (re)apresentado por Kasdan continua vivo, divertido e bem humorado.
Escrito por Kasdan, Jeff Pinkner e Scott Rosenberg (estes dois últimos também roteirizaram o anterior), o novo longa tem início com o término do namoro entre Spencer e Martha, o que leva o rapaz a se sentir deprimido e a buscar uma forma de distanciar-se do mundo real. Assim, Spencer decide consertar o jogo Jumanji e retornar ao seu universo virtual – no entanto, quando seus amigos Fridge, Brittany e a própria Martha percebem seu sumiço e resolvem também voltar ao mundo do game, algo dá errado e o idoso Eddie, avô de Spencer, acabam sendo “sugado” junto para dentro de Jumanji ao lado de um antigo amigo, Milo Walker. A partir daí, Martha volta à pele da heroica Ruby Roundhouse, Fridge encarna o professor Shelly Oberon, o avô de Spencer assume o papel do fortão Xander Bravestone e Milo se torna o zoólogo Mouse Finbar – e, desta vez, a missão é encontrar Spencer e trazê-lo de volta ao mundo real.
Investindo na mesma atmosfera bem humorada e irreverente que já havia dado certo no longa passado, Próxima Fase se mostra capaz de criar diversas passagens engraçadas a partir não apenas das situações ao redor dos personagens, mas também das personalidades destes – e, neste sentido, é interessante notar como o filme volta a escolher a dedo os atores que encarnarão determinados personagens apenas para desconstruir as personas que esperaríamos deles com base no que conhecemos de suas carreiras pregressas. Assim, se no capítulo anterior Dwayne Johnson assumia a postura de um nerd inseguro, agora ele ganha os contornos de um velhinho que vive estressado com tudo e com todos que o cercam e que sente-se rejuvenescido ao se ver sob a pele de Bravestone, ao passo que Kevin Hart deixa de lado a agitação e os gritos histéricos que costumam marcar suas performances para se comportar como um senhor que, depois de tantos anos, parece ter adquirido a serenidade e a experiência que lhe faltavam para fazê-lo compreender o peso da própria existência.
Além disso, o fato de estar situado em um mundo tão absurdo permite que o filme brinque pontualmente com as personas dos heróis ao fazê-los “trocar de corpo”, o que permite, por exemplo, que Karen Gillan e Jack Black invertam seus papeis durante alguns minutos – e possibilitem, portanto, que Gillan subitamente assuma uma postura bem mais espontânea do que vinha exibindo até então. (E é uma pena, no entanto, que esta inversão de papeis dure tão pouco tempo.) Aliás, a graça do universo de Jumanji reside justamente no fato de poder ser tão absurdo, não dependendo de nenhum comprometimento com a lógica do mundo real – e, assim, o diretor Jake Kasdan se sente livre para criar sequências de ação que exploram ao máximo possível os limites insanos do universo no qual a trama se passa, alcançando resultados divertidos, em particular, nas cenas que enfocam uma debandada de avestruzes, uma perseguição em meio a pontes feitas de cipós e, claro, todo o clímax da narrativa (e todas estas sequências ainda trazem o bônus de serem visualmente inteligíveis e bem organizadas).
Em contrapartida, por mais divertido e eficiente que seja o universo de Jumanji, é difícil negar a total falta de frescor na abordagem de Jake Kasdan, que, aqui, basicamente se limita a repetir as batidas já apresentadas (com sucesso) pelo filme anterior sem criar nada de particularmente novo. Na verdade, toda a lógica por trás do mundo do game permanece rigorosamente a mesma, os objetivos almejados pelos personagens pouco mais são do que variações daqueles que acompanhamos no capítulo passado e as novidades da trama se resumem… bem, a dois ou três personagens trocando de corpos repetidas vezes e ao fato de dois idosos integrarem o grupo de heróis (o que, ok, é uma novidade tematicamente bacana).
De resto, porém, Próxima Fase apenas repete os ingredientes de Bem-Vindo à Selva porque sabe que estes ainda podem dar certo mais uma vez, sem se preocupar em articulá-los de forma diferente. Assim, é bom que, a partir das inevitáveis continuações, Kasdan e os demais responsáveis pelo universo de Jumanji comecem a buscar um novo fôlego para a franquia – caso contrário, é bem possível que esta em breve comece a exibir sinais de desgaste.
Enquanto isto não ocorre, podemos apreciar sossegados o sucesso de, pelo menos, dois divertidos filmes.