Procurando Nemo

Título Original

Finding Nemo

Lançamento

4 de julho de 2003

Direção

Andrew Stanton

Roteiro

Andrew Stanton, Bob Peterson e David Reynolds

Elenco

As vozes de Albert Brooks, Ellen DeGeneres, Alexander Gould, Willem Dafoe, Andrew Stanton, Barry Humphries, Geoffrey Rush, Vicki Lewis, Allison Janney, Austin Pendleton, Brad Garrett, Stephen Root, Joe Ranft, Bob Peterson, Eric Bana, Bruce Spence, John Ratzenberger, Elizabeth Perkins, Bill Hunter, Nicholas Bird, Erik Per Sullivan, Jordy Ranft, Erica Beck e LuLu Ebeling

Duração

100 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Graham Walters

Distribuidor

Disney

Sinopse

O passado reserva tristes memórias para Marlin nos recifes de coral, onde perdeu sua esposa e toda a ninhada. Agora, ele cria seu único filho Nemo com todo o cuidado do mundo, mas o pequeno e simpático peixe-palhaço acaba exagerando durante uma simples discussão e acaba sendo capturado por um mergulhador. Agora, o pai super protetor precisa entrar em ação e parte numa busca incansável pelo mar aberto, na esperança de encontrar seu amado filhote. No meio do caminho, ele acaba conhecendo Dory e, juntos, a dupla vai viver uma incrível aventura. Enquanto isso, Nemo também vive uma intensa experiência ao lado de seus novos amigos habitantes de um aquário, pois eles precisam ajudá-lo a escapar do destino que lhe foi reservado: ir parar nas mãos da terrível Darla, sobrinha do dentista que o capturou.

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Procurando Nemo | Crítica

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Ao analisar outras produções da Pixar, ressaltei o fato de que o estúdio possuía um talento invejável para transformar premissas simples em obras dignas de aplausos graças aos desempenhos de roteiristas dedicados e diretores como John Lasseter e Pete Docter – e assim como ocorria em Toy Story, a história de Procurando Nemo parte de um conceito pouco inventivo: um peixe que se perde de seu pai, obrigando este a enfrentar os perigos do oceano para encontrá-lo. Claro, não é a mais original das tramas, mas graças ao excepcional trabalho do diretor Andrew Stanton (que estreia na função após ter co-dirigido Vida de Inseto), o longa se revela sensível e equilibra-se com brilhantismo entre o bom humor e o drama, surgindo como um dos projetos mais emotivos que a Pixar já realizou e exibindo potencial para se tornar um clássico das animações.

Roteirizado pelo próprio Stanton junto a Bob Peterson e David Reynolds, o filme já se inicia com uma sequência impactante que traz o casal de peixes Marlin e Coral admirando suas várias ovas e contemplando a vista de sua nova moradia quando são ameaçados por uma barracuda – que imediatamente assassina a família quase que inteira, deixando apenas o pai e seu filho Nemo vivos. Carregando o enorme trauma nas costas, Marlin transforma-se num responsável superprotetor e que tarda em deixar o personagem-título ir à escola, algo que potencializa o horror do peixe viúvo ao ver seu filho sendo capturado por um pescador a fim de levá-lo ao aquário de um dentista. Com isso, o pai desesperado une-se a Dory, uma fêmea da espécie cirurgião-patela que sofre de perda de memórias recentes, parte numa jornada intensa para tentar resgatar Nemo, cruzando com tubarões, tartarugas, águas-vivas, pelicanos e até mesmo um lophiiforme. Em outras palavras: Procurando Nemo é uma espécie de road movie onde a estrada é o mar, algo que leva o roteiro a apresentar novos personagens e situações por etapas (e o conceito de um “sea movie” me soa atraente em sua essência).

O mais admirável, porém, é que Andrew Stanton jamais permite que a película soe repetitiva e busca recursos para manter a narrativa sempre dinâmica, sendo igualmente bem-sucedido ao investir em ideias criativas e hilárias que incluem “tubarões vegetarianos” que se reúnem para formar um grupo de apoio, tartarugas que falam como surfistas, um cardume de peixes imitadores (estes talvez sejam os mais engraçados) e diversas referências a filmes como PsicoseOs PássarosO IluminadoTubarão e Missão: Impossível. E por falar em bom humor, a peixe Dory é para esta produção o que Mike Wazowski foi para Monstros S.A., rendendo risadas intensas graças às suas constantes perdas de memória e sendo beneficiada ainda por Ellen DeGeneres, que empresta sua voz à personagem e, nesta ocasião, exibe um timing cômico formidável (esperem só até conhecer o idioma “baleiês”). Aliás, é surpreendente que o longa consiga encontrar tempo para conferir dimensão a Dory, pondo-a em instantes dramáticos tocantes no terceiro ato.

Por outro lado, para cada alívio cômico existente aqui, há uma ou duas cenas que atingem níveis de dramaticidade que a Pixar ainda não havia apresentado (e prestem atenção: estamos falando sobre o mesmo estúdio que fez Toy StoryToy Story 2 e Monstros S.A.!). Quem se emocionou com o número musical de Jessie ou com a relação entre o monstro Sully e a menina “Boo” nunca conseguirá esquecer passagens de Procurando Nemo que surgem como verdadeiros socos no estômago, destacando-se a já mencionada sequência de abertura, o momento em que o personagem-título é capturado, a reação desesperada de Marlin diante de tal acontecimento e… digamos, todos os 30 minutos finais da projeção. Além disso, o diretor Andrew Stanton acerta ao inserir mensagens pontuais que relacionam a nadadeira direita de Nemo aos deficientes físicos; e o fato dele e seu pai se referirem a ela como “nadadeira da sorte” sugere um otimismo maravilhoso. Para completar, o excelente roteiro também escapa do melodrama barato de maneira respeitável, evitando, por exemplo, retornar artificialmente à tragédia envolvendo a mãe de Nemo depois que esta é removida da narrativa.

Representando mais um avanço tecnológico espetacular, o longa impressiona na concepção de um oceano extremamente convincente rico em detalhes minuciosos – neste sentido, a produção merece elogios por conta do vasto trabalho de pesquisas que realizou para criar as incontáveis espécies de seres que vivem no mar, preservando um realismo fabuloso ao incluir criaturas desconhecidas pela maior parte do público e deixar claro que águas-vivas não provocam queimaduras em seus topos (com isso, chegamos à conclusão de que, além de um entretenimento fascinante, Procurando Nemo serve como uma ótima aula de Biologia). Mais intrigante ainda, no entanto, é perceber que o “universo” desenvolvido aqui chama a atenção desde o princípio quando vemos uma anêmona ser tratada como se fosse uma “cobertura” luxuosa, saltando para apresentar tipos específicos de “sinais de trânsito” e costumes particulares dos peixes a partir daí.

Por sua vez, a fotografia elaborada por Sharon Calahan e Jeremy Lasky chama a atenção ao apostar em cores abundantes e fortes que fazem com que os cenários habitados pelos personagens soem ainda mais verossímeis, obtendo resultados interessantes ao adotar cores mais frias e escuras conforme a trama vai se direcionando para caminhos mais sombrios. Da mesma forma, o estonteante design de produção assinado por Ralph Eggleston não apenas concebe paisagens esteticamente complexas como também atrai introduzindo artefatos de guerra espalhados por locações como submarinos (e assim como Monstros S.A.Procurando Nemo agrada trazendo easter eggs que divertirão os apreciadores da Pixar). Por fim, se os animadores conquistam um nível de apuro técnico extraordinário ao realizarem expressões faciais detalhistas e revelam o oceano visto aqui como algo deslumbrante, a trilha sonora composta por Thomas Newman (de Um Sonho de Liberdade) pontua com maestria cada uma das sensações que devem ser despertadas durante a projeção, empregando melodias serenas nos instantes que retratam o cotidiano de Marlin e Nemo, toques de piano nas passagens mais intimistas e potencializando a tensão do público nos momentos mais apreensivos.

Embora a montagem de David Ian Salter peque em cortes de fusão deselegantes e fade outs excessivos, a mesma funciona por priorizar a fluidez da narrativa e se sai bem em sequências como aquela que mostra como a história de Marlin tornou-se popular ao longo do oceano. O fato é que, mesmo contando com uma trama nada original, o filme representa uma experiência emocionalmente recompensadora e que parece agarrar o espectador pelo braço para atirá-lo em meio à trajetória dos peixes em busca de Nemo, levando o público a sentir cada lapso de alegria, tristeza ou temor experimentado pelos personagens – e há uma fala específica que resume muitíssimo bem a essência desta obra: “Estamos desafiando a morte e nos divertindo ao mesmo tempo“.

Pois assim é Procurando Nemo: um longa hábil ao ponto de alternar entre a leveza e a intensidade dramática de uma maneira que deveria servir como exemplo para diversas películas adultas, consagrando-se como uma animação poderosa e inesquecível.

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