Ratatouille (1)

Título Original

Ratatouille

Lançamento

6 de julho de 2007

Direção

Brad Bird

Roteiro

Brad Bird

Elenco

As vozes de Patton Oswalt, Lou Romano, Janeane Garofalo, Ian Holm, Peter O’Toole, Brad Garrett, Brian Dennehy, Peter Sohn, Will Arnett, Julius Callahan, James Remar, John Ratzenberger, Teddy Newton Tony Fucile, Jake Steinfeld e Brad Bird

Duração

111 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Brad Lewis

Distribuidor

Disney

Sinopse

Paris. Remy (Patton Oswalt) é um rato que sonha se tornar um grande chef. Só que sua família é contra a idéia, além do fato de que, por ser um rato, ele sempre é expulso das cozinhas que visita. Um dia, enquanto estava nos esgotos, ele fica bem embaixo do famoso restaurante de seu herói culinário, Auguste Gusteau (Brad Garrett). Ele decide visitar a cozinha do lugar e lá conhece Linguini (Lou Romano), um atrapalhado ajudante que não sabe cozinhar e precisa manter o emprego a qualquer custo. Remy e Linguini realizam uma parceria, em que Remy fica escondido sob o chapéu de Linguini e indica o que ele deve fazer ao cozinhar.

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Ratatouille | Crítica

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Algo que costuma me atrair na filmografia da Pixar é sua capacidade invejável de criar obras dignas de aplausos com base em premissas simples como brinquedos vivos, super-heróis que salvam o mundo ou um peixe-palhaço que se perde do pai e monstros que surgem através de armários (algo que ressaltei com frequência ao escrever sobre os projetos do estúdio). Pois em Ratatouille, o desafio era ainda maior: à primeira vista, a ideia de um rato cozinheiro pode parecer tola e deveras nojenta – isto sem contar os clichês que podem ser originados a partir de um argumento desses. Felizmente, tal obstáculo é contornado com maestria pelo brilhante Brad Bird, que acrescenta mais um grande acerto a uma carreira que já contém títulos excepcionais como O Gigante de Ferro Os Incríveis.

Escrito pelo próprio cineasta, a película nos apresenta ao rato Remy, que, cansado da vida ingrata que leva roubando “comida” (leia-se: lixo) junto a seus familiares e amigos, aprende a cozinhar genialmente com o livro escrito pelo renomado e recém-falecido chef Auguste Gusteau (o mais bem-sucedido da França). Graças a reviravoltas fortuitas do destino, o pequeno roedor vai parar em Paris e conhece o jovem Alfredo Linguini, que trabalha como lixeiro do restaurante Gusteau’s. Com isso, Remy e Linguini são obrigados a estabelecer um trato: enquanto o primeiro cozinha, o segundo preservará um emprego dentro da cozinha. Com o passar do tempo, a fama do restaurante (que vinha decrescida ao longo dos anos) começa a ascender e chamar a atenção do crítico gastronômico Anton Ego, que demostra uma nítida disposição em prejudicar o Gusteau’s.

Assim como em Os Incríveis, Brad Bird mostra-se claramente interessado em discutir a maneira como a sociedade tende a receber os verdadeiros méritos de cada um que possa ser considerado “especial”. Desta forma, quando somos apresentados ao mantra “todos podem cozinhar” (um lema que, inclusive, dá título ao livro de Auguste Gusteau) e acompanhamos o avanço da narrativa, percebemos que o objetivo de Bird não é tratar a Arte da culinária como algo fácil de se conquistar, mas revelar uma ideia bem mais complexa e inclusiva: a de que, sim, todos podem vir a cozinhar mesmo que nem todos nasçam com esta virtude. Virtude esta que, por outro lado, é capaz de nascer em qualquer pessoa independente do lugar ou do momento (como certo personagem diz em determinado instante da projeção).

Da mesma forma, Bird também realiza um serviço fabuloso ao abordar a Crítica em si (seja esta gastronômica, cinematográfica, literária e etc) – e ainda que soe ameaçador, Anton Ego gradualmente expõe sua humanidade e apresenta-se como um profissional apaixonado pela Arte ao ponto de rejeitar aquilo que lhe parece vil (“Não gosto de comida; amo comida. Se não gosto, não engulo“). Até mesmo sua visível vontade de destruir o Gusteau’s torna-se compreensível quando nos submetemos a interpretações mais intrincadas: este interesse, na verdade, provém da antipatia que Ego criou pelo restaurante a partir do momento em que o chef do local afirmou que “todos podem cozinhar” (e, neste instante, volto ao parágrafo anterior, onde digo que tal frase aparenta menosprezar o real valor da culinária). Quanto a Remy e Linguini, elogios são inevitáveis: enquanto o primeiro atrai com sua personalidade irreverente e seu arco dramático repleto de obstáculos a serem bravamente superados, o segundo diverte como o típico fracassado que é (e sua incapacidade de elaborar discursos motivadores só não é mais hilária que a autoconfiança exagerada que exibe ao abrir uma porta).

Já do ponto de vista técnico, a animação impressiona desde a concepção dos pelos dos ratos até a ação da chuva ao molhá-los, quando a verossimilhança estético atinge níveis extraordinários. Aliás, seguindo os passos de Os IncríveisRatatouille desenvolve as aparências dos seres humanos sem nenhum compromisso com o realismo, investindo em visuais criativos que envolvem estaturas excessivamente altas ou baixas e cabeças enormes, minúsculas ou achatadas (e eu não me surpreenderia se descobrisse que Anton Ego é um primo distante de Nosferatu). Além disso, Bird se prova mais uma vez como um realizador altamente imaginativo e brinca frequentemente com os fundos das cenas, diminuindo a luminosidade para potencializar a teatralidade de momentos específicos e escurecendo completamente o segundo plano para atirar imagens estilizadas que indicam o que certo personagem sente ao saborear uma comida. Para completar, o diretor mostra-se igualmente eficaz ao conduzir a ótima perseguição que vai das ruas de Paris ao Rio Sena e ao manter a câmera em movimento constante quando ilustra o que ocorre dentro da cozinha do Gusteau’s.

Em contrapartida, os personagens secundários de Ratatouille (principalmente os coadjuvantes humanos) jamais soam tão interessantes ou mesmo divertidos como os que a Pixar costuma apresentar em outras produções – e embora seu monólogo a respeito da falta de representatividade feminina em restaurantes luxuosos seja admirável, Colette (o interesse amoroso de Linguini) surge aborrecida e chata na maior parte do tempo. Ainda assim, não há nada que comprometa de fato este longa que certamente merece entrar na lista de êxitos do estúdio responsável por títulos irretocáveis como Toy Story, Toy Story 2Monstros S.A.Procurando Nemo e Os Incríveis (e mesmo o primeiro Carros, um dos projetos mais irregulares da produtora, ainda pode ser descrito como um entretenimento acima da média).

Mesmo com uma curta carreira, Brad Bird já se prova um diretor cuja trajetória merece ser acompanhada de perto – e creio que, se trabalhasse no ramo da crítica cinematográfica, Anton Ego concordaria comigo

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