Carros 3 (1)

Título Original

Cars 3

Lançamento

13 de julho de 2017

Direção

Brian Fee

Roteiro

Kiel Murray, Bob Peterson e Mike Rich

Elenco

As vozes de Owen Wilson, Cristela Alonzo, Armie Hammer, Larry the Cable Guy, Bonnie Hunt, Chris Cooper, Nathal Fillion, Tony Shalhoub, Guido Quaroni, John Ratzenberger, Lea DeLaria e Lewis Hamilton

Duração

109 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Kevin Reher

Distribuidor

Disney

Sinopse

Veterano das pistas, o campeoníssimo Relâmpago McQueen se vê em apuros após o surgimento de um novato bastante veloz, Jackson Storm, que utiliza de alta tecnologia nos treinamentos. Obrigado a chegar ao limite para batê-lo, McQueen acaba sofrendo um sério acidente durante uma corrida, que o obriga a abandonar o campeonato daquele ano. Prestes a iniciar a próxima temporada, ele se vê em dúvidas sobre se consegue ser rápido o suficiente para bater Storm e, por causa disto, busca ajuda com seu novo patrocinador.

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Carros 3 | Crítica

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É consenso geral que a franquia Carros é uma das coisas menos interessantes que a Pixar já produziu. Prejudicado por uma quantidade excessiva de clichês e historinhas motivacionais batidas, o primeiro filme ao menos era capaz de entreter criando um universo admiravelmente imaginativo, apresentando um apuro técnico digno de aplausos e revelando uma trama intimista e sensível. Estava longe do brilhantismo das melhores obras da Pixar, mas ainda assim representava mais um bom trabalho do estúdio – o que, por outro lado, desapareceu completamente no horroroso Carros 2, que desenvolvia uma trama de espionagem bisonha ao passo que transformava o guincho Mate num personagem chatíssimo ao elevá-lo ao posto de protagonista. Tratava-se de uma continuação que nem fazia questão de esconder seus óbvios intuitos comerciais (afinal, que criança não gostaria de comprar uma centena de carrinhos licenciados desses longas?), merecendo ser rebatizada de Capital – O Filme.

Aliás, há uma cena em Carros 3 que quase soa como um comentário ácido envolvendo esta natureza publicitária: quando Relâmpago McQueen é ameaçado de perder a oportunidade de disputar uma corrida definitiva, um empresário oferece a oportunidade de estampar o rosto do protagonista em um monte de itens licenciados que vão de produtos de limpeza até brinquedos, pôsteres e adesivos – o que, verdade seja dita, é uma grande ironia, já que o próprio filme parece ter sido concebido para atender aos objetivos financeiros da Disney/Pixar e vender mais uma enorme quantidade de carrinhos e bonecos. Felizmente, ao contrário de Carros 2, este terceiro longa consegue despistar este fato ao criar uma trama que, mesmo sem nenhuma genialidade, funciona relativamente bem.

Correto ao ignorar completamente os eventos do filme anterior e limitar Mate a uma aparição aqui e outra ali, o roteiro escrito por Kiel Murray, Bob Peterson e Mike Rich (com base num argumento feito por outras quatro pessoas) volta a se concentrar no corredor Relâmpago McQueen, que, aqui, começa a sofrer com o peso da idade e se vê ameaçado pelos novos carros que surgem acompanhados de uma tecnologia de ponta. Com isso, o veterano se junta à treinadora Cruz Ramirez para voltar à boa forma e disputar uma corrida com diversos corredores high tech, incluindo o atual campeão Jackson Storm.

Não é difícil perceber, portanto, que Carros 3 se espelha na premissa do magistral Toy Story 3: se lá os brinquedos de Andy temiam a ideia cada vez mais presente do abandono, já que o dono finalmente havia chegado à fase adulta, aqui Relâmpago McQueen luta para impedir que sua velhice leve o mundo esportivo a se distanciar dele. Neste sentido, o primeiro ato é bastante eficaz ao construir cuidadosamente o medo sentido pelo protagonista, desde a chega dos carros de última geração até o dramático acidente que afasta McQueen das pistas de corrida. Além disso, a constante memória de Doc Hudson não só homenageia o ator Paul Newman (que emprestou sua voz ao personagem antes de falecer, em 2008) como também estabelece uma similaridade ainda maior entre Relâmpago e seu mentor, criando uma “rima” que alcança o ápice no clímax da narrativa.

Curiosamente, é aí que se encontra a maior fragilidade de Carros 3: mesmo oferecendo algumas passagens revigorantes ou bem-sucedidas, toda a discussão sobre o peso da idade e o medo de se tornar obsoleto é desenvolvida de maneira rasa e simplista – e se a sequência onde McQueen se acidenta é verdadeiramente impactante, o filme tropeça ao interromper o drama da situação e fazer um salto temporal de quatro meses, trazendo o herói no meio de um dilema promissor, mas que é resolvido poucos minutos depois quando ele decide voltar às pistas de corrida. Em outras palavras: trata-se de uma obra ambiciosa, mas que não tem a capacidade de fazer jus às suas ambições. Para piorar, o próprio conflito central da trama vai perdendo sua força depois que o roteiro subitamente descobre uma nova questão para abordar (no caso, a frustração pessoal de Cruz Ramirez).

Já a direção do estreante Brian Fee é irregular: por um lado, as corridas disputadas por McQueen são coordenadas de forma inspirada e cheia de energia, adotando uma movimentação de câmera constante que remete pontualmente aos esportes transmitidos pela televisão ao passo que a ótima montagem que mostra o treinamento do protagonista no fim do segundo ato é bastante eficiente e dinâmica; por outro, Fee exibe sérios problemas ao elaborar a decupagem e a lógica espacial de algumas cenas (a sequência envolvendo uma “corrida de demolição”, por exemplo, é visualmente confusa e sofre para estabelecer com clareza onde um personagem está em relação a quê ou a quem).

Felizmente, a franquia continua representando um verdadeiro espetáculo no que diz respeito aos aspectos técnicos da produção: investindo em detalhes que tornam os modelos digitais mais convincentes, a animação impressiona desde o brilho da lataria de McQueen até a concepção realista das areias de uma praia, algo que também se aplica às paisagens vastas e esteticamente enriquecidas que aparecem durante uma viagem. E se a boa trilha sonora de Randy Newman confere dinamismo e vitalidade à narrativa, o designer de produção William Cone fortalece a imaginação deste universo automobilístico através de minúcias como os “bigodes” e “bonés” de alguns veículos e as diferenças visuais entre as várias gerações de carros que marcam presença. Assim, é uma pena que o mesmo não possa ser dito sobre as constantes tentativas de humor, que surgem fracas e displicentes na maior parte do tempo (tanto que não há nenhuma piada particularmente memorável em Carros 3).

De todo modo, é bom perceber que a série Carros ainda pode ter algo proveitoso a oferecer, sendo também uma satisfação que este terceiro longa retorne aos sentimentos intimistas do primeiro. Ver os cidadãos de Radiator Springs tristes ao serem esquecidos e Relâmpago McQueen se sentindo intimidado por uma geração de competidores tecnologicamente avançados é muito mais interessante do que acompanhar qualquer aventura que Mate poderia ter como agente secreto.

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