Moscou Contra 007

Título Original

From Russia With Love

Lançamento

11 de outubro de 1963

Direção

Terence Young

Roteiro

Richard Maibaum e Berkely Mather (não creditado)

Elenco

Sean Connery, Daniela Bianchi, Lotte Lenya, Robert Shaw, Pedro Armendáriz, Bernard Lee, Eunice Gayson, Walter Gotell, Vladek Sheybal, Anthony Dawson, Lois Maxwell, Desmond Llewelyn, Francis de Wolff, Fred Haggerty e Aliza Gur

Duração

115 minutos

Gênero

Nacionalidade

Inglaterra

Produção

Harry Saltzman e Albert R. Broccoli

Distribuidor

MGM

Sinopse

James Bond (Sean Connery) é incumbido de ajudar uma bela agente soviética a fugir de seu país, para então tentar recuperar uma leitora de códigos na embaixada russa, em Londres. Porém, Bond não sabe que a temível organização criminosa Spectre organizou esta armadilha no intuito de executá-lo.

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Moscou Contra 007 | Crítica

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Logo na primeira cena de Moscou Contra 007, segundo capítulo da saga protagonizada pelo espião britânico James Bond, nos deparamos com uma imagem ao mesmo tempo surpreendente e sombria: a de um sujeito com a cara de Sean Connery (o intérprete de Bond) ser estrangulado até a morte por um agente russo – e, quando outros soldados aparecem para cercar o cadáver, descobrimos que este não era Bond, mas um indivíduo anônimo que vestia uma máscara exatamente idêntica ao rosto de Bond (já antevendo a cultura dos disfarces que a série Missão: Impossível adotaria com tamanha frequência nos anos seguintes). O aspecto “surpreendente” da cena está, claro, no fato de a vítima não ser quem imaginávamos; o “sombrio”, por sua vez, diz respeito à gravidade da imagem mostrada na tela (a do herói – ou de alguém que o mimetiza – caído morto no chão). Só esta introdução já cria a promessa de que o filme que seguirá nas quase duas horas seguintes será, no mínimo, mais dramático que seu antecessor – uma promessa que o diretor Terence Young faz questão de cumprir bem.

Escrita pelos mesmos Richard Maibaum e Berkely Mather de Dr. No, esta continuação coloca James Bond, o agente 007, numa missão na qual viajará entre vários países em busca de um decodificador, ao mesmo tempo em que terá que ajudar a soviética Tatiana Romanova a fugir de seu país. O que Bond não sabe, porém, é que os russos, membros da organização criminosa SPECTRE apresentada no filme anterior (e cujo líder permanece oculto), também não só estão atrás do dispositivo como também são os mentores de Tatiana, responsáveis por enviá-la para seduzir Bond e complicar ainda mais sua missão. Assim, enquanto salta entre Londres, Istambul e União Soviética, o agente 007 aos poucos descobre estar no centro de uma operação cada vez mais complexa que envolve intrigas, revelações e traições capazes de feri-lo não apenas física, mas emocionalmente.

Em outras palavras: não chega a ser uma missão que envolve elementos pessoais de James Bond (como outros capítulos da série abordariam no futuro), mas, ainda assim, é uma que desafia seus limites como indivíduo e que, portanto, nos permite conhecer um pouco mais do homem por baixo do terno. Assim, em vez de repetir exatamente a mesma abordagem iconômana, imediatista e entregue ao exagero que tornou o filme anterior tão interessante, Terence Young prefere investir em uma atmosfera um pouco mais grave e urgente: sim, a forma reverente com que enxerga o herói (e o vilão) permanece, mas com toques mais dramáticos e sombrios se infiltrando na narrativa – e até mesmo a reverência torna-se mais pontual, manifestando-se em algumas aparições de Bond, não em todas elas. É como se o universo apresentado no antecessor continuasse o mesmo, porém passando por uma evolução notória.

Assim, assistir a Moscou Contra 007 é ver James Bond ser submetido a uma posição de fragilidade maior, não sendo à toa a quantidade de vezes em que surge desorientado, enganado ou mesmo estressado em função dos sentimentos conflitantes que crescem dentro de si – e, no processo, somos lembrados de que, antes de ser um espião indestrutível, Bond é um ser humano, com suas fragilidades e, principalmente, frustrações. Isto, aliás, se reflete na dinâmica entre ele e a bondgirl da vez, Tatiana Romanova, com quem divide uma relação bem mais complexa do que com a Honey Rider de Dr. No: se Romanova aos poucos se desapega do objetivo primordial da missão (trair o protagonista) porque de fato se afeiçoou a Bond, este, obviamente, sofre o impacto de descobrir ter sido traído – e a decisão de Young de deixar claro desde o princípio que ela trabalha para os vilões ajuda a manter o espectador ainda mais inquieto diante do que acontecerá com o herói.

Não que Moscou Contra 007 abandone totalmente a idolatria por James Bond: logo em sua primeira aparição, o herói surge deitado ao lado de Eunice Gayson (que, no longa passado, deu a deixa para que a frase “Bond… James Bond” fosse recitada) à beira de um lago, com a camisa aberta e tomando vinho com a companheira, numa cena obviamente romântica – e a imagem que encerra a projeção, mais uma vez, volta a pintar o protagonista como um cara, no mínimo, galanteador, criando uma rima visual interessante com o desfecho de Dr. No (ambos os filmes terminam com Bond e a bondgirl da ocasião se beijando num barco). Neste sentido, Sean Connery continua mostrando-se a escolha perfeita para o papel, já que sua postura física imponente, sua expressão sempre determinada e sua voz grave ajudam a consolidar o agente 007 como uma figura marcante. No entanto, desta vez Connery acerta ao trazer a James Bond uma atmosfera mais carregada do que víramos no capítulo anterior, exibindo, em particular, um olhar que sugere mais instabilidade.

Criando sequências que, mesmo variadas em escala, são igualmente hábeis ao gerar tensão (a revelação ocorrida dentro de um trem é tão angustiante quanto a perseguição de lancha/helicóptero que ocorre no terceiro ato), Moscou Contra 007 aproveita muito bem o fato de mudar constantemente de locação, saltando de uma vila pequena no interior de Istambul (e que traz, consigo, alguns elementos culturais típicos do país) ao Grande Canal de Veneza em pouco menos de uma hora de projeção – e impedindo, portanto, que a narrativa fique parada num só ponto. Além disso, a decisão do diretor de fotografia Ted Moore de investir em luzes mais fracas e em cenas mais escuras (ora à noite, ora em ambientes fechados e pouco iluminados) revela-se apropriada para uma obra que, afinal, se propõe a ser um pouco mais sombria que sua antecessora.

Introduzindo o vilão Ernst Stavro Blofeld, líder da SPECTRE, de maneira absolutamente icônica e com total devoção aos pequenos detalhes de sua persona (jamais vemos seu rosto – este só viria a aparecer em Só Se Vive Duas Vezes –, apenas ouvimos sua voz e observamos suas mãos enquanto mexe em botões e acaricia um gatinho), Moscou Contra 007 é uma obra um pouco mais… intensa do que Dr. No. Não foge da proposta escapista e absurda estabelecida pelo anterior, mas representa, de certa maneira, um amadurecimento tanto para James Bond quanto para o universo que o cerca.

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