Goldfinger (1)

Título Original

Goldfinger

Lançamento

18 de setembro de 1964

Direção

Guy Hamilton

Roteiro

Richard Maibaum e Paul Dehn

Elenco

Sean Connery, Honor Blackman, Gert Fröbe, Shirley Eaton, Tania Mallet, Harold Sakata, Bernard Lee, Cec Linder, Martin Benson, Desmond Llewelyn e Lois Maxwell

Duração

110 minutos

Gênero

Nacionalidade

Inglaterra

Produção

Harry Saltzman e Albert R. Broccoli

Distribuidor

MGM

Sinopse

James Bond é (Sean Connery) encarregado de espionar Goldfinger (Gert Fröbe), um poderoso milionário cujas remessas de ouro espalhadas por diversos países podem esconder ações criminosas. Após ser capturado, Bond descobre que o plano de Goldfinger é bem maior do que ele imaginava: Goldfinger pretende roubar nada mais nada menos do que as reservas americanas de ouro, guardadas no Forte Knox.

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007 Contra Goldfinger | Crítica

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Assistir a 007 Contra Goldfinger é identificar vários elementos que não apenas se tornariam marcas registradas da série como também viriam a influenciar dezenas de outras obras nas décadas seguintes. É aqui que vemos, pela primeira vez, o carro Aston Martin DB5 e suas possibilidades absurdas, um subvilão cuja força e resistência são praticamente sobre-humanas, uma sequência de créditos iniciais acompanhada de uma canção original e um monte de outros conceitos memoráveis. No entanto, o mais curioso é que, mesmo dando continuidade à abordagem icônica e fantasiosa que havia sido estabelecida ainda em Dr. No, estas novidades são equilibradas por diversos outros aspectos narrativos que, em contrapartida, flertam com a atmosfera dramática e urgente que tomou conta do longa anterior, Moscou Contra 007. Assim, Goldfinger não só combina os elementos responsáveis pelo sucesso de seus antecessores como também os aprimora, alcançando resultados particularmente brilhantes neste sentido.

Já começando com a inesquecível sequência de créditos que, embalada pela belíssima voz de Shirley Bassey ao cantar a música-tema “Goldfinger”, sobrepõe trechos das cenas que veremos nas duas horas seguintes e imagens que mostram o corpo da atriz Margaret Nolan banhado de ouro, este terceiro filme começa com James Bond sendo enviado para espionar o milionário Auric Goldfinger, que, habituado a empregar táticas, no mínimo, suspeitas para enriquecer cada vez mais, parece esconder ações criminosas por trás de seus panos. Ao investigá-lo, porém, Bond descobre que as ambições de Goldfinger são infinitamente maiores do que se esperava: não satisfeito com os rios de dinheiro já incluídos em sua conta bancária, o vilão pretende assaltar as reservas norte-americanas de ouro guardadas no Forte Knox, orquestrando, portanto, o maior assalto a banco já registrado na História – e, para dificultar ainda mais a missão do agente 007, Goldfinger contará com a ajuda do brutamontes Oddjob e da secretária Pussy Gallore (que, sim, inevitavelmente assumirá o papel de bondgirl da vez).

Marcando a estreia de Guy Hamilton na direção dos filmes de James Bond (ele voltaria ao comando de Os Diamantes São EternosViva e Deixe Morrer O Homem Com a Pistola de Ouro), Goldfinger mostra-se ainda mais impressionante do ponto de vista técnico que seus antecessores – e, se a tomada aérea que sobrevoa um hotel à beira da praia de Miami no início da projeção é de tirar o fôlego, o mesmo pode ser dito sobre as sequências de ação, que surgem pontuais, mas sempre eficientes (a perseguição de carro que envolve Bond e Goldfinger, em particular, é carregada de tensão e energia). Ainda assim, o que torna o trabalho de Hamilton tão fascinante é mesmo sua capacidade de lidar simultaneamente com abordagens que Terence Young havia trabalhado de maneira separada entre Dr. No e Moscou Contra 007 – e, apesar das investidas dramáticas (que discutirei mais à frente), Goldfinger não se constrange ao abraçar o absurdo completo; algo que fica comprovado logo nos primeiros minutos do filme, quando Bond, ao sair de uma roupa de mergulho recém-usada, aparece com um smoking branco, bem passado e perfeitamente alinhado. O que importa, afinal, não é a praticidade, mas a elegância.

O mesmo se aplica, inclusive, a outro momento icônico que viria a ser exaustivamente referenciado em dezenas de obras posteriores: aquele em que o vilão prende 007 a uma mesa e programa o raio laser mais lento do mundo para partir seu corpo ao meio, num processo que, sejamos francos, levaria umas duas horas para terminar – e, se isto poderia soar ridículo em uma produção que buscasse uma abordagem mais “plausível”, aqui funciona perfeitamente como ferramenta de humor, mostrando-se alinhada à ideia de adotar o exagero como parte integral do universo criado pelo filme. E, se Oddjob complementa bem esta proposta ao revelar-se um subvilão aparentemente indestrutível (exigindo que o herói busque medidas inesperadas para derrotá-lo), o carro Aston Martin DB5 quase se transforma em um personagem à parte, desempenhando a importante função de reforçar o aspecto fabulesco – e, de novo, absurdo – da mitologia acerca de James Bond (acreditem: há coisas que este carro faz que são dignas de um episódio de Speed Racer).

Por outro lado, há uma série de outros momentos que, de certa maneira, rejeitam esta entrega ao absurdo, seja através de situações cujas premissas mantêm um pé no mundo real ou mesmo através de toques dramáticos que, heranças de Moscou Contra 007, contrabalanceiam o humor de outras passagens e acrescentam uma camada “humana” a personagens que, em outros momentos, são ícones completos – assim, não deixa de ser interessante que a busca de James Bond por Goldfinger seja, em maior ou menor grau, uma missão de vingança, tornando-se mais pessoal do que deveria. (Aliás, a vítima que Bond deseja vingar, a ex-capanga Jill Masterson, tem uma irmã que, não por coincidência, também está atrás de uma vingança contra o vilão, o que é curioso embora o filme dedique pouco tempo a ela.) Neste sentido, a cena mais marcante de Goldfinger – a que traz o cadáver de Masterson pintado de ouro sobre uma cama – acaba servindo como um reflexo da própria abordagem de Guy Hamilton: por um lado, a imagem de um corpo humano banhado em ouro é marcante por natureza; por outro, é também sinistra e incômoda (afinal, trata-se de uma pessoa morta).

O que nos traz ao vilão-título – outro personagem que, à sua maneira, reflete as principais virtudes do filme e da direção de Hamilton: encarnado por Gert Fröbe como um homem megalomaníaco por definição, Auric Goldfinger é, ao mesmo tempo, um sujeito relativamente fácil de supor que exista no mundo real, já que, por mais que seus gadgets sejam de última geração e que a grandeza de seus planos seja notável, seus interesses são motivados… bem, pela ganância; por uma vontade fútil de se tornar ainda mais rico e intimidador do que já é (aliás, a ideia de um vilão obcecado por ouro se chamar “Goldfinger” é divertida em função da caricatura). Assim, se Dr. No e Blofeld são vilões cujos objetivos são grandiosos, Goldfinger é um inescrupuloso cujos meios podem até ser grandiosos, mas cujo objetivo é, em última análise, mundano. Para completar, Sean Connery segue excelente em sua caracterização de James Bond, retratando-o como um herói que parece ter aceitado os exageros do universo ao seu redor e que se diverte imensamente com o próprio charme (ainda que sua forma de tratar as mulheres seja obviamente reprovável), ao passo que Honor Blackman estabelece Pussy Gallore como uma bondgirl repleta de personalidade, carisma e – não menos importante – habilidade como lutadora, o que a torna ainda mais imponente.

Beneficiado por um roteiro engenhoso que, escrito por Richard Maibaum (Dr. No e Moscou Contra 007) e Paul Dehn (em sua única passagem pela série), amarra várias pontas que pareciam soltas e que acabam assumindo o papel de “pistas e recompensas” (quando Bond alerta para o perigo de usar armas em aviões, por exemplo, é porque mais tarde isto pode retornar como uma solução para um problema final), Goldfinger é enriquecido também pela direção de arte de Peter Murton, que, fazendo jus à abordagem propositalmente exagerada do projeto (é neste filme que vemos, pela primeira vez, o laboratório no qual são testados os gadgets que virão a ser usados por Bond), mostra-se inteligente ao fazer a simples presença do vilão encontrar ecos em objetos de cena e peças de roupas douradas que surgem do início ao fim – como se a influência de Goldfinger pudesse ser sentida em todos os instantes da narrativa mesmo que o personagem em si não estivesse em cena.

Dito isso, Goldfinger é um filme que tinha tudo para se tornar o primeiro erro da série James Bond – afinal, sua tentativa de conciliar abordagens e elementos drasticamente diferentes em uma única obra poderia perfeitamente ter resultado em uma bagunça completa. Que seja um dos melhores capítulos de toda a história do agente 007 é não apenas surpreendente, mas também digno de aplausos.

Terence Young instalou a mina, mas foi Guy Hamilton quem – com o perdão do trocadilho – encontrou o ouro.

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