Shaun, o Carneiro

Título Original

Shaun the Sheep Movie

Lançamento

3 de setembro de 2015

Direção

Mark Burton e Richard Starzak

Roteiro

Mark Burton e Richard Starzak

Elenco

As vozes de Justin Fletcher, John Sparkes e Omid Djalili

Duração

85 minutos

Gênero

Nacionalidade

Inglaterra

Produção

Paul Kewley e Julie Lockhart

Distribuidor

Universal Pictures

Sinopse

Shaun é um carneiro que, um belo dia, resolve tirar um dia de folga com os outros animais, para sair da rotina da fazenda. Só que, acidentalmente, ele acaba mandando o carinhoso fazendeiro para a cidade grande, onde o homem perde a memória. Os animais, então, comandados por Shaun, vão aprontar altas confusões no caos urbano para trazer o dono de volta para casa.

Publicidade

Shaun, o Carneiro – O Filme | Crítica

Facebook
Twitter
Pinterest
WhatsApp
Telegram

Para saber como seria um filme que materializasse os conceitos de alegria e ternura, basta assistir a Shaun, o Carneiro: inteligente, divertida e amável como seu personagem-título, a nova animação do estúdio inglês Aardman serve como uma pedida certeira para aqueles que, como eu, vinham precisando de algo que afastasse (mesmo que temporariamente) o desânimo motivado pelas tragédias recentes do mundo ao seu redor. Depois de desapontar em 2012 com o fraco Piratas Pirados!, o estúdio responsável pelos ótimos Fuga das GalinhasWallace & Gromit e Operação Presente (além do simpático Por Água Abaixo) volta a presentear o público com uma fascinante e inesquecível montanha-russa de emoções.

Baseado na série animada homônima (que nunca vi) cujos personagens haviam sido criados como coadjuvantes de Wallace & Gromit, o filme se concentra no carneiro Shaun, que, cansado de sua rotina repetitiva, decide elaborar e pôr em prática, junto aos colegas de rebanho, um plano (bem curioso, por sinal) para conseguir uma folguinha. No entanto, quando tudo parecia dar certo, as ações dos carneiros acabam fazendo o fazendeiro ir parar na Cidade Grande (sim, este é o nome do lugar) e perder a memória. Com isso, Shaun, seu rebanho e o cão Bitzer decidem partir para o centro urbano e trazer o fazendeiro de volta – uma tarefa que se torna ainda mais desafiadora quando um operário da carrocinha resolve persegui-los.

A julgar por esta descrição, talvez pareça se tratar de uma trama bobinha e simplória – no entanto, é aí que reside uma das grandes virtudes de Shaun, o Carneiro: reconhecendo que um projeto como este não depende de uma trama excessivamente elaborada, os diretores Mark Burton e Richard Starzak assumem estar criando uma narrativa despretensiosa, dando-se ao luxo, inclusive, de dispensar quaisquer diálogos ao longo da projeção (em vez de falas, ouvimos apenas grunhidos, latidos, balidos, etc). Neste sentido, o humor adotado pelo filme não poderia ser mais universal: por um lado, os mais velhos certamente se divertirão com as várias referências a outras obras populares (a capa de “Abbey Road”; o cartaz de uma tal de “Breaking Dad” na parede de um beco; as citações visuais a momentos icônicos de Taxi DriverCabo do Medo e O Silêncio dos Inocentes; etc); por outro, tanto os adultos quanto as crianças serão conquistadas pela lógica absurda das gags visuais (aliás, toda a sequência ambientada num restaurante e que traz os carneiros simulando comportamentos humanos consegue fazer funcionar até mesmo piadas envolvendo arrotos e peidos, servindo de lição para Adam Sandler e Rob Schneider).

No entanto, por mais que não perca tempo tentando se mostrar mais espertinho do que realmente é, Shaun, o Carneiro ainda consegue encontrar espaço para alfinetar, por exemplo, a ideia do culto às celebridades e o destaque que futilidades aleatórias rapidamente ganham na Internet (neste sentido, as referências ao Photoshop, ao “Nyan Cat” e às ilustrações de Shepard Fairey revelam-se perfeitas ao refletirem o mundo virtual que conhecemos e que é parodiado pelo filme). Da mesma forma, Burton e Starzak exibem um talento inesperado ao explorar os sentimentos e mesmo a fofura de seus personagens, o que resulta em momentos que, sem dever nada às passagens mais emocionantes dos melhores filmes da Pixar, revelam-se surpreendentemente tocantes (como aquela em que o rebanho se une para cantar, em coro, a música “Feels Like Summer”). Além disso, os personagens apresentados aqui são memoráveis, desde o fiel Bitzer até o adorável fazendeiro, passando pelo pato agiota, pelo vilão ao mesmo tempo divertido e ameaçador, pelo assustador cachorro que permanece estático em sua cela e, claro, pelo próprio Shaun, um carneiro amigável, simpático e dono de uma engenhosidade notável.

Como se não bastasse, Shaun, o Carneiro ainda é mais um indício da riqueza estilística que percorre todas as produções da Aardman desde o início de sua trajetória: mais uma vez criada a partir de stop-motion, esta animação conta com um cuidado técnico invejável na composição de detalhes pequenos, como as costuras das roupas, a textura dos cenários riquíssimos e a concepção visual dos personagens (acho particularmente criativo o fato de as bocas dos carneiros se localizarem não embaixo, mas no lado de suas cabeças), mérito também do excelente design de produção de Matt Perry. E se Piratas Pirados! decepcionava com uma fotografia aborrecida e desinteressante, desta vez os profissionais Charles Copping e Dave Alex Riddett mostram-se hábeis ao simular a aparência do Super-8 para retratar o passado dos personagens, ao passo que a ótima montagem de Sim Evan-Jones confere o dinamismo certo à narrativa e se sai bem, por exemplo, ao ilustrar a repetição da rotina de Shaun e de seus companheiros numa sequência que mostra o dia a dia destes.

Ainda assim, o que realmente torna Shaun, o Carneiro tão fabuloso é mesmo sua capacidade não apenas de divertir, mas de fazer o espectador sentir-se bem, leve e alegre o suficiente para parar de pensar nos problemas da vida por, ao menos, 85 minutos (algo que porcarias como Meu Malvado Favorito 2 não conseguem fazer). Trata-se de um filme tão feliz, adorável e contagiante que acredito ser impossível terminar de vê-lo sem um sorriso no rosto e um impulso constante de cantarolar a música-tema – e, graças justamente a esta leveza, o longa mostra-se capaz de despertar (com o perdão do clichê)  criança que existe em nosso interior; mas sem nunca nos tratar como idiotas. Para completar, o caráter lúdico do projeto é sempre ressaltado pela excelente trilha de Ilan Eshkeri, que apresenta-se inocente e contagiante.

Não trazendo um único momento que seja gratuito ou descartável (praticamente todos têm um propósito, mesmo que este seja ajudar a construir uma piada), Shaun, o Carneiro é um filme apaixonante que, ao jamais subestimar o espectador, leva a este a uma sensação inequívoca de encantamento, tornando-se impossível desgrudar os olhos da tela por um segundo sequer. Assim, esta nova produção da Aardman se apresenta também como seu melhor trabalho até agora – e só não será indicada ao Oscar de Melhor Animação caso a Academia enlouqueça de  vez.

Ah, e não deixem de conferir as surpresas reservadas para os créditos finais, pois são boas!

Mais para explorar

Gladiador II | Crítica

Mesmo contado com momentos divertidos e ideias interessantes aqui e ali, estas quase sempre terminam sobrecarregadas pelo tanto de elementos simplesmente recauchutados do original – mas sem jamais atingirem a mesma força.

Ainda Estou Aqui | Crítica

Machuca como uma ferida que se abriu de repente, sem sabermos exatamente de onde veio ou o que a provocou, e cujo sofrimento continua a se prolongar por décadas sem jamais cicatrizar.

Wicked | Crítica

Me surpreendeu ao revelar detalhes sobre o passado das personagens de O Mágico de Oz que eu sinceramente não esperava que valessem a pena descobrir, enriquecendo a obra original em vez de enfraquecê-la.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *