Snoopy (1)

Título Original

The Peanuts Movie

Lançamento

14 de janeiro de 2016

Direção

Steve Martino

Roteiro

Craig Schulz, Bryan Schulz e Cornelius Uliano

Elenco

As vozes de Noah Schnapp, Bill Melendez, Francesca Angelucci Capaldi, Rebecca Bloom, Anastasia Bredikhina, Noah Johnston, Kristin Chenoweth, Troy “Trombone Shorty” Andrews e Madisyn Shipman

Duração

88 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Craig Schulz, Bryan Schulz, Cornelius Uliano, Paul Feig e Michael J. Travers

Distribuidor

Fox

Sinopse

Próximo das férias de inverno, a vida de Charlie Brown e sua turma sofre uma mudança com a chegada na cidade de uma garotinha da cabelo vermelho. Brown logo se encanta pela jovem e tenta lutar contra sua timidez e sua baixa autoestima para falar com ela. Ao mesmo tempo, Snoopy encontra uma máquina de escrever e começa a imaginar uma história pra lá de fantasiosa e heróica.

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Snoopy & Charlie Brown: Peanuts – O Filme | Crítica

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Snoopy & Charlie Brown: Peanuts, o Filme conta uma história bobinha, infantil e óbvia. À primeira vista, isto pode soar como um comentário negativo sobre o longa – no entanto, até a mais batida das premissas pode alcançar bons resultados caso submetida a uma abordagem criativa. O que, felizmente, é o caso desta nova versão dos personagens criados por Charles M. Schulz: investindo num estilo estético imaginativo e em tiradas quase sempre eficazes, o filme explora ao máximo a ideia de representar na tela a visão de mundo inocente que uma criança como Charlie Brown poderia ter, demonstrando potencial para conquistar toda uma nova geração de fãs de Peanuts.

Escrito por Cornelius Uliano e por Craig e Bryan Schulz (respectivamente, filho e neto de Charles M.) com base nos personagens que surgiram nas tirinhas de jornal em 1950 e que viriam a estrelar dezenas de animações nos 65 anos seguintes, o filme nos apresenta a Charlie Brown, um menino pouco popular em seu colégio que decide elaborar um plano, ao lado de seu amigo/cachorro Snoopy, para ganhar o respeito de seus colegas e, por consequência, o amor da Garotinha Ruiva (sim, este é seu nome). A partir daí, começa uma longa batalha para que o protagonista deixe de ser um fracassado e obtenha o status de “legal” entre sua turma, ao passo que Snoopy passa dia e noite datilografando seus pensamentos numa máquina de escrever enquanto convive com o pássaro Woodstock.

Bem-sucedido em quase todas as suas tentativas de humor (da surpreendente brincadeira com o sobrenome de Liev Tolstoi à gag que traz uma colega de Charlie Brown tentando explorar o apelo de sua popularidade na escola), Snoopy & Charlie Brown é hábil ao resgatar todas as marcas registradas dos personagens de Charles M. Schulz sem que estas soem como referências aleatórias, encontrando maneiras pontuais e orgânicas de mostrar, por exemplo, as marcas de dentes no lápis da Garotinha Ruiva, o tempo que Snoopy passa deitado no telhado de sua casinha (isto quando não está tentando se inserir no círculo social de Charlie Brown e sendo repetidamente expulso pelo fato de não ser, afinal, um humano), o jeito como as falas dos adultos soam incompreensíveis aos ouvidos das crianças (e do público), a vaidade adoravelmente egocêntrica de Lucy, o hábito de Patty Pimentinha de sempre chamar o protagonista de “Minduim” e, claro, o clássico bordão “Que puxa!” (dito ainda nos primeiros minutos da projeção).

Esforçando-se em transpor para a tela o universo lúdico e imaginativo que existe dentro das cabeças das crianças (e, felizmente, acertando em cheio no processo), Snoopy & Charlie Brown não hesita em incluir, por exemplo, coraçõezinhos rodeando o protagonista quando este se descobre apaixonado pela Garotinha Ruiva, momentos nos quais Snoopy é confundido com um ser humano apenas por se vestir como tal ou mesmo uma subtrama que mostra o amor do cachorro por uma cadela – e, se rimos da reação exageradamente eufórica das crianças ao verem Charlie Brown gabaritar um teste, é porque a reação em si é tão absurda que só poderia ter saído… bem, da cabeça de uma criança. Além disso, o roteiro se sai bem ao brincar com sua própria inocência, o que é comprovado, em particular, no momento em que Charlie Brown discursa a respeito da admiração que sente por cães (“Os melhores amigos do Homem”) e Snoopy reage de forma particularmente hilária.

O próprio Charlie Brown, aliás, é um protagonista fascinante: dotado de toda a insegurança e vulnerabilidade que sempre caracterizaram o personagem nos quadrinhos e nas animações, o “Minduim” aqui é um menino cujo bom-mocismo é suficiente para ganhar a simpatia do espectador, o que também se aplica à sua ingênua (e intrigante) visão de mundo. No entanto, se Marcie, Patty Pimentinha, Lucy, Linus, Sally, Schroeder e Chiqueirinho têm seus momentos de destaque, ganhando leituras fiéis às suas versões originais, é mesmo Snoopy quem rouba a cena: dono de um carisma irresistível e de uma imaginação notavelmente fértil, o cachorro surge sempre estrelando situações que divertem em função de sua humanidade e esperteza, sendo indiscutível também o sucesso de sua dinâmica com Woodstock.

Ainda assim, o que realmente me cativou em Snoopy & Charlie Brown foi mesmo sua imaginação visual: combinando o traço dos desenhos tradicionais, a lápis, e os modelos computadorizados que passaram a dominar o mercado de animações nos últimos 20 anos, os animadores da Blue Sky chegaram, aqui, a um resultado que, mesmo cinematográfico, remete à linguagem das tirinhas e das animações 2D. E, por mais que se trate de um trabalho obviamente digital, há uma significativa bidimensionalidade na textura e nos traços dos personagens e dos cenários ao seu redor, permitindo que onomatopeias, coraçõezinhos que cercam alguém apaixonado, rabiscos que indicam ansiedade nos rostos dos personagens, linhas que contornam as cabeças de pessoas histéricas e até balões de pensamento surjam na tela.

Para completar, o diretor Steve Martino (Horton e o Mundo dos Quem) é feliz ao incluir ilustrações em preto e branco, no estilo daquelas de Charles M. Schulz, para representar o que se passa na cabeça dos personagens – e me encanta como os cabelos da Garotinha Ruiva se destacam no meio de uma cena toda cinzenta, por exemplo –, ao passo que o diretor de arte Nash Dunnigan e o diretor de fotografia Renato Falcão acertam ao investirem pesadamente em cores fortes e vibrantes que não apenas remetem diretamente ao universo dos desenhos animados, como também reforçam a leveza que define o tom do filme inteiro.

Durando ágeis e ligeiros 88 minutos, Snoopy & Charlie Brown é uma experiência leve, divertida e inocente que, de quebra, ainda presenteia o espectador com um senso estético absolutamente fascinante. E, mesmo que aqui e ali surja uma tentativa de humor menos eficiente ou um diálogo mais óbvio que o ideal, o longa jamais deixa de honrar com louvor o legado dos personagens de Charles M. Schulz.

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