Warcraft

Título Original

Warcraft

Lançamento

2 de junho de 2016

Direção

Duncan Jones

Roteiro

Duncan Jones e Charles Leavitt

Elenco

Travis Fimmel, Paula Patton, Toby Kebbell, Ben Schnetzer, Ben Foster, Dominic Cooper, Robert Kazinsky, Daniel Wu, Anna Galvin, Clancy Brown e Ruth Negga

Duração

123 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Thomas Tull, Jon Jashni, Charles Roven, Alex Gartner e Stuart Fenegan

Distribuidor

Universal Pictures

Sinopse

A região de Azeroth sempre viveu em paz, até a chegada dos guerreiros Orc. Com a abertura de um portal, eles puderam chegar à nova Terra com a intenção de destruir o povo inimigo. Cada lado da batalha possui um grande herói, e os dois travam uma disputa pessoal, colocando em risco seu povo, sua família e todas as pessoas que amam.

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Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos | Crítica

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Embora admire imensamente o poder dos jogos eletrônicos como linguagem e entretenimento, confesso que nunca fui um gamer assíduo e minha trajetória pela Décima Arte é das menos complexas; mesmo preservando um apreço especial por algumas franquias específicas. Desta forma, é de se esperar que meu conhecimento acerca do mundo de Warcraft seja o mais escasso possível, mas ainda assim sou capaz de reconhecer a grandiosidade de tal criação da Blizzard o suficiente para saber que transportá-la para outro meio artístico em apenas duas horas seria uma tarefa dificílima. Infelizmente, o cineasta Duncan Jones parece não ter compreendido um conceito fundamental a ser mantido em quaisquer adaptações: quando uma obra responsável por apresentar um universo fictício ao público exige que este tenha conhecimento prévio a respeito da produção para apreciá-la, isto só depõe contra sua verdadeira qualidade (ao contrário do que muitos fanboys afirmarão).

Dirigido e roteirizado por Jones (que realizou trabalhos bastante competentes em Lunar e Contra o Tempo), Warcraft inicia-se atirando o espectador em meio a situações fantásticas sem se preocupar em explicá-las satisfatoriamente, mostrando um exército de orcs (conhecidos como “Horda”) atravessando um portal invocado pelo líder Gul’dan para atacar o mundo dos humanos (que juntos formam a “Aliança”), já que as duas raças dividem uma rivalidade truculenta e propensa a gerar guerras constantes. Com isso, o rei Llane envia o guerreiro Lothar e seu aprendiz de mago Khadgar para requisitar o apoio do Guardião, enquanto o orc Durotan começa a duvidar das ações de Gul’dan e tenta se unir aos humanos para defender seu povo, fazendo com que Garona – uma mestiça de mulher com orquisa – sirva como uma forma de interligar as duas raças. Em meio à trama, há também a presença sintomática da “vileza”, uma espécie de energia verde que contamina tudo e todos ao seu redor com maldade e a destruição (seja lá o que isso significa exatamente).

Quando nos lembramos de filmes baseados em jogos, logo constatamos que, com as possíveis exceções de Final Fantasy Terror em Silent Hill, tais adaptações quase nunca obtém resultados minimamente positivos – e há uma razão clara por trás de fiascos como Super Mario Bros.Street FighterDoomTekkenResident EvilTomb RaiderMax PayneHitmanNeed for Speed e, claro, as atrocidades cometidas por Uwe Boll: os responsáveis por tais longas demonstravam um descaso notável na maneira com que transportavam os games para o Cinema. Neste sentido, Warcraft escapa de falhas deste tipo, já que o diretor Duncan Jones exibe do primeiro ao último segundo uma imensa paixão pela saga que a Blizzard originou em 1994 e jamais parece tropeçar por displicência ou vontade própria.

Além disso, o projeto se beneficia enormemente com o ótimo design de produção elaborado por Gavin Bocquet (das prequels de Star Wars), que se aventura na concepção de cenários majestosos e repletos de detalhes atraentes. E embora os efeitos visuais frustrem com frequência (o uso de chroma key durante a batalha final é constrangedor), ao menos a criação dos orcs mostra-se eficaz não apenas pelo bom emprego de performance capture, mas também pelas próprias aparências das criaturas, que apresentam complexidades estéticas que vão dos piercings em suas presas até os itens feitos à mão que carregam em seus corpos; aliás, são elementos deste tipo e conceitos imaginativos (como o de um personagem que “suga” e “expele” vida) que levarão os fãs da franquia à loucura.

O que nos leva ao questionamento iminente e decisivo: é positivo que Warcraft agrade apenas os fãs dos jogos? Ora, para chegar à resposta, basta concluir que um dos objetivos das adaptações é apresentar as obras em que se baseiam a novos públicos, o que naturalmente faz com que tais transposições de um meio artístico para outro adquiram a necessidade de funcionar tanto para aqueles que nunca consumiram os materiais originais quanto para os fãs destes. Lamentavelmente, Duncan Jones parece ter se empolgado demais graças à oportunidade de levar o mundo de Warcraft ao Cinema e se esqueceu de introduzi-lo com a devida cautela, tornando os personagens tão vazios e incompreensíveis quanto os alicerces que compõem o universo (visualmente belo, de fato) onde habitam – e se as soluções encontradas pelo roteiro fazem algum sentido para os fãs, no fim acabam soando estranhas (e, em algumas circunstâncias, ridículas) para os demais espectadores. Como consequência, o longa aparenta ser uma continuação de um filme que sequer existiu, e para se ter ideia do quão frágil é sua estrutura, basta imaginar o fracasso narrativo que O Senhor dos Anéis representaria caso sua trama tomasse como ponto de partida os instantes que antecedem a batalha nos Campos de Pelennor.

De todo modo, a verdade é que Warcraft já seria problemático independente disso tudo: sem jamais trazer energia ou dinamismo à narrativa, o experiente montador Paul Hirsch (Uma Nova Esperança O Império Contra-Ataca) insiste em aplicar fades-outs e cortes de fusão deselegantes sempre deselegantes, numa decepção que é igualada apenas pelo pavoroso elenco: se Paula Patton surge monocórdia em cena (e seus dentes postiços, além de horrendos, atrapalham sua dicção), Travis Fimmel revela-se facilmente substituível por uma porta, falhando em transmitir o impacto de certa tragédia em Lothar (inclusive, o próprio roteiro parece reconhecer a falta de talento do ator ao obrigá-lo a dizer “Em toda a vida, nunca senti tanta dor quanto agora“). Por sua vez, Ben Foster nunca exibe qualquer tipo de sabedoria ao viver o Guardião, gerando vergonha alheia com sua performance caricatural, ao passo que Ben Schnetzer parece saído de uma peça teatral escolar e Dominic Cooper continua sendo o mesmo Dominic Cooper de sempre (o que é um péssimo sinal). O único destaque fica por conta de Toby Kebbell, que empresta seus movimentos ao orc Durotan e ironicamente o transforma no personagem mais “humano” da obra.

Causando confusão ao misturar inglês com a língua dos orcs (por que não trazê-los falando em sua língua do início ao fim? Ah, sim: porque aparentemente o público abomina legendas mesmo que durem apenas metade da projeção.), Warcraft é um filme feito por um fã para fãs. A princípio, esta afirmação poderia representar um enorme elogio, mas é triste que, no processo, Duncan Jones tenha se esquecido de fazer com que os demais espectadores se sentissem igualmente cativados pela obra – e foi por este motivo que, conferindo esta adaptação, senti-me como se estivesse num lugar onde não era bem-vindo.

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