Power Rangers (1)

Título Original

Saban’s Power Rangers

Lançamento

23 de março de 2017

Direção

Dean Israelite

Roteiro

John Gatins

Elenco

Dacre Montgomery, Naomi Scott, RJ Cyler, Becky G, Ludi Lin, Bryan Cranston, Elizabeth Banks, Bill Hader e David Denman

Duração

124 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Haim Saban, Brian Casentini, Marty Bowen e Wyck Godfrey

Distribuidor

Paris Filmes

Sinopse

A jornada de cinco adolescentes que devem buscar algo extraordinário quando eles tomam consciência que a sua pequena cidade Angel Grove – e o mundo – estão à beira de sofrer um ataque alienígena. Escolhidos pelo destino, eles irão descobrir que são os únicos que poderão salvar o planeta. Mas para isso, eles devem superar seus problemas pessoais e juntarem sua forças como os Power Rangers, antes que seja tarde demais.

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Power Rangers | Crítica

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O universo dos Power Rangers nunca me fascinou – o que é inesperado, já que fui criança no final dos anos 1990/início dos anos 2000 e investi dezenas de horas da minha infância assistindo à programação da saudosa Fox Kids. Sim, lembro de ter visto vários episódios das inúmeras formações dos heróis (especialmente de Mighty Morphin, Força Animal e alguma coisa de Tempestade Ninja), mas acho que fazia isso mais por preguiça de mudar de canal do que por amar a franquia. Reutilizando cenas de lutas que originalmente integravam os super sentai (seriados japoneses nos quais supergrupos enfrentavam vilões extravagantes e monstros gigantes, como Changeman e Flashman), o “tokusastu ocidental” produzido por Haim Saban e Shuki Levy era divertidinho, mas também tolo demais para sobreviver ao teste do tempo – e não creio que seja boa ideia tentar rever a série hoje, já que a nostalgia poderia rapidamente ser substituída pelo desapontamento.

Já o novo filme está à altura daquilo que Power Rangers sempre foi. Isso não é bem um elogio.

Roteirizado pelo mesmo John Gatins por trás do argumento de Kong: Ilha da Caveira, o novo Power Rangers tem início com uma cena na qual uma antiga geração de guardiões ser traída por uma ex-Ranger em frente à Fortaleza da Solidão. Após este prólogo, um salto temporal nos traz aos tempos atuais e se revela uma versão millennial do Clube dos Cinco, na qual os jovens Jason, Billy, Kimberly, Trini e Kwan ganham superpoderes e estrelam peripécias no estilo de Poder Sem Limites. Ao entrarem numa espaçonave de O Homem de Aço, os rapazes escutam um monólogo do holograma de Zordon e passam a treinar para assumir o posto dos Power Rangers, lutando contra a vilã de Esquadrão Suicida e comandando zords que, juntos, se transformam em Optimus Prime.

Como podem perceber, está longe de ser a mais original das premissas. De todo modo, isso não justifica os diálogos terrivelmente fracos e o senso de humor que já começa a dar sinais de irregularidade nos minutos iniciais da projeção, quando vemos uma piadinha envolvendo o pênis de um boi. E se a cena que traz a maligna Rita Repulsa (adoro este nome) comendo numa loja de donuts é moderadamente divertida, o mesmo não pode ser dito sobre a reação da mãe de Trini quando esta anuncia que ganhou superpoderes, o instante no qual Kwan diz que se morfou no banheiro e, claro, a ridícula dancinha do Megazord no final. Para piorar, o péssimo roteiro cria diversas coincidências que perduram ao longo de toda a narrativa: Jason e Billy convenientemente encontram Kimberly no meio da floresta durante a madrugada; a vilã desperta de um sono que durou milhões de anos na mesma época em que Zordon foi revivido descobrindo os novos heróis; e esse mesmo evento foi desencadeado pelo pai de Jason.

Mas nada se iguala aos pavorosos efeitos visuais, que não só surgem artificiais como ainda se mostram incapazes de esconder as limitações orçamentárias do projeto, atingindo o ápice da precariedade quando um monstro dourado gigante surge para destruir Alameda dos Anjos (nem comento aquele espaço sideral que aparece por alguns segundos no terceiro ato). E se o design dos capangas da vilã é tão pobre quanto os zords comandados pelos heróis (é difícil entender o que a aparência de cada um deles representa), a direção de Dean Israelite (Projeto Almanaque) tropeça ao mover demais a câmera a fim de disfarçar algumas falhas técnicas e realiza sequências de ação que, embora inteligíveis no que diz respeito à mise-en-scène, jamais empolgam ou são conduzidas de maneira minimamente inspirada. Além disso, os figurinos e itens usados pelos jovens antecipam de forma infantil as cores dos uniformes que os Rangers usarão ao salvarem o mundo, como pode ser visto na bicicleta vermelha de Jason, no capacete azul de Billy, no sutiã rosa de Kimberly, nas roupas amarelas de Trini e na jaqueta preta de Kwan…

… e sabem o que é o pior de tudo? Posso apostar que, neste exato momento, alguns leitores podem me acusar de “não ter entendido a proposta do filme” ou “enxergar a produção como algo muito mais sofisticado do que realmente é”. Mas aqui, entra o maior pecado do longa: rendendo-se à christophernolanização pós-O Cavaleiro das Trevas que já comprometeu As Tartarugas NinjaO Espetacular Homem-AranhaQuarteto Fantástico e até Hércules, o novo Power Rangers exibe um desconforto notável em suas tentativas de transformar o impossível em plausível, como se o diretor Dean Israelite tentasse dizer “hey, eu não queria levar isso tão a sério, mas é o que estou tendo que fazer”. Assim, o resultado nunca soa seguro como divertimento escapista e jamais se equipara a projetos eficientes como Círculo de Fogo, Guardiões da Galáxia ou Kong, explicando a “mitologia” dos Rangers como se fosse complexa, investindo numa fotografia aborrecida que se acha sombria e se esforçando para “justificar” coincidências injustificáveis – e o que poderia ser uma bobagem agradável se torna simplesmente ridículo.

Por outro lado, é importante reconhecer que Power Rangers conta com um elenco diversificado e que inclui minorias geralmente esquecidas pela maioria dos blockbusters, trazendo um quinteto composto por duas mulheres, um negro, um asiático e uma homossexual (e, desta vez, não é o negro que veste preto nem é o asiático que veste amarelo, o que minimiza o estereótipo que havia no seriado original). Infelizmente, quando o roteiro começa a se aprofundar nos dilemas dos personagens, essa tentativa é imediatamente ignorada: o amadurecimento de Jason é inexpressivo assim como sua relação com o pai; o autismo de Billy não sabe se busca razões dramáticas ou cômicas; o arco dramático de Kimberly tenta comentar a cultura dos nudes e imagens vazadas, mas sempre soa deslocado do resto da narrativa; a homossexualidade de Trini é resumida a uma única fala expositiva; e o cuidado que Kwan oferece à mãe nunca é abordado de modo impactante o suficiente.

Em contrapartida, os atores podem até ser muito ruins, porém contam com uma química surpreendentemente boa ao se juntarem (e quando descobrem seus superpoderes, a impressão que temos é de que são adolescentes genuinamente encantados com suas novas habilidades). Ainda assim, jamais conseguirei entender o que Bryan Cranston (cuja carreira no Cinema vem desapontando bastante) está fazendo num longa desses; e é estranho ouvir palavras como “cristais zeo“, “meus Rangers”, “Gondor” e “Rita Repulsa” saindo da boca do ator que viveu Walter White em Breaking Bad. Quem se dá bem aqui é Elizabeth Banks, que me parece ser a única do elenco que sabe que está participando de um filme ruim e se esforça para deixá-lo ainda pior, alcançando resultados divertidíssimos, ao passo que Alpha 5 é bastante esquecível mesmo exibindo uma personalidade um pouco menos irritante do que sua versão original.

Decepcionante ao referenciar a emblemática música-tema da série original, que aqui surge durante poucos segundos e é modernizada de forma ridiculamente genérica, Power Rangers é o tipo de filme que tenta criar um draminha artificial envolvendo o destino de certo personagem sem se dar conta de que o espectador é capaz de antever o que realmente está acontecendo desde o princípio, o que culmina num momento cuja idiotice é complementada pelo uso de uma regravação horrorosa de “Stand by Me”.

Assim, o melhor que posso dizer sobre este reboot é que ele provavelmente vai agradar somente os já apaixonados pela franquia de Haim Saban; o resto do público, porém, dificilmente sairá da sala de cinema interessado em conferir as próximas aventuras do super sentai norte-americano.

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