Missão Impossível Fallout

Título Original

Mission: Impossible – Fallout

Lançamento

26 de julho de 2018

Direção

Christopher McQuarrie

Roteiro

Christopher McQuarrie

Elenco

Tom Cruise, Henry Cavill, Rebecca Ferguson, Ving Rhames, Simon Pegg, Sean Harris, Michelle Monaghan, Alec Baldwin, Vanessa Kirby, Angela Bassett, Wes Bentley, Frederick Schmidt

Duração

147 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Christopher McQuarrie, Tom Cruise, J.J. Abrams, David Ellison, Dana Goldberg, Don Granger, Jake Myers

Distribuidor

Paramount Pictures

Sinopse

Em uma perigosa tarefa para recuperar plutônio roubado, Ethan Hunt opta por salvar sua equipe em vez de completar a missão. Com isso, armas nucleares caem nas mãos de agentes altamente qualificados e que pertencem a uma rede mortal que deseja destruir a civilização. Agora, com o mundo em risco, Ethan e sua equipe da IMF são forçados a aliar-se a um obstinado agente da CIA.

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Missão: Impossível – Efeito Fallout | Crítica

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Há 22 anos, quando Tom Cruise encarnou o espião Ethan Hunt pela primeira vez e se viu pendurado numa sala secreta da CIA tendo que conter uma gota de suor, ficou claro que aquele ótimo Missão: Impossível dirigido por Brian De Palma poderia estar dando início a uma franquia interessante. E se o segundo filme revelou-se abaixo do original, a série logo se recuperou com Missão: Impossível 3 e conseguiu manter um padrão de qualidade admirável com Protocolo FantasmaNação Secreta. Aliás, basta ver a quantidade de cineastas talentosos que passaram pela franquia (como De Palma, J.J. Abrams, Brad Bird e mesmo John Woo) para entender o porquê deste status.

Mas nada me preparou para Efeito Fallout, que, à sua maneira, simplesmente acaba de alçar Missão: Impossível a um patamar ainda mais espetacular. Se eu tivesse que listar os dez melhores momentos de todos os seis longas protagonizados por Ethan Hunt, provavelmente uns quatro ou cinco pertenceriam a este sexto filme.

Dirigido e roteirizado pelo mesmo Christopher McQuarrie do capítulo anterior (e que já havia trabalhado com Tom Cruise no primeiro Jack Reacher), Efeito Fallout se passa dois anos depois que o Sindicato foi desmantelado no fim de Nação Secreta. O que os heróis não esperavam, porém, é que os remanescentes daquela organização formassem um novo grupo terrorista: os Apóstolos. Assim, quando três cápsulas de plutônio são roubadas pelos vilões, Ethan Hunt e seus parceiros Luther e Benji são enviados em uma missão para recuperar o armamento – isto sem contar a importante presença de outras duas figuras: a espiã Ilsa Faust, que mais uma vez cruza com Hunt em seu caminho, e o ameaçador August Walker, que é mandado na operação contra a vontade do protagonista.

Voltando a apostar naquela ideia de que Missão: Impossível é, desde o seriado dos anos 1960, uma história sobre a Arte da enganação, Efeito Fallout conta uma história que pode até não ser das mais originais, mas que sempre encontra maneiras inusitadas de surpreender o espectador – e mesmo que o espectador saiba mais ou menos como tudo vai terminar, os momentos-chave da narrativa que conduzem a este desfecho apresentam revelações divertidamente inesperadas (uma delas vem ainda no prólogo, quando um paciente no quarto de um hospital descobre que… não, é melhor manter em segredo). Sim, chega uma hora em que as sucessivas reviravoltas começam a soar implausíveis e rocambolescas demais, mas parte da graça de Missão: Impossível parte justamente disso. O mais curioso, no entanto, é perceber como os heróis não precisam necessariamente esconder seus rostos debaixo de máscaras, já que, na maior parte do segundo ato, Ethan Hunt finge ser quem não é sem ter que cobrir sua face. E se o momento onde certo personagem revela ser o vilão da história poderia ser considerado previsível, a obviedade da situação é contornada pelo fato de que os próprios personagens envolvidos previam essa revelação tanto quanto o espectador.

Tão importante quanto a Arte da enganação é a capacidade que os heróis têm de improvisar, já que, desta vez, os planos elaborados por Ethan Hunt e sua equipe nem sempre dão certo (afinal, eles são seres humanos imperfeitos) e isto os leva a agir de maneira quase instintiva – não é à toa que é justamente este tipo de improvisação que leva o protagonista a fingir ser outra pessoa sem cobrir o rosto. Isto, inclusive, é um dos fatores que distanciam Hunt de August Walker: se o primeiro está disposto a agir de supetão quando necessário, o segundo acredita que este tipo de coisa não existe no mundo da espionagem. Walker é, portanto, a representação ideal do conceito de antagonista, pois vai na contramão de tudo aquilo que define Hunt – e embora Henry Cavill esteja longe de ser o mais expressivo dos atores, sua presença em cena é mais do que adequada aqui, já que sua imponência física, sua agilidade nas sequências de ação e seu tom de voz que alterna entre o sarcasmo e a impaciência certamente estabelecem Walker como o melhor vilão da franquia desde Philip Seymour Hoffman em Missão: Impossível 3.

O que nos traz, claro, ao protagonista: tornando-se mais interessante a cada novo filme, o espião Ethan Hunt é continuamente confrontado em Efeito Fallout – e digo isso não me referindo somente à pancadaria, mas à sua conduta ética e moral. Assim, um dos elementos dramáticos mais eficientes do longa consiste em ver Hunt atirado em situações onde é quase obrigado a matar inocentes, se recusando a fazê-lo e se desdobrando para executar suas tarefas sem que policiais ou cidadãos comuns tenham que morrer. Da mesma forma, Tom Cruise demonstra que está bem acostumado a interpretar Hunt depois de seis aventuras e conhece cada nuance da persona do herói, conferindo um carisma que imediatamente leva o público a simpatizar com o sujeito. Não menos importante é a entrega de Cruise ao papel, que (como todos sabem) faz questão de dispensar dublês e protagonizar as próprias sequências de ação – e isto é fundamental, pois o fato do rosto do ator estar presente e relativamente próximo à câmera permite que o espectador fique ainda mais atento ao que está sendo mostrado.

Mas Cruise e Cavill não são os únicos destaques de Efeito Fallout: novamente encarnando a ambígua Ilsa Faust com força e convicção, Rebecca Ferguson transmite muitíssimo bem os dilemas pessoais de sua personagem, que encontra dificuldades ao conciliar suas obrigações particulares e o apego que sente por Ethan – e não deixa de ser interessante que Faust frequentemente tome o controle da ação para si, não dependendo sempre dos outros para escapar de uma situação perigosa. E se Simon Pegg segue divertidíssimo ao assumir a posição de alívio cômico e ganha a oportunidade de participar de uma ou outra briga mais intensa, Ving Rhames volta a desempenhar um papel mais relevante na trama, o que é ótimo. Para completar, Sean Harris consegue projetar ameaça e instabilidade mesmo acorrentado e preso a uma camisa de força na maior parte do tempo, ao passo que Alec Baldwin é sempre uma presença agradável de se ver.

Mergulhado numa atmosfera bem mais densa e dramática do que estávamos acostumados a ver na série Missão: Impossível (com a possível exceção do terceiro capítulo, que de fato era um pouco mais sombrio que o habitual), Efeito Fallout já começa com uma sequência impactante que antevê com precisão o tom que ressurgirá ao longo das mais de duas horas que vêm em seguida – e o retorno de alguns personagens do passado torna-se fundamental para que o espectador acredite no drama que Ethan Hunt enfrenta desta vez, o que transforma esta aventura numa das mais pessoais que o herói já viveu e ainda serve para amarrar pontas que tinham ficado soltas nos filmes anteriores. Mas não é só: conforme a projeção vai progredindo, Christopher McQuarrie vai construindo uma tensão crescente que mantém o público sempre preso ao que está acontecendo, culminando num clímax impecável que faz jus aos vários momentos angustiantes que o precederam. O que não quer dizer, por outro lado, que o longa não conte com qualquer tipo de leveza – e o melhor de tudo é constatar como as piadas conseguem se encaixar no meio dos pontos mais cruciais da narrativa sem atenuar a tensão, o que novamente comprova a eficácia de McQuarrie ao estabelecer o tom da trama.

Mas o que realmente faz a diferença em Missão: Impossível 6 é o brilhantismo de suas várias sequências de ação – e, neste sentido, Christopher McQuarrie já tinha feito um trabalho fabuloso em Nação Secreta, mas comparado ao que realizou em Efeito Fallout… uau. Para começo de conversa, é admirável que cada uma das set pieces tenha uma personalidade própria: elas podem envolver tiros, socos, chutes, queda livre e perseguições a pé, de moto, de carro e até mesmo de helicóptero; sem contar que os cenários estão sempre variando, então todas estas cenas podem ocorrer num banheiro, num esconderijo escuro, nas ruas de Paris, nos terraços dos prédios de Londres, nas montanhas geladas da Caxemira ou no meio dos relâmpagos de uma tempestade (pois é). Assim, quando termina uma cena que parece insuperável, logo vem outra que se revela ainda melhor.

Claro que estas set pieces não seriam bem-sucedidas se a direção não desse conta do recado, sendo então um alívio que McQuarrie não só cumpra bem a função como também mereça aplausos por seu desempenho aqui: em vez de ficar cortando a cada segundo e chacoalhando a câmera o tempo inteiro, o cineasta aposta em tomadas suficientemente longas, mantém o quadro estável o bastante e mostra com cuidado o cenário no qual a ação se passará através de planos gerais, abertos e/ou conjuntos – e permitindo, com isso, que o espectador compreenda a lógica espacial e geográfica destas sequências (quem está aonde em relação a quê ou quem). Desta maneira, a ação retratada em Missão: Impossível 6 torna-se não apenas elegante e criativa, mas também clara e organizada. Por fim, McQuarrie ganha pontos ao evitar que estas cenas soem gratuitas e deslocadas, usando-as para desenvolver a história e os personagens (algo que George Miller fez com maestria em Mad Max).

Conferindo dinamismo e agilidade a uma projeção que dura consideráveis 147 minutos, o montador Eddie Hamilton (que merece prêmios por seu trabalho aqui) encontra formas elegantes de transitar entre uma cena e outra, utilizando as clássicas “cortinas” que são puxadas conforme algo ou alguém se desloca (um exemplo: ainda no prólogo, uma nuvem de fumaça serve para encobrir o rosto de Tom Cruise e sobrepôr, em seu lugar, o plano que inicia a cena seguinte) – em compensação, o recurso não é usado do primeiro ao último instante, surgindo de modo econômico e pontual sem soar exibicionista. Igualmente formidáveis são as montagens paralelas, que, no terceiro ato, saltam de uma perseguição envolvendo helicópteros aos esforços de um grupo que procura e/ou desarma bombas, mas nunca deixando o espectador perder o interesse em uma das duas ações simultâneas – e não só: algumas sequências demoram a se identificar como flashfowards ou imaginações mentalizadas pelos personagens, o que revela-se uma decisão particularmente charmosa.

E há, para concluir, a excelente (e estrondosa) trilha musical composta por Lorne Balfe, que se sai muitíssimo bem ao investir em tambores e notas graves que sempre ajudam a fortalecer o sentimento de urgência – e o peso dramático de outras sequências é bem representado através de melodias mais melancólicas, ao passo que o icônico tema criado por Lalo Schifrin nos anos 1960 ganha uma série de variações inspiradas (algumas a partir de violinos, inclusive). Por falar em som, este é indispensável num filme explosivo como Missão: Impossível 6, que mostra-se inteligente ao empregar o barulho crescente de um trem correndo sob os trilhos a fim de gerar tensão em certo instante – e notem que, quando a câmera acompanha uma moto em alta velocidade que passa ao lado de várias pilastras, estas vão projetando rápidos sons cortados pelo vento.

Agora espero, portanto, que as aventuras de Ethan Hunt não terminem por aqui. Enquanto Tom Cruise sobreviver às peripécias insanas que vem praticando – e que vêm gerando resultados cada vez mais divertidos –, a franquia merece durar um bom tempo.

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