Mulher-Maravilha

Título Original

Wonder Woman

Lançamento

1º de junho de 2017

Direção

Patty Jenkins

Roteiro

Allan Heinberg

Elenco

Gal Gadot, Chris Pine, Robin Wright, Connie Nielsen, David Thewlis, Danny Huston, Elena Anaya, Lucy Davis, Saïd Taghmaoui, Ewen Bremner, Eugene Brave Rock

Duração

141 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Charles Roven, Zack Snyder, Deborah Snyder, Richard Suckle

Distribuidor

Warner Bros.

Sinopse

Treinada desde cedo para ser uma guerreira imbatível, Diana Prince (Gal Gadot) nunca saiu da paradisíaca ilha em que é reconhecida como princesa das Amazonas. Quando o piloto Steve Trevor (Chris Pine) se acidenta e cai numa praia do local, ela descobre que uma guerra sem precedentes está se espalhando pelo mundo e decide deixar seu lar certa de que pode parar o conflito. Lutando para acabar com todas as lutas, Diana percebe o alcance de seus poderes e sua verdadeira missão na Terra.

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Mulher-Maravilha | Crítica

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Em certo momento de Mulher-Maravilha, a protagonista e seu parceiro vivido por Chris Pine entram num beco e são emboscados por sujeitos armados. Quando um dos adversários atira em direção ao homem, a personagem-título imediatamente usa seu bracelete para fazer com que a bala ricocheteie e não acerte o companheiro. Trata-se, é claro, de uma inversão dos papéis que pertenceram a Christopher Reeve e Margot Kidder no Superman que Richard Donner dirigiu em 1978, quase como se o roteirista Allan Heinberg e a diretora Patty Jenkins observassem a cultura dos longas-metragens adaptados de quadrinhos e amigavelmente dissessem: “nós adoramos filmes de super-heróis e agradecemos à existência destes, mas chegou a hora das mulheres ganharem um espaço no meio dessa turma toda”.

Assim, depois de anos com uma dominação majoritariamente masculina, é admirável que o subgênero enfim tenha conseguido produzir uma obra hábil ao desenvolver a questão da representatividade feminina, já que os poucos filmes de super-heroínas realizados até aqui haviam resultado em desastres (Supergirl; Tank Girl; Barb Wire; Mulher-GatoElektra). E quando a protagonista de Mulher-Maravilha desprende seus cabelos, sai de uma trincheira e parte em direção ao campo de batalha com uma imponência invejável, a cena desperta emoções que vão além da pura empolgação e torna-se particularmente tocante, pois a construção de Diana Prince como uma personagem forte que a levou até aquele momento havia sido conduzida com uma sinceridade que não se vê todo dia. Não se trata de um projeto que reconhece a relevância de sua própria natureza e acredita que isso é o que basta para receber aplausos, mas um que se esforça para merecê-los e que é bem-sucedido no processo.

Concebido como um flashback de duas horas, o longa se passa na época da Primeira Guerra Mundial e revela os anos que deram origem à Mulher-Maravilha que vimos em Batman vs Superman, dando início à narrativa estabelecendo que as amazonas habitam a ilha de Themyscira e lutam para se defender de Ares, o deus da guerra. Depois que o soldado Steve Trevor acaba caindo na terra fantástica em que as poderosas vivem, a princesa Diana se envolve com o indivíduo e decide acompanhá-lo ao mundo exterior a fim de enfrentar Ares e acabar com toda a injustiça presente no mundo, indo parar na Londres de 1914. Desta forma, a amazona não só conhece os homens como também se depara com uma sociedade que tende a enxergar a mulher como uma criatura frágil e que costuma ser valorizada mais pelos seus padrões estéticos do que por qualquer outra coisa.

O primeiro elemento que chama a atenção é o tom encontrado por Patty Jenkins, que se afasta da sobriedade artificial das últimas produções da Warner/DC sem se transformar numa colcha de retalhos como, por exemplo, Esquadrão Suicida. Recuperando o otimismo e a leveza que são frequentemente esquecidas pelas adaptações de quadrinhos, a diretora cria uma narrativa inocente e divertida sem diluir sua força ou se sentir na obrigação de inserir piadas o tempo todo (um erro que os títulos da Marvel cometem constantemente). Ao mesmo tempo, a cineasta se sai bem ao apresentar convenções clássicas dos filmes de super-heróis, exaltando a magnitude de Diana através de planos grandiosos e instantes onde a câmera lenta dá origem a imagens belíssimas. Como complemento, Jenkins é bem-sucedida na concepção das sequências de ação, que contam com energia e dinamismo sem abusar de cortes ininterruptos ou de movimentos de câmera excessivos.

No entanto, o que realmente torna Mulher-Maravilha memorável é a própria personagem-título: longe de ser a guerreira sisuda e invulnerável que se destacou no terceiro ato de Batman vs Superman, a Diana desta produção exibe uma visão de mundo pueril, ingênua e maniqueísta, mas que contagia justamente por manter-se esperançosa em vez de render-se ao pessimismo. Aliás, quando comparada às outras figuras que apareceram no universo estendido que a Warner/DC criou a partir de O Homem de Aço, a amazona se prova como uma heroína verdadeira: enquanto os outros superseres alternavam entre psicopatas sádicos e indivíduos que tentavam defender a Terra por sei-lá-quais-motivos, Diana resolve salvar o mundo por questões puramente altruístas – e se Superman não parecia se importar com as milhares de mortes provocadas em Metrópolis, a Mulher-Maravilha não consegue suportar a ideia de ver um único inocente sofrer nas mãos dos malfeitores. Para completar, o desempenho de Gal Gadot é uma grata surpresa, já que a atriz, mesmo limitada, se mostra dona de um carisma conquistador que ajuda a injetar na personagem a dose certa de sensibilidade, charme e singeleza.

A mesma eficácia se encontra na química entre Diana e Steve Trevor, que se atraem graças às personalidades magnéticas de ambos, exibem um companheirismo contagiante na forma como interagem e revelam detalhes cada vez mais inesperados a respeito de suas respectivas naturezas. Trevor, inclusive, é vivido por Chris Pine como um sujeito carismático e que parece aprender novos valores com a companhia de Diana, sendo interessante notar como ele se mostra menos frágil do que a maioria das mulheres que acompanham os super-heróis em produções desse tipo (o que deixa claro que o filme não precisa diminuir os homens a fim de privilegiar a presença feminina). Já os vilões, interpretados por Danny Huston e Elena Anaya, surgem como as típicas criaturas malvadas e divertidas que costumam ser encontradas em obras como Indiana Jones – o que não significa, porém, que o roteiro não peque ao exagerar em caracterizações camp, falhando especialmente ao trazer um momento onde a dupla gargalha após praticar uma travessura (sim, esse termo é adequado).

Quanto aos aspectos técnicos, Mulher-Maravilha traz uma série de êxitos – e se a montagem de Martin Walsh é bem-sucedida ao facilitar a compreensão das cenas de ação e retratar com agilidade os anos que a protagonista passou treinando ao lado das demais guerreiras, o design de produção elaborado por Aline Bonetto é eficiente na forma com que imagina a terra fantástica das amazonas e recria o cenário londrino da década de 1910, destacando-se também ao ilustrar os danos que as batalhas geram em vilarejos que, após serem convertidos em verdadeiras zonas de guerra, têm suas arquiteturas destroçadas. Por fim, o diretor de fotografia Matthew Jensen toma uma decisão inteligente ao contrapor as paisagens idílicas de Themyscira (um lugar onde o verde, o amarelo e o azul são sempre enfatizados) à atmosfera sufocante que domina Londres e os campos que marcam os conflitos da Primeira Guerra (e nem por isso a fotografia se torna excessivamente cinzenta, estabelecendo, inclusive, um contraste atraente entre o azul marinho e as cores vermelhas e douradas que Diana traz em sua armadura).

Fortalecido pela ótima trilha sonora de Rupert Gregson-Williams (que não só realiza composições poderosas como também reconhece que o tema musical idealizado por Hans Zimmer e Junkie XL em Batman vs Superman já se tornou icônico e acerta ao criar variações deste), Mulher-Maravilha tropeça somente em seu terceiro ato, que, inchado e desnecessariamente longo, investe num festival de efeitos digitais irregulares e estende a duração do filme além do ideal. Além disso, algumas passagens (como a que traz os heróis acampando) poderiam ser facilmente reduzidas ou mesmo excluídas sem problema algum, já que servem basicamente para prolongar a projeção até fazê-la alcançar consideráveis 141 minutos (o que dizer, por exemplo, da sequência que envolve uma festa e que traz a protagonista caminhando no meio de civis com uma espada “escondida” nas costas?).

Nada, contudo, que comprometa este que não só é o melhor longa que a Warner/DC produziu desde O Cavaleiro das Trevas, como também é um marco inegável para as adaptações de quadrinhos para o Cinema. Apostando num senso de humor pontual que funciona muitíssimo bem sem jamais permitir que o projeto descambe para o ridículo ou se torne inconsequente demais, Mulher-Maravilha é uma obra representativa sem ser cínica, inocente sem ser estúpida e inspiradora sem ser irresponsável nos valores que pretende transmitir, transformando-se numa adição importante para a História dos filmes de super-heróis.

Ou, neste caso, super-heroínas. E como é bom saber que elas finalmente parecem ter ganhado o devido destaque.

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