Só Se Vive Duas Vezes (1)

Título Original

You Only Live Twice

Lançamento

Lewis Gilbert

Direção

Lewis Gilbert

Roteiro

Roald Dahl

Elenco

Sean Connery, Akiko Wakabayashi, Mie Hama, Donald Pleasence, Tetsurō Tamba, Teru Shimada, Karin Dor, Bernard Lee, Lois Maxwell, Desmond Llewelyn, Charles Gray, Tsai Chin, Peter Fanene Maivia, Burt Kwouk, Michael Chow, Ronald Rich, David Toguri, John Stone e a voz de Nikki van der Zyl

Duração

117 minutos

Gênero

Nacionalidade

Inglaterra

Produção

Harry Saltzman e Albert R. Broccoli

Distribuidor

MGM

Sinopse

James Bond vai para o Japão investigar o desaparecimento de duas naves: uma americana e uma soviética. Sua missão é descobrir quem está por trás deste maléfico plano, que pode causar conflito entre as duas maiores potências do mundo.

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Com 007, Só Se Vive Duas Vezes | Crítica

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A esta altura do campeonato, em seu quinto longa considerado “oficial” (há também o Cassino Royale de 1967, mas, como não foi produzido pela Eon Productions, não conta para a cronologia principal), já era óbvio que a série James Bond estava funcionando sob uma fórmula rígida, bem definida e que, seguindo à risca o que já tinha dado certo nos quatro capítulos anteriores, não parecia disposta a tentar algo novo, a investir em alguma surpresa. Assim, como o antecessor A Chantagem Atômica, este Só Se Vive Duas Vezes se revela uma aventura divertida, porém facilmente esquecível dentro de todo o hall (cada vez maior) de produções protagonizadas pelo agente 007.

Marcando a entrada do diretor Lewis Gilbert na franquia (ele voltaria em O Espião Que Me Amava e O Foguete da Morte), Só Se Vive Duas Vezes tem início com o estranho sequestro de uma nave da NASA que, sobrevoando a órbita da Terra, é capturada por um veículo espacial ainda maior, porém não identificado. Com isso, as suspeitas das maiores agências de Segurança do mundo levam o MI6 (leia-se: o Serviço Secreto britânico) a enviar James Bond, dado como morto após um “incidente” com uma bondgirl de ocasião, a Tóquio. A partir daí, a trama obviamente vai se tornando cada vez mais complexa e rocambolesca – basta dizer que as investigações de Bond o conduzem a uma ilha remota do Japão que mais tarde revela abrigar a base de Ernst Stavro Blofeld, o líder da superorganização terrorista SPECTRE.

Blofeld, aliás, representa uma das maiores – e poucas – novidades de Só Se Vive Duas Vezes, já que, depois de quatro filmes que apenas mostravam relances do vilão a fim de prepará-lo para sua entrada definitiva, pela primeira vez temos a oportunidade de ver em cena o homem que antes só conhecíamos pela voz, pela careca e pelas mãos que acariciavam um gato. Vivido por Donald Pleasence (em sua única escalação para o papel), Blofeld soa como uma figura desafiadora graças não a uma imponência física (que ele não tem), mas a uma capacidade de elaborar estratégias imprevisíveis e que, por isso mesmo, parecem impossíveis de serem vencidas. Além disso, o fato de ser retratado por Lewis Gilbert como uma figura reconhecidamente absurda, mais como um supervilão do que como um líder terrorista “comum” (sua base secreta claramente serviu de inspiração para a ilha do Síndrome de Os Incríveis), ajuda a definir Blofeld como um antagonista perfeito para um protagonista como James Bond, que, por sua vez, vinha sendo construído como um herói assumidamente invulnerável e perfeitinho desde Dr. No.

Esta abordagem definida para Bond, claro, segue presente em Só Se Vive Duas Vezes: logo nos primeiros dez minutos de projeção, 007 já surge sendo “assassinado” em uma emboscada, tendo seu corpo jogado no oceano e “voltando à vida” ao ser resgatado por um submarino (e vestindo um smoking em perfeito estado), o que, além de justificar o título do filme (simbolicamente, é como se ele tivesse duas vidas), serve também para estabelecer de cara que James Bond continua um herói absurdo e indestrutível, que jamais seria derrotado por uma armadilhazinha – e a persona classuda do espião torna-se óbvia, por exemplo, no momento em que, após derrotar um inimigo, ele se dá o direito de tomar um copo de vinho e brindar “Saúde” ao oponente desacordado. Infelizmente, desta vez Sean Connery se encontra totalmente no piloto-automático no papel de 007, limitando-se a repetir tudo aquilo que já consolidara nos capítulos anteriores com um desinteresse notável, como se já não tivesse mais vontade de seguir interpretando aquele personagem.

Em compensação, o diretor Lewis Gilbert ao menos consegue injetar energia suficiente na narrativa mesmo que, a rigor, também não fuja muito aos padrões que Terence Young (Dr. No, Moscou Contra 007, A Chantagem Atômica) e Guy Hamilton (Goldfinger) nos longas anteriores – e a condução das sequências de ação, em particular, diverte ao investir no absurdo habitual da franquia (em dado momento, um helicóptero cargueiro usa um ímã gigante para capturar o carro dos vilões que perseguem Bond), ao explorar as habilidades diferentes de cada personagem (um espião britânico contra um lutador de sumô, por exemplo) e ao aproveitar bem os cenários que abrigam as lutas (a longa tomada aérea que traz Bond espancando e fugindo de vários capangas no terraço de um galpão ajuda a estabelecer a grandeza não só da ação, mas do espaço ao redor desta).

Por outro lado, nem sempre Gilbert consegue contornar as fragilidades do roteiro de Roald Dahl (sim, o escritor responsável por A Fantástica Fábrica de Chocolate, Matilda, O Bom Gigante Amigo, etc), que apresenta-se episódico e sem estrutura, como se, em vez de construir uma história coesa, fosse apenas atirando a primeira situação aleatória que lhe viesse à mente. Como consequência, o filme frequentemente parece não ter a menor ideia de onde pretende chegar – e, para piorar, a maneira com que constrói a lógica de cada situação soa repetitiva, o que compromete ainda mais o ritmo da narrativa ao cimentar a impressão de que esta não tivesse rumo algum.

De todo modo, quando Só Se Vive Duas Vezes começa a parecer perdido e a cair demais no lugar-comum, surge um momento como aquele em que Bond pilota um helicóptero pequeno e, ao som da icônica música-tema, enfrenta uns capangas num combate aéreo – e isto ajuda a manter o filme minimamente divertido.

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