Marcado para a Morte (1)

Título Original

The Living Daylights

Lançamento

29 de junho de 1987

Direção

John Glen

Roteiro

Richard Maibaum e Michael G. Wilson

Elenco

Timothy Dalton, Maryam d’Abo, Joe Don Baker, Art Malik, John Rhys-Davies, Jeroen Krabbé, Andreas Wisniewski, Thomas Wheatley, Julie T. Wallace, Desmond Llewelyn, Robert Brown, Walter Gotell, Caroline Bliss, Geoffrey Keen, Virginia Hey, John Terry, Nadim Sawalha e John Bowe

Duração

130 minutos

Gênero

Nacionalidade

Inglaterra

Produção

Albert R. Broccoli e Michael G. Wilson

Distribuidor

MGM

Sinopse

Bond ajuda o oficial russo Georgi Koskov a desertar e ele revela a existência de um plano do governo para assassinar desertores. Enquanto Bond investiga a ameaça, outro problema surge: um traficante de armas americano envolvido com assassinos russos.

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007: Marcado para a Morte | Crítica

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Timothy Dalton não parecia ser a escolha mais esperada do mundo para o papel de James Bond depois de sete longas com Roger Moore sob a pele do personagem (isto após outros seis – ou sete – capítulos protagonizados por Sean Connery). Shakespeariano por convicção (seu interesse nas artes cênicas surgiu quando assistiu a uma reencenação de Macbeth, aos 16 anos de idade), Dalton não é exatamente um galã: não é particularmente charmoso, não tem o porte físico mais definido ou imponente do mundo e não é exatamente o tipo de pessoa que inspira virilidade ou rigidez à primeira vista. Em outras palavras: não é um cara para quem você olha e pensa “Hum, daria um bom James Bond” – algo que se aplica perfeitamente a um outro ator que disputava com Dalton a vaga de 007 (e de substituto de Moore) neste Marcado para a Morte: Pierce Brosnan.

Pois foi justamente o fato de Timothy Dalton não ser o que se espera de James Bond que o tornou único e eficiente ao seu próprio modo – mérito que, claro, também se deve ao diretor John Glen, que soube extrair o melhor possível da persona do ator nos dois longas estrelados por este.

De certa maneira, a abordagem escolhida para o James Bond de Timothy Dalton pode ser resumida pela sequência pré-créditos que o apresenta: após uma excelente cena de ação (aliás, excelentes cenas de ação não faltam aqui) que traz 007 saltando de paraquedas, pulando num jipe em movimento e esquivando-se de tiros enquanto troca socos com o motorista, o herói novamente se lança em queda livre até cair num iate aleatório, tomar o telefone de uma viajante anônima e dizer o clássico “Bond… James Bond” não de forma galanteadora (para a mulher), mas de modo direto ao ponto a fim de identificar-se para o MI6 (ao telefone). Em outras palavras: este Bond é menos glamoroso e mais dedicado ao ofício, exercendo-o com objetividade e até uma dose de frieza – o que não impede a moça de oferecer-lhe uma taça de champanhe e pedir para ele “se juntar a ela”. No entanto, até ao aceitar o convite o protagonista de Timothy Dalton exibe uma postura diferente das de Connery e Moore, fazendo uma cara de “Ok, eu sou James Bond e é isso que costumo fazer, então… vamos lá”. O charme do James Bond de Dalton é muito mais protocolar do que espontâneo, ao passo que sua vocação para a espionagem (e para as experiências de quase morte que decorrem desta) é mais ativa; é o que o move e o define.

A frieza deste James Bond, contudo, se reflete em todo o desempenho de John Glen ao comandar esta aventura, que injeta vitalidade e energia novas a uma franquia que, nos anos anteriores, vinha estagnada pela mesmice (que o responsável por revitalizá-la tenha sido um cineasta que já a dirigia há três filmes – nos quais em nenhum momento parecia disposto a fugir da fórmula e do lugar-comum – é uma grata surpresa por si só). Deixando de lado o bom humor que marcou toda a “era Roger Moore”, Glen (que, não esqueçamos, foi montador de A Serviço Secreto de Sua Majestade) investe desde o princípio em uma atmosfera mais tensa, sombria e urgente do que o habitual – o que se torna patente logo no incidente que deflagra a trama e que envolve Bond hesitando em neutralizar uma atiradora à distância por sentir nela algo misterioso que o atraía (uma hesitação que Glen retrata de forma inquietante, intensa). A mesma lógica se aplica às espetaculares sequências de ação, que, dinâmicas e frenéticas (mas visualmente inteligíveis), voltam a abraçar o escapismo absurdo e divertido que sempre caracterizou a franquia ao mesmo tempo em que investem em um grau de violência até então incomum na série (uma violência que se intensificaria no filme seguinte, Permissão para Matar).

Penúltimo filme de James Bond lançado antes da queda do Muro de Berlim (acreditem: isto é um fator importante em uma saga que, afinal, é sobre um personagem criado como símbolo da Guerra Fria), Marcado para a Morte divide com Rambo III o fato de ser uma obra que se aproveita do contexto da ocupação da União Soviética no Afeganistão para (como de costume) glorificar o lado dos ingleses/norte-americanos contra as diabólicas forças soviéticas e, por consequência, elevar os guerrilheiros afegãos que anos mais tarde se voltariam contra o Ocidente – no que, além de escancarar a natureza propagandística da obra e do próprio James Bond, constitui uma ironia do destino simplesmente hilária. Ainda assim, isto não diminui a eficácia deste longa que, além de divertido e empolgante, se encarregou de injetar vida nova a uma franquia que, àquela altura, não poderia soar mais desgastada.

No fim das contas, acabou que Pierce Brosnan teve a oportunidade de encarnar Bond imediatamente após a saída de Timothy Dalton em Permissão para Matar. E, por ironia do destino, foi justamente o ator que mais parecia adequado para o papel que terminou nos piores filmes, ao passo que aquele que menos lembrava um 007 se deu infinitamente melhor.

Para você ver como, às vezes, vale a pena arriscar fugir um pouco da obviedade e do que se espera dos “arquétipos” pop.

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