Homem-Aranha 3

Título Original

Spider-Man 3

Lançamento

4 de maio de 2007

Direção

Sam Raimi

Roteiro

Sam Raimi, Ivan Raimi, Alvin Sargent

Elenco

Tobey Maguire, Kirsten Dunst, James Franco, Topher Grace, Thomas Haden Church, Bryce Dallas Howard, Rosemary Harris, J.K. Simmons, James Cromwell, Dylan Baker, Bill Nunn, Elizabeth Banks, Theresa Russell, Ellya Baskin, Mageina Tovah

Duração

140 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Avi Arad, Laura Ziskin, Grant Curtis

Distribuidor

Sony Pictures

Sinopse

O relacionamento entre Peter Parker e Mary Jane parece estar dando certo, mas outros problemas começam a surgir. A roupa de Homem-Aranha torna-se preta e acaba controlando Peter, que, apesar de aumentar seus poderes, revela o lado obscuro de sua personalidade. Os vilões Venom e Homem-Areia tentam destruir o super-herói.

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Homem-Aranha 3 | Crítica

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Quando escrevi sobre Homem-Aranha 2, comentei que o maior mérito daquele longa era como ele abordava a dificuldade de Peter Parker ao tentar equilibrar sua vida de modo geral, sofrendo para conciliar as atividades comuns do seu dia a dia às ações espetaculares que protagonizava sob o uniforme de super-herói. Portanto, é irônico que o mesmo dilema de Peter no filme anterior se encontre na estrutura narrativa deste terceiro longa: ao lidar com uma monte de tramas paralelas e personagens a mais, Homem-Aranha 3 acaba sofrendo ao tentar contar várias histórias distintas ao mesmo tempo, saltando de uma à outra de maneira desajeitada e tornando seu ritmo uma verdadeira bagunça. Assim, é como se o próprio roteiro escrito por Alvin Sargent junto aos irmãos Sam e Ivan Raimi enfrentasse a mesma crise que Peter Parker encarou no filme anterior, mas sem conseguir solucionar o problema.

Ambientado pouco tempo depois de Homem-Aranha 2, o terceiro e último longa da trilogia do Cabeça-de-Teia dirigida por Sam Raimi é uma experiência tão inchada que torna-se possível, para o espectador, sentir que está assistindo a três filmes ao mesmo tempo (todos protagonizados por Peter Parker, é claro): o primeiro traz o protagonista pensando em pedir sua amada Mary Jane em casamento enquanto Harry Osborn, decidido a vingar a morte de seu pai, assume o manto de Duende Verde e corre atrás de Peter; o segundo gira em torno do assaltante Flint Marko, que, após fugir da prisão, retorna ao mundo do crime a fim de conseguir dinheiro para salvar a vida de sua filha, sofrendo um acidente no processo e transformando-se no Homem-Areia; e o terceiro envolve a chegada de uma gosma alienígena que passa a dominar o corpo e a mente de Parker, que, por consequência, passa a agir de maneira bruta e arrogante. Ah, e há também a belíssima Gwen Stacy (colega de faculdade de Peter) e o fotógrafo Eddie Brock (outro rival do herói).

Assim, Homem-Aranha 3 acaba tendo dificuldades para combinar todos estes núcleos narrativos dentro de um único filme, tornando-se estruturalmente frágil – e o ritmo da narrativa acaba sendo diretamente abalado, já que esta salta de um ponto a outro quando não deveria e, portanto, obriga o espectador a deixar de acompanhar uma história para se concentrar em outra justo quando a primeira começava a engrenar. Além disso, é sintomático que o roteiro convenientemente deixe alguns personagens de lado e só lembre de trazê-los de volta depois de um longo tempo: notem como o Homem-Areia, por exemplo, é praticamente esquecido pelo filme durante meia hora, dando espaço aos conflitos dramáticos envolvendo Harry e ao simbionte que “infecta” Peter.

E o resultado desta bagunça, claro, dificilmente seria outro: Homem-Aranha 3 acaba se revelando longo, exaustivo e narrativamente disperso – isto porque nem comentei o fato de o roteiro se apoiar demais em coincidências absurdas que se tornam ainda mais incômodas ao acumularem-se aos montes (e, por mais que as HQs escritas por Stan Lee trouxessem várias conveniências, estas eram apenas ocasionais e não costumavam ocorrer mais do que duas/três vezes por edição): Flint Marko é diretamente responsável pela origem do Homem-Aranha; Gwen é colega de faculdade de Peter, é salva por este e aparentemente teve um relacionamento superficial com Eddie; ao tentar pedir Mary Jane em casamento, Peter é surpreendido pela presença inesperada de Gwen; ao sair na rua com Gwen, Peter não só é visto de longe pelo invejoso Eddie como ainda leva a garota para o mesmo clube de jazz no qual Mary Jane trabalha; ao chegar à Terra, a tal gosma extraterrestre cai ao lado da lambreta do único super-herói do mundo; quando Peter se livra do simbionte, este cai em Eddie, que estava na mesma igreja na mesma hora.

Como se não bastasse, Homem-Aranha 3 desaponta ao cometer um erro que não ocorria nos dois antecessores: se entregar a draminhas terrivelmente artificiais, esforçando-se demais para comover o espectador e criando várias cenas que parecem saídas de uma telenovela. Isto acontece especialmente quando Harry Osborn decide orquestrar um grande plano para criar intrigas e destruir Peter de dentro para fora, o que rende momentos involuntariamente hilários nos quais James Franco se assume de vez como um vilão… bom, novelesco. Franco, aliás, nunca foi um dos maiores atrativos da série, mas aqui chega ao fundo do poço ao tentar retratar o divertimento de Harry diante de seus planos maldosos, observando Peter e Mary Jane de longe com um olhar cafajeste e piscando para o herói antes de desaparecer subitamente quando um caminhão passa entre os dois.

De qualquer forma, poucas coisas são mais absurdas do que a forma como a subtrama do simbionte foi abordada aqui – e, se a ideia de explorar o lado sombrio do herói parece interessante, o potencial desta premissa acaba não sendo alcançado porque… o filme prefere retratar o comportamento alterado e babaca de Peter através somente de uma franja emo e de sequências nas quais o personagem sai dançando pelas ruas. (Não, você não leu errado: ao ser dominado pelo uniforme negro, Parker torna-se um emo que dança.) Por outro lado, esta é apenas uma das ocasiões nas quais o diretor Sam Raimi se excede em seu senso de humor – em outros momentos, porém, o cineasta se sai relativamente bem, como na habitual ponta de Bruce Campbell (que, desta vez, surge como maître de um restaurante francês) e, claro, nas cenas que trazem J.K. Simmons voltando à pele do rabugento J. Jonah Jameson.

Se há um responsável por impedir que Homem-Aranha 3 seja insuportável, aliás, este ainda é Sam Raimi, que, junto ao diretor de fotografia Bill Pope (Matrix e Homem-Aranha 2), mergulha a narrativa em uma atmosfera fria, cinzenta e constantemente triste – e o faz sem comprometer o aspecto fabulesco que já vinha pontuando a série desde o primeiro filme –, criando aos menos duas sequências visualmente memoráveis: aquela que mostra o surgimento do Homem-Areia e aquela outra que traz o herói cabisbaixo no topo de uma igreja, prestes a remover seu uniforme contaminado. Além disso, se o segundo ato revela-se um festival de besteiras (sem contar o caos narrativo), ao menos o terceiro demonstra que Sam Raimi ainda sabe coordenar sequências de ação – e, mesmo trazendo vários personagens em cena (que se balançam rapidamente de lá para cá), a épica batalha final é registrada através de planos suficientemente abertos e de cortes sempre pontuais em vez de excessivos, permitindo que o público entenda com clareza o que está acontecendo (e o fato de filmar o Homem-Areia quase como um Godzilla não deixa de servir como uma referência curiosa aos filmes de monstros gigantes).

Já Tobey Maguire – que nunca foi um grande ator, mas que costuma sair-se bem ao encarnar Peter Parker – é competente ao retratar o caráter mundano e vulnerável que sempre caracterizou o personagem, sendo prejudicado, no entanto, pelos vários momentos nos quais o roteiro descamba para o ridículo e obriga Parker a agir como um “malvadinho”. E, se Kirsten Dunst surge desempenho razoável ao ilustrar o jeito como Mary Jane se decepciona não só com Peter, mas também consigo própria, Bryce Dallas Howard pouco tem a fazer sob a pele de Gwen Stacy (cuja personalidade sensual e popular, na verdade, lembra mais o que Mary Jane era nos quadrinhos), ao passo que Topher Grace surge antipático e bem menos eficiente do que na série That ’70s Show – e o que dizer sobre seu Venom, que fica relegado a uma breve aparição no terceiro ato e mal tem tempo para se tornar um vilão memorável?

O que nos traz a Flint Marko. Por um lado, é inegável que o roteiro faz um bom trabalho ao transformar o Homem-Areia em uma figura trágica, dona de motivações humanas e compreensíveis – uma impressão que a expressão sofrida de Thomas Haden Church (que o interpreta) reforça bem, tornando praticamente impossível, para o espectador, não simpatizar com Marko ou mesmo torcer para que ele obtenha um final feliz. Infelizmente, isto não muda o fato de que o Homem-Areia nada mais é do que um inchaço a mais em uma trama já abarrotada de premissas, podendo ser descartado (ou reservado para um quarto filme que nunca existiu) sem qualquer prejuízo. No entanto, nada se iguala à patética ideia de relacionar Flint Marko ao assassinato do tio Ben, alterando algo que devia permanecer intocado e eliminando a lógica de Peter Parker se assumir como um benfeitor (afinal, se o que resultou na morte de Ben não foi o egoísmo do sobrinho – mas, sim, a interferência de um terceiro agente –, então… por que o Homem-Aranha existe, em primeiro lugar?).

Fortalecido ao menos pela ótima trilha sonora de Christopher Young (que resgata os bons temas criados por Danny Elfman nos filmes anteriores ao mesmo tempo em que desenvolve novas e competentes composições para os novos vilões), Homem-Aranha 3 é uma obra incrivelmente irregular: os melhores momentos são, de fato, dignos de nota (como os diálogos entre Peter e tia May, o já mencionado surgimento do Homem-Areia ou mesmo a tocante despedida de Harry Osborn); os piores, no entanto, parecem dispostos a explorar ao máximo o conceito de vergonha alheia.

E é difícil engolir a memória de um Emo-Aranha dançante.

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