Homem-Aranha 2

Título Original

Spider-Man 2

Lançamento

2 de julho de 2004

Direção

Sam Raimi

Roteiro

Alvin Sargent

Elenco

Tobey Maguire, Kirsten Dunst, Alfred Molina, James Franco, Rosemary Harris, J.K. Simmons, Donna Murphy, Daniel Gillies, Dyan Barker, Mageina Tovah, Bill Nunn, Elizabeth Banks, Bruce Campbell, Willem Dafoe

Duração

127 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Avi Arad, Laura Ziskin

Distribuidor

Sony Pictures

Sinopse

Após derrotar o Duende Verde a vida de Peter Parker (Tobey Maguire) muda por completo. Temendo que Mary Jane (Kirsten Dunst) sofra algum risco por ser ele o Homem-Aranha, Peter continua escondendo o amor que sente e se mantém longe dela. Ao mesmo tempo precisa lidar com Harry (James Franco), seu melhor amigo, cuja raiva pelo Homem-Aranha aumenta cada vez mais por considerá-lo como sendo o assassino de seu pai. Além disso sua tia May (Rosemary Harris) passa por uma fase difícil após a morte de seu tio Ben, estranhando também o comportamento do sobrinho. Enquanto precisa lidar com seus problemas particulares Peter recebe ainda uma má notícia: o surgimento do Dr. Octopus (Alfred Molina), um homem que possui tentáculos presos ao corpo.

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Homem-Aranha 2 | Crítica

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Peter Parker é um super-herói que escala paredes, dispara teias, conta com um “sentido de aranha” que o mantém sempre precavido quanto aos perigos que surgem ao seu redor. Ao mesmo tempo, é também um rapaz que celebra seu aniversário, não pode se atrasar para as aulas da faculdade, tem dificuldades para administrar seu emprego e dá apoio à sua tia May, que passa por vários problemas financeiros depois de perder seu marido Ben (algo mostrado no filme de 2002, inclusive). É, em suma, um indivíduo que enfrenta dilemas triviais apesar dos seus superpoderes. Como ser um jovem comum quando se tem habilidades tão… incomuns? E é disso que se trata Homem-Aranha 2, que traz como protagonista um sujeito completamente desacertado e que não consegue achar um equilíbrio entre sua vida regular e suas atividades heroicas.

Escrito pelo veterano Alvin Sargent (que, aliás, já tinha 73 anos na época em que o filme foi produzido, algo incomum em blockbusters), o roteiro desta continuação se inicia com Peter Parker trabalhando como entregador de pizza e salvando crianças simultaneamente, o que é tão complicado quanto prestigiar a peça teatral de sua amiga Mary Jane e prender uma dupla de criminosos ao mesmo tempo. Não é fácil ser o Homem-Aranha, o que leva Peter a perder seus empregos, se afastar dos amigos, tirar notas cada vez piores na faculdade e acumular meses de aluguel atrasado. Quando a vida de Parker começa a desandar, um fenômeno inesperado ocorre e seus superpoderes vão desaparecendo conforme sua mente torna-se mais bagunçada – o que acontece justo quando surge uma nova ameaça em Nova York: o Doutor Octopus.

Agora, vejam que curioso: ao resumir a trama de Homem-Aranha 2, falei bastante sobre os dilemas pessoais do protagonista e só vim a abordar a questão do vilão na última frase do parágrafo. Se isto ocorre, porém, é porque o grande antagonista da história não é o Doutor Octopus, mas as responsabilidades de Peter Parker – e neste sentido, a ideia dele perder seus superpoderes em prol do estresse ressalta ainda mais essa lógica, pois o único que consegue “acabar” com o Homem-Aranha é o próprio herói caso ele não consiga gerenciar suas atividades. Além disso, o roteiro de Sargent faz um excelente trabalho ao construir essa crise com cuidado, introduzindo os motivos que despertam esse conflito a fim de passar a maior parte do segundo ato se concentro em diálogos até que, por fim, Peter consiga superar essas dificuldades e alcançar um novo estado de espírito.

É possível dizer, portanto, que Homem-Aranha 2 é um filme sobre amadurecimento: se no início vemos o herói falhando ao equilibrar suas responsabilidades, a sucessão de eventos que ocorrem posteriormente o leva a crescer como indivíduo, tornando-se capaz de aliar sua vida comum às aventuras grandiosas das quais participa. Mais importante é que o roteiro reconhece que, para isso, é fundamental demonstrar que Peter está mudando através de gestos pequenos – e não é à toa que, em certo instante da projeção, o rapaz toma uma atitude verdadeiramente adulta ao assumir um erro grave que cometeu no passado e parar de esconder segredos da sua tia May, resultando numa cena dramática e sincera que não depende de artifícios baratos para funcionar.

Hábil ao repetir passagens do filme anterior a fim de ressaltar as mudanças que ocorreram de lá para cá (se no primeiro havia uma sequência envolvendo um incêndio que servia para retratar o heroísmo do Homem-Aranha e sua rivalidade com o Duende Verde, em Homem-Aranha 2 há um momento parecido que destaca o retorno daquele mesmo benfeitor), a produção também é beneficiada pelo bom elenco: Tobey Maguire (que costuma ser reprovado por muitos fãs do personagem) se sai muitíssimo bem ao ilustrar as inseguranças e as incertezas de Peter Parker, que, por sua vez, remete diretamente ao adolescente desatento e com cara de bobão que estrelava as HQs escritas por Stan Lee; Kirsten Dunst é eficiente ao representar os dilemas internos de Mary Jane, que quer se aproximar de Parker ao mesmo tempo em que se vê frequentemente magoada por ele; e Rosemary Harris surge impecável como a tia May, que, em vez de inconveniente, soa como uma importante voz responsável por transmitir os valores certos ao protagonista. O único que não se dá tão bem é James Franco, um ator que costuma ser mais eficiente em comédias (aqui, ao dizer que foi “humilhado” quando o Aranha salvou sua vida, a frustração que exibe não é convincente como deveria).

Todavia, um dos grandes destaques de Homem-Aranha 2 é o Doutor Octopus – e o roteiro volta a se mostrar maduro aqui, já que o vilão deste longa conta com motivações tão compreensíveis que, sinceramente, nem sei se é certo considerá-lo um “vilão”. Revelado como uma pessoa de boa índole que se descontrola após testemunhar a morte de sua esposa e o fracasso daquele que era o seu sonho, Otto Octavius não é um bandido genérico que detesta o Homem-Aranha e se limita ao desejo de assaltar bancos (e se o faz, é porque tem um objetivo mais complexo do que a pura ganância). Da mesma forma, é trágico perceber que o cientista sábio e otimista que havia no início da projeção deu lugar a um monstro enlouquecido, numa transição que é perfeitamente estabelecida tanto pelo roteiro quanto pela fabulosa interpretação de Alfred Molina, genial ao tornar um bondoso Octavius uma figura genuinamente ameaçadora (e a cena que conduz uma personalidade à outra é brilhante, com Otto “conversando” com os seus quatro braços mecânicos e sendo manipulado por eles).

Investindo num tom um pouco mais sério que o do filme anterior (algo que a fotografia de Bill Pope reflete com eficiência, apresentando cores mais lavadas e menos intensas), o diretor Sam Raimi encontra o equilíbrio ideal entre os conflitos dramáticos experimentados por Peter Parker e alívios cômicos que vão da hilária cena passada num elevador até as ótimas participações de J. Jonah Jameson (mais uma vez vivido por J.K. Simmons com uma energia impressionante). Mas os acertos de Raimi não param por aí, já que o cineasta surpreende ao demonstrar sinais mais claros de sua identidade autoral e ao criar, em especial, uma sequência aterrorizante e que remete à trilogia Evil Dead: Uma Noite Alucinante: aquela ambientada numa sala de cirurgia.

Não que Homem-Aranha 2 não tropece ocasionalmente, voltando a subaproveitar o senso de humor característico do personagem nos quadrinhos (erro também cometido pelo primeiro) e criando algumas passagens específicas que se rendem ao exagero (como aquela em que Mary Jane surge correndo sorridente num parque). De todo modo, esses pecados merecem absolvição quando consideramos a maestria do conjunto da obra, resultando num longa que, mesmo trazendo um super-herói como protagonista, está mais interessada nos seus dilemas pessoais do que em desenvolver sequências de ação elaboradas o tempo inteiro, usando-as com o propósito de mover a trama em vez de interrompê-la.

Por falar em ação, Sam Raimi também merece aplausos ao conduzir os esperados embates entre o Homem-Aranha e o Doutor Octopus, criando cenas são de tirar o fôlego e que sempre se passam em ambientes perfeitos para explorar as especialidades de cada adversário (como a fachada de um prédio ou um trem). Mas claro que essa imaginação não bastaria se não fossem coordenadas de maneira compreensível, e este é um desafio que Raimi tira de letra: sem abusar de cortes excessivos a cada um ou dois segundos, o diretor adota planos abertos a fim de permitir que o espectador sempre se mantenha ciente da mise-en-scène e da lógica espacial das cenas, acertando também ao dispensar movimentos de câmera frenéticos demais (observem como a montagem cautelosa consegue fazer com que momentos visualmente complexos se tornem inteligíveis, como aquele em que o Aranha voa em direção ao vilão enquanto este é agredido pela tia May).

Se consolidando como um dos melhores e mais maduros filmes de super-heróis já produzidos, Homem-Aranha 2 é a representação exata de um blockbuster ideal, trazendo ação de qualidade para os que buscam diversão escapista, mas sem esquecer de criar conflitos dramáticos densos para o público interessado em abordagens mais adultas. Trata-se, enfim, daquilo que o Cabeça-de-Teia sempre foi e precisa continuar sendo: um serviço ao entretenimento sem jamais comprometer o desenvolvimento de bons personagens.

Update, 2024: Assista também ao vídeo que gravei sobre o filme:

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