O Espetacular Homem-Aranha 1

Título Original

The Amazing Spider-Man

Lançamento

6 de julho de 2012

Direção

Marc Webb

Roteiro

James Vanderbilt, Alvin Sargent, Steve Kloves

Elenco

Andrew Garfield, Emma Stone, Rhys Ifans, Denis Leary, Martin Sheen, Sally Field, Irrfan Khan, Chris Zylka, Kari Coleman, Charlie DePew, Skyler Gisondo

Duração

136 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Avi Arad, Matt Tolmach, Laura Ziskin

Distribuidor

Sony Pictures

Sinopse

Peter Parker (Andrew Garfield) é um rapaz tímido e estudioso, que inicou há pouco tempo um namoro com a bela Gwen Stacy (Emma Stone), sua colega de colégio. Ele vive com os tios, May (Sally Field) e Ben (Martin Sheen), desde que foi deixado pelos pais, Richard (Campbell Scott) e Mary (Embeth Davidtz). Certo dia, o jovem encontra uma misteriosa maleta que pertenceu a seu pai. O artefato faz com que visite o laboratório do dr. Curt Connors (Rhys Ifans) na Oscorp. Parker está em busca de respostas sobre o que aconteceu com os pais, só que acaba entrando em rota de colisão com o perigoso alter-ego de Connors, o vilão Lagarto.

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O Espetacular Homem-Aranha | Crítica

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Assistir a O Espetacular Homem-Aranha, vendido como uma “reimaginação” da origem do personagem após a trilogia dirigida por Sam Raimi, é como assistir a uma refilmagem de Harry Potter pouquíssimos anos depois de As Relíquias da Morte: Parte II encerrar a saga do bruxinho: ora, nós vimos exatamente a mesma história ser contada há cerca de uma década; por que refazê-la agora, como se dez anos fossem o suficiente para o público “esquecer” a versão original e precisar de um reboot para relembrá-la? Ainda assim, o mais frustrante nem é a falta de imaginação (afinal, até a mais batida das premissas pode funcionar caso abordada de forma interessante), mas perceber como, desta vez, os envolvidos na produção parecem ter se atrapalhado na hora de recontar uma história que já havia dado certo no passado, resultando num longa que empalidece – e muito – diante da versão de 2002.

Buscando resetar a série depois do fracasso (não de bilheteria, mas criativo/artístico) de Homem-Aranha 3, o roteiro escrito por James Vanderbilt (Zodíaco), Steve Kloves (Harry Potter) e Alvin Sargent (Homem-Aranha 2 e 3) nos apresenta a um novo Peter Parker que, morando na casa dos tios desde que seus pais morreram de forma misteriosa, é levado a uma excursão escolar guiada pela colega (e futura namorada) Gwen Stacy. Durante o passeio, porém, Peter é mordido por uma aranha geneticamente modificada, torna-se capaz de escalar paredes e, depois que um ato egoísta resulta na morte de seu tio Ben, resolve usar seus superpoderes para proteger Nova York dos criminosos locais e de um vilão megalomaníaco que… blábláblá. Sim, trata-se de uma repetição da mesma premissa que vimos em 2002; a diferença é que, desta vez, há uma tentativa de replicar a abordagem “sombria e realista” que deu certo no Batman de Christopher Nolan, entupindo a narrativa com “detalhes” que servem somente para complicá-la ainda mais – e, se o filme de Raimi levava rápidos cinco minutos para mostrar a picada que Peter recebeu da aranha, este leva vinte.

E o mais frustrante é que tinha como ser um pouco mais diferente da versão de Raimi, já que Marc Webb (500 Dias Com Ela) é um diretor que, vindo do Cinema independente, poderia contribuir com várias boas novidades – e, sim, há elementos em sua direção que funcionam e que tinham potencial para resultar num filme mais interessante: nos poucos momentos em que não é forçado a se concentrar nas sequências de ação, na origem do vilão Lagarto ou em toda a subtrama envolvendo os pais do protagonista, Webb é bem-sucedido ao conferir um olhar despojado e até irreverente à figura do Homem-Aranha (não à de Peter Parker, mas à do herói caracterizado), dando a impressão de estarmos vendo não um ícone (como Raimi pintava), mas um moleque desengonçado fazendo “cospobre” de super-herói – neste sentido, é apropriado que o traje usado pelo Aranha surja feio, mal costurado e cheio de dobrinhas, já que foi confeccionado por um adolescente em seu quarto. Além disso, as heranças dos trabalhos anteriores e “menores” de Webb mostram-se presentes em sua maneira de filmar os momentos mais intimistas da narrativa, sendo particularmente notável como as conversas entre Peter e Gwen soam não apenas fofas, mas verdadeiras (afinal, a química entre Andrew Garfield e Emma Stone é inquestionável).

Infelizmente, estes momentos são pontuais em uma narrativa frágil, inchada e que, nessa ânsia de conferir uma explicação “plausível” a todos os elementos de fantasia que cercam o Homem-Aranha (legado, mais uma vez, do Batman de Nolan), se revela muito mais complexa que o necessário – e, assim, em vez de ser um garoto comum que foi acidentalmente picado por uma aranha modificada e que perdeu o tio por infeliz coincidência, Peter Parker agora é um rapaz cujos pais há muito vinham trabalhando em pesquisas envolvendo aranhas e que deixaram documentos que inevitavelmente o levariam não só a ganhar seus poderes, mas a conhecer o cientista Curt Connors (cuja transformação em Lagarto, aliás, vem da mesma fonte que transformou Peter em super-humano). O mais irônico é que, mesmo tentando explicar até os mínimos detalhes da origem do Aranha, estas tentativas soam absurdas e preguiçosas demais para tornarem o universo do filme “plausível” ou “realista”, apoiando-se em resoluções bestas (como Peter faz para conseguir as teias fabricadas pela Oscorp?; sério que a inspiração para o traje do protagonista veio da foto de um lutador que surge aleatoriamente no meio da trama?; quanto tempo Parker levou para conseguir seus apetrechos e finalizar sua roupa?) e em situações surreais como uma estudante do ensino médio que estagia para Connors numa das empresas que mais exigem responsabilidade no mundo.

Sim, porque Gwen Stacy não só é namorada de Peter como também é estagiária do mesmo cientista que, no passado, trabalhou com o pai do herói e que eventualmente se tornará o vilão a ser enfrentado por este (isto porque nem citei o fato de George Stacy, o pai de Gwen, ser justamente o capitão de polícia que vive obcecado em prender o protagonista). Mas não é só: como se não bastasse o excesso de coincidências (não, sério: parece que todos os eventos do filme – até os mais grandiosos – ocorrem dentro de uma bolha minúscula de pessoas), O Espetacular Homem-Aranha ainda decepciona ao nem se dar ao trabalho de concluir a tal “história nunca contada” prometida no pôster e nos trailers, fornecendo apenas detalhes iniciais de um provável envolvimento dos pais de Peter em sua formação como super-herói – algo que serve apenas para diminuir a importância da morte do tio Ben, já que as lições dadas por este e a casualidade de sua morte pouco significam se o caminho de Peter for predestinado.

O esquecimento de alguns dos principais arcos da narrativa, aliás, parece ser uma constante do roteiro, já que nem o mistério por trás do assassino do tio Ben é resolvido neste filme (o ladrão que o matou tinha uma tatuagem no pulso, o que serve de pista para que Peter o persiga; mas… chega um momento em que ele simplesmente esquece de persegui-lo). O que me traz ao grande problema de O Espetacular Homem-Aranha: afinal, o que motiva Peter Parker a ser um super-herói? Ora, se ele não teve sequer a oportunidade de concluir sua tentativa de vingança, como ele pôde perceber, então, que a culpa da morte do tio Ben era essencialmente sua? Sim, sabemos que “Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”, mas… qual foi a “grande responsabilidade” que Parker aprendeu aqui? Se somarmos isto ao fato de Peter mal voltar a mencionar tio Ben depois de sua morte, tirar a máscara sempre que surge em cena, revelar sua identidade para Gwen logo no primeiro encontro e rapidamente quebrar a promessa feita ao capitão Stacy no terceiro ato, podemos concluir que o que leva Peter a ser o Homem-Aranha não é altruísmo, mas uma vontade fútil de ser reconhecido, de colher os louros por seus atos sem se preocupar com o peso destes.

Não que a atuação de Andrew Garfield seja o problema; o Peter Parker que foi dado a ele é que é desinteressante e aborrecido, sendo uma pena que a insegurança e a vulnerabilidade que antes levavam o espectador a se identificar facilmente com os dramas do personagem, desta vez, deem lugar a uma leitura artificial, esquemática e que já nasce datada em seu esforço de simular o comportamento habitual de um millennial (e, mesmo reconhecendo a energia e a personalidade contidas em Garfield, custei a simpatizar com seu Peter depois de ver a forma com que stalkeia Gwen no começo). Por outro lado, se Denis Leary surge caricato ao viver o capitão Stacy (o roteiro também não ajuda, já que, em dado momento, ele é levado a fazer duas piadinhas seguidas comparando o Lagarto ao Godzilla), a carismática Emma Stone praticamente rouba todas as cenas das quais participa, fazendo o espectador entender por que Peter se apaixona tanto por ela – e é admirável que ela busque fugir do estereótipo da “donzela em apuros” ao tomar uma ou outra atitude surpreendente durante a ação. Já Martin Sheen cria um tio Ben mais “mundano” e menos “iluminado” que o de Cliff Robertson, o que condiz com o propósito desta nova versão ao passo que Sally Field pouco tem a fazer com sua tia May (sua interação com Peter, em especial, é terrivelmente mal resolvida, já que o susto de vê-lo chegar em casa coberto de ferimentos é sempre desconversado com facilidade).

Ingrato ao colocar Rhys Ifans para encarnar um vilão cujas motivações são absolutamente impossíveis de compreender (ok, Connors enlouqueceu ao virar o Lagarto, mas… de onde veio o desejo de transformar todo o povo de Nova York em mutantes-lagartos? Por que ele passou a se importar tanto com isso?), O Espetacular Homem-Aranha é uma obra que se sai relativamente bem nos poucos momentos em que Marc Webb consegue lidar com os dramas mais íntimos dos personagens – e é triste, portanto, que estes sejam sufocados pelo tanto de ideias e situações absurdas que aparecem na narrativa à medida que esta se desenrola. Mas o pior, contudo, é não entender o mantra “Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”, fazendo o Homem-Aranha parecer um inconsequente em busca de mero reconhecimento.

E, nestas horas, alguém sempre pode argumentar que esta falta de responsabilidade é intencional, uma maneira de o filme retratar sua própria geração – o que pode até ser verdade, mas… isto é algo que o Homem-Aranha deveria retratar em vez de alimentar, não?

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