O Espetacular Homem-Aranha 2

Título Original

The Amazing Spider-Man 2

Lançamento

1º de maio de 2014

Direção

Marc Webb

Roteiro

Alex Kurtzman, Roberto Orci e Jeff Pinkner

Elenco

Andrew Garfield, Emma Stone, Jamie Foxx, Dane DeHaan, Campbell Scott, Embeth Davidtz, Colm Feore, Sally Field, Chris Cooper, Marton Csokas, Paul Giamatti e B.J. Novak

Duração

142 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Avi Arad e Matt Tolmach

Distribuidor

Sony Pictures

Sinopse

Peter Parker (Andrew Garfield) adora ser o Homem-Aranha, por mais que ser o herói aracnídeo o coloque em situações bem complicadas, especialmente com sua namorada Gwen Stacy (Emma Stone) e sua tia May (Sally Field). Apesar disto, ele equilibra suas várias facetas da forma que pode. No momento, Peter está mais preocupado é com o fantasma da promessa feita ao pai de Gwen, de que se afastaria dela para protegê-la. Ao mesmo tempo ele precisa lidar com o retorno de um velho amigo, Harry Osborn (Dane DeHaan), e o surgimento de um vilão poderoso: Electro (Jamie Foxx).

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O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro | Crítica

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Durante alguns instantes do primeiro ato de O Espetacular Homem-Aranha 2, é possível sentir que o filme está se encaminhando para honrar a essência do personagem de um modo até então inédito em sua trajetória pelo Cinema. Nestes momentos, vemos o herói salvar nova-iorquinos, despertar debates sobre a ética de suas ações, interromper amigavelmente o sofrimento de um menino vítima de bullying, combater o crime mantendo seu senso de humor característico e chegar à casa após um exaustivo dia de trabalho.

Infelizmente, não demora até que o filme comece a abandonar todas estas virtudes e passe a se concentrar nas inúmeras subtramas dispensáveis e estúpidas que o roteiro decide inventar, desperdiçando justamente o elemento mais importante por trás da concepção do Homem-Aranha: o fator humano presente na personalidade de Peter Parker, um jovem comum que enfrenta dificuldades recorrentes na vida de muitas pessoas e que, por consequência, permitem que o espectador sempre possa se identificar com o “Amigão da Vizinhança”. Não adianta retratar o herói mascarado como um sujeito engraçado e divertido se sua identidade civil não for tratada com o mesmo cuidado.

Roteirizado por Jeff Pinker ao lado de Alex Kurtzman e Roberto Orci (uma dupla cuja irregular carreira inclui obras que vão de Star Trek até Transformers), O Espetacular Homem-Aranha 2 é um exemplo de como é perigoso envolver tantos nomes diferentes numa única função – e se o fato do roteiro ter sido escrito por três pessoas já é um mau sinal, saber que o argumento foi concebido por quatro é algo que dispensa comentários. Aliás, o número de subtramas e situações paralelas é tão extenso que eu sinceramente não saberia dizer qual é a história principal que guia todos esses eventos simultâneos. Basta dizer que o Homem-Aranha adora lutar contra o crime, que Peter Parker não consegue conciliar suas atividades heroicas e o namoro que mantém com Gwen Stacy, que o jovem Harry Osborn assume a liderança da empresa Oscorp ao mesmo tempo em que precisa curar uma doença hereditária, que um engenheiro elétrico sofre um acidente e se torna o poderoso Electro, que Peter busca desvendar a verdade por trás do sumiço de seus pais e que um grupo de supervilões parece estar prestes a se formar para atacar Nova York.

Não é preciso dizer, portanto, que O Espetacular Homem-Aranha 2 padece do mesmo mal que prejudicou Homem-Aranha 3 ao inflar sua trama com uma infinidade de personagens, situações e ideias que poderiam ser reservadas para as possíveis continuações, configurando uma narrativa que nada mais é do que um verdadeiro caos – e o mais frustrante é que alguns dos eventos mostrados aqui servem apenas para preparar o público para os próximos capítulos da franquia: desde as aparições gratuitas e decepcionantes do vilão Rino até a participação de um sujeito que vive nas sombras usando sobretudo e chapéu, o longa sempre está disposto a exigir que o espectador se lembre de retornar ao cinema daqui a alguns anos para ver a conclusão desta história (todo o arco envolvendo Harry Osborn, por exemplo, ocupa um longo tempo de tela apenas para chegar ao fim da projeção se consolidando como um grande cliffhanger). Para piorar, o segundo ato revela uma fragilidade terrível ao tentar unir todos esses núcleos narrativos, saltando de um ponto para outro quando não deveria e abalando drasticamente o ritmo da obra (um problema que nem a montagem consegue solucionar).

Esta dificuldade de armazenar tantas histórias num único filme torna-se inegável a partir do momento em que o roteiro começa a oferecer soluções absurdas e desajeitadas para mover ou finalizar os vários arcos dramáticos que são abertos, o que dá origem a furos inacreditáveis e explicações imbecis – e, aqui, sou obrigado a avisar que este parágrafo contém spoilers. Como a tia May concluiu que, para pagar as dívidas que seu sobrinho mantinha com a faculdade, era preciso ingressar numa faculdade também? Se o sangue de Peter Parker poderá livrar Harry Osborn de uma doença até então classificada como incurável, pois “aranhas têm a capacidade de se curar”, então como o herói pôde aparecer resfriado no primeiro ato? E aqui faço uma pergunta sincera aos leitores: quantos de vocês já foram à casa de um amigo para anunciar a recusa de um favor requisitado? De qualquer forma, nada se compara ao desfecho da trama conspiratória envolvendo os pais de Peter, que inclui pesquisas no Google que levam ao descobrimento de localizações supersecretas após dois ou três cliques, moedas capazes de erguer vagões escondidos abaixo do chão e vídeos explicativos que foram deixados abertos num monitor por 10 anos à espera do filho do casal Parker (que, pelo jeito, apostaram que a maior coincidência do mundo aconteceria e acertaram a previsão).

Mas é difícil esperar coerência de um roteiro que chega ao cúmulo de confundir um personagem com outro – quando Electro chega para o CEO da Oscorp interpretado por Colm Feore e pergunta “Você se lembra de mim?“, o filme simplesmente não percebe que aquela é a primeira vez que ambos os indivíduos contracenam e que, na verdade, o vilão deveria estar se referindo ao chefão vivido por B.J. Novak. Por falar em Electro, é possível que este seja o papel que levará Jamie Foxx àquelas listas de “momentos vergonhosos em carreiras de atores talentosos”, já que, desde sua primeira aparição como o problemático engenheiro Max Dillon, o personagem surge exageradíssimo em sua adoração pelo Homem-Aranha e em sua caracterização tipicamente caricatural. E se as motivações que transformam Max num mau elemento são as piores possíveis (uma inveja tola e banal), o sujeito se estabelece de vez como uma figura constrangedora e unidimensional após assumir definitivamente a alcunha de Electro, soando como um vilão mais adequado aos episódios do Batman de 1966 (o que não condiz com o tom proposto para o resto da produção).

Ainda assim, Electro é apenas um dos três vilões que integram O Espetacular Homem-Aranha 2. Vivido por Dane DeHaan (do ótimo Poder Sem Limites) como um garoto irritante e que se torna antipático em vez de ameaçador, Harry Osborn conta com um arco dramático absurdo e que desperdiça a relação conturbada que manteve com o pai a fim de privilegiar bobagens que giram entorno de doenças genéticas e uma busca pelo sangue do herói, ao passo que o Duende Verde em si (um dos principais inimigos do Homem-Aranha) é reduzido a uma promessa de vilão, já que surge durante poucos minutos e serve mais para estabelecer uma base para o futuro da franquia. Para completar, não há muito a ser dito sobre a presença de Paul Giamatti, já que o próprio projeto encara o Rino de maneira completamente desinteressada.

Todavia, o que mais desaponta aqui é o protagonista: sim, é verdade que as tiradas feitas pelo Homem-Aranha são divertidas e que a empolgação sentida pelo herói durante a ação é contagiante, resgatando o espírito irreverente que sempre caracterizou o personagem nas HQs quando estava debaixo de sua máscara. O que O Espetacular Homem-Aranha 2 não parece perceber, no entanto, é que a personalidade engraçada e piadista do Cabeça-de-Teia nada mais é do que um complemento de Peter Parker, um adolescente que leva o público a simpatizar com seus dramas pessoais pelo simples fato destes também se encontrarem no cotidiano de vários leitores/espectadores. Sem um bom Peter Parker, não há um bom Homem-Aranha que sirva. Assim, o “jovem comum” vivido por Andrew Garfield é um indivíduo chato, sem graça e que raramente se vê diante de problemas com os quais o público possa se identificar, já que passa a maior parte do tempo se preocupando com a verdade oculta sobre os seus pais (o que, vale ressaltar, não é culpa de Garfield; o papel que lhe foi dado é que é muito ruim).

Já Emma Stone, por outro lado, surge como um dos aspectos positivos, já que consegue retratar Gwen Stacy como uma garota graciosa, simpática e que se destaca graças ao seu intelecto admirável, tornando-se fácil entender por que Peter Parker se apaixona intensamente pela jovem – e se a química entre a dupla funciona, é por causa do carisma de Stone. Outro nome que merece elogios é o diretor Marc Webb, que surpreende ao conduzir sequências de ação cuidadosas, repletas de dinamismo e que contam com abordagens visuais inteligentes (é interessante o modo como o cineasta emprega a câmera lenta a fim de permitir que o espectador compreenda o que está ocorrendo com mais cautela). Além disso, Webb acerta ao abandonar a atmosfera cinzenta do capítulo anterior e apostar pesadamente em cores vibrantes que parecem ter saído das páginas de quadrinhos (algo que é complementado pelo bom trabalho do diretor de fotografia Dan Mindel, que ressalta o contraste entre os fortes tons de vermelho, azul e verde).

Repleto de momentos simplesmente ridículos (muitos girando entorno de Max Dillon, um cientista alemão e o já citado vagão high tech que traz um vídeo explicativo), O Espetacular Homem-Aranha 2 ainda conta com um problema seríssimo ao jamais definir um tom correto para a narrativa, saltando de cenas alegres e bobinhas para outras que revelam tragédias verdadeiramente brutais sem qualquer tipo de naturalidade. Diga-se de passagem, isso nos leva ao pecado derradeiro: a falta de consequências. É verdade que o filme sabe causar impacto, revelando eventos chocantes e que quase funcionam do ponto de vista dramático; em contrapartida, a comoção causada não é suficiente se não for sucedida de consequências. De que adianta a tia May fazer um discurso emocionado se, logo em seguida, ela estará desfazendo tudo que construiu em sua fala após ouvir uma súplica superficial? Da mesma forma, a grande fatalidade que ocorre no terceiro ato é, de fato, ilustrada de maneira chocante, mas isso não basta, já que, poucos minutos depois, o herói parece superar o trauma sem ter aprendido nada com ele.

No meio disso tudo, é importante reconhecer que O Espetacular Homem-Aranha 2 ao menos consegue desenvolver uma curiosa metáfora para o conceito de tempo, iniciando a projeção com imagens que detalham as engrenagens de um relógio, introduzindo um discurso onde Gwen Stacy fala sobre a finitude da vida e apresentando um clímax que se passa numa torre-relógio. É o tempo que muitas vezes impede Peter Parker de cumprir os seus objetivos e garantir a proteção das pessoas que ama.

E também foi o tempo que transformou esta produção num fiasco narrativo, pois é difícil coordenar devidamente tantas subtramas e personagens dentro de apertados 142 minutos.

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