garfield_2024 (2)

Título Original

The Garfield Movie

Lançamento

1º de maio de 2024

Direção

Mark Dindal

Roteiro

Paul A. Kaplan, Mark Torgove e David Reynolds

Elenco

As vozes de Chris Pratt, Samuel L. Jackson, Harvey Guillén, Hannah Waddingham, Ving Rhames, Nicholas Hoult, Cecily Strong, Brett Goldstein, Bowen Yang, Janelle James e Snoop Dogg

Duração

101 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

John Cohen, Broderick Johnson, Andrew Kosove, Steven P. Wegner, Craig Sost e Namit Malhotra

Distribuidor

Sony

Sinopse

Garfield, o gato de estimação mundialmente famoso que odeia segundas-feiras e ama lasanha, está prestes a ter uma aventura selvagem ao ar livre! Após um reencontro inesperado com seu pai há muito perdido – o maltrapilho gato de rua Vic – Garfield e seu amigo canino Odie são forçados a sair de suas vidas perfeitamente mimadas para se juntarem a Vic em um hilariante e arriscado assalto.

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Garfield Fora de Casa | Crítica

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Eu adoro Garfield. Quando tinha seis anos, deixava a tevê ligada no finado canal Boomerang (vinculado ao Cartoon Network) e esperava ansiosamente marcar 17h no relógio para começar Garfield e Seus Amigos, série animada dos anos 1980 que, junto aos especiais de 30 minutos produzidos na mesma época, ajudou a popularizar o bichano criado por Jim Davis (quando terminava Garfield, era hora de sintonizar no SBT, pois às 18h começava Chaves). Mas meu interesse pelo personagem não parava por aí: meus pais, minhas já saudosas avós e uma tia que só pude conhecer pessoalmente uma vez (e cujas memórias residem num canto muito especial do meu coração) percebiam minha fixação pelo gato laranja e, assim, viviam me presenteando com revistas, colecionáveis e DVDs de suas animações, ajudando a estabelecer um vínculo afetivo fortíssimo para com o felino devorador de lasanhas.

O fato, portanto, é que Garfield é uma figura com a qual é muito fácil simpatizar: como não se identificar, ao menos em algum grau, com um gato cínico, preguiçoso e mal-humorado que detesta segundas-feiras e só quer saber de comer, ver tevê e dormir? Não é uma criação que vá inspirar grandes reflexões existenciais ou comentários densos sobre o que quer que seja; não é sofisticada ou profunda como Snoopy & Charlie Brown ou Calvin & Haroldo (não mesmo) – mas é justamente por ser tão… simples, em essência, que o personagem de Jim Davis leva tantas pessoas a se afeiçoarem a ele. Porém, é por este mesmo motivo que Garfield costuma funcionar melhor em doses ligeiras, numa tirinha de três a seis quadros ou numa animação de meia horinha – e todas as tentativas de estendê-lo além disso resultaram em desastre, desde as adaptações live-action de 2004 e 2006 (que conseguiam a proeza de jogar no lixo o casting aparentemente perfeito de Bill Murray como o protagonista) até os longas animados lançados no fim daquela década diretamente em DVD (menos no Brasil, onde estrearam nos cinemas sei lá por quê), que eram pavorosos a ponto de fazer os esforços anteriores parecerem “menos piores”.

O que nos traz a este Garfield – Fora de Casa, nova tentativa de levar o gato mais famoso das tirinhas às telonas e que, vejam só, acaba alcançando um resultado ironicamente paradoxal: por um lado, é de longe o melhor filme já produzido até hoje em torno do personagem (o que não é difícil); por outro, é uma obra que escancara a dificuldade que citei no parágrafo anterior ainda mais do que as versões lançadas há quase 20 anos, já que, no desespero em encontrar alguma premissa que sustente um protagonista tão simples em uma aventura de longa-metragem, esta animação cria uma trama frouxa, que atira para todos os lados, se complica bem mais do que precisava e – o mais decepcionante – dilui a personalidade e o charme característico de Garfield.

Escrito por Paul A. Kaplan, Mark Torgove e David Reynolds, o roteiro começa explorando a origem do protagonista, retornando à noite em que, ainda bebê, foi abandonado num beco por seu pai, Vic, e encontrado pelo solitário Jon Arbuckle, que logo decide adotá-lo e criá-lo numa vida coalhada de mordomias e comilanças ao lado do cachorro Odie (que, ao longo dos anos, é transformado praticamente em mordomo de Garfield, sendo descrito por este como seu “estagiário não remunerado”). Tudo muda, no entanto, depois que o gato e o cão são sequestrados pelos capangas da malvada persa Jinx e obrigados a entrar no planejamento de um complexo assalto a uma fazenda leiteira – e, no processo, é claro que Garfield e Vic discutirão os problemas de sua relação, quitarão suas pendências, aprenderão a se perdoar/amar e… blábláblá.

Em outras palavras: uma premissa que, na ânsia de apresentar-se elaborada, acaba se convertendo em uma narrativa dispersa, repleta de vaivens que tendem a torná-la desnecessariamente inchada e que ainda perde tempo com arcos paralelos de coadjuvantes com os quais não poderíamos nos importar menos – como é o caso, por exemplo, de toda a “missão secundária” em que Garfield, Odie e Vic têm de ajudar o touro Otto a reencontrar sua amada, agora mantida em cativeiro (uma subtrama que toma um tempo terrível serve apenas para inflar o tempo de projeção até fazê-lo atingir excessivos 101 minutos, tornando o segundo ato, em especial, cansativo e até sonolento). O mais frustrante, contudo, é que, em meio a tantas situações que se empilham umas sobre as outras, vai sobrando cada vez menos espaço para Garfield poder esbanjar sua personalidade e seu carisma habitual, já que as prioridades do felino passam a ser ações imediatas (e grandiosas) que se renovam a cada segundo – e, quanto mais a história avança, mais forte torna-se a sensação de que o filme nada mais é do que uma animação pré-pronta estrelada por qualquer outro bichinho genérico, mas que, de última hora, resolveu incluir Garfield (e uma ou outra menção ao fato de ele amar lasanhas e odiar segundas-feiras) a fim de facilitar sua venda.

Dito isso, este novo Garfield não é ruim – e muito disso se deve ao fato de o diretor Mark Dindal (responsável pelo divertido A Nova Onda do Imperador e pelo mediano O Galinho Chicken Little) conseguir criar uma atmosfera leve que, de quebra, surge envolta em uma abordagem visual que, se não é inovadora (longe disso), ao menos é eficiente ao aproveitar-se das possibilidades da animação para recriar/resgatar parte do estilo dos quadrinhos, combinando texturas e modelagens em 3D com elementos, perspectivas e dinâmicas que remetem a algo bidimensional (algo que me lembrou a técnica usada pela finada Bluesky no ótimo Snoopy & Charlie Brown – O Filme). Assim, vários aspectos que nos acostumamos a encontrar em tirinhas e desenhos tradicionais (as orelhas de Garfield se dobrando para trás; a simetria perfeitinha de seu corpo de lado, em perfil; a velocidade de seus movimentos sendo demarcada por rastros e rabiscos; etc) se fazem presentes aqui, o que é uma grata surpresa – embora seja uma pena perceber que o longa não demonstra muita inspiração ao lidar com os cenários ao fundo dos personagens, limitando-os a composições chapadas e sem vida. E sejamos francos: como resistir ao “Baby Garfield”, esta coisinha fofíssima?

Já as tentativas de humor são mais irregulares: nos minutos iniciais, o filme é bem-sucedido ao extrair graça das reações excessivamente cartunescas dos personagens e das idiossincrasias particulares de Garfield, aproveitando ainda para modernizá-las ao incorporar detalhes da tecnologia atual (como aspiradores robô, serviços de streaming como Catflix e aplicativos de comida via delivery – que desempenham papel importante na trama a ponto de voltarem lá na frente). Aos poucos, porém, os esforços do longa vão se restringindo cada vez mais ao básico de suas premissas, criando gags que qualquer um que já tenha visto meia dúzia de animações deste gênero será capaz de antever e que – pior – insistem em prolongar-se até perderem completamente a graça (como ocorre, por exemplo, na briguinha chatíssima entre Garfield e Otto a respeito do codinome que o primeiro usará numa missão). E quantas vezes mais teremos uma sequência “engraçadinha” em que os personagens elaboram/executam um plano dificílimo ao som da música-tema de Missão: Impossível? (Em compensação, a referência a Top Gun é bacaninha e justifica uma boa piada envolvendo Tom Cruise logo a seguir.)

Trazendo uma surpresa divertidinha após os créditos finais, Garfield é uma animação da Sony com alma de um projeto da Illumination: tem seus acessos de fofura aqui e ali, é povoado por bichinhos moderadamente simpáticos e é inofensivo demais para gerar reações muito extremas (para o bem e para o mal), mas, no fim das contas, não tem lá muita imaginação e é prontamente esquecido assim que chega ao fim, tornando-se, portanto, a representação fílmica do conceito de “não fede nem cheira”.

E tenho minhas dúvidas se o Pedrinho de seis anos, que era obcecado pelo personagem e não perdia um episódio de sua série, sairia muito entusiasmado com este filme…

Obs.: há uma ou outra aparição especial – do tipo “piscou, perdeu” – de alguns personagens que, confesso, fez meu lado garfieldmaníaco abrir um sorrisinho bobo, como o palhaço Binky (que vivia aparecendo em Garfield e Seus Amigos e aqui surge estampado numa caixa de cereais) e a gangue de vira-latas “Os Garras” (os vilões do especial Garfield na Cidade, de 1983).

Assista também ao vídeo que gravei sobre o filme e sobre o personagem Garfield no geral:

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