A Serviço Secreto de Sua Majestade (1)

Título Original

On Her Majesty’s Secret Service

Lançamento

18 de dezembro de 1969

Direção

Peter R. Hunt

Roteiro

Richard Maibaum

Elenco

George Lazenby, Diana Rigg, Telly Savalas, Gabriele Ferzetti, Ilse Steppat, Lois Maxwell, George Baker, Bernard Lee, Bernard Horsfall, Desmond Llewelyn, Yuri Borienko, Virginia North, Geoffrey Cheshire, Irvin Allen, Terry Mountain, James Bree, John Gay, Angela Scoular, Anouska Hempel, Catherina von Schell, Dani Sheridan, Helena Ronee, Ingrid Back, Jenny Hanley, Joanna Lumley, Julie Ege, Mona Chong, Sylvana Henriques e Zara

Duração

142 minutos

Gênero

Nacionalidade

Inglaterra

Produção

Harry Saltzman e Albert R. Broccoli

Distribuidor

MGM

Sinopse

Bond salva uma mulher que tenta se suicidar em uma praia deserta e acaba se envolvendo com ela. Mais tarde, ele descobre que ela é filha do criminoso Marc Ange Draco, que passa a ser um aliado do agente para combater a organização secreta SPECTRE.

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007: A Serviço Secreto de Sua Majestade | Crítica

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Criado na década de 1950 como uma representação absoluta do poderio britânico em plena Guerra Fria (uma época propícia ao surgimento de heróis e vilões retratados de maneira maniqueísta, já que o mundo encontrava-se dividido basicamente entre Estados Unidos e União Soviética), o James Bond escrito por Ian Fleming e levado às telonas sob a pele de Sean Connery era uma figura que, em inglês, costuma ser descrita como “larger than life” (em tradução literal, “maior do que a vida”). Charmoso das roupas aos gestos, irresistível para qualquer mulher que o cercasse, praticamente invencível em qualquer briga e capaz de escapar até mesmo da mais insana das armadilhas, o agente 007 era um herói cuja graça residia justamente em sua absurda infalibilidade (física, social ou emocional): se uma jovem aparecia em cena, ela inevitavelmente sairia como a bondgirl da vez (mesmo não significando nada além de um divertimento para Bond); se o Dr. No ou Goldfinger o pusessem numa situação aparentemente fatal, ele daria um jeito de escapar; e assim por diante.

Porém, é claro que mais cedo ou mais tarde esta abordagem começaria a soar repetitiva, já que, além de jamais temermos de fato pela vida de James Bond, ficaríamos cansados de vê-lo ser retratado exatamente como o mesmo herói perfeitinho de sempre – e não é à toa que, embora eficientes e divertidos, os dois filmes anteriores estrelados por Sean Connery (A Chantagem Atômica e Só Se Vive Duas Vezes) já não se apresentavam tão interessantes quanto os ótimos três que os precederam (Dr. No, Moscou Contra 007 e Goldfinger). Um personagem (e uma franquia) não evolui se continuar eternamente estagnado no mesmo ponto, afinal.

Assim, é preciso aplaudir não só a atitude, mas a coragem de A Serviço Secreto de Sua Majestade ao ousar fazer aquilo que absolutamente nenhum fã daquela época imaginava (e que infelizmente foi o bastante para que boa parte do público e da crítica se voltassem contra este belo filme): transformar James Bond em um homem vulnerável.

Adaptado do 11º livro da série escrita por Ian Fleming, o roteiro de Richard Maibaum dá continuidade à caçada de Bond atrás do líder terrorista Ernst Stavro Blofeld, da SPECTRE, que foi apresentado no filme anterior e que escapou logo em seguida. Antes disso, porém, 007 surge na tradicional sequência pré-créditos salvando uma mulher, Teresa “Tracy” di Vicenzo, que tentara se suicidar em uma praia deserta – e, após segui-la a um hotel próximo, ele (como não poderia deixar de fazer) se envolve com ela por uma noite. No entanto, alguns dias se passam e Bond descobre que Tracy é filha de Marc-Ange Draco, líder de uma organização criminosa que, para surpresa de 007, se transforma em aliado ao revelar-lhe uma série de informações que o levem a Blofeld. Uma vez descoberta a localização do chefe da SPECTRE, James Bond parte em direção aos Alpes Suíços e se infiltra na fortaleza de Blofeld – que, desta vez, se apresenta como chefe de uma indústria farmacêutica que pesquisa a hipnose como forma de curar (ou, no mínimo, manter sob controle) as deficiências de um grupo de mulheres-cobaias. No meio disso tudo, a relação entre Bond e Tracy evolui a ponto de tornar-se algo mais profundo do que uma noitada com uma bondgirl qualquer, fazendo a aventura assumir um significado mais pessoal.

Estreando na direção depois de anos construindo uma bem-sucedida carreira de montador (inclusive, foi ele quem desempenhou a função nos cinco 007 antecessores), Peter R. Hunt assume A Serviço Secreto de Sua Majestade com o pé direito e demonstra noção e controle quase perfeitos acerca do ritmo da narrativa, perdendo-se apenas pontualmente quando, lá pela metade da projeção, exagera ao dedicar tempo demais às cenas de Bond disfarçado de hóspede na fortaleza de Blofeld e aos inevitáveis flertes entre o espião e as pacientes do vilão. Ainda assim, Hunt é inteligente ao empregar toda a primeira metade do filme para estabelecer cuidadosamente a premissa e – não menos importante – a moral dos personagens, já que ambas se revelarão importantíssimas para que as sequências de ação (que tornam-se praticamente incessantes do meio para o fim) alcancem o efeito emocional esperado – afinal, desta vez (mais do que nos capítulos anteriores) as lutas, perseguições e tiroteios desempenham um papel dramático que vai muito além da pura pirotecnia.

Mas não é só: questões dramáticas à parte, o fato é que as cenas de ação de A Serviço Secreto de Sua Majestade são até hoje impressionantes do ponto de vista puramente técnico – e me atrevo a dizer que, mesmo passados mais de 40 anos desde então, elas se mantêm entre as melhores de toda a franquia (junto daquelas presentes nos Bonds de Timothy Dalton e, principalmente, Daniel Craig). Adotando uma abordagem que, aos olhos de hoje, soa muito à frente de seu tempo, Hunt concebe as sequências de ação como momentos intensos, velozes e até brutos: a câmera é mantida sempre em movimento, a velocidade dos planos parece sempre acelerada e os cortes frequentemente vêm num intervalo de poucos segundos (aliás, quem se encarregou da montagem foi John Glenn, outro que mais tarde seria alçado ao posto de diretor da série 007), numa estratégia que se popularizaria a partir dos anos 1990/2000 e que tinha tudo para tornar a ação daqui visualmente confusa (como infelizmente ocorre com vários representantes modernos do gênero), mas que, em função do cuidado com que Hunt estabelece a mise-en-scène, acaba justamente contribuindo ao conferir-lhe intensidade e energia. Como se não bastasse, as longas cenas de perseguição de esqui (os caras usaram uma avalanche de verdade!) ficam ainda melhores ao serem embaladas pelo inesquecível tema musical composto por John Barry*, que, mesmo sem contar com a voz de um artista conhecido, se apresenta como uma das melodias mais marcantes de toda a franquia.

Contudo, o diferencial da ação está mesmo no fato de que elas contam com um senso de urgência até então inédito na série: sim, Hunt é eficaz ao encaixar, no meio das perseguições e dos tiroteios, um pouco do bom humor habitual de 007 (vide a cena em que os carros dos heróis e dos vilões invadem uma pista de corrida, provocando ao mesmo tempo riso e aflição), mas estas investidas jamais anulam a sensação de que, pela primeira vez, algo realmente pode acontecer a James Bond, fazendo os perigos soarem mais palpáveis. Neste sentido, um dos maiores prazeres oferecidos pelas aventuras de 007, que é acompanhar como Bond escapará da situação X ou Y, aqui assume uma conotação ainda maior, já que este é provavelmente um dos longas da série que mais convencem o espectador de que o espião sofrerá para sobreviver, por exemplo, à fuga de um teleférico.

Em outras palavras: o James Bond de A Serviço Secreto de Sua Majestade pode ser forte, charmoso e espirituoso, mas também é capaz de se machucar – seja física ou emocionalmente.

O que nos traz ao ponto mais delicado de A Serviço Secreto de Sua Majestade: o fato de James Bond retornar não com o rosto duro e imponente de Sean Connery, mas com o do desconhecido George Lazenby, marcando a primeira substituição no papel principal (isto sem contar, é claro, a paródia norte-americana de Cassino Royale lançada dois anos antes e protagonizada por David Niven). Fazendo uma piadinha autorreferencial logo nos primeiros minutos de projeção (“Isso nunca aconteceu com o outro cara”), Lazenby é um ator obviamente limitado, inexperiente (sua carreira pregressa se resumia a comerciais) e que, sim, carece da força e do charme que Connery projetava com tanta facilidade, não sendo à toa que os momentos que exigem dele uma postura galanteadora nunca funcionam muito bem. Em compensação, se está longe de ser o mais memorável dos intérpretes de James Bond, ao menos George Lazenby funciona dentro do contexto deste filme específico – e mesmo a aura travada, desengonçada, que ele (acidentalmente?) traz ao papel ajuda a humanizá-lo ainda mais.

E é isso que torna A Serviço Secreto de Sua Majestade tão memorável dentro da franquia: em vez do herói indestrutível, devoto à sua profissão e que trata as mulheres de sua vida como distrações passageiras, desta vez temos um protagonista mundano, falho, desapegado a ponto de pedir demissão do MI6 (e ter seu pedido recusado, vale apontar) e, acima de tudo, capaz de se apaixonar. Neste sentido, a performance de Diana Rigg (estrela do antigo seriado Os Vingadores, que também girava em torno de espionagem) se revela instrumental para o sucesso do longa, já que a personalidade que constrói para Tracy (com graça, simpatia e uma presença surpreendentemente ativa durante a ação) torna ainda mais compreensível a paixão despertada em Bond.

Que o filme se encerre de maneira tão trágica e abrupta, portanto, é um atestado de como a vida de 007 é infinitamente mais triste do que poderíamos supor. Afinal, qualquer tentativa de James Bond de viver para si (e não para o MI6) resultará apenas em dor e sofrimento.

Um dos melhores da série, sem dúvida alguma.

* Uma curiosidade: quando Brad Bird começou a produzir Os Incríveis, ele chegou a convidar John Barry para compor a trilha do filme, seguindo os moldes do tema de A Serviço Secreto de Sua Majestade a ponto de incluí-lo no teaser trailer da animação (aquele com o Sr. Incrível tentando afivelar o cinto). No entanto, Barry recusou o convite alegando não ter interesse em repetir o estilo de seus trabalhos passados – e, com isso, Bird escalou Michael Giacchino para a função e este, por sua vez, fez um trabalho obviamente inspirado nas composições de Barry para a série 007.

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2 Comentários

  • perfeita resenha .. pra mim o ,elhor filme da franquia.. 007 o indestrutivel fisicae e emocionalemente se transforma ao ajudar uma moça q tenta tirar sua vida… bond aos poucos se apaixona.. realmente george nao eh conery mas se encaixou nesse filme .. e dianna riggs .. pra mim melhor bondgirl.. q atriz!! .. trilha sonora das melhores.. ate a musiquinha de natal caiu bem … parabens pela resenha

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