Cassino Royale (1)

Título Original

Casino Royale

Lançamento

13 de abril de 1967

Direção

Ken Hughes, John Huston, Joseph McGrath, Robert Parrish, Val Guest e Richard Talmadge

Roteiro

Wolf Mankowitz, John Law e Michael Sayers

Elenco

David Niven, Peter Sellers, Ursula Andress, Joanna Pettet, Daliah Lavi, Woody Allen, Barbara Bouchet, Terence Cooper, Deborah Kerr, Orson Welles, William Holden, Charles Boyer, John Huston, Kurt Kasznar, George Raft e Jean-Paul Belmondo

Duração

131 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA/Inglaterra

Produção

Charles K. Feldman e Jerry Bresler

Distribuidor

Columbia Pictures

Sinopse

Uma organização criminosa conhecida como Smersh está eliminando os agentes de todas as agências de espionagem do mundo. Afastado do Serviço Secreto Britânico, James Bond volta à ativa, elaborando uma conspiração secreta para combater o inimigo.

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007: Cassino Royale (1967) | Crítica

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Que James Bond é um herói de muitas faces, isto todo mundo já sabe: de Sean Connery a Daniel Craig, passando por George Lazenby, Roger Moore, Timothy Dalton e Pierce Brosnan, o agente 007 já teve tantas encarnações no Cinema que nem é mais surpresa quando anunciam que seu intérprete será mais uma vez renovado. O que nem todos sabem, porém, é que A Serviço Secreto de Sua Majestade não marcou a primeira vez que Bond surgiu sem o rosto de Connery: ainda em 1967, o espião apareceu sob a pele de David Niven em uma versão inusitada, peculiar e bem humorada de Cassino Royale (sim, acredite se quiser: o longa de 2006 teve um antecedente). E o mais curioso, no entanto, é que o próprio filme acaba incorporando, às suas várias brincadeiras, a ideia de James Bond ser interpretado por tantos atores diferentes – se é bem-sucedido ao fazê-lo, é outra história.

Considerado o primeiro longa “não oficial” de James Bond (explico: antes dos direitos do personagem serem vendidos para a Eon Productions, que produzia a série principal estrelada por Sean Connery, o autor que o criou, Ian Fleming, havia vendido os direitos de adaptação apenas do primeiro livro, Cassino Royale, para o produtor Gregory Ratoff – e, após a morte deste em 1958, a propriedade acabou parando nas mãos de Charles K. Feldman, que bancou esta versão), o “primeiro” Cassino Royale se apresenta, na verdade, como uma paródia das histórias escritas por Fleming, atirando 007 em uma longa aventura envolvendo confusões, trocas de identidade, mulheres seminuas, vilões que se revelam do nada, etc. Neste sentido, o filme ocasionalmente surpreende com um ou outro momento divertido, destacando-se a hilária cena que apresenta o sobrinho desajeitado de Bond (vivido por ninguém menos que Woody Allen) e toda a sequência ambientada no laboratório do agente Q (na qual os demais espiões se revelam… bom, um monte de trapalhões).

Infelizmente, estes bons momentos surgem de vez em quando no meio de uma narrativa completamente caótica – e, por mais que o roteiro de Wolf Mankowitz, John Law e Michael Sayers insista em tentar criar uma historinha mínima que amarre todas as cenas, o fato é que cada uma destas parece existir por conta própria e sem nenhuma ligação com a que veio antes ou com a que virá depois; como se o trio de roteiristas tivesse pensado em um monte de esquetes isoladas, com suas respectivas gags, e fingissem querer criar uma trama ao alinhá-las. Além disso, a ideia de encher a narrativa com participações de atores/diretores conhecidos (Peter Sellers, Ursula Andress – que já havia feito Dr. No –, Woody Allen, Orson Welles, John Huston, Deborah Kerr, Barbara Bouchet, William Holden, Charles Boyer, George Raft, etc) ajuda a reforçar a impressão de que cada cena do filme é um episódio à parte, servindo apenas para levar o espectador ao sentimento de “Ih, olha só, é (aquele ator que conheço)!”.

Como se não bastasse, a bagunça criada pelos três roteiristas é não só refletida, como também reforçada pela direção dos (juro!) seis cineastas: Ken Hughes, John Huston (sim, o próprio), Joseph McGrath, Robert Parrish, Val Guest e o não creditado Richard Talmadge. Em teoria, a ideia de trazer tantos diretores com estilos diferentes para dividirem uma única narrativa parece representar, no mínimo, um experimento ousado; na prática, porém, a tentativa apenas transforma Cassino Royale em um caos absoluto, tornando fácil, para o espectador, identificar como as visões conflitantes dos cineastas afetaram o resultado final ao fazer com que cada sequência do filme seja radicalmente diferente da outra – o que, de novo, talvez não fosse um problema caso o projeto como um todo assumisse a ideia de ser uma zona, em vez de fingir querer estabelecer uma unidade narrativa/estilística. Para piorar, o fato de uns diretores terem mais/menos vocação para o humor que outros leva uns momentos do longa a serem muito mais/menos eficientes que outros, comprometendo muito o ritmo da projeção.

Ainda assim, Cassino Royale tem suas virtudes, sendo a principal delas o fato de apresentar um James Bond completamente diferente dos demais: ao contrário das outras encarnações do personagem, a de David Niven se revela um herói que não faz a menor questão de sê-lo, tentando manter-se preso em sua confortável mansão e delegando a terceiros a função de partir para as missões – e, para mim, a cena que define esta versão de 007 é aquela em que não-sei-quantos trogloditas aparecem para enfrentá-lo e estes vão se autodestruindo à medida que tentam pegar algum objeto para acertar em Bond, mostrando como a pose heroica do agente é fruto não de seu talento, mas da incompetência de seus adversários (uma visão que, por natureza, desconstrói o mito infalível acerca do espião). Por outro lado, se os figurinos e a direção de arte mostram-se hábeis ao retratarem o imaginário multicolorido, caprichado e extravagante dos vilões, a música-tema de Burt Bacharach torna-se irritante ao ser repetida centenas de vezes ao longo do filme (o que, vale apontar, não é culpa do compositor).

Lançado apenas dois meses antes de Só Se Vive Duas Vezes, este Cassino Royale acaba refletindo, de certa maneira, o excesso de rostos que seu protagonista já teve no Cinema (não de forma intencional, claro), sendo curioso o fato de, ao longo da narrativa, vários outros atores (Peter Sellers, Terence Cooper, Ursula Andress, Joanna Pettet, Daliah Lavi) terem que se passar por James Bond para completar uma missão. O problema é quando os diretores e roteiristas por trás do filme sem querer aderem à mesma filosofia, levando-a ao pé da letra ao combinarem estilos tão conflitantes que acabam mergulhando o projeto em uma terrível crise de identidade.

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