Nunca Diga Nunca Outra Vez (1)

Título Original

Never Say Never Again

Lançamento

7 de outubro de 1983

Direção

Irvin Hershner

Roteiro

Lorenzo Semple Jr.

Elenco

Sean Connery, Kim Basinger, Klaus Maria Brandauer, Max von Sydow, Barbara Carrera, Bernie Casey, Alec McCowen, Edward Fox e Rowan Atkinson

Duração

134 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Jack Schwartzman

Distribuidor

Warner Bros.

Sinopse

James Bond comete um erro incomum durante um treinamento de rotina, levando M a acreditar que o lendário espião da Inteligência britânica já teve dias melhores. M suspende Bond indefinidamente. Porém, quando uma integrante do SPECTRE, Fatima Bush, e seus colegas terroristas, roubam dois mísseis nucleares dos americanos, M precisa apelar novamente para Bond, pois ele é o único agente que pode combater o SPECTRE em seu próprio jogo de espionagem.

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007: Nunca Mais Outra Vez | Crítica

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Uma das reclamações mais constantes feitas aos filmes de James Bond produzidos na década de 1980 era o fato de a idade de seu intérprete, Roger Moore, estar cada vez mais avançada para o papel – e o resultado disso nas sequências de ação era óbvio: embora Moore nunca tivesse levado muito jeito para as lutas, perseguições e cambalhotas feitas por 007, as limitações de suas condições físicas se tornaram mais aparentes, em especial, nos últimos dois filmes que estrelou no papel de Bond (Octopussy e Na Mira dos Assassinos). Dito isso, é curioso perceber, em retrospecto, que naquela mesma época foi produzida, sim, uma aventura baseada nos livros de Ian Fleming que acabou incorporando a idade avançada do espião à sua narrativa. Mais interessante ainda, contudo, é constatar que o filme em questão não era protagonizado por Moore e nem é considerado “canônico” para a franquia: estou falando, é claro, de Nunca Mais Outra Vez, uma produção norte-americana de 1983 que conseguiu a proeza de trazer ninguém menos que Sean Connery de volta à pele de James Bond, no que se revelou um dos capítulos mais inusitados de toda a trajetória do espião nas telonas.

Dirigido pelo mesmo Irvin Kershner que comandou O Império Contra-Ataca, Nunca Mais Outra Vez é uma obra cuja história pregressa não só merece como precisa ser recapitulada a fim de que possamos, assim, compreender sua existência: em 1958, antes da Eon Productions adquirir os direitos de adaptação da série 007 para o Cinema, Ian Fleming se interessou em alavancar um projeto que levasse James Bond para a tela grande e, com isso, passou a trabalhar num roteiro protagonizado pelo espião. Porém, como faltava a Fleming o conhecimento necessário para levar uma produção deste porte adiante, seu amigo Ivar Bryce decidiu apresentá-lo a um jovem irlandês, Kevin McClory, que prometia não só alçar Bond ao status de ícone do Cinema, mas também se firmar como um cineasta de sucesso na década seguinte (mesmo que sua experiência até então fosse ínfima). A partir daí, Fleming e McClory passaram a trabalhar num argumento chamado Thunderball (se este nome é familiar para você, peço apenas que espere e logo esclarecerei). No entanto, após McClory estrear na direção em 1959 com um longa intitulado The Boy and the Bridge e ser mal recebido por público e Crítica, Fleming imediatamente se desencantou com a parceria e tocou o projeto sozinho. Mas aí, numa manobra inesperada, os direitos de adaptação de Thunderball terminaram divididos entre as duas partes – e, como resultado, cada uma teve a oportunidade de realizar sua própria versão da mesma história: em 1965, a Eon lança A Chantagem Atômica (considerado “oficial” na série e pelo qual McClory recebeu créditos de produtor e argumentista) e, em 1983, a Warner Bros. distribui Nunca Mais Outra Vez.

Inclusive, estarei sendo impopular se disser que gosto mais de Nunca Mais Outra Vez do que de A Chantagem Atômica?

A verdade é que nenhum dos dois me desperta grandes paixões, mas só o fato de Nunca Mais Outra Vez propor ideias novas que tendem a fazê-lo sair da mesmice da franquia britânica (ao contrário de A Chantagem Atômica, que apenas indicava o quão saturada se tornava a fórmula estabelecida em Dr. No, Moscou Contra 007 e Goldfinger) já o faz merecer alguns pontos. Propondo uma leitura nova para personagens como Blofeld (aqui vivido por um Max von Sydow que em nada remete ao visual careca, baixinho e com cicatriz no olho que foi imortalizado pela Eon Productions), esta “refilmagem” propõe uma visão curiosa para o próprio James Bond, que, de galã indestrutível, sedutor e invejável, foi a um senhor de idade mantido em um asilo, que custa a completar um treinamento dos mais pesados e que é constantemente menosprezado e repreendido por seus superiores do MI6 – e, se a decisão contribui para tornar 007 mais vulnerável (tanto na ação quanto do ponto de vista dramático, já que lamentamos que ele não se sinta mais requisitado), por outro lado também funciona como artifício cômico, atingindo o auge na hilária (e absurda) sequência na qual foge e tenta (desajeitadamente) desnortear um inimigo ao jogar frascos de urina em cima dele.

Que a revelação do conteúdo dos frascos se dê através de uma gag a parte, com o capanga se contorcendo ao receber o líquido no rosto e nos fazendo acreditar que se trata de ácido antes que nos mostrem que, na verdade, era urina, é um testemunho de como Kershner podia não ser um cineasta infalível (anos depois ele dirigiu RoboCop 2, mas deixemos isso para lá), mas certamente entendia de construção dramática e sabia da capacidade que um breve suspense tinha de se converter em uma piada inesperada e bem-humorada. Por outro lado, se as sequências de ação (principalmente a perseguição de moto contra carros e caminhões) são conduzidas com absoluto dinamismo, provocando tensão e empolgação na medida certa (e, ainda assim, sendo perfeitamente inteligíveis do ponto de vista de mise-en-scène), há várias outras que se perdem no propósito de causar riso, inquietação ou incerteza no espectador – e toda a sequência na qual Bond e um vilão se sentam à mesa para jogar um game de destruição/defesa do mundo parecia muito mais intrigante na teoria do que na prática, soando divertida a princípio, porém repetitiva e cansativa depois de um tempo.

Da mesma forma, é difícil negar que os esforços do filme em diferenciar-se da franquia conduzida pela Eon Productions não são suficientes para torná-lo menos familiar e corriqueiro de modo geral, sendo notório como que, do ponto de vista narrativo, o roteiro de Lorenzo Semple Jr. (Três Dias do Condor) bate em algumas das mesmas teclas de sempre e a direção de Irvin Kershner cai no lugar-comum a partir da segunda metade da projeção. Ainda assim, Nunca Mais Outra Vez é uma produção curiosa e inusitada o bastante para, no mínimo, merecer a atenção de qualquer um que busque se aventurar na história do agente 007.

E só o fato de marcar também a estreia do geralmente ótimo Rowan Atkinson, anos antes de estourar como Mr. Bean e Johnny English (no qual vivia uma paródia de James Bond), é digno de nota por si só.

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