O Espião Que Me Amava

Título Original

The Spy Who Loved Me

Lançamento

7 de julho de 1977

Direção

Lewis Gilbert

Roteiro

Richard Maibaum e Christopher Wood

Elenco

Roger Moore, Barbara Bach, Curt Jürgens, Richard Kiel, Caroline Munro, Geoffrey Keen, Edward de Souza, George Baker, Lois Maxwell, Walter Gotell, Vernon Dobtcheff, Desmond Llewelyn, Michael Billington, Bernard Lee, Shane Rimmer, Bryan Marshall, Sue Vanner e a voz de Barbara Jefford

Duração

125 minutos

Gênero

Nacionalidade

Inglaterra

Produção

Harry Saltzman e Albert R. Broccoli

Distribuidor

MGM

Sinopse

A Inglaterra descobre que alguém sabe como rastrear um submarino submerso e está oferecendo esta tecnologia para quem pagar mais alto. Uma crise internacional tem início quando um submarino com dezesseis mísseis nucleares desaparece, enquanto fazia uma patrulha. O agente secreto 007 é incumbido de investigar o caso e recuperar as ogivas, antes que sejam disparadas, e para isto recebe a ajuda de uma bela e sensual agente soviética.

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007: O Espião Que Me Amava | Crítica

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Faz todo o sentido que o primeiro filme da série 007 a finalmente começar a reconhecer A Serviço Secreto de Sua Majestade como peça fundamental da saga tenha sido O Espião Que Me Amava, terceiro capítulo da era Roger Moore: em dado momento, a major Anya Amasova (uma das melhores bondgirls de toda a franquia) se aproxima de James Bond e cita de passagem algumas informações básicas a seu respeito, até chegar àquela que o faz mudar de compostura (“Já teve muitas amigas, mas se casou apenas uma vez. Esposa assassinada em…”) e ser interrompida por Bond, que responde “Ok, já provou seu ponto”. Faz sentido porque, assim como no longa que Peter R. Hunt dirigira cinco anos antes, O Espião Que Me Amava representa a primeira vez desde então que o vínculo amoroso entre 007 e uma bondgirl se revelou algo mais emocionalmente intenso e complexo do que um passatempo descompromissado. Aqui, tanto Bond quanto a mulher têm sentimentos reais, o que torna a missão mais pessoal.

Após uma das sequências pré-créditos mais espetaculares de toda a série (na neve, 007 foge esquiando de vários inimigos que o perseguem por todos os lados, culminando no salto em direção a um precipício aparentemente infinito e na abertura de última hora de um paraquedas que estampa as cores da bandeira britânica), O Espião Que Me Amava passa a se concentrar no misterioso sumiço de dois submarinos disparadores de mísseis nucleares, aparentemente sequestrados por um vilão anônimo. Com isso, o MI6 e a KGB resolvem se juntar para investir o caso, enviando o britânico James Bond e a russa Anya Amasova em uma missão conjunta – e nem preciso dizer que, no meio do serviço, os dois acabarão se envolvendo de maneiras extraprofissionais, certo? No entanto, enquanto a investigação procede, Bond e Anya são constantemente surpreendidos pela chegada de um grandalhão quase invulnerável e com mandíbulas de aço, identificado somente como Jaws e que, ao que tudo indica, é braço-direito do real vilão dessa história.

Hábil ao refletir na relação de Bond e Anya toda a dinâmica que separava (e, neste caso inusitado, unia) Reino Unido e União Soviética durante o período da Guerra Fria, O Espião Que Me Amava tem, na dinâmica entre a dupla, seu elemento mais fascinante: embora representando potências rivais, na prática os dois acabam transformando esta rivalidade num detalhe puramente profissional e quase irrelevante, já que, quando vistos numa escala mais íntima, os opostos se atraem naturalmente e em função do carisma e da tensão sedutora que tanto Roger Moore quanto Barbara Bach projetam um no outro. O que torna o romance ainda mais interessante, contudo, é que o “espião que me amava” descrito no título não é James Bond, mas (spoiler à frente) o agente soviético que 007 assassinara na cena inicial do longa e que era o amor da vida de Anya, levando esta a jurar matá-lo logo após terminarem a missão – e isso torna a dinâmica ainda mais complexa, já que, apesar disso, Bond não consegue simplesmente deixar de amá-la (olha a influência de A Serviço Secreto de Sua Majestade voltando aí). É uma pena, porém, que o desfecho do conflito entre dois represente uma das poucas decepções do filme, encontrando uma solução fácil e condescendente para um problema que vinha se mostrando tão eficiente do ponto de vista dramático.

De volta à direção depois de comandar o razoável Só Se Vive Duas Vezes, Lewis Gilbert puxa um pouco o freio com relação à veia cômica que vinha sendo injetada na série e que se extrapolou no filme passado, O Homem Com a Pistola de Ouro (que desagradou boa parte da crítica e desapontou nas bilheterias), operando um pequeno milagre ao dosar de maneira perfeita (e, a meu ver, improvável) o bom humor dos últimos capítulos e o retorno às origens mais dramáticas e agressivas da franquia. Assim, quando vemos Jaws soltar desajeitadamente uma pedra enorme em cima do pé e sentir a dor da pancada, somos levados ao riso sem que isso anule a ameaça representada pelo vilão – e, da mesma forma, toda a sequência em que o capanga ataca Bond pela primeira vez se revela esteticamente ambiciosa, com a fotografia de Claude Renoir usando sombras e escuridão para acentuar a imprevisibilidade acerca do que virá no plano seguinte e com a montagem de John Glen (este nome voltará à franquia) alternando elegantemente entre a ação e uma ópera. Na verdade, o único pecado de Gilbert é prolongar a ação que ocupa o terceiro ato por tempo demais, chegando ao ponto de torná-la particularmente cansativa e repetitiva.

Com uma das melhores canções-tema de toda a série (“Nobody Does It Better”, cantada por Carly Simon, para mim rivaliza com “Goldfinger”, de Shirley Bassey), O Espião Que Me Amava ainda tem o mérito de trazer aquele que é, sem dúvida alguma, o mais marcante de todos os capangas dos vilões de James Bond: o Jaws interpretado por Richard Kiel, que se estabelece como uma figura devidamente absurda, como os padrões das histórias de 007 exigiam. Simultaneamente divertido em seu exagero e ameaçador em sua postura, Jaws representa um perigo constante e palpável, levando o espectador a senti-lo como um real obstáculo para Bond (mesmo que não necessariamente tema pela vida deste) – e o desfecho que o personagem ganha no filme não poderia representá-lo de forma mais apropriada, assumindo de vez aquilo que já temíamos desde o início: nada pode pará-lo.

Assim, O Espião Que Me Amava se estabelece como uma grata surpresa em uma fase da série 007 que seria pontuada por altos e baixos. E não deixa de ser curioso que, mesmo que Roger Moore seja lembrado como o mais engraçado dos James Bonds, os melhores filmes de sua “era” tenham sido justamente os que mais se levavam a sério.

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