Alice in Wonderland (1)

Título Original

Alice in Wonderland

Lançamento

23 de abril de 2010

Direção

Tim Burton

Roteiro

Linda Woolverton

Elenco

Johnny Depp, Mia Wasikowska, Helena Bonham Carter, Crispin Glover, Anne Hathaway e Matt Lucas

Duração

108 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Richard D. Zanuck, Joe Roth, Suzanne Todd e Jennifer Todd

Distribuidor

Disney

Sinopse

Alice (Mia Wasikowska) é uma jovem de 17 anos que passa a seguir um coelho branco apressado, que sempre olha no relógio. Ela entra em um buraco que a leva ao País das Maravilhas, um local onde esteve há dez anos apesar de nada se lembrar dele. Lá ela é recepcionada pelo Chapeleiro Maluco (Johnny Depp) e passa a lidar com seres fantásticos e mágicos, além da ira da poderosa Rainha de Copas (Helena Bonham Carter).

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Alice no País das Maravilhas (2010) | Crítica

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Tim Burton e Alice no País das Maravilhas pareciam ter nascido um para o outro: tratando-se de uma história cheia de loucuras que parecem ter saído de uma viagem de alucinógenos, o estilo gótico e soturno do cineasta aparentava ser apropriado para levar o livro escrito por Lewis Carroll em 1865 às telonas. Infelizmente, o Burton daqui já não é mais aquele que apresentou altos níveis de criatividade em Os Fantasmas se Divertem, transformou Batman – O Retorno numa diversão cheia de personalidade e demonstrou uma capacidade ímpar de equilibrar sensibilidade e entretenimento em Edward Mãos de Tesoura. Desta forma, esta nova versão cinematográfica da obra de Carroll revela-se à altura de Planeta dos MacacosA Fantástica Fábrica de ChocolateSweeney Todd e outras porcarias que vêm marcando cada vez mais a filmografia do diretor.

Criando uma espécie de fusão entre Alice no País das Maravilhas e a continuação Alice Através do Espelho, o longa nos apresenta a uma Alice Kingsleigh mais velha e que, depois de receber um pedido de casamento vindo do sujeito mais entediante que existe, avista o mesmo coelho branco que involuntariamente a levou a um mundo subterrâneo em sua infância. Com isso, a protagonista mais uma vez cai na toca do animal e vai parar no País das Maravilhas dominado pela malévola Rainha Vermelha, reencontrando o Chapeleiro Maluco, o Gato de Cheshire, os dois irmãos Tweedledum e Tweedledee, a Lagarta Azul, a Lebre de Março e o Dormidongo. Conforme a trama avança, Alice descobre ser a “Escolhida” de uma profecia para derrotar o monstro Jabberwocky, derrubar a tirania da Rainha Vermelha e devolver a coroa à Rainha Branca.

Adotando um tom desnecessariamente épico (com ecos de O Senhor dos Anéis As Crônicas de Nárnia), Tim Burton mostra-se preguiçoso desde o princípio e desperdiça o imenso potencial que tinha em mãos, deixando de lado as chances de investir num caráter psicodélico e empregando métodos convencionais na forma como conduz o projeto. Ainda assim, um dos grandes pecados do diretor reside na forma aborrecida com que desenvolve a narrativa e os arcos dramáticos dos personagens, denotando uma clara incapacidade de tornar o longa minimamente interessante e fazendo com que torne-se frio e cansativo. Como resultado, os aparentemente curtos 108 minutos de projeção fluem como se durassem longas horas – algo que só piora graças à montagem irregular de Chris Lebenzon, que jamais consegue aplicar dinamismo algum à película e se arrasta em sequências tediosas. Além disso, o cineasta poderia ter sido mais conciso em seu modo de adaptar o livro de Lewis Carroll e encurtar as cenas onde a protagonista bebe um líquido para diminuir ou come um bolo para crescer, pegar uma chave, abrir uma porta e por aí vai, já que longos minutos são perdidos quando a trama deveria progredir. Por fim, Burton passa o terceiro ato inteiro se concentrando numa batalha genérica e dispensável, surgindo como uma tentativa final de conferir um caráter mais suntuoso a um material que não precisava de tamanha grandiloquência.

Falhando em seus esforços cômicos, Alice no País das Maravilhas é um festival de vergonha alheia coroado por um dos momentos mais constrangedores que me recordo de ter visto em anos: aquele onde o Chapeleiro celebra seus êxitos com uma dancinha que chama de “Futterwacken” (e o mais ridículo é que o filme traga a própria Alice fazendo exatamente a mesma coisa poucos minutos depois). Aliás, é possível que a maior falha encontre-se na falta de um direcionamento claro no que diz respeito à abordagem: embora a ideia de trazer um tom mais adulto e sombrio à história seja promissora, existem diversos momentos de leveza onde a produção se propõe a agradar crianças (e é no mínimo incômodo saltar das palhaçadas feitas pelo grupo de malucos encabeçados pelo Chapeleiro para se deparar com cabeças decapitadas que servem como ponte acima de um rio). Posto isso, o longa soa disperso em termos de clima e passa longe de encontrar precisamente um público-alvo, revelando-se mórbido demais para as crianças e tolo demais para os adultos.

Contudo, nem mesmo o desempenho de Tim Burton é tão sintomático quanto o desastroso roteiro de Linda Woolverton: apostando na história de uma “profecia” que diz desde o princípio tudo aquilo que a heroína fará até o fim da película, a obra comete o grave erro de transformar Alice numa “Escolhida” sem apresentar obstáculos que confiram algum grau de imprevisibilidade à narrativa – algo que contribui para que esta se torne ainda mais entediante, já que o tempo todo se sabe exatamente o que vai acontecer (ou seja: é como se o próprio filme trouxesse spoilers de si mesmo). Mas o que verdadeiramente impressiona no trabalho de Woolverton é sua capacidade de estragar até mesmo uma proposta que, por natureza, parecia infalível e admirável: a ideia de retratar a personagem-título como uma mulher forte e que se impõe diante dos padrões de sua época. Ora, como não respeitar uma produção disposta a representar o sexo feminino com tamanha energia? Simplesmente reconhecendo que o roteiro não demonstra muito interesse em desenvolver este conceito devidamente, se resumindo a fazer com que Alice do nada se transforme numa mulher de negócios sem que tenham existido quaisquer indícios de que a protagonista poderia estar sofrendo algum tipo de evolução ao longo da narrativa. Em suma, pode-se dizer que a roteirista até tem boas intenções, mas não a competência necessária para executá-las.

Não que Alice no País das Maravilhas não traga alguns atrativos estéticos: assinado pelo mesmo Robert Stromberg que trabalhou com James Cameron em Avatar, o design de produção é particularmente intrigante ao imaginar o local onde ocorre o clímax como um enorme tabuleiro de xadrez; da mesma forma, o fato do jardim da vilã trazer um arbusto aparado como se fosse uma estátua da personagem reflete seu próprio narcisismo. Por outro lado, se as maquiagens e figurinos impressionam pela inventividade com que concebem a Rainha Vermelha e o Chapeleiro Maluco (este último se estabelecendo como um misto de Madonna e Visconde de Sabugosa), a fotografia de Dariusz Wolski desaponta ao investir num filtro escuro e que remove quase todo o encanto que poderia haver no visual do projeto. Completando, os efeitos visuais surgem pavorosos e nunca deixam de soar altamente artificiais – e a forma excessiva com que são aplicados sugere que Tim Burton pode ter adquirido uma obsessão exacerbada por computação gráfica, abandonando a fisicalidade que existia até em suas piores obras (como Planeta dos Macacos e A Fantástica Fábrica de Chocolate).

Já Helena Bonham Carter aparenta se divertir imensamente na pele da Rainha Vermelha, vivendo a vilã como uma caricatura mimada sem que torne-se insuportável (mesmo que seus gritinhos cansem depois de um tempo). Em contrapartida, Anne Hathaway parece interpretar o manequim menos interessante do mundo, não exibindo um único traço de vivacidade ou carisma ao longo de toda a película ao passo que Crispin Glover continua comprovando que sua carreira pós-De Volta para o Futuro não foi das mais bem-sucedidas, sendo então preso a um antagonista sem graça e tecnicamente precário (seu corpo digitalizado é horroroso). Por sua vez, Johnny Depp emprega os métodos de atuação que vem utilizando desde Piratas do Caribe: ainda que seus ataques de raiva pontuais e melancolia sirvam como um contraponto instigante ao seu bom humor costumeiro, o Chapeleiro Maluco é um personagem irritante que ganha muito mais destaque do que o necessário e cujo desenvolvimento acaba ficando aquém do esperado. Para finalizar, Mia Wasikowsa mostra-se uma escolha equivocada para o papel principal, visto que sua Alice mantém uma expressão neutra do primeiro instante ao último e jamais transmite um pingo de entusiasmo nem mesmo quando é exposta a revelações impressionantes.

Surpreendentemente, esta falta de emoção por parte da protagonista serve como uma ironia com relação à própria produção em si, que, comandada por um diretor que já não é mais tão talentoso como costumava ser há uns 20 anos, acaba se revelando morna e impessoal. Propondo paralelos bobos e óbvios desde os primeiros minutos ao trazer diversos personagens semelhantes aos que a heroína virá a encontrar na terra mágica do subterrâneo, Alice no País das Maravilhas é uma adaptação falha e enfadonha como sua personagem-título.

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