Army of the Dead

Título Original

Army of the Dead

Lançamento

21 de maio de 2021

Direção

Zack Snyder

Roteiro

Zack Snyder, Shay Hatten e Joby Harold

Elenco

Dave Bautista, Ella Purnell, Omari Hardwick, Ana de la Reguera, Theo Rossi, Matthias Schweighöfer, Nora Arnezeder, Hiroyuki Sanada, Tig Notaro, Raúl Castillo, Huma Qureshi, Garret Dillahunt, Samantha Win, Richard Cetrone e Athena Perample

Duração

148 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Zack Snyder, Deborah Snyder e Wesley Coller

Distribuidor

Netflix

Sinopse

Após um surto de zumbis em Las Vegas, um grupo de mercenários se aventura em uma zona de quarentena para tentar realizar o maior assalto de todos os tempos.

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Army of the Dead: Invasão em Las Vegas | Crítica

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Uma das coisas interessantes a respeito da Arte é sua capacidade de assumir diferentes papeis e interpretações dependendo da época em que é lançada: Os Invasores de Corpos, por exemplo, já representaram do macarthismo e do anticomunismo (nos anos 1950) à pandemia de AIDS (nos anos 1990), ao passo que os mortos-vivos de George Romero serviram de palco para discussões sobre racismo, autoritarismo, militarismo, consumismo, exploração do proletariado e até banalização da violência. O caso de Army of the Dead, porém, é mais curioso ainda: obviamente concebido antes da pandemia de COVID-19 como uma crítica às políticas xenófobas, nacionalistas e anti-imigração do governo Donald Trump, o filme só pôde estrear depois da crise global e já nos primeiros meses da gestão de Joe Biden – e o irônico é que, com isso, as medidas de quarentena retratadas pelo longa, em vez de apenas refletirem a barbárie da Imigração norte-americana, acabam conferindo uma conotação negativa à ideia de “quarentena” justo no momento da História recente em que esta é necessária, como forma de diminuir a proliferação do coronavírus.

Não, a culpa não é do filme; mas é engraçado como uma mensagem, ao ser divulgada um pouquinho depois do contexto que a originou, pode acabar desempenhando o efeito oposto àquele que pretendia surtir – e não me espantarei caso encontre, no futuro, alguns imbecis bolsonaristas e trumpistas reproduzindo cenas ou falas do longa na Internet com o intuito de mostrar “como o isolamento e o lockdown são medidas que o Estado toma para cercear nossas liberdades individuais”.

Primeiro projeto original de Zack Snyder desde Sucker Punch, este Army of the Dead tem início com um comboio militar sofrendo um acidente em alta estrada e, por consequência, abrindo um buraco na até então misteriosa carga que transportava – o que permite que o “conteúdo” do carregamento escape, revelando ser um zumbi que imediatamente ataca todos os soldados ao seu redor, transformando-os em outros zumbis, e parte em direção a Las Vegas, a poucos quilômetros. Assim, com a cidade inteira convertida em mortos-vivos, o governo norte-americano decide isolá-la e programar uma bomba para explodi-la no Dia da Independência (sim, o presidente queria usar o evento como capital político), pondo fim à epidemia zumbi. No entanto, sabendo que parte de sua fortuna estava trancafiada nos fundos de um cassino, um empresário decide convocar uma equipe de mercenários com treinamento militar para invadirem Las Vegas, assaltarem o cofre e saírem de lá com o dinheiro antes da explosão que, claro, servirá de fogos para o 4 de Julho.

No entanto, se faço parecer que Army of the Dead é um filme profundamente interessado em discussões políticas, abro um espaço para esclarecer que não, não é – e, embora existam comentários bem pouco sutis sobre a nossa Sociedade em vários momentos da narrativa, estes servem mais para salpicá-la do que para construir um panorama mais complexo. Sim, os campos de quarentena criados ao redor da cidade são geridos pelas autoridades norte-americanas com a mesma brutalidade anti-México que exibem na Imigração, o presidente dos Estados Unidos não hesita em transformar o bombardeio e a morte de milhares de pessoas em um espetáculo midiático/político e a sequência de créditos iniciais sugere que a elite de Las Vegas foi a primeira a receber (dos militares) a pandemia zumbi e a espalhá-la para todas as classes sociais abaixo dela, que, por sua vez, foram forçadas a sofrer infinitamente mais com a proliferação da doença (qualquer semelhança com a chegada do coronavírus ao Brasil não é mera coincidência). Ainda assim, tudo isso é resumido a um ou outro momento rápido, servindo apenas para pintar as bordas do cenário no qual a ação tomará conta.

Infelizmente, Zack Snyder pode ter se provado um cineasta com um senso estético bacana em ocasiões anteriores (e não tenho dúvida de que se provou), mas, aqui, seus esforços soam bastante irregulares: se o primeiro ato traz alguns momentos nos quais a câmera lenta e a trilha grandiosa são empregadas de forma inspirada, fazendo jus à estilização habitual de Snyder ao assumirem-se como fetiches seus, depois de um tempo ele parece simplesmente perder o interesse, abandonando até mesmo esta proposta de estilização em prol de cenas de ação genéricas que poderiam ter sido coordenadas por qualquer diretor menos expressivo (por outro lado, gosto de como Snyder – que também se responsabilizou pela fotografia – brinca com o foco a fim de salientar o drama ou a tensão de certos planos, como ao não permitir que enxerguemos com clareza, por exemplo, um zumbi (ou um tigre-zumbi) que se encontra em primeiro plano).

Em contrapartida, as fragilidades habituais de Snyder seguem presentes; a começar pela megalomania, que, desta vez, é responsável por abarrotar a narrativa (sim, o roteiro também é dele) de detalhes sobre a mitologia daquele universo que servem apenas para inchá-la a ponto de atingir inacreditáveis 148 minutos de projeção e que sugerem também uma necessidade de Snyder de se explicar demais, como se o cineasta não resistisse à tentação de transformar uma historinha simples em algo mais reverente e autoimportante do que é. Reverência e autoimportância estas que, aliás, são outros elementos que voltam a entrar em conflito com a proposta de estilização que Snyder tenta manter em outros momentos, criando um desequilíbrio entre os fetiches estilísticos presentes aqui e os draminhas artificiais que o filme cria ali (pai e filha que não se entendem, por exemplo) – um equilíbrio que o diretor alcançou de forma bem mais eficiente em seu longa de estreia, Madrugada dos Mortos (que, por sua vez, refilmava o clássico O Despertar dos Mortos de Romero).

O que nos traz ao grande problema de Army of the Dead: seus personagens aborrecidos e desinteressantes – e, com exceção de Dave Bautista (que encarna bem as dores do protagonista Scott Ward sem transformá-lo no brucutu marrento e invulnerável que já cansamos de ver neste tipo de produção) e Ella Purnell (que confere personalidade e convicção a Kate, filha de Scott, a ponto de nos fazer importar com o desfecho do drama entre os dois), todos os outros rostos vivos presentes no filme se resumem não a tipos batidos (o que poderia funcionar), mas a variações pouco inspiradas de tipos batidos (não é à toa que, quando Scott vai conversar com a piloto de helicóptero Marianne e termina dizendo que ela “continua esquisitona”, minha reação foi a de perguntar “Puxa, é mesmo? Nem achei tanto assim.”). Assim, não deixa de ser sintomático que, tirando Scott e Kate, os personagens mais empáticos da obra sejam os zumbis, que transmitem dores e anseios infinitamente mais humanos e interessantes do que as piadinhas irritantes de Matthias Schweighöfer, por exemplo.

Moderadamente divertido em seu casamento entre heist movies e filmes de zumbis, Army of the Dead soa como uma tentativa de Zack Snyder de buscar um respiro após sua conturbada passagem pelo universo de super-heróis da DC. Ainda assim é um passatempo descartável demais para causar uma impressão muito forte – e acredito que nem os maiores fãs do diretor serão capazes de dizer que seu mais novo trabalho será lembrado daqui a, digamos, um mês.

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