Bad Taste (1)

Título Original

Bad Taste

Lançamento

11 de dezembro de 1987

Direção

Peter Jackson

Roteiro

Peter Jackson, Tony Hiles e Ken Hammon

Elenco

Terry Potter, Pete O’Herne, Peter Jackson, Mike Minett, Craig Smith, Ken Hammon, Costa Botes, Doug Wren, Dean Lawrie e a voz de Peter Vere-Jones

Duração

92 minutos

Gênero

Nacionalidade

Nova Zelândia

Produção

Peter Jackson

Distribuidor

Sinopse

A população de uma pequena cidade desaparece e é substituída por alienígenas que procuram carne humana para sua cadeia de fast-food.

Publicidade

Bad Taste: Náusea Total | Crítica

Facebook
Twitter
Pinterest
WhatsApp
Telegram

Por um lado, é inusitado assistir a Bad Taste – Náusea Total, longa de estreia de Peter Jackson, e pensar que o diretor responsável por este filme é o mesmo que anos depois comandaria a épica trilogia O Senhor dos Anéis (pela qual ganhou os Oscars de Melhor Filme e Diretor) e a refilmagem de King Kong – afinal, contrapor o aspecto grandioso destas produções à natureza trash do primeiro filme do neozelandês é algo inevitável. Em contrapartida, é perfeitamente possível encontrar, em Bad Taste, a maioria dos elementos que mais tarde voltariam a aparecer mesmo nos filmes mais megalomaníacos de Jackson – em especial, sua capacidade de despertar o riso a partir do grotesco e seu interesse em criar imagens que, de tão exageradas, tornam-se divertidas, “legais”.

Dirigido, co-escrito e co-produzido por Peter Jackson (cujo único trabalho anterior havia sido o curta The Valley) a partir de um orçamento minúsculo de 25 mil dólares, Bad Taste tem início com um pequeno grupo de agentes do “Serviço de Investigação e Defesa Astro” (a sigla em inglês: AIDS) investigando o sumiço repentino da população inteira da cidade de Kaihoro e uma luz branca que subitamente apareceu em seus céus. Enquanto realizam o a operação, porém, os agentes logo começam a ser atacados por seres extraterrestres – que, na prática, são seres humanos que grunhem como animais irracionais –, descobrindo que estes invadiram a Terra porque estão em busca de carne viva para alimentar uma cadeia de fast-food em seu planeta natal. Assim, os heróis são lançados em uma aventura bizarra na qual terão que pisar em cérebros (às vezes, nos próprios), explodir carros com ETs dentro, beber vômito de alienígenas, etc.

Anunciando sua entrega à escatologia logo em seu pôster (que traz um dos alienígenas, depois de revelarem sua verdadeira forma, mandando o dedo médio para o espectador), Bad Taste é uma obra genuinamente fascinada pela própria possibilidade de ser trash, investindo em uma atmosfera que sequer tenta emular qualquer sobriedade: ainda nos primeiros minutos da projeção, quando um dos agentes explode a cabeça de um invasor com um tiro na testa, outro pesquisador avista o ataque à distância e apenas diz “Espero que não seja eu o pobre bastardo que terá que limpar isto (os miolos no chão)”, já denunciando o tom do que veremos nos 90 minutos seguintes. Aliás, mesmo quando o filme parece ensaiar algo um pouco mais tematicamente profundo (como quando um cientista diz que a Terra foi “invadida por vários Charlies Mansons” ou quando descobrimos a motivação toda dos ETs), estes esforços soam menos como comentários sociais/políticos e mais como brincadeiras descompromissadas.

Do ponto de vista estilístico, por sinal, Bad Taste é uma obra que mostra como cineastas que trabalham com baixos orçamentos e que assumem a estética trash para si costumam ter suas imaginações fortemente estimuladas, interessando-se nas várias possibilidades visuais de ilustrar o absurdo, tornando-o divertidamente gráfico. Em outras palavras: a falta de dinheiro é o que obriga Peter Jackson a pensar em formas práticas, visualmente promissoras, de mostrar o exagero, o gore e até mesmo o aspecto “cool” das ações que filma, já que qualquer efeito que possa ser chamado de “tosco” na verdade estará correspondendo à proposta de um projeto que, por natureza, se dedica justamente à tosquice, ao “malfeito” – e, uma vez que o cineasta percebe o quanto pode ser tosco, ele se sente livre também para criar situações que busquem se superar no próprio exagero.

Assim, ao botar a imaginação para trabalhar, Jackson tem permissão para criar, em Bad Taste, sequências que podem incluir um sujeito agarrado num precipício e recarregando uma submetralhadora com o pé, um grupo de humanoides bebendo (e curtindo) o vômito verde emitido por um colega (vivido pelo próprio Jackson) ou um cientista tendo que colocar o cérebro de volta na própria cabeça depois de ser golpeado – e, se o interesse pelo absurdo obviamente veio do King Kong original (do qual Jackson sempre foi declaradamente fã), o apelo ao trash é algo que o neozelandês deve muito à filmografia do gênio Roger Corman. (Aliás, outro que seguiu um caminho parecido foi Sam Raimi, cujos longas iniciais, de baixíssimo orçamento, certamente o prepararam para, no futuro, assumir produções multimilionárias nas quais sentia-se livre para extravasar sua imaginação visual.)

Durando rápidos 92 minutos de projeção, Bad Taste – Náusea Total a princípio parece não ter nada a ver com O Senhor dos Anéis ou King Kong – no entanto, é justamente sua enorme imaginação visual que nos faz perceber de onde veio a potência criativa do diretor que mais tarde nos levaria à Terra-Média e à Ilha da Caveira. Afinal, só o cara que decupou e filmou, aqui, a cena de um cientista atravessando o corpo de um… bicho esquisito de cima para baixo com uma serra elétrica e dizendo “Nasci de novo!” ao concluir a ação poderia conceber também, em O Retorno do Rei, a icônica sequência que traz Legolas pendurado em um “olifante” e matando-o a flechadas.

Mais para explorar

Gladiador II | Crítica

Mesmo contado com momentos divertidos e ideias interessantes aqui e ali, estas quase sempre terminam sobrecarregadas pelo tanto de elementos simplesmente recauchutados do original – mas sem jamais atingirem a mesma força.

Wicked | Crítica

Me surpreendeu ao revelar detalhes sobre o passado das personagens de O Mágico de Oz que eu sinceramente não esperava que valessem a pena descobrir, enriquecendo a obra original em vez de enfraquecê-la.

Ainda Estou Aqui | Crítica

Machuca como uma ferida que se abriu de repente, sem sabermos exatamente de onde veio ou o que a provocou, e cujo sofrimento continua a se prolongar por décadas sem jamais cicatrizar.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *