As Caça-Fantasmas

Título Original

Ghostbusters

Lançamento

14 de julho de 2016

Direção

Paul Feig

Roteiro

Paul Feig e Katie Dippold

Elenco

Kristen Wiig, Melissa McCarthy, Kate McKinnon, Leslie Jones, Chris Hemsworth, Neil Casey, Andy García e Cecily Strong

Duração

116 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Ivan Reitman e Amy Pascal

Distribuidor

Sony Pictures

Sinopse

Atualmente uma respeitada professora da Universidade de Columbia, Erin Gilbert escreveu anos atrás um livro sobre a existência de fantasmas em parceria com a colega Abby Yates. A obra, que nunca foi levada a sério, é descoberta por seus pares acadêmicos e Erin perde o emprego. Quando Patty Tolan, funcionária do metrô de Nova York, presencia estranhos eventos no subterrâneo, Erin, Abby e Jillian Holtzmann se unem e partem para a ação pela salvação da cidade e do mundo.

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Caça-Fantasmas (2016) | Crítica

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Se havia um filme rodeado por controvérsias em 2016, este era As Caça-Fantasmas. Como se o simples fato de refilmarem uma obra poderosa e que ainda hoje ressoa no imaginário popular já não fosse o bastante para despertar a ira dos fãs (quem não se lembra da música-tema, da logomarca, do carro Ecto-1, do fantasma Geleia, da presença sempre adorável de Rick Moranis, do papel de Sigourney Weaver ou da fantástica química entre Bill Murray, Dan Aykroyd, Harold Ramis e Ernie Hudson?), a ideia de substituir a equipe de homens do longa original por um quarteto de mulheres desencadeou uma lamentável onda de ataques misóginos que transformaram o trailer deste remake num dos vídeos com maior número de dislikes da História do YouTube. Deixando de lado os imbecis que saíram por aí xingando o elenco do que quer que fosse, o fato é que também não foi feito um trabalho eficiente na divulgação da película, algo que pode ser constatado através dos materiais de publicidade pavorosos que remetiam a Pixels, estrelado por Adam Sandler.

Felizmente, o resultado não poderia ser mais surpreendente: comprovando de vez que a polêmica entorno do empoderamento feminino e os comentários de sexistas revoltosos não poderiam ser mais dispensáveis, esta reimaginação revela-se um sucessor à altura do filme de 1984 (nem preciso comparar com a mediana continuação de 1989, certo?) e demonstra potencial para formar uma geração mais jovem de apreciadores da franquia. Dirigido pelo mesmo Paul Feig de Missão: Madrinha de CasamentoAs Bem-Armadas A Espiã que Sabia de Menos, o longa é concebido a partir do roteiro escrito pelo cineasta com a colaboração de Katie Dippold e conta com uma trama idêntica à do original – para ter um pequeno vislumbre do que temos agora, basta inserir um vilão com um plano “lexluthoriano” (planejando abrir um portal que trará os fantasmas para Nova York sem que esteja possuído por um espírito maligno) e substituir Peter Venkman, Raymond Stantz, Egon Spengler e Winston Zeddemore por um novo grupo onde integram Erin Gilbert, Abby Yates, Jillian Holtzmann e Patty Tolan.

Acertando em grande parte de seus esforços cômicos (não em todos), As Caça-Fantasmas funciona ao alfinetar a supremacia masculina que toma conta da maioria das superproduções hollywoodianas, desde homens que frequentemente se mostram completos imbecis até pequenos comentários direcionados aos mesmos haters que se uniram em ações patéticas (como abaixar os índices de aprovação do filme em agregadores como IMDbRotten Tomatoes Metacritic). Além disso, a produção pode até ser bem-sucedida em sequências que envolvem humor físico, mas se sai ainda melhor graças à forma como as personagens reagem a tais situações – assim, é engraçado ver Patty fracassando num stage dive, mas mais divertido é o comentário que tal acontecimento gera (“Ok, não sei se isso foi porque sou mulher ou negra, mas a verdade é que estou bem irritada“). E mais: homenageando o longa clássico feito há 32 anos, este remake agrada ao acrescentar mais informações ao universo de Caça-Fantasmas, resgatando o icônico tema musical cantado por Ray Parker Jr. e explicando com mais detalhes a concepção do logotipo da equipe.

Mas o que realmente atrai no projeto é as quatro atrizes principais e a abordagem conferida aos respectivos papeis: retratado como o elo emocional mais importante do roteiro, a interação entre Erin Gilbert e Abby Yates soa ainda mais funcional graças aos bons desempenhos de Kristen Wiig (que segue os passos de Bill Murray, mesmo que não traga um grau tão elevado de sarcasmo) e Melissa McCarthy (o Dan Aykroyd da vez). Diga-se de passagem, é intrigante que esta refilmagem consiga criar variações dos personagens originais de 1984 sem que as novas heroínas contem com suas próprias personalidades – e embora Holtzmann exerça a mesma função de Egon Spengler, isto não impede Kate McKinnon de apresentar uma performance completamente distinta daquela composta por Harold Ramis, exibindo uma insanidade que a transforma numa figura cômica invejável e que se destaca até mesmo quando está no fundo da cena. Fechando o quarteto, Leslie Jones revela-se eficaz em seu comportamento enérgico e ganha uma justificativa mais satisfatória para integrar o grupo do que aquela concedida a Winston, que estava em busca somente de um emprego. Complementando, Chris Hemsworth surge excelente como um secretário cuja única qualidade que tem a oferecer encontra-se em sua beleza, já que, de resto, o personagem é ilustrado como um sujeito altamente desatento e pouco inteligente que confunde audição com visão e descreve um aquário como um “submarino para peixes“.

Já do ponto de vista técnico, As Caça-Fantasmas jamais deixa a desejar: representando um daqueles casos exemplares em que os efeitos digitais agem a favor da trama e nunca são aproveitados de forma gratuita, a produção é digna de nota nos designs dos vários acessórios utilizados pelas heroínas, indo de versões portáteis das armas que disparam feixes de prótons até armadilhas high tech (e a que mais me chamou a atenção é um dilacerador). Da mesma forma, os próprios espíritos são conceituados como seres assustadores e que poderiam provocar calafrios desde suas aparições até o ectoplasma que expelem – e não só temos o retorno de um fantasma icônico (e divertidíssimo) como também conhecemos sua esposa, sintetizando mais um êxito do longa. E se a montagem obtém bons resultados agilizando a narrativa, a fotografia acerta ao investir numa paleta de cores vibrantes e tonalidades que constantemente abusam do verde, fazendo com que os fantasmas soem ainda mais… “vivos”, por assim dizer.

Por outro lado, embora o senso de humor funcione bem, é preciso afirmar que existem diversos momentos onde o filme falha em suas tentativas de despertar gargalhadas no público – e o primeiro ato é particularmente frágil comparado ao restante da projeção, investindo numa gag sonora envolvendo uma flatulência que embaraça tanto quanto uma cena em que um espírito se apodera do corpo de Abby. Provocando cansaço em razão de suas frequentes referências à cultura pop (que raramente fazem rir), a obra tropeça na composição do vilão interpretado por Neil Casey, que jamais representa um perigo tão urgente quanto as ações grandiosas que busca executar e conta com um plano cuja execução não poderia soar menos convincente (como ele sabia que deveria unir todos aqueles artefatos para criar um portal?). Para completar, se elogiei algumas homenagens à película original nas últimas linhas do terceiro parágrafo, sinto-me na obrigação de ressaltar que este projeto poderia se sair melhor caso continuasse a história de Os Caça-Fantasmas 1 e 2 em vez de refilmar o primeiro longa, pois as participações especiais do elenco clássico surgiriam dentro da lógica já estabelecida no universo da franquia e não soariam gratuitas como infelizmente soam.

Introduzindo quatro heroínas eficientes e atiçando o interesse do espectador em assistir a uma sequência graças às cenas que vêm durante e após os créditos finais, As Caça-Fantasmas não só diverte como também é um dos exemplos de remakes que encontram uma razão nobre e relevante para existir, enaltecendo o poder que as mulheres podem e devem ter no mundo do entretenimento em vez de se aproveitar da nostalgia do público para faturar uns trocados a mais às custas de seus ótimos protagonistas (sejam estes pertencentes ao sexo masculino ou feminino).

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