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Título Original

Onward

Lançamento

5 de março de 2020

Direção

Dan Scanlon

Roteiro

Dan Scanlon, Jason Headley e Keith Bunin

Elenco

As vozes de Tom Holland, Chris Pratt, Julia Louis-Dreyfus, Octavia Spencer, Mel Rodriguez, Kyle Bornheimer, Lena Waithe, Ali Wong, Grey Griffin, Tracey Ullman, Wilmer Valderrama, George Psarras e John Ratzenberger

Duração

103 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Kori Rae

Distribuidor

Disney

Sinopse

Em um local onde as coisas fantásticas parecem ficar cada vez mais distantes de tudo, dois irmãos elfos adolescentes embarcam em uma extraordinária jornada para tentar redescobrir a magia do mundo ao seu redor.

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Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica | Crítica

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Os mundos criados pela Pixar* podem ser fantasiosos em sua concepção e povoados por personagens mágicos, mas as jornadas particulares destes acabam sempre refletindo temas tão mundanos que, na prática, o fato de se passarem em um universo totalmente distante da realidade torna-se um mero detalhe. Nas narrativas criadas pelo estúdio, um pequeno grupo de monstros que aterrorizam crianças promove uma revolução contra a tirania de um patrão inescrupuloso (e que coloca os operários à frente do controle dos meios de produção), um super-herói fisicamente invulnerável é obrigado a enfrentar as frustrações que acumulou ao longo de toda sua carreira, um robozinho programado para catar lixo nos faz perceber como as grandes corporações estão destruindo o planeta em função do dinheiro, as emoções na cabeça de uma menina deprimida assumem a forma de pequenas pessoinhas e um boneco caubói percorre um arco ao longo de quatro filmes que nos lembra de como é importante saber seguir em direção a novas etapas da vida.

O que nos traz a Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica, novo longa da Pixar: dirigido e co-roteirizado por Dan Scanlon (Universidade Monstros, um dos projetos “menores” do estúdio), o filme se passa em um mundo onde elfos, trolls, fadas, centauros, mantícoras e um milhão de outras criaturas místicas convivem entre si e no qual a magia existe de fato – no entanto, em vez de seguirem explorando-a, os habitantes daquela sociedade há muito deixaram de usá-la em prol da tecnologia (em vez de conjurar luz através de dois ou três feitiços, tornou-se mais prático… bem, acender uma lâmpada). No meio disso, somos apresentados a Ian Lightfoot, um jovem e inseguro elfo que, ao completar 16 anos de idade, recebe da mãe um presente que seu falecido pai há muito tinha deixado para ele e para seu irmão mais velho, Barley: um cajado capaz de reviver o pai por um único dia. Para realizar a magia, porém, os irmãos precisam encontrar uma joia escondida em algum canto do mundo, dando início a uma busca que os levará a lugares inesperados.

Sim, embora situado num universo absolutamente fantástico, Dois Irmãos se concentra mesmo em… uma dupla de adolescentes órfãos que querem passar um dia a mais com o saudoso pai. Não é difícil imaginar, portanto, que se trata de mais um longa da Pixar capaz de provocar o choro no espectador, fazendo jus à tradição que percorre praticamente todas as produções do estúdio (e que relembrei no parágrafo introdutório) de empregar a fantasia de seus protagonistas e dos mundos que os cercam como ponto de partida para reflexões essencialmente humanas. Ainda assim, o que torna o filme tão emocionante não é apenas sua premissa, mas o fato de Scanlon extrair o potencial dramático desta de forma natural – e, assim, quando Barley revela a Ian seu maior arrependimento (não ter aguentado ver o pai aparelhado num quarto de hospital), o monólogo toca o espectador sem precisar apelar para truques manipulativos óbvios.

Já de um ponto de vista temático, Dois Irmãos é hábil ao aproveitar a criatividade de sua premissa (um mundo que preferiu investir na tecnologia em detrimento da magia, que fazia parte de sua natureza) para lembrar o risco que assumimos quando nos tornamos totalmente submissos à tecnologia e, por consequência, desperdiçamos o potencial de nossa condição humana – e um lembrete como este é fundamental em uma sociedade que, em pleno século 21, tornou-se tão dependente daquilo que é “de última geração” que mal pode passar um minuto sem checar algo no celular. Por outro lado – e isto adiciona uma camada de complexidade à discussão –, o filme faz questão de reconhecer um detalhe que é óbvio em qualquer espécie em evolução: esta precisa sempre andar para a frente; o que significa, em muitos casos, saber se desapegar de certos elementos preciosos do passado.

Não que o caminho seja ficar preguiçoso em função da tecnologia; apenas buscar um equilíbrio entre as memórias que merecem ser preservadas e a necessidade que temos de partir em direção a um futuro – um equilíbrio que, aliás, se reflete muito nos arcos de ambos os personagens-título: tímido, inseguro e socialmente deslocado, Ian é um rapaz que, de certa maneira, se acostumou a creditar suas frustrações sociais à falta que sente do pai (leia-se: de um passado pelo qual é muito apegado), não sendo por acaso a importância que confere à missão de revivê-lo por um dia (e, sem spoilers, digo apenas que a jornada individual do garoto lhe fará perceber o quanto pode seguir em frente sem se preocupar tanto com o resultado da missão em si). Seu irmão, em contrapartida, serve como um contraponto interessante: dedicando-se frequentemente à defesa e à preservação da História de seu povo (ele demonstra um conhecimento notável de artes místicas, por exemplo), Barley é um jovem inicialmente desinteressado pelo que o futuro tem a oferecer – no entanto, à medida que a narrativa avança, ele também é obrigado a reconhecer que, na vida adulta, é preciso encarar novos desafios, sendo recompensado por isso no terceiro ato.

Apresentando o espectador a um mundo que encanta pela imaginação (o que é comum na filmografia da Pixar), Dois Irmãos é bem-sucedido ao combinar elementos clássicos de fantasia (raças fictícias; cajados mágicos; feitiços que precisam ser recitados direito para funcionar; etc) e aspectos obviamente condizentes com a Humanidade do século 21 (carros; roupas atuais; escolas; televisões; celulares; etc) – algo que David Ayer tentou fazer em seu Bright, mas com resultados desastrosos. Assim, no universo criado por Scanlon, uma guerreira que há muito caçava dragões pode ter virado gerente de uma lanchonete fast-food inspirada nas batalhas que travou nos séculos anteriores, ao passo que um centauro pode preferir andar de carro a usar suas patas para correr (estão vendo a preguiça despertada pela tecnologia?). Para completar, é bacana que o filme abrace uma postura progressista não apenas ao dar às mulheres o controle de boa parte da ação no terceiro ato, mas também ao mostrar como as fadas heteronormativas passam a aproveitar muito mais seus “poderes” (o voo) após se aceitarem como… fadas.

Alcançando um clímax emocional notável no ato final, Dois Irmãos é uma obra que consegue levar o espectador às lágrimas sem parecer determinada a arrancá-las de forma artificial. E é revelador que um filme que inclui elfos, trolls, fadas, mantícoras, centauros e um milhão de outras criaturas fantásticas em sua narrativa ainda crie momentos tocantes como aquele em que Ian, reescutando uma fita de áudio que registra uma conversa antiga entre seus pais, começa a recitar frases improvisadas numa tentativa de fingir um diálogo (que nunca aconteceu) com o pai.

Um momento que, mesmo protagonizado por um elfo, é humano por natureza.

* As críticas que escrevi sobre os longas anteriores da Pixar podem ser encontradas aqui.

Assista também ao vídeo que gravei sobre o filme:

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