Esquadrão Suicida (1)

Título Original

Suicide Squad

Lançamento

4 de agosto de 2016

Direção

David Ayer

Roteiro

David Ayer

Elenco

Will Smith, Margot Robbie, Viola Davis, Joel Kinnaman, Jared Leto, Cara Delevigne, Jai Courtney, Jay Hernandez, Adewale Akinnuoye-Agbaje, Karen Fukuhara e Ben Affleck

Duração

123 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Charles Roven e Richard Suckle

Distribuidor

Warner Bros.

Sinopse

Após a aparição do Superman, a agente Amanda Waller (Viola Davis) está convencida que o governo americano precisa ter sua própria equipe de metahumanos, para combater possíveis ameaças. Para tanto ela cria o projeto do Esquadrão Suicida, onde perigosos vilões encarcerados são obrigados a executar missões a mando do governo. Caso sejam bem-sucedidos, eles têm suas penas abreviadas em 10 anos. Caso contrário, simplesmente morrem. O grupo é autorizado pelo governo após o súbito ataque de Magia (Cara Delevingne), uma das “convocadas” por Amanda, que se volta contra ela. Desta forma, Pistoleiro (Will Smith), Arlequina (Margot Robbie), Capitão Bumerangue (Jai Courtney), Crocodilo (Adewale Akinnuoye-Agbaje), El Diablo (Jay Hernandez) e Amarra (Adam Beach) são convocados para a missão. Paralelamente, o Coringa (Jared Leto) aproveita a oportunidade para tentar resgatar o amor de sua vida: Arlequina.

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Esquadrão Suicida | Crítica

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Alguém precisa urgentemente indicar um calmante para os executivos da Warner/DC. Depois do imenso sucesso do concorrente Deadpool e da decepção causada por Batman vs Superman, o estúdio não consegue disfarçar o desespero sentido em Esquadrão Suicida e demonstra uma clara incerteza quanto ao caminho a ser seguido nesta obra, oscilando desajeitadamente entre o clima fúnebre artificial que comprometeu (entre outras coisas) o último longa de Zack Snyder e a irreverência de títulos surpreendentemente bem-sucedidos, como Guardiões da Galáxia e o próprio Deadpool. No entanto, o resultado é pior do que um filme irregular ou “sem personalidade”; é, na verdade, um dos piores filmes de super-heróis (ou anti-heróis, no caso) já realizados.

Escrita e dirigida pelo mesmo David Ayer de Marcados para Morrer Corações de Ferro, esta nova adaptação das HQs da DC Comics nos apresenta à agente Amanda Waller, que, após o desfecho de Batman vs Superman, sente que a raça humana está mais vulnerável a ataques maiores. Com isso, o governo decide criar uma força-tarefa composta pelo militar Rick Flag e por vilões como Pistoleiro, Arlequina, El Diablo, Magia, Capitão Bumerangue, Killer Croc, Katana e Amarra. Entretanto, quando Magia perde o controle de suas atividades, uma onda de eventos catastróficos é desencadeada e o grupo será mandado numa missão para salvar o mundo.

Mostrando-se terrivelmente frágil em seus aspectos narrativos (depois do primeiro ato, a trama se transforma numa mera enrolação até chegar a um encerramento), o roteiro jamais se dá ao trabalho de esconder sua falta de coesão – e além de não existir uma razão satisfatória para que o time de anti-heróis seja formado (Superman não está mais disponível? Ora, então deixem a Liga da Justiça nascer em vez de confiarem numa equipe de presidiários perigosíssimos!), a própria antagonista a ser enfrentada pelo Esquadrão Suicida é gerada… por conta do próprio Esquadrão Suicida e após este ser criado. De todo modo, a ausência de lógica não é mais decepcionante que as piadinhas infames (“Eu sou bem bonito“, diz Killer Croc. Oh…) e os instantes onde David Ayer tenta adicionar densidade aos personagens (a cena ambientada num bar só não é tão ridícula quanto o arco dramático de El Diablo e uma de suas frases finais: “Eu já perdi uma família, então não perderei outra“).

E já que citei a completa falta de noção do roteiro, não há como deixar de citar a displicência exibida por Ayer: além de se perder na clássica divisão dos três atos, o cineasta dedica a meia hora inicial a introduzir os protagonistas através de diálogos expositivos e flashbacks que oscilam entre o espalhafatoso (como é o caso de Arlequina) e o melodrama novelesco (no que diz respeito a Pistoleiro); e quando os nomes e especialidades de cada um dos personagens surgem escritos na tela sob cores fortes, a impressão que dá não é de que se trata de um virtuosismo estético, mas sim de uma simples preguiça por parte da produção, que investe em fichas técnicas em vez de apresentações apropriadas. Aliás, a seleção musical desaponta ao empregar pequenos trechos de canções memoráveis (de “Sympathy for the Devil” a “Bohemian Rhapsody”) apenas para jogá-los aleatoriamente no meio das cenas, numa tentativa desesperada de conferir alguma personalidade ao projeto.

Criando momentos que parecem saídos de filmes B dos anos 1980 ou 90, o diretor David Ayer revela-se mais um aluno da Escolinha do Professor Michael Bay, transformando a mise-en-scène num caos absoluto e rodando sequências de ação que abusam de planos-detalhes, exageram nos primeiríssimos planos, são chacoalhadas em excesso pelo operador de câmera e são montadas de maneira picotada no intuito de disfarçar as coreografias pouco imaginativas (e desafio qualquer um a dizer que realmente conseguiu compreender 100% do que ocorria nos tiroteios e lutas vistas aqui). Para piorar, se os efeitos digitais soam grotescos, como se tivessem saído de um videogame, a fotografia de Roman Vasyanov segue os passos de Larry Fong em Batman vs Superman ao adotar um filtro escuro que remove praticamente todas as cores por achar que isto confere “seriedade” ao material (o que não faz sentido algum, já que Wally Pfister não precisou disso em O Cavaleiro das Trevas).

Aliás, é curioso como Esquadrão Suicida não consegue sequer estabelecer uma identidade visual coesa, já que – provavelmente nesta ânsia de se posicionar como um contrapeso entre Deadpool e Batman vs Superman – o filme ocasionalmente joga uns grafismos coloridos na tela (numa tentativa de conferir uma atmosfera leve e millennial à obra) que em nada condizem com a fotografia acinzentada de Vasyanov. Enquanto isso, a montagem (creditada somente a John Gilroy) mostra-se tenebrosa desde o princípio quando se lança em cenas redundantes que soam ainda piores por não contarem com uma linearidade, cometendo também o erro de alternar entre sequências distintas sem nenhuma lógica e atirando ou repetindo flashbacks ao acaso. Em compensação, aqui e ali o filme surpreende com uma imagem intrigante em sua composição, como a que traz Coringa e Arlequina dançando no escuro (numa alusão clara a uma arte do quadrinista Alex Ross).

Já o Esquadrão Suicida em si é majoritariamente formado por pessoas chatas e que nunca conquistam a simpatia do espectador: Will Smith é carismático como costuma ser, tornando-se um dos únicos do elenco que conseguem atrair o público (mesmo que o roteiro não o ajude); Joel Kinnaman é tremendamente antipático e detestável; o péssimo Jai Courtney se limita a criar uma versão insuportável e menos eficiente de Tom Hardy (e aquele unicórnio rosa de pelúcia… ah, céus); Jay Hernandez parece estar envergonhado por conta do material que tem em mãos (e as mímicas que faz com fogo lembram um meme do Bob Esponja); Killer Croc é subaproveitado, se destacando apenas pela boa ideia de cobrir Adewale Akinnuoye-Agbaje sob quilogramas de maquiagem em vez de substituí-lo por um modelo digital; Katana estrela um dos momentos dramáticos mais engraçados que já vi na vida (eu sei que a história envolvendo a alma de seu marido agarrada à espada vem das HQs, mas isso não faz da cena em questão menos cafona); Amarra é “um indivíduo que escala qualquer coisa” (e só); e Viola Davis faz o possível para adicionar credibilidade às ações absurdas e falas tolas que saltam da boca de Amanda Waller.

Quanto à Arlequina, basta dizer que Margot Robbie se esforça para compor uma personagem fiel às suas raízes, mas acaba se convertendo num alívio cômico irritante, cansativo e – o pior – constantemente filmado por David Ayer através de planos objetificadores que dariam orgulho ao professor Michael Bay. Para finalizar, o Coringa visto aqui é, sem dúvida, a pior de todas as versões já criadas do vilão para o Cinema, tendo tudo para render a Jared Leto (um ótimo ator no pior momento de sua carreira) uma indicação ao Framboesa de Ouro: quando não está copiando Heath Ledger em seu tom de voz lento e por vezes rouco, Leto está ronronando, efetuando a risada mais irritante de todos os tempos e compondo o antagonista como uma criatura que provoca risadas involuntárias em vez de medo ou tensão. Como se não bastasse, a maquiagem e os figurinos do Coringa o tornam um cruzamento de Snoop Dogg com o Chapeleiro Maluco de Alice no País das Maravilhas, potencializando o constrangimento. E o que dizer de Batman, que surge numa participação indiferente e consegue a proeza de ter sua essência contrariada em poucos minutos?

Despertando vergonha alheia graças à Magia interpretada por uma exagerada Cara Delevigne (que chega a dançar, culminando naquele que entrará para o hall da infâmia como um dos piores instantes das adaptações de HQs), Esquadrão Suicida é como aquele seu colega de escola/trabalho que busca se socializar a todo custo sem jamais ser bem-sucedido: tenta ser divertido, mas não consegue; tenta ser irreverente, mas não consegue; tenta ser sério, mas não consegue; tenta ser maduro, mas não consegue; e tenta até ser imaturo, mas também não consegue.

Mas há uma coisa que ele consegue ser: um desastre absoluto.

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