King Kong (1)

Título Original

King Kong

Lançamento

7 de abril de 1933

Direção

Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack

Roteiro

James Creelman e Ruth Rose

Elenco

Fay Wray, Robert Armstrong, Bruce Cabot, Frank Reicher, Victor Wong, Noble Johnson, Sam Hardy, Steve Clemente e James Flavin

Duração

100 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack

Distribuidor

RKO

Sinopse

Em Nova York, um famoso diretor de cinema não consegue uma atriz para sua próxima produção, pois ninguém quer ir filmar em um lugar não revelado. Assim ele mesmo começa a vagar pelas ruas até que encontra uma jovem pobre, mas muito bonita, a quem imediatamente dá o emprego. A equipe viaja e vai parar em uma ilha desconhecida, na qual os nativos oferecem “noivas” para Kong, um gigantesco macaco. Após muitos perigos a equipe de filmagens conseguem capturar o macaco, pois pretendem levá-lo para Nova York para ser exibido. Paralelamente o símio se apaixona pela atriz.

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King Kong (1933) | Crítica

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Todo filme reflete de alguma forma o período em que foi realizado. Quando King Kong chegou aos cinemas, em 1933, os Estados Unidos estavam sufocados pela Grande Depressão e os cineastas Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack desenvolveram um longa cujo apelo aventuresco não só estabeleceu a base do que posteriormente viriam a ser as produções estreladas por monstros gigantes, como ainda serviu para garantir algumas horas de euforia a um público que queria escapar temporariamente de uma realidade complicada. E mais: situada na década de 1930, quando o mundo ainda não havia sido desbravado por completo, a narrativa naturalmente facilita a concepção de uma história que envolve ilhas desconhecidas, criaturas surreais e desventuras alucinantes. Desta maneira, mesmo que o universo em si seja meramente fictício, ele funciona graças ao contexto onde a produção se insere.

Escrito por James Creelman e Ruth Rose com base no argumento elaborado por Edgar Wallace e pelo próprio Merian C. Cooper, o roteiro de King Kong nos apresenta a Carl Denham, um diretor de Cinema que está prestes a embarcar no navio Venture e partir para uma ilha misteriosa junto com o marinheiro John Driscoll a fim de rodar um filme de aventura. No entanto, pouco antes da viagem, o projeto perde a sua atriz e Denham vai às ruas de Nova York para buscar uma substituta, encontrando a jovem e humilde Ann Darrow. Depois de passarem dias no mar, os tripulantes enfim chegam à chamada Ilha da Caveira, que é habitada por nativos habituados a sacrificar mulheres e oferecê-las a Kong, um ser que é tido como “rei” do local. Após isso, porém, uma assombrosa revelação ocorre: a criatura que eles cultuam é nada menos que um gorila de mais de 10 metros de altura – e que se apaixona perdidamente por Ann depois que esta é sequestrada pelos nativos. Assim, Carl decide aproveitar o resgate da atriz para capturar Kong e transformá-lo num espetáculo da Broadway. E claro que as consequências serão desastrosas.

Dirigido com convicção por Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack, King Kong compreende perfeitamente o gênero ao qual se insere desde o primeiro instante: após um primeiro ato que não só introduz os personagens de forma objetiva como ainda deixa claro que eles estão diante de uma aventura grandiosa e hostil, o filme é beneficiado pelo clima misterioso que se torna ainda mais presente a partir do momento em que Carl, Ann, John e o resto da tripulação do Venture desembarcam na Ilha da Caveira. Além disso, o domínio que Cooper e Schoedsack exercem sobre a narrativa permite que a aventura e o suspense passem a complementar um ao outro – e se a luta de Kong contra um dinossauro é bastante divertida, a cena onde os personagens têm que passar ao lado de uma criatura semi-morta funciona graças à tensão. Para completar, o ato final representa um misto curioso de catarse com tragédia, entusiasmando nas sequências onde o gorilão aterroriza Nova York e fazendo jus ao rótulo de “filme de monstros” no qual a obra se insere – e não há como esquecer certos trechos memoráveis como aquele onde o imenso primata destrói um trem e, claro, uma das imagens mais icônicas da História do Cinema: a que traz Kong enfrentando aviões no topo do Empire State Building.

Mas claro que não há como falar sobre King Kong sem deixar de destacar a importância e a precisão de seus aspectos técnicos: é verdade que, hoje, os efeitos desenvolvidos para o projeto devem parecer incomodamente datados para algumas pessoas; de todo modo, desvalorizar o trabalho feito pela produção seria de uma ignorância imperdoável. Para começar, há o uso magistral da técnica stop-motion, que é empregada por Willis H. O’Brien (um dos precursores de Ray Harryhausen) com uma minúcia que permite que o público enxergue as expressões de Kong, compreenda uma parte do que se passa em sua mente e aceite a movimentação não apenas do gorila, mas de todas as outras criaturas que povoam a Ilha da Caveira – e não tenho como não me deslumbrar diante de detalhes pequenos, mas que contribuem para que aquelas feras se tornem convincentes, como as caudas que se movem incessantemente e os pelos que nunca param de se mexer no corpo do monstro-título.

A Ilha da Caveira, por sinal, é um lugar fascinante, ao mesmo tempo visualmente atraente e perigosamente hostil; algo que certamente se deve não só às criaturas apavorantes que tomam conta do lugar, mas também à ótima direção de arte assinada pelos não creditados Carroll Clark e Alfred Herman, incluindo folhas, cipós, solos rochosos, gêiseres e lagos irregulares que fazem com que a ilha soe convincente sem perder seu caráter de fantasia. E se o design de som é fundamental ao preparar o público para a vinda de novos desafios (ouçam os passos intimidadores e os rugidos temíveis que anunciam a chegada de Kong antes de revelá-lo de fato), a trilha sonora de Max Steiner cria temas marcantes e eficazes que enriquecem a atmosfera hostil presente do início ao fim. Por sua vez, Cooper, Schoedsack e os diretores de fotografia Eddie Linden, Vernon Walker e J.O. Taylor (sim, três profissionais) são geniais ao trabalharem a profundidade de campo, deixando a possibilidade para que Willis H. O’Brien use isto a seu favor na hora de conceber o stop-motion (existem diversos momentos em que os atores são substituídos por bonecos ao irem do primeiro para o segundo plano, por exemplo).

No meio deste universo fantasioso, os seres humanos são uma peça relevante: surgindo como uma espécie de reflexo da personalidade do próprio Merian C. Cooper (que também era um diretor conhecido por seu espírito aventureiro), o cineasta Carl Denham traz consigo um caráter aproveitador que se mantém até mesmo em circunstâncias onde o desespero normalmente predominaria – e o ator Robert Armstrong é hábil ao ilustrar o impulso que Denham nutre de passar por situações perigosas (mesmo que isto custe a vida dos que estão ao seu redor). Já Fay Wray consegue transmitir com competência o desconforto sentido por Ann Darrow, que, embora esteja longe de ser a mais interessante das personagens e acabe se configurando como mais uma “donzela em perigo” convencional, ao menos serve como um símbolo interessante de uma pessoa cujas condições são sintomas da Grande Depressão e que subitamente é alçada a um novo mundo. Por outro lado, é difícil gostar do John Driscoll interpretado por Bruce Cabot, que nada mais é do que um babaca insuportavelmente sexista – e nunca serei capaz de entender o que levou Ann a se apaixonar por um sujeito tão desagradável.

Mas esta não é a única falha de King Kong, que, por mais que seja merecidamente lembrado como um clássico, está longe de ser uma obra perfeita: os nativos da Ilha da Caveira, por exemplo, ganham caracterizações notavelmente racistas e bestiais (algo que se torna ainda mais latente quando um tripulante da Venture afirma que “Negros malucos estiveram aqui!“). Por falar nos coadjuvantes que embarcam no navio junto ao trio principal, é válido ressaltar que estes nunca são desenvolvidos de maneira apropriada, soando como indivíduos apáticos e que, quando são massacrados pelos monstros, acabam ganhando mortes que parecem estéreis demais. Além disso, o primeiro ato irrita na forma óbvia como insiste em antecipar os conflitos que os personagens vão enfrentar quando desembarcarem na ilha, incluindo não só a imagem de um macaco como três momentos onde Carl Denham se refere ao conto de A Bela e a Fera.

E já que citei essa história, um dos tropeços do filme reside em seu modo de encarar Kong: na maior parte do tempo, a criatura-título é vista apenas como um monstro que deve despertar medo não apenas nos personagens, mas no próprio público. Assim, quando o terceiro ato vem e o roteiro se esforça para denunciar a maldade de seres humanos que arrancam um animal de seu habitat, o espectador simplesmente não consegue enxergar o primata gigante como uma vítima. Sim, sentimos um pouco de pena de Kong, mas o longa em si só parece se dar conta de que isso deve ocorrer quando já é tarde demais – e, consequentemente, a lição de moral acaba sendo enfraquecida. Para finalizar, a dinâmica entre o gorila e Ann Darrow também não é das mais adequadas, já que a jovem jamais parece reconhecer a afeição que a criatura projeta. Assim, ao final, quando Carl Denham recita a clássica frase “Foi a bela quem matou a fera“, a comparação soa frágil, já que a relação entre Ann e Kong jamais havia se igualado ao amor entre Bela e Fera.

De todo modo, o fato é que Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack criaram, aqui, uma aventura poderosa e que justifica toda a influência que gerou com o passar das décadas. Beneficiado por um ritmo correto e que se torna ainda mais eficiente graças à objetividade do roteiro (que é bem direto ao ponto), King Kong é uma proeza inovadora que não só representa um êxito técnico responsável por apavorar plateias como ainda hoje continua inspirando gerações de realizadores que desejam se aprofundar no gênero “aventura”, transformando-se num dos maiores ícones do Cinema e numa das peças fundamentais no mundo do entretenimento.

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1 Comentário

  • “tripulante da Venture afirma que “Negros malucos estiveram aqui!“, sério que meteu uma dessa? Quem assistiu o filme entendeu o contexto, e também não importaria o que o personagem diria, mesmo assim se procuraria pelo em ovo.

    “Foi a bela quem matou a fera”, aqui se está usando de hipérbole enfatizando a beleza da atriz e a aparência monstruosa da fera, portanto o pano de fundo não é o Amor.

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