King Kong

Título Original

King Kong

Lançamento

17 de dezembro de 1976

Direção

John Guillermin

Roteiro

Lorenzo Semple Jr.

Elenco

Jeff Bridges, Jessica Lange, Charles Godin, René Auberjonois, John Randolph, Ed Lauter e Julius Harris

Duração

135 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Dino De Laurentiis

Distribuidor

Paramount Pictures

Sinopse

Uma expedição em busca de petróleo se depara com um gorila gigante em uma ilha pré-histórica do Pacífico e decide capturá-lo para ganhar dinheiro exibindo-o em Nova York. Uma mulher se vê refém do macaco quando ele escapa e aterroriza a cidade.

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King Kong (1976) | Crítica

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Produzida pelo italiano Dino de Laurentiis, um nome bastante conhecido entre os grandes de Hollywood (e cujo currículo é repleto de altos e baixos), a primeira refilmagem de King Kong chegou aos cinemas 43 anos após o lançamento do original e é, sem dúvida alguma, superior a todas as outras obras que envolveram o personagem desde sua estreia nos cinemas (me refiro, é claro, a O Filho de Kong, King Kong vs Godzilla, A Fuga de King Kong e outras bobagens). É verdade que esta reimaginação traz inúmeros tropeços que a levam a empalidecer diante do filme de 1933, soando bem mais como um caça-níqueis do que como um ato de reverência ao que Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack criaram. Apesar dos (muitos) pesares, ainda se trata de uma produção capaz de divertir moderadamente e que se sai bem ao transformar Kong num monstro inicialmente ameaçador, mas que aos poucos revela um lado que ganha a empatia do público.

A trama é basicamente a mesma do clássico: um grupo de exploradores e uma jovem de cabelos loiros – que, nesta versão, se chama Dwan – desembarcam numa ilha estranha que logo revela nativos cultuando uma criatura misteriosa chamada Kong. Depois que a tribo sequestra a mulher e a oferece para o “rei”, descobrimos que este é um gorila gigantesco – e que, com o passar do tempo, se apaixona por Dwan. Claro que a ganância do Homem aproveitador fará com que os exploradores resolvam capturar Kong a fim de torná-lo um espetáculo em Nova York; o que, como já podem imaginar, desencadeará eventos catastróficos. A diferença é que, desta vez, a história não mais se passa na década de 1930, sendo recontextualizada para os anos 1970: se antes tínhamos uma equipe cinematográfica, agora temos uma empresa petrolífera; se no original Kong era transformado num evento da Broadway, aqui seu cárcere é praticamente uma atração circense; se na versão clássica o gorilão escalava o Empire State Building, esta refilmagem o traz subindo as duas torres do World Trade Center.

King Kong de 1976, vale dizer, parece fazer questão de escancarar as modernizações que fez em comparação ao longa de 1933 – algo que, graças à obviedade do roteiro de Lorenzo Semple Jr., acaba sendo sintomático: é verdade que, ao escrever sobre o original, comentei que a obra não era muito hábil ao denunciar o quão prejudicial era remover animais de seu habitat natural apenas para alimentar o ego e a ganância dos seres humanos; no entanto, este remake se excede até mesmo ao tentar corrigir uma das falhas que haviam no material-fonte, empregando diálogos que parecem berrar “Vejam como estes interesseiros destroem a vida do último representante de uma espécie!” e inserindo algumas mensagens ecológicas que não apenas soam desnecessárias, mas também superficiais (do ponto de vista temático, aliás, o filme perde a oportunidade de trocar, por exemplo, o contexto da Grande Depressão pelo da Crise do Petróleo). Ainda assim, nada se compara ao instante em que Dwan acusa o primata gigante de ser um “porco chauvinista“, o que não faz o menor sentido.

Como se não bastasse, o filme abusa de momentos que oscilam entre a pieguice (a hilária cena em que Kong, com um sorrisinho safado no rosto, arranca as roupas de Dwan) e o exagero (ao ser exibido publicamente em Nova York, o monstro exibe uma bela coroa em sua cabeça) – um exagero que, inclusive, se estende ao trio de personagens principais: o executivo Fred Wilson assume o papel que antes era do cineasta Carl Denham e é vivido por Charles Godin como uma verdadeira caricatura (ao ver uma poça potencialmente oleosa, ele exclama “Jesus, Maria e Rockefeller!“), ao passo que Jack Prescott (um John Driscoll muito menos sexista e desprezível) é um hippie que, desde o princípio, se arrisca com o intuito de promover a manutenção de seus princípios, demonstrando uma valorização inegável do ecossistema e do bem-estar de animais – e a presença sempre agradável de Jeff Bridges (cabeludo e barbudo) torna o personagem mais interessante.

Por outro lado, o ponto mais fraco deste King Kong é mesmo Dwan: tratada pelo filme como um símbolo sexual e… bom, nada além disso, a jovem desta versão se apresenta basicamente como uma representação grosseira do estereótipo da “loira burra”, revelando uma falta de inteligência que chega a ser ofensiva e ficando relegada a falas constrangedoras como “Você conhece outra pessoa cuja vida foi salva por Garganta Profunda (o filme)?“. Desta forma, tanto o roteiro quanto a direção parecem acreditar que a beleza de Jessica Lange (em seu papel de estreia) é o suficiente para compor a personagem, transformando Dwan em uma criatura obtusa, que diz todo tipo de estupidez e que, para piorar, sempre parece estar tentando levar todos à sua volta para a cama.

Já os valores de produção têm mais altos do que baixos: sim, é verdade que o rugido de Kong começa a tornar-se engraçado após ser repetido trocentas vezes, ao passo que as mãos mecânicas usadas para interagir com Jessica Lange são lentas demais e, quando tocadas, apresentam uma superfície visivelmente almofadada (se a versão de 1933 trazia uma cena em que o gorila tirava parte das roupas de Ann Darrow – usando a diferença entre primeiro e segundo planos para combinar stop-motion e uma mão artificial enorme que segurava Fay Wray –, aqui Kong fica cutucando o vestido de Dwan até removê-lo). Em contrapartida, os efeitos práticos pensados por Carlo Rambaldi (Alien: O Oitavo Passageiro e E.T.: O Extraterrestre) fazem valer o Oscar que receberam, denotando uma fisicalidade e uma imaginação que faltam a muitos projetos atuais. E, se o design de som é inteligente ao ressaltar os batimentos cardíacos finais de Kong, escutados nos minutos finais da projeção, a trilha de John Barry surge como um dos maiores méritos da obra, soando impactante e imersiva.

No entanto, é uma pena que a Ilha da Caveira seja tão desinteressante quando comparada à do filme clássico, contando com um design de produção pouco inventivo e limitando a quantidade de criaturas fantásticas a apenas uma cobra gigante. Além disso, se há um trabalho que realmente se destaca aqui, é o do maquiador Rick Baker, que não só projetou os movimentos faciais de Kong como ainda vestiu a fantasia de macaco gigante e deu vida ao gorilão: investindo em lentes que conferem uma expressividade ainda maior aos olhos do primata e em uma boca repleta de detalhes e movimentos articulados, Baker projeta uma imponência física que torna a criatura intimidadora – por outro lado, o sorriso de Kong só não é mais cativantes do que seu olhar triste (e, para mim, o momento mais tocante é aquele que traz o gorila sozinho e deprimido em seu cativeiro, dentro do navio). Assim, mais que um monstro amedrontador, Kong é uma criatura profunda, que carrega uma “alma” dentro de si.

Entregando um trabalho mecanizado e que não exibe uma personalidade tão atraente quanto o instigante clima de mistério e aventura que Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack desenvolveram para o original, o diretor John Guillermin (Inferno na Torre) ao menos consegue extrair emoção e impacto a partir da sequência que encerra a projeção, concluindo a refilmagem de maneira visceral e sangrenta. E, ainda que as lições de moral não sejam transmitidas com a eficácia ideal (como comentei anteriormente), ao menos é possível sentir a tragédia que é arrancar um animal do lugar no qual está habituado a viver – se antes Ann Darrow apenas torcia para que seu horror terminasse, aqui Dwan e seu amado Jack se importam notavelmente com o destino de Kong.

A verdade é que, embora responsável por apresentar King Kong a uma nova geração de espectadores, este remake aparenta ter sido motivado mais por interesses comerciais do que por paixão pelo material-fonte. Ainda assim, mesmo com tantos problemas, não chega a ser um desastre – esta definição pertence mesmo à continuação King Kong Lives, lançada dez anos depois.

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