Kong (1)

Título Original

Kong: Skull Island

Lançamento

9 de março de 2017

Direção

Jordan Vogt-Roberts

Roteiro

Dan Gilroy, Max Borenstein e Derek Connolly

Elenco

Brie Larson, Tom Hiddleston, John Goodman, Samuel L. Jackson, John C. Reilly, Toby Kebbell, Jing Tian, Corey Hawkins, Jason Mitchell e John Ortiz

Duração

118 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Thomas Tull, Jon Jashni, Mary Parent e Alex Garcia

Distribuidor

Warner Bros.

Sinopse

1944, durante a Segunda Guerra Mundial. Dois aviões, um americano e outro japonês, são abatidos em pleno combate aéreo. Os pilotos sobrevivem, chegando a uma ilha desconhecida no Pacífico Sul. Lá eles dão continuidade à batalha, sendo surpreendidos pela aparição de um macaco gigante: Kong. Em 1973, Bill Randa (John Goodman) tenta obter junto a um político norte-americano a verba necessária para bancar uma expedição à tal ilha perdida. Ele acredita que lá existam monstros, mas precisa de provas concretas. Após obter a quantia, ele coordena uma expedição que reúne militares, liderados pelo coronel Preston Packard (Samuel L. Jackson), o rastreador James Conrad (Tom Hiddleston) e a fotógrafa Mason Weaver (Brie Larson).

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Kong: A Ilha da Caveira | Crítica

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Kong: A Ilha da Caveira é uma obra muito mais interessada no ícone do monstro-título de King Kong do que na figura trágica e dramática que este pode ser. À primeira vista, isso poderia ser o aspecto responsável por comprometer de vez o projeto, já que deixa de lado a densidade que poderia haver no personagem a fim de se concentrar na pancadaria descerebrada que pode ser gerada quando monstros se enfrentam – felizmente, o diretor Jordan Vogt-Roberts (Os Reis do Verão) consegue a proeza realizar um filme inesperadamente funcional e competente, mostrando-se hábil ao se afastar do que vimos nas três versões de King Kong e divertindo ao abraçar sem nenhum constrangimento a ideia de ser uma aventura tola, mas que reconhece e abraça sua própria tolice.

Dando sequência ao “Universo Estendido dos Monstros” que a Legendary iniciou em Godzilla, o longa se passa em 1973 e nos apresenta a um agente governamental chamado Randa, que mostra-se obcecado em desvendar a “Ilha da Caveira” e provar que a Terra é habitada por criaturas espantosas. Para concluir sua expedição, Randa se une a um time composto por cientistas, militares, uma fotógrafa e um aventureiro, chegando ao local pronto para desvendá-lo e disparar bombas em suas florestas. Ao pousar na ilha, a equipe se depara com Kong, um gorila gigantesco que destrói os helicópteros e ameaça o grupo de imediato – isso até os personagens descobrirem que, na verdade, a criatura é venerada pelos nativos da região e protege a tribo dos perigosos “Rastejantes da Caveira”, que vivem nas profundezas do lugar à espreita das frágeis presas que habitam a superfície.

O jeito mais adequado de definir Ilha da Caveira é “sem vergonha”: entregando-se de corpo e alma ao conceito de absurdo e surreal desde o princípio, Jordan Vogt-Roberts inicia a projeção de maneira inusitada ao trazer um soldado que simplesmente surge despencando do céu, como se fizesse parte de um desenho animado. A partir daí, fica bem claro que a narrativa se ambienta num universo lúdico e propositadamente caricatural – além disso, o diretor toma outra decisão criativa: buscar inspirações em filmes como Nascido para Matar e Apocalypse Now, criando uma mistura imaginativa de guerra com monstros gigantes e dando origem a um blockbuster que aceita a sua natureza ao mesmo tempo em que revela uma personalidade instigante (e, se Esquadrão Suicida empregava ótimas canções de maneira gratuita, aqui as músicas servem para fortalecer o clima da história).

O mesmo pode ser observado no estilo estético do direto, que, mesmo cometendo alguns excessos ocasionais no uso de slow-motion, acerta ao aliar seus esforços aos do diretor de fotografia Larry Fong (Batman vs Superman) para criar vários momentos visualmente memoráveis, como aquele que traz certo personagem matando insetos gigantes em meio a um gás esverdeado e, principalmente, a fabulosa imagem que apresenta a silhueta de Kong banhada pelo laranja do sol, num instante obviamente influenciado por Apocalypse Now. E se o plano-detalhe dos óculos de um soldado é tão atraente quanto as tomadas que mostram helicópteros voando em câmera lenta, Jordan Vogt-Roberts novamente surpreende ao criar transições a partir da fotografia (como o “anoitecimento rápido” entorno do escritório de Samuel L. Jackson) e, claro, da montagem (quando um soldado caindo em direção a uma boca, há um raccord que salta para um plano de um personagem abocanhando um sanduíche). Por outro lado, este é um dos poucos acertos da montagem de Richard Pearson, que frequentemente salta de uma cena para outra sem nenhum senso de lógica (percebam a rapidez com que o tempo passa a partir do terceiro ato).

Já os personagens são estereótipos típicos de filmes que envolvem aventura ou guerra: Brie Larson é uma fotógrafa (e gosto particularmente de como ela se diferencia das outras loiras que criam um vínculo afetivo com Kong, fugindo das “donzelas em apuros” que nos acostumamos a ver); Tom Hiddleston é o herói malandro e que sempre faz poses que exaltam a sua virilidade; John Goodman é o senhor que aparenta estar maluco, mas que prova estar correto com o passar do tempo; John C. Reilly diverte com seu senso de humor insano e levemente sádico; e Samuel L. Jackson é o menos raso de todos, refletindo curiosamente a mentalidade perturbadora de quem é devoto demais à guerra. Não são personagens multifacetados ou densos, de fato, mas ao menos funcionam como figuras objetivamente cartunescas e que estão de acordo com o tom excêntrico da narrativa (e não é por acaso que os momentos onde o roteiro tenta conferir uma dimensão dramática aos heróis nunca funcionam muito bem, especialmente a conclusão do arco do personagem interpretado por Reilly, os dilemas superficiais enfrentados pelo soldado vivido por Toby Kebbell e a aproximação entre Kong e a fotógrafa).

Mas este não é o único dos defeitos de Ilha da Caveira, que, apesar das ótimas sequências de ação, também peca pontualmente ao usar uma computação gráfica artificial (existem alguns momentos onde Kong e os outros monstros parecem ter saído de um video game). E se os cinco personagens principais são moderadamente eficazes, o mesmo não pode ser dito a respeito dos soldados, cientistas e nativos que giram em torno do quinteto, que são explorados de maneira ridiculamente artificial e sofrem ainda mais quando o roteiro de repente julga necessário transformar personagens quaternários em secundários – a prova disso está nas atitudes decisivas que eles começam a tomar quando as situações vão se tornando mais complicadas, pois jamais conseguimos nos importar com esses indivíduos. Para completar, o roteiro tropeça ao exagerar em diálogos expositivos e frases de efeito que, além de tolas, não têm a menor originalidade (“Eu sou a cavalaria” é uma das falas mais batidas que já ouvi).

Independente dessas imperfeições, Kong brilha naquele que é o seu maior propósito: entreter – e grande parte desse êxito se encontra nas cenas de ação. Ao contrário do Godzilla de Gareth Edwards, que pecava ao apostar num estilo visual poeirento e escuro demais, Jordan Vogt-Roberts não tem medo de admitir que está comandando um filme sobre monstros brigando entre si e extrai o máximo de diversão que pode haver com base nessa premissa. Com isso, as sequências que trazem o gorilão lutando contra militares e “Rastejantes da Caveira” são repletas de instantes memoráveis, como os que trazem Kong usando… “instrumentos” para bater nos inimigos. E se Edwards transformava a mise-en-scène de Godzilla num caos ininteligível, Vogt-Roberts é bem mais cuidadoso ao coreografar e ilustrar os combates entre as criaturas gigantes, empregando planos abertos que permitem que o espectador compreenda cuidadosamente o que está acontecendo.

Não que, aqui e ali, o filme não ofereça alguns panos de fundo que quase soam como comentários políticos (pensem no plano-detalhe de um bonequinho bubble-head de Richard Nixon ou na cena em que a Ilha da Caveira é bombardeada para “fins científicos”). Além disso, as alusões visuais a Apocalypse Now não só fazem sentido de acordo com a proposta do projeto (inserir os monstros no contexto do gênero “filmes de guerra”) como ainda têm a ver com a alegoria que o longa cria ao associar Kong aos vietcongues – afinal, o vilão interpretado por Samuel L. Jackson basicamente cria uma mini-Guerra do Vietnã dentro da Ilha da Caveira.

Geralmente bem-sucedido em seus alívios cômicos (com exceção da piadinha que brinca com a origem do nome dos “Rastejantes da Caveira” – vocês a reconhecerão), Ilha da Caveira surge como uma chama de esperança para o futuro embate entre Kong e Godzilla – e, depois de assistir aos últimos filmes de ambos, admito que passei a torcer pelo gorilão em vez do lagartão.

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