Mad Max (1)

Título Original

Mad Max

Lançamento

12 de abril de 1979

Direção

George Miller

Roteiro

George Miller e James McCausland

Elenco

Mel Gibson, Joanne Samuel, Hugh Keays-Byrne, Steve Bisley, Tim Burns e Roger Ward

Duração

93 minutos

Gênero

Nacionalidade

Austrália

Produção

Byron Kennedy

Distribuidor

Warner Bros.

Sinopse

Em um futuro distópico não muito distante, os recursos de óleo foram esgotados e o mundo está mergulhado em guerra, fome e caos financeiro. É quando o policial Mad Max, que não tem mais nada além de seus instintos de sobrevivência e retaliação, começa uma vingança contra a gangue.

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Mad Max | Crítica

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Em tempos em que os filmes de ação que trazem automóveis como atrativos sofrem com astros inexpressivos, amadorismo de diretores vindos do mundo dos videoclipes, roteiros que confundem simplicidade narrativa com estupidez ofensiva e restrições ocasionadas pela baixa classificação indicativa (a maldição do PG-13), não é uma surpresa que Mad Max seja superior a todos os “filmes de carros” lançados atualmente em Hollywood que contam com orçamento folgado e sucesso comercial garantido. Entretanto, o que impressiona mesmo é perceber como esta modesta obra de George Miller ainda hoje desencadeia profunda euforia no espectador e ainda ser apreciada por sua inventividade unida à intensidade milimetricamente constituída por uma direção segura.

O roteiro elaborado por Miller junto a James McCausland apresenta uma civilização devastada cuja sociedade é mantida através dos esforços intensos de policiais que lutam contra a criminalidade preocupante. Neste cenário distópico, uma gangue de motoqueiros é responsável pela violência e brutalidade que assolam a decadente população, mas depois que o líder Nightrider é morto numa perseguição contra a polícia, os criminosos decidem partir em busca de vingança. Depois da morte de um amigo, o oficial Max Rockatansky, preocupado com a situação, decide se afastar do cargo temporariamente e viajar com a família. Contudo, os motoqueiros rapidamente trazem mais uma tragédia à vida de Max, o que finalmente deixa sua fúria incontrolável e o leva a fazer justiça por conta própria.

Ao longo dos 88 minutos de Mad Max, vemos uma narrativa simples ser contada com apreensão e intensidade tão grandes que acaba se tornando impossível não desgrudar os olhos da tela por um único segundo, algo agravado no terceiro e primoroso ato da projeção. Este mérito, no entanto, se deve ao desempenho brilhante do diretor: com uma eficácia mais facilmente vista em filmografias de cineastas experientes, o até então estreante George Miller (que viria a se tornar notável ainda por sua versatilidade com As Bruxas de EastwickO Óleo de LorenzoBabe: O Porquinho Atrapalhado na Cidade Happy Feet) demonstra seu talento exibindo criatividade estilística e talento para criar tensão constante.

Este clima apreensivo configura uma das grandes vantagens de Miller como contador de histórias: sua sabedoria ao criar narrativas adotando estruturas mais que apropriadas. Assim, se somos apresentados a uma espetacular sequência de perseguição que abre o longa de forma eletrizante, logo depois nos concentramos nos personagens psicologicamente vitimizados pelo mundo distópico no qual habitam antes de testemunharmos as consequências do mesmo na vida destes que o povoam. É graças a esta precisão de Miller no roteiro que o nível de qualidade da película é crescente até culminar num terceiro ato rápido, porém extasiante – aliás, são os 15 minutos de Mad Max os mais beneficiados por esta cautela do roteiro, pois a catarse de ver (SPOILER, eu acho) os vilões sendo vencidos com truculência máxima não seria tão eficiente se não conhecêssemos a maldade dos antagonistas com exatidão e, consequentemente, não pudéssemos ficar tão empolgados com seus fins cruéis.

E por falar em perseguições, é obrigatório destacar que a experiência de Miller como médico antes de despontar como diretor gera sequências de ação impactantes graças à verossimilhança onipresente. Além de ter garantido cenas onde a selvageria soa real (inúmeros carros foram verdadeiramente destruídos assim como os seres humanos que participaram da produção), o diretor surpreende por demonstrar uma noção espacial no mínimo fascinante ao coordenar ação para alguém que ainda se encontrava realizando seu primeiro longa-metragem, concebendo as eletrizantes perseguições a partir de uma mise-en-scène adequada que permite que nós, espectadores, possamos compreender o que ocorre em tela. E pra melhorar, não há como ignorar os excelentes planos construídos com segurança por Miller, que se mostra criativo ao inserir imagens como aquela que traz os olhos esbugalhados de um antagonista antes de se chocar contra um caminhão (!) ou a que traz uma arma sendo apontada de dentro de um carro em alta velocidade – como se não bastasse, o cineasta ainda se mostra visionário aqui, pois muitas de suas técnicas arriscadas de filmagem (como a que inclui uma câmera presa a uma moto) viriam a ser tidas como exemplos para a criação de cenas de ação e perseguição anos depois.

Além de trazer uma distopia curiosa por não se manter tão distinta do que se vê atualmente em termos conceituais, Mad Max traz como uma de suas grandes virtudes seu personagem central e o ator que o encarna: Mel Gibson, antes de se tornar a figura conhecida (e polêmica) de hoje. Fazendo de Rockatansky um homem crível e cujos dramas são palpáveis, Gibson confere ao personagem uma abordagem adequada ao ponto de fazer com que sua transformação intensa de pai de família comum a vigilante imponente, austero e de poucas palavras soe irretocável (algo que, convenhamos, também se deve ao roteiro competente). Como curiosidade, Gibson havia ferido o rosto numa briga de bar um dia antes de acompanhar um amigo que pretendia interpretar Max à sua audição. Ao ver o jovem com a face machucada, a produção pediu para que ele voltasse na semana seguinte para fazer um teste para o papel de vilão. Eis que, quando Gibson retornou com o rosto curado, a produção optou por escalá-lo como o herói do longa.

Trazendo vilões ameaçadores e contando ainda com uma trilha sonora enérgica e imersiva de Brian May, Mad Max não deixa de sofrer com um ritmo levemente irregular em determinados momentos e ainda é prejudicado pelo simples fato de que o roteiro parece desconhecer seu próprio objetivo durante um longo tempo depois que uma morte trágica (sem spoilers!) ocorre no segundo ato da narrativa. Apesar de alguns (poucos) pesares, ainda é uma experiência cuja capacidade evocativa é profunda e efetiva ao ponto de ser atemporal e inesquecível. Se é melhor que a épica continuação lançada dois anos depois, aí já é outra história.

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