Quando MIB – Homens de Preto chegou aos cinemas, em 1997, o público e a crítica foram pegos de surpresa pelo universo criativo e pelo senso de humor “esquisitão” do diretor Barry Sonnenfeld (responsável pelos ótimos A Família Addams 1 e 2), ganhando ainda mais força através da química inesperada entre o sisudo Tommy Lee Jones e o irreverente Will Smith. Por outro lado, Homens de Preto 2 revelou-se tão desesperado em repetir o sucesso do original que acabou exagerando na dose dos ingredientes que deram certo no passado, tornando-se sem graça, esquecível e nada imaginativo. Já Homens de Preto 3, que demorou nada menos que dez anos para ser lançado, até conseguiu criar uma história de viagem no tempo razoável e algumas gags divertidinhas (a performance de Josh Brolin como o jovem Tommy Lee Jones, em especial, é o ponto alto daquele filme), mas ainda assim falhou em esconder o fato mais óbvio: depois de três capítulos, a franquia já não tinha mais para onde ir – fato este que fica ainda mais evidente em MIB: Internacional, de longe o mais fraco da série.
Escrito pelos mesmos Art Marcum e Matt Holloway responsáveis pelos roteiros de Homem de Ferro (yay!) e Transformers: O Último Cavaleiro (wait, what?), este spin-off deixa de lado os Agentes J e K que acompanhamos na trilogia anterior para se concentrar em novos personagens: desta vez, somos apresentados à nova-iorquina Molly Wright, que, quando criança, descobriu que existem alienígenas na Terra e viu seus pais terem as memórias apagadas pelos Homens de Preto. Ao chegar à vida adulta, Molly passa a investigar em segredo algumas das ações dos extraterrestres e da agência habituada a mantê-los longe dos seres humanos – e, quando finalmente consegue ser recrutada para estagiar na MIB, logo é mandada para a filial de Londres e começa a ser treinada pelo Agente H. A partir daí, uma trama cada vez mais maluca e complicada vai se desenrolando, criando até mesmo a ideia de que um espião possa estar infiltrado na organização.
Embora determinado a revitalizar a franquia, MIB: Internacional (não me sinto à vontade para chamar de Homens de Preto um filme co-protagonizado por uma mulher) não apresenta praticamente nada que não tenha sido visto na trilogia que o antecedeu, limitando-se apenas a mudar de país e a renovar o elenco principal. Assim, para cada conceito relativamente novo e inspirado (como a rave de alienígenas escondida no subsolo), existem outros cinco ou seis momentos que nada mais são do que repetições de piadas antigas (como a do cachorro falante, a do sujeito que lê um jornal na porta da agência e a da pequena cidade habitada por criaturinhas minúsculas), não sendo surpresa, portanto, que a trama seja basicamente uma recriação da história de origem contada lá no original de 1997, desta vez trocando Will Smith por Tessa Thompson – e, por falar nisso, o roteiro de Marcum e Holloway não parece fazer nenhuma questão de manter o mínimo de coerência ao (re)contar aquela narrativa (duas observações: 1) vocês querem mesmo que eu acredite que Molly foi a única pessoa no mundo que descobriu a existência da MIB?; e 2) sério que Molly encontrou e invadiu o prédio de uma organização sigilosa como a MIB com tanta facilidade, sem mais nem menos?).
A mediocridade do roteiro, por sinal, chega a contaminar a direção de F. Gary Gray (Straight Outta Compton e Velozes e Furiosos 8), que nada mais faz do que simular o estilo excêntrico de Barry Sonnenfeld, mas sem nunca recuperar sua espontaneidade e sua imaginação – e o mais triste é perceber como Gray falha em conferir graça ou mesmo dignidade às constantes piadinhas, que revelam-se pouco inspiradas e artificiais demais para funcionarem (isso porque nem levei em conta o ritmo irregular, tornando a segunda metade da projeção um tédio absoluto). Além disso, é sintomático que a maior risada gerada pelo filme tenha vindo não de suas piadas, mas de um momento involuntariamente hilário no qual certa personagem diz “Vamos para Londres!” para que, logo em seguida, vejamos um plano geral mostrando a Roda do Milênio e o Big Ben acompanhados da legenda “London” no canto da tela (como se mostrar dois dos pontos turísticos mais famosos da cidade não fosse óbvio o suficiente).
Por fim, MIB: Internacional é ancorado pelas performances de Tessa Thompson e Chris Hemsworth, uma dupla dona de um timing cômico eficiente e que já trabalhou em conjunto em Thor: Ragnarok. Infelizmente, ambos não têm muito o que fazer aqui, já que o roteiro de Marcum e Holloway resume a dinâmica dos dois ao velho clichê dos “parceiros que contam com uma tensão sexual iminente e que discutem o tempo todo, mas que se gostam mesmo assim” – e o diálogo situado no meio de um deserto, em especial, é constrangedor neste sentido. E se Thompson ocasionalmente se destaca com seu carisma habitual, Hemsworth acaba ficando com algumas das piadas mais fracas do filme e se esforça em conferir charme a um personagem que nada mais é do que… bom, um cara bonitão (e só).
Trazendo também Liam Neeson e Emma Thompson em participações insignificantes, MIB: Internacional é uma comédia que se esforça em fazer rir, mas que raramente é bem-sucedida. A esta altura do campeonato, creio não haver mais dúvidas de que o universo dos Homens de Preto já deu o que tinha que dar.