Mortal Kombat (2)

Título Original

Mortal Kombat

Lançamento

20 de maio de 2021

Direção

Simon McQuoid

Roteiro

Greg Russo e Dave Callaham

Elenco

Lewis Tan, Jessica McNamee, Josh Lawson, Mehcad Brooks, Tadanobu Asano, Ludi Lin, Chin Han, Joe Taslim, Hiroyuki Sanada, Max Huan, Sisi Stringer, Matilda Kimber, Laura Brent, Nathan Jones, Mel Jarnson, Yukiko Shinohara, Daniel Nelson e as vozes de Damon Herriman e Angus Sampson

Duração

110 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Simon McQuoid, James Wan, Todd Garner e E. Bennett Walsh

Distribuidor

Warner Bros.

Sinopse

Filme inspirado no clássico jogo homônimo. O lutador de MMA Cole Young procura os maiores campeões da Terra para enfrentar os inimigos de Exoterra em uma arriscada batalha pelo universo.

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Mortal Kombat | Crítica

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O bom crítico não é necessariamente aquele que comenta todos os lançamentos da semana, assiste a todos os indicados ao Oscar e faz questão de analisar cada aspecto formal (direção, roteiro, fotografia, design de produção, montagem, som, etc) dos trabalhos que comenta como se, ao fazê-lo, fosse cumprindo com uma lista de afazeres. Não; o bom crítico é aquele que, a partir de seu repertório particular (o que estudou sobre linguagem e História cinematográficas; os outros filmes que viu; suas experiências de vida; etc), consegue extrair, argumentar e defender uma perspectiva própria sobre qualquer obra que seja – mesmo que esta represente um vazio que não o estimula em absolutamente nada.

Dito isso, eu estaria mentindo se dissesse que não senti um imenso desânimo assim que Mortal Kombat chegou ao fim e seus créditos começaram a subir. Sinceramente, qual o propósito de escrever uma crítica sobre um desastre como este? Ora, estamos falando do tipo de produto (sim, esta é a palavra-chave) que, mesmo representando o que existe de pior em Hollywood – não, minto: no Cinema contemporâneo como um todo –, é adaptado de uma franquia de games popular e foi antecipado por uma campanha de marketing monstruosa que já plantou em boa parte do público o impulso de achá-lo “o máximo!” antes mesmo de entrar na sala de cinema. Honestamente, é difícil despistar a ideia de que escrever sobre uma coisa como Mortal Kombat, considerando as prioridades do mundo real e sabendo que o hype ao redor do filme já o tornou praticamente imune a críticas, não passa de um exercício fútil. E, se ainda o faço, é por… teimosia, talvez?

Roteir… perdão: “roteirizado” pelo novato Greg Russo e por Dave Callaham (Os Mercenários, Zumbilândia 2, Mulher-Maravilha 1984 – pois é), Mortal Kombat tem início no interior de uma aldeia no Japão do século 17, quando os assassinos liderados por Sub-Zero, enviados pelos lutadores da Exoterra, vêm para matar o clã e a família do rival Scorpion, que, por sua vez, representa o Reino da Terra. A partir daí, saltamos para o presente e somos apresentados a Cole Young, um lutador de MMA que, sem entender por que, passa a ser perseguido por Sub-Zero e defendido pelos soldados Jax e Sonya Blade – e o motivo logo fica claro: em função de uma herança genética que até então desconhecia, Cole é o “escolhido” para ser o salvador do Reino da Terra num futuro torneio contra o povo da Exoterra; torneio este conhecido como Mortal Kombat. Assim, após descobrir o fardo que o destino lhe reservou, o jovem é transportado para o templo do Lorde Raiden, que passa a treiná-lo para o combate ao lado do mercenário Kano e dos maiores campeões da Terra, Liu Kang e Kung Lao.

Em outras palavras: Mortal Kombat é mais um destes projetos que levam excessivamente a sério uma premissa simplória e que até poderia funcionar caso o filme em questão não tentasse se explicar demais nem aspirar a uma grandiosidade que não tem condições de alcançar, complicando desnecessariamente uma trama que poderia ser resumida em uma frase (os guerreiros da Terra marcam de sair no braço com os rivais da Exoterra de vez em quando) ao abarrotá-la de personagens, situações, monólogos expositivos e detalhes sobre a mitologia que nada acrescentam à narrativa. O que é curioso, porém, é que nem assim o filme consegue estabelecer o básico que deveríamos saber a respeito daquele universo fictício e de seus personagens – e, para quem não é fã da franquia nem tem o conhecimento prévio do que acontecia nos games (como é o meu caso), o roteiro nem se presta a deixar claro o que exatamente são os “reinos”, de onde veio a rivalidade entre eles ou mesmo qual a lógica dos poderes dos heróis e vilões (qual é a especialidade de Cole, por exemplo? É aparecer com uma armadura mágica de uma hora para a outra? E quando/como ele descobriu tê-la?).

Se bem que é difícil esperar cuidado e coesão de um filme que não se preocupa nem mesmo em retratar seus elementos dramáticos de forma convincente – e, por mais que a morte da família de Scorpion devesse representar uma tragédia, a reação do personagem soa contida e artificial demais para nos fazer acreditar em seu desejo de vingança, ao passo que mais tarde, quando um personagem tem os braços congelados e pulverizados, sua expressão chega a ser ridícula por não sugerir dor alguma. Isto, aliás, é um problema que se reflete pesadamente na pavorosa montagem de Dan Lebental e Scott Gray, que, no desespero em conferir dinamismo às cenas e torná-las mais rápidas, falha em perceber a importância das pausas em um diálogo, preferindo, em vez disso, cortar a cada término de frase e não deixando espaço para os personagens (e o público) tomarem fôlego, reagirem, pensarem, etc – o que, paradoxalmente, não elimina a sensação de que o filme é muito mais longo e arrastado do que realmente é, já que a total falta de estrutura da narrativa logo a faz tornar-se repetitiva ao parar o tempo todo para levar os heróis a um novo esconderijo, apresentar um novo personagem/conflito e introduzi-lo através de uma nova cena de ação (aliás, não é irônico que um longa chamado Mortal Kombat termine sem mostrar o Mortal Kombat em si?).

Diga-se de passagem, já tem um tempo que venho adotando em minhas críticas a postura de tentar não analisar os elementos de linguagem de um filme (fotografia, montagem, direção de arte, figurinos, design de som, etc) isoladamente, como se, ao falar rapidinho sobre cada um destes, eu estivesse apenas riscando um item novo de uma “checklist de crítico” (afinal, como já falei no início, não acho que o papel do crítico seja o de fazer isto, mas sim o de argumentar uma ideia própria sobre a obra que viu). Porém, é difícil não fazer exatamente isto quando me deparo com algo como Mortal Kombat, já que, num caso como este, simplesmente não há uma proposta estilística ou uma ideia geral que interligue todos estes elementos de linguagem; em vez de um diretor pensando em como usá-los para cumprir com uma proposta X ou Y, o que há aqui é apenas um comitê pensando em entregar qualquer porcaria para o público achando que este, só por ouvir a música-tema do jogo ou suas frases icônicas (“Get over here!”, “Finish him!”, “Flawless victory!”), já se dará por satisfeito.

Assim, a direção do estreante Simon McQuoid nada mais faz do que refletir isso – e, se a cena de ação que abre a narrativa (e que traz Scorpion contra alguns dos capangas de Sub-Zero) funciona por ser rodada num longo plano que mostra a luta à distância, permitindo ao espectador enxergar claramente a mise-en-scène e a coreografia, logo depois a abordagem do cineasta descamba para as velhas e genéricas lutas filmadas numa câmera sempre instável e picotadas na montagem a ponto de se tornarem ininteligíveis. Para piorar, McQuoid jamais consegue manter o tom da narrativa minimamente sob controle, oscilando loucamente entre o peso de algumas passagens mais dramáticas (ou que tentam sê-lo) e as piadinhas sem graça que o tempo todo interrompem os diálogos – e é revelador que o único momento no filme inteiro que tenha me feito esboçar um sorriso tenha sido involuntário, quando certo personagem revela se chamar “Kano” (respeitem o moleque de 12 anos que existe em mim!).

Kano, por sinal, é o típico brucutu marrentinho e mal-encarado que boa parte do público adolescente vai abraçar por se ver espelhado nele – um papel que Josh Lawson encarna de maneira insuportável, limitando-se a incessantes (e patéticas) “tiradinhas” envolvendo cultura pop, palavrões e violência. E, se o Lorde Raiden é um personagem que se resume à pura exposição (não restando muito que Tadanobu Asano possa fazer para torná-lo mais interessante), Kung Lau e Shiu Ken se resumem aos seus “poderes” e ao fato de serem os campeões do torneio, ao passo que Sonya Blade vive um arco que o próprio filme não parece entender muito bem (ela não tem a marca que a tornaria uma combatente, mas é digna de ser uma lutadora porque… ora, porque sim) e Johnny Cage… tem braços mecânicos fortíssimos (sim, isto é tudo). Por último, Lewis Tan pode até ser um artista marcial talentoso, mas aqui fica preso a um protagonista aborrecido, desinteressante e sem personalidade.

Na ânsia de faturar algumas dezenas de milhões de dólares às custas do interesse do público e dos fãs por uma adaptação de Mortal Kombat, os responsáveis por esta aberração acabaram dando um “fatality” no espectador. E pensar que o trem chegou à estação para, 126 anos depois, um troço destes ser o que faz multidões lotarem as salas de cinema é algo que, confesso, me faz mergulhar num estado profundo de desânimo e frustração.

A propósito: se a crítica não foi o suficiente, dê uma olhada no vídeo que gravei (em tom de desabafo) sobre a crise de motivação (profissional e cinéfila) que este filme me provocou:

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