Os Incríveis 2

Título Original

Incredibles 2

Lançamento

28 de junho de 2018

Direção

Brad Bird

Roteiro

Brad Bird

Elenco

As vozes de Holly Hunter, Craig T. Nelson, Sarah Vowell, Huck Milner, Eli Fucile, Samuel L. Jackson, Bob Odenkirk, Catherine Keener, Brad Bird, Jonathan Banks, Michael Bird, Sophia Bush, Phil LaMarr, Paul Eiding, Isabella Rossellini, Bill Wise e John Ratzenberger

Duração

118 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

John Walker e Nicole Paradis Grindle

Distribuidor

Disney

Sinopse

Quando Helena Pêra é chamada para voltar a lutar contra o crime como a super-heroína Mulher-Elástica, cabe ao seu marido, Roberto, a tarefa de cuidar das crianças, especialmente o bebê Zezé. O que ele não esperava era que o caçula da família também tivesse superpoderes, que surgem sem qualquer controle.

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Os Incríveis 2 | Crítica

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Há alguns meses, quando o trailer de Os Incríveis 2 foi divulgado após muita antecipação, a Internet obviamente celebrou a ocasião, já que indicava de uma vez por todas que um dos projetos que os fãs da Pixar mais desejavam ver estava finalmente virando realidade – o que, como de hábito, despertou uma tentativa invejosa de menosprezar a alegria alheia, levando certa pessoa a dizer: “Quem nasceu em 1999 ou 2000 não pode dizer que aguardou 14 anos por este filme, pois ainda usava fralda na época; o máximo que esperou foi uns 10 anos“. Confesso que levei a provocação para o lado pessoal (e ignorem o fato de que, seguindo a lógica desta frase, o responsável por proferi-la provavelmente acha que a idade certa para largar as fraldas é lá pelos nove anos): ora, eu nasci no final de 1998, comecei a desenvolver uma memória consistente por volta dos quatro anos e já estava acostumado à ideia de lucidez quando fui ao cinema ver Os Incríveis, que me chamou a atenção desde o teaser exibido antes de Procurando Nemo.

Se a empolgação que tive aos seis anos de idade já foi um prazer inesquecível, outra bela satisfação foi crescer e descobrir que aquela obra resistiu bem ao teste do tempo, permanecendo ainda hoje como uma das melhores histórias sobre super-heróis que o Cinema já produziu (e percebam que, quando escrevi sobre o filme, destaquei inúmeros pontos positivos sem nem tocar na questão da memória afetiva – se isto fosse um fator determinante ao avaliar um longa, eu teria escrito um texto entusiasmado sobre Procurando Dory em vez de um apenas moderadamente elogioso, não?). A verdade é que, no fim, não interessa se você esperou 10 ou 14 anos para conferir Os Incríveis 2; o novo trabalho do cineasta Brad Bird é mais um acerto independente da idade ou das expectativas do espectador.

Continuando a história a partir do instante onde o primeiro a deixou, Os Incríveis 2 começa mostrando a família Parr (ou “Pêra”, na versão brasileira) salvando os inocentes da destruição causada pelo Escavador – o que não impede as autoridades de culparem os superpoderosos e seguirem proibindo seus atos heroicos. As coisas começam a mudar, porém, quando um empresário chamado Winston Deavor e sua irmã Evelyn resolvem iniciar um projeto a fim de estimular a legalização dos super-heróis, colocando uma pequena câmera no uniforme da Mulher-Elástica e enviando-a em missões pontuais que servem para mostrar à população o quão benéfica é sua presença, ao passo que o Sr. Incrível, desta vez, permanece em casa cuidado de Violeta, Flecha e Zezé.

Logo nos primeiros minutos, o desfecho do original é reencenado sob a ótica do adolescente Tony, que vislumbra os cinco personagens que dão título ao filme com um olhar ao mesmo tempo espantado e fascinado – e isto, claro, acaba refletindo o entusiasmo experimentado por boa parte do público, que passou os últimos 14 anos se afeiçoando aos Incríveis e finalmente ganhou a oportunidade de reencontrá-los. O mesmo se aplica ao instante em que Winston Deavor conhece os heróis e se empolga a ponto de cantar os jingles criados para eles no passado, cumprindo a função de representar o fã do longa anterior tanto quanto os breves trechos onde Voyd (uma das novas super-heroínas) se aproxima da Mulher-Elástica para “tietá-la”. Mas não se enganem: estes momentos são ocasionais em Os Incríveis 2, que não depende de autorreferências para sobreviver nem segue os passos de O Despertar da Força (que, como todos sabem, praticamente refilmou o primeiro Star Wars em vez de expandi-lo).

Ainda assim, há uma sequência aqui e ali que se torna familiar demais, lembrando em excesso outras passagens que já existiam em Os Incríveis – e não dá para negar que, mesmo funcionando apropriadamente, a trama desta continuação não é elaborada ou instigante como a do primeiro, falhando também ao jamais resgatar o peso dramático que havia no original (neste sentido, Os Incríveis 2 é bem mais leve e inofensivo). Por outro lado, os principais elementos responsáveis pelo sucesso do longa de 2004 estão presentes aqui: embora a fantasia impere no universo da obra, o grande mérito de Brad Bird (cuja experiência com animações inclui O Gigante de Ferro e Ratatouille) consiste na plausibilidade conferida aos dilemas pessoais dos super-heróis, que vivem num contexto que soaria palpável no mundo real; não é à toa que, em vários momentos, os personagens surgem discutindo questões políticas e defendendo projetos de lei diferentes. A própria Guerra Civil, da Marvel, encontra ecos temáticos no universo criado por Bird, já que os heróis de ambas as histórias têm que responder pelos danos causados a patrimônios públicos e privados.

O mais admirável, no entanto, é constatar como Brad Bird aproveita os 14 anos que separaram Os Incríveis de sua continuação e, com isso, resolve tocar em alguns assuntos que não eram debatidos com a mesma pertinência em 2004 – e o empoderamento feminino, por exemplo, ganhou uma força notável de um tempo para cá. Se antes Bob Parr saía para trabalhar e Helen permanecia cuidando dos filhos em casa, agora os papeis se inverteram e a Mulher-Elástica passa a estrelar as principais sequências de ação do filme, quebrando o status quo da relação patriarcal que permeia a tal da “família tradicional” e indicando que a mulher vai muito além da figura da dona de casa (quem diz isto não sou eu, mas a própria Mulher-Elástica). Assim, Os Incríveis 2 torna-se um documento inquestionável de sua época e, no processo, confere nuances libertadoras e idealistas que transformam Helen numa personagem ainda mais interessante. Outro que ganha novos contornos é Bob: ao se ver relegado às tarefas que antes eram assumidas por sua esposa, ele sente que sua posição de “macho alfa” foi rebaixada – e quando Helen é escolhida para exercer a função que antes pertencia ao marido, este percebe que talvez não seja soberano como acreditava, o que invariavelmente fere seu orgulho (e a maneira desastrada com que toma conta da casa e dos filhos é outra revelação para o Sr. Incrível).

Já as crianças são um destaque à parte: se a energia e a vitalidade típicas da infância seguem se refletindo na personalidade do Flecha (não é por acaso que seu superpoder é a velocidade), a insegurança continua abalando a autoestima de Violeta, cujo arco dramático inclui vários momentos que levarão qualquer um que já foi (ou é) adolescente a se identificar. Quanto ao Zezé… bem, basta dizer que, além de fofíssimo, as melhores gargalhadas proporcionadas pelo filme têm a ver com o bebê e com seus superpoderes que ainda estão se revelando. Em contrapartida, se desta vez o carismático Gelado conta com mais tempo para brilhar, o mesmo êxito não se estende a Screenslaver: desenvolvido de forma desnecessariamente complicada (todas as reviravoltas envolvendo o antagonista são previsíveis), o vilão representa um comentário social que soa forçado e deslocado na maior parte do narrativa (ele basicamente aproveita o vício das pessoas por aparelhos eletrônicos para possuí-las), sem contar que sua presença em tela jamais chega aos pés daquela projetada pelo Síndrome no primeiro filme.

Mais uma vez investindo na estilização total de personagens que, em essência, são seres humanos – e gosto particularmente dos designs caricatos e desproporcionais dos novos super-heróis, como Voyd e Krushauer –, Os Incríveis 2 é novamente favorecido pela direção de Brad Bird, que, depois de conduzir a ação de maneira espetacular em Missão: Impossível – Protocolo Fantasma, volta a se superar neste quesito: cada cena que mostra uma luta ou uma perseguição é impecável e conta com uma personalidade marcante – e outro atrativo é ver os superpoderes dos heróis se combinando, como no instante em que os portais criados por Voyd se juntam aos campos de força projetados por Violeta. Para completar, a qualidade técnica da animação é mais que o suficiente para validar o Oscar que o filme provavelmente receberá em 2019*: notem os pequenos gestos informais feitos pelos personagens, as texturas em suas peles, os detalhes nas costuras de suas roupas, o tom florescente nos uniformes dos heróis, o asfalto que gruda no Sr. Incrível depois dele ser “pisoteado” e os cabelos loiros do Flecha que escurecem após serem molhados.

Fortalecido (como não poderia deixar de ser) pela trilha sonora jazzística do fabuloso Michael Giacchino, que não só reutiliza as emblemáticas músicas criadas para o original como ainda compõe novos temas para cada um dos personagens, Os Incríveis 2 é um filme que, mesmo sem se igualar ao primeiro, mantém viva a promessa de uma excelente franquia – isto é, se Brad Bird e a Pixar decidirem retomar este universo em vez de deixá-lo guardado por mais 14 anos.

*Update: eu não contava com um fenômeno avassalador chamado O Homem-Aranha no Aranhaverso

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