Pânico 3 (1)

Título Original

Scream 3

Lançamento

4 de fevereiro de 2000

Direção

Wes Craven

Roteiro

Ehren Kruger

Elenco

David Arquette, Courteney Cox, Neve Campbell, Patrick Dempsey, Scott Foley, Lance Henriksen, Matt Keeslar, Parker Posey, Jenny McCarthy, Liev Schreiber, Kelly Rutherford, Lynn McRee, Emily Mortimer, Deon Richmond, Patrick Warburton, Lynn McRee, Josh Pais, Jamie Kennedy, Heather Matarazzo e a voz de Roger L. Jackson

Duração

116 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Kevin Williamson, Cathy Konrad e Marianne Maddalena

Distribuidor

Imagem Filmes

Sinopse

Assassinatos levam uma jovem, um repórter e um ex-policial ao set de um filme de horror inspirado por acontecimentos aterrorizantes aos quais eles sobreviveram. Terceiro filme da série “Pânico”. Um assassino copiador está à espreita.

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Pânico 3 | Crítica

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Confesso ter um pouco de dificuldades para entender por que Pânico 3 foi tão massacrado em sua época de lançamento. Ok, pode não ser um filme tão consistente quanto os dois que o antecederam, a decisão do roteirista Kevin Williamson de não retornar gerou muita desconfiança por parte dos fãs na época (e Ehren Kruger, que o substitui, tem um currículo nada animador) e vários problemas nos bastidores (do excesso de mudanças no roteiro até os notórios conflitos com a agenda da atriz Neve Campbell, que só tinha 20 dias disponíveis para as filmagens e, portanto, levou os responsáveis a reduzirem drasticamente a participação da protagonista Sidney Prescott justo naquela que deveria ser a conclusão de sua saga) se refletiram de alguma forma no resultado final.

Ainda assim, justiça seja feita: Pânico 3 não só representa uma experiência deliciosamente divertida (a exemplo de seus predecessores) como se mostra um desfecho bastante apropriado para aquela saga, colocando um ponto final que soa natural e lógico considerando-se os rumos que a série vinha tomando (na época, esperava-se que a série fosse parar por ali mesmo, não incluindo planos para um quarto capítulo – que, de todo modo, viria a ser produzido 11 anos depois). Retomando a ideia (introduzida no segundo filme) de que Hollywood começou a produzir uma franquia de slasher movies baseada nos acontecimentos que vimos no primeiro Pânico, intitulada Punhalada (ou, em inglês, Stab), este terceiro capítulo continua a levar os esforços metalinguísticos da série a um patamar superior: desta vez, a trama acompanha os bastidores de Punhalada 3, que conclui a saga inspirada nas aventuras reais (ou “reais”, para nós) de Sidney, Gale Weathers e Dewey Riley. No entanto, tudo muda depois que uma onda de assassinatos começa a ocorrer no set (e pior: seguindo cuidadosamente a ordem descrita no roteiro de Punhalada 3), obrigando as verdadeiras Sidney, Gale e Dewey a entrarem em cena.

Em outras palavras: a progressão metalinguística que já vinha sendo conduzida desde o original continua a se desenvolver neste Pânico 3, aproximando-se ainda mais da ideia de “filme de terror dentro de um filme de terror” que Wes Craven explorara em O Novo Pesadelo: O Retorno de Freddy Krueger (ou apenas A Hora do Pesadelo 7). Pois se Pânico propunha uma sátira que apontasse as convenções dos slasher movies através da ironia e Pânico 2 ia além ao assumir sua natureza de continuação e brincar com as intenções caça-níqueis da maioria das sequências, Pânico 3 opta por observar e comentar o universo e o próprio processo “criativo” (leia-se: mercadológico) de Hollywood, o que já fica óbvio pela simples decisão de mover a história da cidadezinha de Woodsboro para Los Angeles.

Mas Wes Craven e Ehren Kruger vão além: desde a cena inicial, que mostra o assassinato de Cotton Weary (o jovem injustamente preso pelo homicídio de Maureen Prescott, mãe de Sidney, e contratado como apresentador de um bem-sucedido talk show após ser inocentado) e sua namorada pelas mãos do novo Ghostface, Pânico 3 busca contrapor e desmantelar o “estrelato” e a farsa teatral que os personagens testaram e/ou conquistaram em Pânico 2 através do horror (individual e/ou alheio), como se o passado pagasse as contas com aqueles que de alguma forma tentaram espetacularizar a tragédia (Cotton se aproveitando da fama que ganhou por ser inocentado de um crime para tornar-se um sucesso na tevê; Hollywood fazendo um filme divertidinho baseado num morticínio real; etc). Como diz o entusiasta de slasher movies Billy Loomis em um vídeo perdido, as terceiras partes de trilogias contêm suas próprias regras e uma delas é trazer o passado da franquia (e dos personagens) à tona, encerrando as pontas introduzidas lá atrás.

É neste contexto, aliás, que Pânico 3 relembra não só as origens da série como também pinta, através de toda a ambientação hollywoodiana, um retrato satírico do dia a dia naqueles grandes estúdios, da mentalidade gananciosa dos produtores ao seguirem fabricando estas franquias pop e da futilidade que permeia o universo das celebridades e que leva os poderosos a frequentemente descartarem atriz promissoras por não as julgarem “bonitas o suficiente para os papeis” (o que culmina numa divertida – embora melancólica – ponta de Carrie Fisher). Neste sentido, é adequado que a identidade do assassino do filme (e, lembremos, o chefão final da trilogia) seja – spoiler à frente! – um diretor pau mandado de Hollywood que diz a Sidney uma frase que hoje, 22 anos depois, parece não só acertada, mas premonitória: “Você estava certa, a cultura pop é a política do século 21”.

(Outro aspecto “premonitório” – este bem mais disparatado – é o fato de o filme apontar e satirizar o abusivo jogo de poderes nos bastidores de Hollywood bem debaixo do nariz de Harvey Weinstein, que hoje sabemos ser um monstro sexual e que tem créditos de produtor executivo dos quatro capítulos da série Pânico.)

E há, também, o lado de Sidney Prescott, que, ao contrário dos outros personagens (que acompanham a encenação das tragédias reais com um olhar de dentro), é obrigada a lidar com o fato de ela ser justamente a vítima mais pessoal da história toda – e, assim, é com ela que o passado retorna da forma mais dramática e emocionalmente impactante, culminando no excelente encontro com Ghostface dentro de uma casa cenográfica que reconstitui aquela na qual morou na infância/adolescência e que, por isso mesmo, traz várias memórias particulares à tona. Infelizmente, é uma pena que a participação de Neve Campbell seja tão reduzida, já que isto obriga toda a trajetória emocional de Sidney neste filme ser reduzida em tempo e em profundidade, não sendo à toa que a maioria das ideias de Pânico 3 que soam subdesenvolvidas seja relacionada justamente ao arco de Sidney. Enquanto isso, o domínio de Courteney Cox sobre a saga continua a expandir em razão de seu sucesso na tevê com Friends (exibida na mesma época) – tanto é que a personalidade de Gale Weathers neste capítulo está mais próxima de Monica Geller do que nunca, com Cox repetindo aqui os tiques, os maneirismos e a engraçada inquietação da personagem que a consagrou na sitcom.

Trazendo uma ponta do gênio Roger Corman logo nos primeiros minutos de projeção (o que sempre é agradável), Pânico 3 às vezes cai no lugar-comum que seus antecessores tanto ironizavam (e a trilha sonora, em especial, é pontualmente excessiva nos acordes altos e bruscos que tentam dar sustinhos no espectador). A sorte, porém, é que estes momentos são apenas ocasionais e nem de longe diminuem a eficácia deste longa que, no fim das contas, soa como uma conclusão digna para uma trilogia bem planejada.

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