Procurando Dory

Título Original

Finding Dory

Lançamento

30 de junho de 2016

Direção

Andrew Stanton

Roteiro

Andrew Stanton e Victoria Strouse

Elenco

As vozes de Ellen DeGeneres, Ed O’Neil, Albert Brooks, Hayden Rolence, Sloane Murray, Diane Keaton, Eugene Levy, Kaitlin Olson, Ty Burrell, Idris Elba, Dominic West, Bob Peterson e Andrew Stanton

Duração

97 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Lindsey Collins

Distribuidor

Disney

Sinopse

Um ano após ajudar Marlin (Albert Brooks) a reencontrar seu filho Nemo, Dory (Ellen DeGeneres) tem um insight e lembra de sua amada família. Com saudades, ela decide fazer de tudo para reencontrá-los e na desenfreada busca esbarra com amigos do passado e vai parar nas perigosas mãos de humanos.

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Procurando Dory | Crítica

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Observação: o curta-metragem Piper, exibido antes de Procurando Dory, representa uma perfeição técnica capaz de deixar o espectador de queixo caído, exibindo um realismo que só poderia ser descrito através de elogios rasgados como “fabuloso”, “impressionante” e “espetacular”. Para melhorar, existe uma narrativa bastante eficiente nos poucos minutos de Piper, cujo personagem principal protagoniza um arco cativante. É, já podemos dizer que há um favorito ao Oscar de melhor curta animado.

Dar sequência a uma animação lançada há mais de uma década e que marcou uma geração ao ponto de se estabelecer como um jovem clássico nos anos posteriores pode soar como uma ideia desconfiável e caça-níqueis – e quando percebemos que estamos nos referindo a Procurando Nemo, a situação torna-se ainda mais preocupante já que o histórico da Pixar com continuações não é dos mais admiráveis (deixando de lado os excepcionais Toy Story 2 e 3, temos o horrendo Carros 2 e o divertido, porém esquecível Universidade Monstros). Pois a realidade é que, se pararmos para pensar cautelosamente, Procurando Dory é de fato um projeto que não precisava existir e que foi realizado visando faturar altos valores monetários nas bilheterias às custas do apreço que o público tem por Dory, Marlin, Nemo e pelo universo que gira entorno de tais personagens. Felizmente, graças à eficácia do diretor Andrew Stanton e da própria Pixar (recém-saída do fraquíssimo O Bom Dinossauro), esta sequência surge divertida o suficiente para não comprometer a memória do original.

Anunciado quando Stanton (diretor da obra-prima Wall-E) ainda padecia por conta do fracasso de seu John CarterProcurando Dory conta com uma trama que pouco se diferencia de Procurando Nemo: se lá testemunhávamos os esforços do peixe-palhaço Marlin em busca do filho Nemo junto ao auxílio de Dory, uma fêmea da espécie-patela que sofria de perda de memória recente, aqui vemos a personagem-título da vez recordando-se de que tem uma família e decide em busca de seus pais. Na companhia de Marlin e Nemo, a fêmea vai parar no Instituto de Biologia Marinha para conquistar seu objetivo, aliando-se à tubarão-baleia Destiny, à beluga Bailey e ao octópode Hank (este último é movido por planos pessoais que envolvem não ir para o oceano, já que despreza a vida debaixo d’água) para obter seu tão antecipado reencontro com o pai e com a mãe – o que, é claro, implicará em diversos obstáculos que dificultam a jornada da protagonista.

Mesmo sofrendo com a falta de originalidade que tende a eliminar boa parte do impacto e das “surpresas” prometidas pela narrativa, Procurando Dory realiza um trabalho louvável ao criar personagens cujas condições servem como uma alusão clara aos deficientes físicos sem desenvolver a questão apelando para truques baratos ou melodrama (característica que também se fazia presente em Procurando Nemo, mas que aqui retorna com mais intensidade): a heroína perde a maioria de suas memórias; Destiny tem problemas de visão graves; Bailey sente dores; Hank tem apenas sete dos oito braços que deveria ter; e Nemo possui uma nadadeira esquerda minúscula. Além disso, é admirável que o filme consiga transformar Dory – que, no passado, era uma coadjuvante de luxo – numa protagonista que enfrenta dilemas internos convincentes; e se antes as perdas de memória surgiam para levar o público às gargalhadas, agora representam um problema real para a personagem, gerando obstáculos para ela e rendendo momentos de melancolia.

Igualmente acertada é a galeria de coadjuvantes que começa por Destiny, cuja personalidade amigável e divertida atrai tanto quanto os “superpoderes” do desconfortável Bailey. Da mesma forma, Hank chama a atenção como o personagem secundário com o maior arco dramático, levando o espectador a simpatizar com o octópode mesmo que suas ações pareçam desconfiáveis de vez em quando e conquistando graças não somente ao seu passado traumático, mas ao seu carisma que aqui e ali cede espaço para que emoções mais profundas sejam desenvolvidas. Em contrapartida, ainda que seja ótimo reencontrar Marlin e Nemo, é uma pena que o roteiro de Andrew Stanton e Victoria Strouse não tenha ideia do que fazer com a dupla ao longo da narrativa, vendo-se obrigado a manter os dois peixes-palhaço no filme apenas para evitar o descontentamento dos fãs (e Nemo, em particular, é o mais prejudicado, revelando-se desinteressante e pouco expressivo). Todavia, é digno de nota ver pai e filho formando um núcleo familiar junto com Dory, passando por cima do conceito de “família tradicional” e merecendo elogios por esta decisão.

Exibindo um senso de humor eficiente na maior parte do tempo, Procurando Dory segue os passos de Toy Story 2 e investe numa quantidade de piadas bem maior do que havia no longa original, provocando risadas, por exemplo, ao trazer a protagonista detalhando como peixes se reproduzem. Para completar, há uma infinidade de figuras pontuais que se destacam ao ponto de se tornarem memoráveis – e dentre estes alívios cômicos, podemos citar o leão-marinho Geraldo, a mobelha Becky e uma ostra sentimental. Infelizmente, os últimos 15 minutos da projeção apostam num humor nonsense que simplesmente não condiz com a proposta inicial da obra, causando estranheza por soarem insanos demais dentro universo de Procurando Nemo. E mesmo que existam bons momentos intimistas, esta continuação nunca consegue emocionar tanto quanto a primeira produção, o que não deixa de ser um pouco frustrante.

Quanto à qualidade da animação, não há grandes inovações considerando o que já estamos habituados a ver – ainda assim, a equipe técnica merece aplausos por conta das variadas aparências dos seres marítimos vistos no decorrer da película, demonstrando virtuosismo desde a textura do corpo pegajoso de Hank até a concepção da Dory bebê (fofíssima, por sinal). De modo semelhante, o excelente design de produção acerta ao indicar como a ação do Homem vem degradando o oceano, trazendo latas, plásticos e até uma bicicleta no fundo do mar. Finalizando, se a montagem consegue beneficiar o ritmo acrescentando dinamismo à narrativa (mesmo que o excesso de flashbacks seja consideravelmente problemático), a trilha sonora de Thomas Newman representa um dos raríssimos casos onde um projeto da Pixar não apresentou composições incidentais satisfatoriamente atraentes.

Despertando um agradável sentimento de nostalgia que vem à tona desde os minutos iniciais, onde vemos uma interseção com uma cena do filme original antes de reencontrarmos personagens como o professor Raia e as tartarugas surfistas, Procurando Dory não está à altura de Procurando Nemo e passa longe de ser um novo Toy Story 3, assim como tampouco é o Divertida Mente deste ano e jamais chega aos pés de Monstros S.A.Os Incríveis e Wall-E. Isto não quer dizer, no entanto, que o resultado final não seja adorável e espirituoso o bastante para justificar um reencontro com os seres fantásticos que nos foram apresentados há 13 anos – e embora o objetivo principal desta continuação seja inquestionavelmente o lucro, ao menos esta natureza não fica evidente durante a projeção e o sentimento que fica é de que o real propósito do projeto é divertir proporcionando mais uma boa experiência junto a Dory, Marlin e Nemo.

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