Quarteto Fantástico (imagem do topo 2)

Título Original

The Fantastic Four: First Steps

Lançamento

24 de julho de 2025

Direção

Matt Shakman

Roteiro

Josh Friedman, Eric Pearson, Jeff Kaplan e Ian Springer

Elenco

Pedro Pascal, Vanessa Kirby, Joseph Quinn, Ebon Moss-Bachrach, Julia Garner, Sarah Niles, Mark Gatiss, Natasha Lyonne, Paul Walter Hauser, Ralph Ineson, Alex Hyde-White, Rebecca Staab, Jay Underwood, Michael Bailey Smith e a voz de Matthew Wood

Duração

114 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Kevin Feige

Distribuidor

Disney

Sinopse

Um grupo de astronautas passa por uma tempestade cósmica durante seu voo experimental. Ao retornar à Terra, os tripulantes descobrem que possuem novas e bizarras habilidades. Reed Richards pode esticar seu corpo. Sua noiva, Susan Storm, ganha a habilidade de se tornar invisível. Seu irmão mais novo, Johnny Storm, adquiriu o poder de controlar o fogo e voar. Já o piloto Ben Grimm foi transformado em um monstro rochoso. Ao tentar compreender seus poderes, eles têm que lidar com novas ameaças.

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Quarteto Fantástico: Primeiros Passos | Crítica

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Dizer que Quarteto Fantástico: Primeiros Passos é a melhor adaptação da superfamília criada por Stan Lee e Jack Kirby para o Cinema não significa muito. Afinal, o histórico pregresso de tentativas de levar a equipe para as telonas inclui a infame versão produzida por Roger Corman em 1994 (feita para jamais ser lançada comercialmente e cuja história dos bastidores é infinitamente mais interessante que o filme em si), as fracas adaptações de 2005 e 2007 (dirigidas pelo inexpressivo Tim Story e que traziam Chris Evans e Jessica Alba nos papeis de Johnny e Sue Storm) e, por último, aquela aberração “comandada” (até certo ponto) por Josh Trank em 2015, que basicamente enterrou a franquia por uma década até que a Disney, que comprou a Fox em 2019, optasse por um reboot agora integrando o Quarteto ao MCU (Marvel Cinematic Universe).

Demonstrando como o excesso de cabeças envolvidas na criação de um único roteiro costuma ser mau sinal (aqui os responsáveis são Josh Friedman, Eric Pearson, Jeff Kaplan e Ian Springer), Primeiros Passos ao menos começa acertando ao perceber que, a esta altura, recontar a origem do Quarteto seria perda de tempo (uma vez que já a vimos outras três vezes), preferindo, em vez disso, recapitular rapidamente o passado dos heróis em um breve – mas divertido – vídeo explicativo nos primeiros cinco minutos de projeção. A partir daí, o roteiro passa a desenvolver uma trama que, sejamos honestos, pouco mais é do que uma variação daquela que vimos há 18 anos em Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado, com o surgimento de uma Surfista (agora em uma versão feminina) que anuncia a chegada do gigantesco Galactus – e com direito à recriação de cenas praticamente idênticas, como aquela em que Johnny persegue a alienígena até a estratosfera e uma outra mais à frente que… deixarei quieta para evitar spoilers.

Ambientado numa realidade alternativa à parte da cronologia principal do MCU (o que é bom, porque não obriga o espectador a ter que ter assistido a trocentos filmes/séries anteriores para entender o que acontece aqui), Primeiros Passos ganha fôlego através do ótimo trabalho da diretora de arte Kasra Farahani, que combina bem um espírito sessentista (que cumpre a função simultânea de 1) remeter ao momento em que o Quarteto surgiu nas HQs, 2) aludir à imagem da típica família norte-americana dos anos 1960 para compor a interação dos heróis e 3) resgatar o contexto da beatlemania para retratá-los como celebridades, com direito a uma apresentação num programa de tevê que lembra a icônica aparição dos Beatles no Ed Sullivan Show) e, ao mesmo tempo, um lado de ficção científica clássica (com a exploração cósmica e os avanços tecnológicos apontando para um futuro, mas também dialogando com o teor da Corrida Espacial que marcou a origem da equipe em 1961). O resultado disso, portanto, é um mundo retrofuturista à la Os Jetsons que, para todos os efeitos, traz algum frescor a um universo cinematográfico que há muito se desgastou em razão de quase todos os filmes serem esteticamente indistinguíveis.

Além disso, este novo Quarteto Fantástico se beneficia muito do fato de contar com o melhor elenco de todas as versões até aqui (as anteriores ou contavam com intérpretes totalmente inexpressivos, ou desperdiçavam atores que pareciam perfeitos para os papeis): se Pedro Pascal encarna bem o carisma, a sabedoria e o senso de liderança de Reed Richards (embora seja difícil negar que, em termos de composição, Pascal se mantenha no “mais do mesmo”), Vanessa Kirby se estabelece como o ponto alto do filme ao capturar perfeitamente a simpatia e o senso de humor de Sue, saindo-se bem também ao retratar a preocupação da heroína com o bem-estar alheio e, não menos importante, com a proteção do filho (algo que certamente vem da maternidade em si). Assim, Kirby confere à Mulher-Invisível uma presença bem mais ativa aqui do que nas versões anteriores (não à toa, desta vez ela assume o papel de figura diplomática que liga o Quarteto à sociedade e à política internacional), ao passo que Joseph Queen ilustra o espírito malandro, jovial e bem-humorado de Johnny com o equilíbrio necessário para não se tornar uma caricatura irritante (como ocorria com as versões de Jay Underwood e, às vezes, com a de Chris Evans), sendo bacana que seu Tocha ganhe um arco que o torna mais altruísta e realmente disposto a se doar pelos outros.

Infelizmente, não há muito que Ebon Moss-Bachrach possa fazer sob a pele (rochosa) de Ben Grimm: sim, o design do Coisa é eficaz ao resgatar o visual dos quadrinhos sem deixar de ser expressivo, valorizando as expressões do ator via performance capture (algo que a horrorosa versão de 2015 jogava no lixo), e Moss-Bachrach retrata bem o humor gentil, o estilo “primo mais velho gente boa” e a lealdade de Ben à família (e a Reed, seu amigo de longa data). Por outro lado, todo o aspecto trágico do Coisa (que sempre o tornou – ao menos, para mim – o mais interessante dos membros do Quarteto) é diluído por completo, já que todo o drama do personagem querer se aproximar de uma moça, mas sentir-se inseguro graças à sua aparência monstruosa, é apenas pincelado de forma tão superficial que nem valeria a pena ser citado pelo filme em primeiro lugar.

Isso, por sinal, é sintoma de um problema que se alastra por vários outros aspectos da obra (e que talvez pareça meio confuso, mas que tentarei explicar aqui): do início ao fim, Primeiros Passos soa muito como… uma continuação de outro filme que jamais vimos, já que há diversos elementos que o próprio longa pressupõe que já são canônicos o bastante para que o conheçamos previamente e, assim, não precisem ser desenvolvidos aqui. Sim, sabemos que o Tocha e o Coisa vivem se alfinetando, que a Mulher-Invisível se frustra com o fato de o Sr. Fantástico pensar mais em trabalho do que nela e que Ben fica triste por ter se transformado numa criatura de pedra. Como o filme entende que já entendemos tudo isso, ele passa por cima destas problemáticas apenas superficialmente, o que, confesso, me fez chegar ao fim desta versão com uma estranha sensação de… insatisfação: eu saquei o básico sobre aqueles heróis, mas não tive tempo nem aprofundamento suficientes para me apegar a eles.

Neste sentido, o novo Quarteto Fantástico repete o mesmíssimo problema das adaptações de Tim Story: quando se permite tomar tempo para se concentrar nas dinâmicas familiares/cotidianas do Quarteto, alcança resultados bem divertidos; quanto é obrigado a interromper estas interações para lidar com as velhas obrigações/burocracias de uma narrativa comum de super-herói (a chegada de um supervilão, o perigo do fim do mundo, etc), as executa de forma tão mecânica que se torna… genérico, protocolar, sem imaginação. Assim, é triste perceber como Primeiros Passos pouco aproveita aquilo que tem de melhor: as trocas entre o Quarteto; tanto é que, nos poucos momentos em que vemos isso, percebemos como havia potencial ali (afinal, o elenco está notavelmente bem-entrosado).

Como se não bastasse, Primeiros Passos (também como os filmes de 2005 e 2007) fracassa miseravelmente ao tentar criar uma atmosfera de perigo/urgência a partir da chegada do Galactus, já que, ainda que os personagens passem o tempo todo dizendo que o mundo está prestes a acabar, em momento algum sentimos que haja algo efetivamente em risco ali. Neste aspecto, a ambientação retrofuturista (que tanto elogiei lá atrás) acaba virando uma faca de dois gumes, uma vez que, embora plasticamente bonito, o universo apresentado aqui parece não ter… vida, “alma”, algo que o torne palpável. Assim, quando Galactus chega à Terra no terceiro ato, a destruição por ele causada parece não ter peso algum, já que o mundo retratado em tela tem o mesmo peso de uma casinha da Barbie. (Aliás, embora seja admirável que Galactus tenha deixado de ser uma nuvem – como era em 2007 –, ainda assim é uma pena perceber que, na prática, ele pouco mais seja do que… um kaiju sem personalidade.)

E se até agora não mencionei o nome do cineasta Matt Shakman (que tornou-se “da casa” após dirigir WandaVision), é porque seu trabalho aqui é inexpressivo como o de qualquer outro operário que assume as produções da Marvel sem qualquer chance de imprimir um mínimo de identidade/personalidade própria. Com exceção de uma boa cena em que a Surfista Prateada persegue a nave dos heróis entrando num buraco negro enquanto Sue está em trabalho de parto (adicionando um componente humano à situação que a torna mais envolvente), na maior parte do tempo as sequências de ação são burocráticas e desinteressantes, falhando, por exemplo, em explorar as especificidades dos poderes dos personagens (sério que o máximo que será feito com a elasticidade de Reed Richards será… colocá-lo para subir uma escada?).

Assim, Quarteto Fantástico: Primeiros Passos frustra por nunca fazer jus totalmente aos personagens interessantes e ao universo promissor que tem em mãos, apresentando-se como uma aventurinha moderadamente divertida – e só. É o melhor filme sobre a equipe já feito até hoje, de fato, mas não deixa de ser sintomático que seus momentos mais memoráveis sejam aqueles que trazem rápidas aparições-surpresa (do tipo “piscou, perdeu”) dos atores da versão de 1994. Prefiro acreditar que a adaptação definitiva do Quarteto ainda esteja por vir.

Assista também aos vídeos SEM e COM spoilers que gravei sobre o filme:

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