Rei Arthur: A Lenda da Espada conta com a presença de elefantes gigantescos, cobras colossais, mulheres-polvo, demônios de outros mundos e uma infinidade de mágicas sendo disparadas de um lado para o outro – o que, a princípio, deveria ser o suficiente para render algo, no mínimo, divertido. Assim, é impressionante que esta produção consiga transformar o potencial deste universo fantástico em uma experiência incrivelmente tediosa, fazendo com que as duas horas da projeção soem como uma maratona de uma longa (e péssima) série. E quando pensei que o filme já tinha começado há 15 ou 20 minutos, percebi que os créditos iniciais estavam começando a surgir em tela.
Planejado para ser o primeiro de seis capítulos de uma franquia sobre a lenda do rei Arthur (que, graças ao fracasso deste longa nas bilheterias, provavelmente não serão produzidos), A Lenda da Espada se propõe a narrar o início da jornada do personagem-título, dispensando a participação de Merlin ou a criação dos Cavaleiros da Távola Redonda a fim de se focar em parte da história que todos já conhecem muitíssimo bem: quando Arthur conseguiu ser o primeiro cidadão de Camelot a erguer a espada Excalibur (que há anos se mantinha fincada numa rocha), ele imediatamente batalhou contra o rei tirano e… é spoiler dizer que venceu? (Ora, se o título do filme deixa claro qual será o final da história, por que eu não deveria deixar?)
É possível dizer que, à primeira vista, as decisões tomadas pelo diretor Guy Ritchie são acertadas: para escapar da mesmice que costumamos ver nas produções envolvendo a chamada “fantasia de capa e espada”, o cineasta opta por empregar o seu estilo do início ao fim – e qualquer um que já tenha visto Snath: Porcos e Diamantes, Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes, O Agente da U.N.C.L.E. ou os dois últimos Sherlock Holmes será capaz de reconhecer as marcas registradas de Ritchie em Rei Arthur, desde a montagem frenética até as sequências de ação movimentadas e enérgicas, passando também pelas transições velozes, pela trilha sonora estilosa, pelo constante ramping (instantes em que a quantidade de frames por segundo é alterada dentro de um único plano, a fim de simular uma câmera lenta durante um curto período) e por aqueles momentos em que um personagem descreve situações enquanto estas são ilustradas através de montagem paralela, voice overs inesperados e efeito rewind.
Infelizmente, Ritchie parece não saber ao certo o que está fazendo e jamais consegue justificar seu excesso de estilização nem usá-lo para enriquecer a trama ou a proposta do longa, jogando esses recursos de maneira pouco cuidadosa e criando uma verdadeira bagunça ao fundir as tradições dos filmes de fantasia com o estilo alucinado de sua direção (isso porque não comentei as sequências de ação, que são conduzidas de forma caótica e ininteligível). E se o design de produção ao menos acerta na concepção detalhada de castelos imponentes, cavernas hostis e ruas sufocantes, o mesmo não pode ser dito a respeito dos efeitos visuais, que funcionam apenas ao construir os imensos cenários e pecam especialmente nas criaturas fantásticas desenvolvidas digitalmente (a última vez em que vi um pássaro tão grotesco foi no terceiro ato de A Travessia).
Ainda assim, seria difícil acreditar que Rei Arthur pudesse ser salvo mesmo contando com um roteiro tão frágil: escrito por Ritchie, Lionel Wigram e Joby Harold (tantos nomes envolvidos nunca representa um bom sinal), este é um daqueles filmes que se iniciam com um texto explicativo e depois se lançam em vários diálogos que se encarregam de repetir o que já havia sido esclarecido na abertura. O mais incrível, contudo, é que apesar do excesso de falas expositivas e artificiais, o filme jamais consegue apresentar um personagem interessante ou desenvolver um conflito dramático engajante – notem o quão superficial é a recusa de Arthur em aceitar Excalibur, por exemplo.
Acostumado a colocar seus heróis em perigo iminente sem se dar conta de que o espectador simplesmente não se importa com o destino de pessoas tão inexpressivas, Rei Arthur ainda conta com um personagem-título antipático, seco e que jamais conquista a empatia do público; algo que se torna ainda mais problemático graças ao fraco desempenho de Charlie Hunnam, que falha principalmente quando é obrigado a retratar os dramas enfrentados por Arthur. E se os parceiros do protagonista são esquecíveis e monótonos (embora o filme acredite que eles são carismáticos), o vilão interpretado por Jude Law é apenas uma caricatura que jamais chama a atenção ou sugere qualquer ameaça palpável, limitando-se a matar uma pessoa aqui e outra ali como se isso fosse o suficiente para transformá-lo num antagonista multifacetado.
Dominado por uma série de piadas sem graça e terrivelmente previsíveis (algo que não costuma acontecer nos filmes de Guy Ritchie), Rei Arthur não só obriga o espectador a acompanhar personagens aborrecidos e situações desinteressantes como ainda se julga bem-sucedido ao reinventar a lenda do herói, mostrando-se incapaz de reconhecer que o resultado de seus esforços não passa de uma tentativa fracassada de trazer novidades a uma história exaustivamente repetida.