Star Wars A Ameaça Fantasma

Título Original

Star Wars – Episode I: The Phantom Menace

Lançamento

19 de maio de 1999

Direção

George Lucas

Roteiro

George Lucas

Elenco

Liam Neeson, Ewan McGregor, Natalie Portman, Jake Lloyd, Ian McDiarmid, Kenny Baker, Pernilla August, Ray Park, Samuel L. Jackson, Keira Knightley e as vozes de Ahmed Best, Frank Oz e Anthony Daniels

Duração

133 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Rick McCallum

Distribuidor

Fox

Sinopse

Quando a maquiavélica Federação Comercial planeja invadir o pacífico planeta Naboo, o guerreiro Jedi Qui-Gon Jinn (Liam Neeson) e seu aprendiz Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) embarcam em uma aventura para tentar salvar o planeta. Viajam com eles a jovem Rainha Amidala (Natalie Portman), que é visada pela Federação pois querem forçá-la a assinar um tratado político. Eles têm de viajar para os distantes planetas Tatooine e Coruscant em uma desesperada tentativa de salvar o mundo de Darth Sidious (Ian McDiarmid), o demoníaco líder da Federação que sempre surge em imagens tridimensionais (a ameaça fantasma). Durante a viagem, Qui-Gon Jinn conhece um garoto de nove anos que deseja treiná-lo para ser tornar um Jedi, pois o menino tem todas as qualidades para isto. Mas o tempo revelará que nem sempre as coisas são o que aparentam.

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Star Wars – Episódio I: A Ameaça Fantasma | Crítica

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Construída com sabedoria e cuidado por George Lucas ao longo de três grandes filmes, a série Star Wars também teve seu potencial comercial explorado com inteligência pelo seu criador e demonstrou força para manter-se viva e inspiradora ao longo de décadas. Dito isso, é claro que a vinda de um novo exemplar da franquia 16 anos depois do último representa não apenas uma obra que atiçará o interesse coletivo, mas um evento a ser aguardado com euforia máxima. Assim, é no mínimo uma falta de respeito que Lucas tenha aproveitado o legado da fantástica trilogia que concebeu entre 1977 e 1983 para realizar um longa tedioso, tolo e preguiçoso como Star Wars – Episódio I: A Ameaça Fantasma, uma grande decepção em forma de blockbuster.

Situado 32 anos antes de Uma Nova Esperança, este prequel traz a Federação do Comércio realizando um bloqueio contra um planeta pacífico chamado Naboo. Mandados para negociar tal ação, o jovem Obi-Wan Kenobi e seu mestre Jedi Qui-Gon Jinn são tidos como invasores por um lorde Sith conhecido como Darth Sidious e são prontamente atacados por droids de batalha. Ao fugirem, os dois guerreiros conhecem Jar Jar Binks, um alienígena tagarela e pessimista, e salvam Padmé Amidala, a jovem rainha de Naboo. Em fuga novamente, os personagens e o androide R2-D2 vão parar no planeta Tatooine e são apresentados ao menino Anakin Skywalker, que vive como escravo ao lado da mãe. Com o passar do tempo, esta criança revela um potencial para ser o “escolhido” dos Jedi responsável por trazer equilíbrio à Força. Paralelamente, surge Darth Maul, um Sith enviado para capturar Amidala. Quantas frases curtas nesta sinopse, não? (E não, não se trata de um bom sinal.)

Como se pode constatar, este primeiro/quarto filme traz uma trama notavelmente politizada e um número considerável de subplots – a princípio, isto poderia soar como um elogio quando consideramos que os Episódios IVV VI traziam com sutileza alusões ao nazismo e ao mundo bipolar (Estados Unidos capitalista X União Soviética socialista) em meio ao escapismo puro. Infelizmente, o roteiro que George Lucas criou para A Ameaça Fantasma elabora um enredo fraco e confuso que acaba prejudicando o ritmo da narrativa e transformando o longa numa experiência profundamente entediante; e por mais que a trilogia clássica soubesse inserir pequenas referências ao contexto político da época ou de outros fatos históricos, tais características eram aplicadas pontualmente dentro de histórias narradas de maneira objetiva e que nunca se tornavam mais complexas que o necessário.

E é aí onde vive um dos grandes problemas de Episódio I (e do seu sucessor): imagine que você, leitor, tem cerca de dez anos de idade e se alegra imensamente com algum programa televisivo infantil quando subitamente vem um adulto, toma posse do controle remoto e encerra seu divertimento buscando um telejornal. Pois tal sensação não se difere tanto da que se tem assistindo a este primeiro prequel de Star Wars, já que, ao mesmo tempo em que há uma trama política desinteressante contada de forma problemática, existem constantes esforços por parte do roteiro em empregar à narrativa um tom lúdico que, no fim das contas, acabam se revelando prejudiciais ao ponto de romper a barreira que separa o “leve” do “infantiloide” – e se o maior defeito do ótimo O Retorno de Jedi era a infantilização promovida por características como os Ewoks, espere só até ser submetido a uma criança chatíssima que grita “yupiii!” por qualquer motivo e ser apresentado ao inaceitável Jar Jar Binks.

Trazendo uma vasta galeria de personagens aborrecidos e genéricos, A Ameaça Fantasma é incapaz de encontrar um protagonista envolvente ou mesmo um antagonista impactante: o icônico Obi-Wan Kenobi é reduzido a uma figura bidimensional e que pouco tem a fazer na trama; Natalie Portman é confinada a um papel raso que impede a (ótima) atriz de oferecer uma performance que vá além do inexpressivo; e Darth Maul, por mais memorável que seja visualmente (quem não gostaria de ter um action figure do vilão enfeitando a estante?), entra mudo e sai calado, não conta com um arco dramático e, como consequência, jamais soa realmente ameaçador. O único que se salva parcialmente é o mestre Qui-Gon Jinn, que é encarnado com convicção por um Liam Neeson tão bondoso e sábio quanto imponente (eu diria, inclusive, que é uma retratação perfeita do que pode ser um Jedi) – embora seja necessário dizer que, em essência, trata-se apenas de mais um personagem unidimensional e descartável, sendo um caso onde o desempenho do ator é inversamente proporcional a uma concepção medíocre feita pelo roteiro.

Por outro lado, George Lucas também fracassa na apresentação dos guerreiros Jedi, que não fazem absolutamente nada além de… conversar sentados. Aliás, é de se lamentar que um ator como Samuel L. Jackson seja escalado para viver um personagem insignificante, genérico e esquecível como Mace Windu, ao passo que o célebre mestre Yoda é igualmente desperdiçado – e por que diabos o fantoche usado para criá-lo é de pior qualidade que aquele visto em O Império Contra-Ataca O Retorno de Jedi?! (Este erro foi solenemente corrigido por Lucas nos dois filmes seguintes e numa versão remasterizada lançada em 2011, onde a precária marionete foi substituída por um modelo digital.) Contudo, a grande decepção fica por conta do pequeno e insuportável Anakin Skywalker (vulgo Darth Vader), que é vivido por um dos piores atores mirins que já vi na vida: Jake Lloyd. Afinal, se foi dito na trilogia clássica que Anakin Skywalker era um “grande piloto“, mas o mesmo é apresentado aqui como uma criança aparentemente indefesa, qual a solução para tal problema? Investir aproximadamente meia hora de projeção numa corrida de pods que jamais deixa de soar desnecessária ou deslocada. E o que dizer do “glorioso” Jar Jar Binks, um dos piores e mais embaraçosos alívios cômicos já criados na cultura pop? É evidente que se trata apenas de um exibicionismo técnico (como se Lucas dissesse: “Ei, vejam só nosso personagem criado inteiramente em computação gráfica!”) e de um método de tornar a obra ainda mais acessível ao público infantil – como se já não fosse o bastante.

É verdade que Episódio I não é marcado apenas pelas suas tantas falhas: dando continuidade à riqueza conceitual dos cenários vistos na trilogia clássica, o design de produção chega a deslumbrar, criando arquiteturas fascinantes como aquelas que caracterizam Naboo, Coruscant e a cidade subaquática de Otoh Gunga – embora os efeitos digitais pequem por serem excessivos e tenham envelhecido muito mal (especialmente os chroma keys vergonhosos). E embora as sequências de ação sejam comandadas de maneira burocrática na maior parte do tempo, é preciso destacar que o embate de Qui-Gon e Obi-Wan contra Darth Maul é inquestionavelmente atraente e bem coreografado, da mesma forma como a introdução do longa funciona por evocar de imediato uma nostalgia forte que obviamente provém da trilogia clássica. No entanto, se há algo que realmente se salva em A Ameaça Fantasma é a trilha sonora do genial John Williams, que demonstra brilhantismo ao desconstruir as composições que havia feito para os três filmes anteriores e ainda presenteia o público com uma das melhores músicas já criadas para a saga: a magistral e emblemática faixa “Duel of the Fates“, reproduzida durante o clímax do filme.

Infelizmente, estas qualidades ocasionais são insuficientes para salvar o longa: cometendo de maneira desastrosa um erro recorrente em prequels, este quarto/primeiro Star Wars irrita ao inventar explicações demais e, pior, apresentar diversos erros de lógica com relação à trilogia original; e a escala dos furos de roteiro é tristemente diversificada, envolvendo desde detalhes insignificantes à primeira vista até inconsistências grosseiras. Qual a necessidade de afirmar que a Força não é algo ímpar, mas sim que ela pode ser encontrada com maior facilidade visto que todos possuem formas de vida inteligente chamadas midichlorians dentro de suas células? E daí que C-3PO foi construído e programado por Anakin? Que conveniente! Sério que havia um capacete do tamanho da cabeça de uma criança dentro de uma nave preparado para ser usado por Anakin? Sério mesmo? Por que raios Qui-Gon é mentor de Obi-Wan se este último deixou bem claro em O Império Contra-Ataca que havia sido treinado por Yoda (e não, a cena de Episódio II: Ataque dos Clones que traz o pequeno personagem verde como mestre de pequenos padawans – os alunos dos Jedi – não justifica absolutamente nada)?! E afinal, o que é a tal “ameaça fantasma” que dá título ao filme?

Abalado ainda por uma série interminável de tentativas de humor constrangedoras e diálogos pavorosos de tão artificiais, Episódio I é, sem dúvida alguma, o pior exemplar da franquia e serve apenas como um exercício de exibicionismo tecnológico dos mais enfadonhos. Se as fantasias de Star Wars existissem na realidade, eu certamente diria que George Lucas era um Jedi virtuoso cuja ganância o conduziu ao lado negro da Força – e, como admirador de seus melhores trabalhos, torço para que retorne ao lado luminoso assim que for possível.

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