Star Wars Uma Nova Esperança

Título Original

Star Wars – Episode IV: A New Hope

Lançamento

25 de maio de 1977

Direção

George Lucas

Roteiro

George Lucas

Elenco

Mark Hamill, Alec Guinness, Carrie Fisher, Harrison Ford, Anthony Daniels, Kenny Baker, Peter Mayhew, Peter Cushing, David Prowse e a voz de James Earl Jones

Duração

121 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Gary Kurtz

Distribuidor

Fox

Sinopse

Luke Skywalker (Mark Hammil) sonha ir para a Academia como seus amigos, mas se vê envolvido em uma guerra intergalática quando seu tio compra dois robôs e com eles encontra uma mensagem da princesa Leia Organa (Carrie Fisher) para o jedi Obi-Wan Kenobi (Alec Guiness) sobre os planos da construção da Estrela da Morte, uma gigantesca estação espacial com capacidade para destruir um planeta. Luke então se junta aos cavaleiros jedi e a Hans Solo (Harrison Ford), um mercenário, para tentar destruir esta terrível ameaça ao lado dos membros da resistência.

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Star Wars – Episódio IV: Uma Nova Esperança | Crítica

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George Lucas contava somente com dois longas no currículo (THX 1138 American Graffiti) quando decidiu roteirizar e dirigir uma aventura espacial no estilo de Flash Gordon inspirada ainda na literatura de O Senhor dos Anéis e Joseph Campbell (conhecido pela famosa “Jornada do Herói”), em clássicos do Cinema como MetrópolisA Fortaleza Escondida e 2001: Uma Odisseia no Espaço e até em gêneros específicos como o western e filmes de samurai (como bem mostra a referência à obra de Akira Kurosawa entre os títulos citados anteriormente). A 20th Century Fox não confiou no projetou e até tentou vender os direitos para um estúdio da Alemanha Ocidental, mas não conseguiu e o filme ainda ganhou força comercialmente graças aos esforços do supervisor de publicidade Charles Lippincott até que, em 25 de maio de 1977, chegava aos cinemas Guerra nas Estrelas – que em 1981 viria a ser rebatizado como Star Wars – Episódio IV: Uma Nova Esperança.

O resultado foi algo inesperado: o longa foi amplamente elogiado pela crítica especializada e os números arrecadados nas bilheterias foram os maiores da História do Cinema até serem ultrapassados por E.T.: O Extraterrestre, que veio cinco anos depois. A película, tão desacreditada por seu próprio estúdio, rendeu frutos positivos ao ponto de gerarem mais duas continuações, três prequels (ou prelúdios), séries animadas, games, livros, quadrinhos, outros longas-metragens (como Caravana da Coragem, sua continuação e o longa animado e Star Wars: The Clone Wars) e até mesmo um embaraçoso especial de Natal. Um belo legado para um projeto que poderia ter representado um enorme fracasso – tanto que, hoje, Star Wars é a franquia originada no Cinema que mais fez sucesso comercial (considerando, é claro, que Harry PotterJames BondO Senhor dos Anéis e os filmes da Marvel foram criações vindas da Literatura e HQs).

O filme tem início com o temível Império Galáctico aprisionando a princesa Leia, líder da resistência rebelde que carrega informações a respeito da Estrela da Morte, a base dos antagonistas. Tais planos são passados aos androides C-3PO e R2-D2, que escapam do Império e do ameaçador Darth Vader, mas são perseguidos pelos mesmos logo em seguida. Assim, os dois vão parar no planeta Tatooine e se tornam criados dos tios do Luke Skywalker, um jovem bondoso e que sonha em fugir da monotonia de sua vida. Com isso, os dois androides revelam uma mensagem holográfica onde Leia pede para ser salva por um misterioso Obi-Wan Kenobi, que posteriormente salva as vidas de Luke, C-3PO e R2 e se revela um sobrevivente dos Jedi – uma antiga ordem de cavaleiros que lutavam pela paz e segurança que dominavam o lado claro (leia-se: positivo) de uma energia sobrenatural conhecida como a Força e eram oponentes dos Sith, que faziam uso do lado negro (leia-se: negativo) do mesmo poder. No entanto, depois que os tios de Skywalker são assassinados pelos stormtroopers (os soldados imperiais), o jovem decide se unir a Obi-Wan, aos dois androides, ao contrabandista Han Solo e a seu parceiro wookie Chewbacca para resgatar Leia e derrotar o Império Galáctico.

Se inspirando assumidamente em A Fortaleza Escondida, de Kurosawa, ao narrar a trama principal a partir do ponto de vista de dois coadjuvantes, George Lucas merece aplausos pela criatividade com a qual concebe um universo rico em planetas, raças, conglomerados, crenças e estilos de vida – algo que certamente orgulharia J.R.R. Tolkien. É fascinante, por exemplo, contemplar os inúmeros seres distintos que habitam Mos Eisley e que vão desde saxofonistas visualmente… digamos, intrigantes até caçadores de recompensas esverdeados que se comunicam através de grunhidos, passando por sujeitos com chifres e indivíduos que aparentam ter deformações físicas (e que possivelmente devem ser apenas parte da natureza dos mesmos). Da mesma forma, é de se admirar como longa encontra recursos intrigantes para estabelecer suas ideias com clareza e objetividade, chegando a inserir um texto durante os primeiros minutos (antes de dar início à narrativa em si) sem necessariamente menosprezar a inteligência do espectador, já que tais escritos servem apenas para contextualizar com rapidez alguns dados fundamentais e, por fim, permitir que o longa se inicie; um recurso que veio a se tornar marca registrada da saga.

Por isso, o design de produção assinado por John Barry é essencial ao acrescentar características que definem as identidades dos ambientes, como os dois sóis de Tatooine; e o banho de criatividade é ainda mais perceptível quando percebemos que Mos Eisley é claramente influenciada por locações de faroestes e que tudo aquilo referente ao Império remete visualmente aos nazistas. Ainda assim, poucos aspectos técnicos de Guerra nas Estrelas se equiparam à inesquecível e emblemática trilha sonora do magistral John Williams, que, além de pontuar brilhantemente cada passagem da narrativa (dos momentos dramáticos aos alegres, passando pelos tensos e eufóricos) sem apelar para a obviedade, traz composições absolutamente espetaculares e memoráveis como aquela presente na cena final e, é claro, o icônico tema que acompanha a abertura. Como se não bastasse, Uma Nova Esperança ainda conta com efeitos visuais revolucionários e importantíssimos para a evolução dos blockbusters sob os aspectos técnicos – e que ainda hoje funcionam relativamente bem (considerando que se trata de um filme realizado há quase 40 anos) e dispensam qualquer adição lastimável de computação gráfica feita por uma certa “versão remasterizada” que o senhor George Lucas lançou em 1997.

Contudo, Star Wars também tem sua importância histórica por sua abordagem assumidamente escapista: vindo numa época onde os Estados Unidos se encontravam entristecidos (com fatores que incluíam a Guerra do Vietnã e o escândalo de Watergate) e os sucessos comerciais eram obras pesadas como Taxi Driver Apocalypse Now, o longa exibia suas raízes pulp (como Flash Gordon) ao resgatar de maneira inquestionável o entretenimento puro e descompromissado. Trata-se de uma aventura cujo propósito principal é divertir e despertar boas sensações no espectador para levá-lo a ser feliz dentro da sala de cinema por duas horas sem pensar nos problemas da vida e do mundo. Como consequência, Episódio IV se torna um filme profundamente agradável e que vem envelhecendo bem por contar com uma energia de dar inveja à maioria dos blockbusters da atualidade; e chega a impressionar como, mesmo depois de 38 anos, o longa ainda represente uma experiência tão contagiante e traga um ritmo notavelmente eficiente (algo potencializado pela montagem ágil).

Boa parte da intensidade de Uma Nova Esperança reside no carisma de seus personagens fabulosos: Luke Skywalker é um sujeito adoravelmente gentil e altruísta (e vê-lo brincando com uma nave espacial é algo particularmente interessante por ressaltar uma índole infanto-juvenil no indivíduo), ao passo que Mark Hamill é certeiro ao incluir um ar de inocência em sua performance para retratar a inexperiência e o altruísmo do herói – sem contar que sua trajetória segue de perto os passos da “Jornada do Herói”, criada por Joseph Campbell, o que não deixa de ser interessantíssimo. Paralelamente, Alec Guinness é igualmente eficaz na composição de um Obi-Wan sereno e sábio que convence como uma figura conhecedora e, de certa forma, remete até mesmo ao mago Gandalf, ao mesmo tempo em que Harrison Ford aparenta ter sido a escolha certa para viver o descontraído e sarcástico Han Solo, dono de um egoísmo e temperamento difícil absolutamente agradáveis – sem contar que sua caracterização estética (relativa às roupas, às armas e até mesmo à performance física do ator) e comportamental merece pontos por se basear nitidamente em pistoleiros durões típicos de faroestes.

Por sua vez, Carrie Fisher é igualmente bem sucedida ao compor a princesa Leia como uma personagem que, por mais que necessite de auxílio dos homens (algo relativo às questões comerciais da época, já que o sexo feminino era visto como frágil e protagonistas machos salvando mulheres indefesas parecia ser algo mais seguro do ponto de vista publicitário – e ainda hoje é, tristemente), ainda possui força suficiente para transformá-la numa “mocinha a ser salva” diferente do padrão; e é intrigante vê-la demonstrando uma habilidade até maior que a de Han Solo quando os heróis estão tentando escapar da Estrela da Morte. Marcando presença como alívios cômicos geniais, C-3PO e R2-D2 contam com uma química ímpar que funciona pelo fato de que apenas estes dois androides se entendem completamente, o que resulta num humor objetivo e inteligente que se torna ainda mais efetivo graças ao trabalho corporal e vocal de Anthony Daniels e pelos movimentos sempre ideais executados por Kenny Baker – além de serem auxiliados pelos designs criativos: um inspirado no corpo cibernético da Maria de Metrópolis e outro similar a… uma lata de lixo. De forma semelhante, Peter Mayhew se sai fantasticamente bem como o adorável Chewbacca, cuja lealdade e companheirismo são tão graciosas quanto os grunhidos que o personagem usa para se expressar.

Mas é claro que não haveria como deixar de destacar o icônico Darth Vader: agraciado por uma performance física impecável de David Prowse, o antagonista é visualmente imponente e ameaçador, uma característica que o diretor George Lucas exercita constantemente ao empregar enquadramentos que favorecem a grandiosidade do personagem (como aquele que o traz segurando um soldado rebelde pelo pescoço, demonstrando como é bem mais alto). Como se não bastasse, os sons incessantes efetuados por sua respiração problemática tendem a enfatizar a presença de Vader tornando-o ainda mais chamativo, além de acrescentarem certa imprevisibilidade às ações do personagem. E se o uniforme preto trajado pelo Sith é imaginativo ao ponto de representar uma das criações estéticas mais marcantes da História do Cinema, o trabalho da voz grave de James Earl Jones impressiona por potencializar consideravelmente a imponência do antagonista e torná-lo um ser ainda mais temeroso.

Contudo, é George Lucas quem merece créditos (ao menos, neste filme e em outros momentos da franquia) por idealizar imagens instigantes e que servem como maneira de contar ou ao menos ilustrar parte da narrativa; e é incrível perceber, por exemplo, como o primeiro plano do longa é capaz de resumi-lo inteiro ao trazer uma nave dos rebeldes fugindo de um Star Destroyer do Império. Sabendo unir o escapismo puro com algumas alusões curiosas à época em que foi produzido (existem semelhanças com a questão do mundo bipolar – Estados Unidos capitalista contra a União Soviética socialista – e algumas similaridades entre os vilões e os nazistas), Star Wars – Episódio IV: Uma Nova Esperança é uma aventura inovadora e relevante cujo sucesso se deve não apenas aos efeitos visuais magníficos ou à interação inigualável entre os personagens, mas também à nobreza com a qual diverte e empolga mesmo após 38 anos.

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