Star Wars O Despertar da Força

Título Original

Star Wars – Episode VII: The Force Awakens

Lançamento

17 de dezembro de 2015

Direção

J.J. Abrams

Roteiro

J.J. Abrams, Lawrence Kasdan e Michael Arndt

Elenco

Daisy Ridley, John Boyega, Oscar Isaac, Harrison Ford, Adam Driver, Carrie Fisher, Lupita Nyong’o, Domhnall Gleeson, Anthony Daniels, Kenny Baker, Peter Mayhew, Andy Serkis, Max von Sydow, Tim Rose e Mark Hamill

Duração

136 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

J.J. Abrams, Kathleen Kennedy e Bryan Burk

Distribuidor

Disney

Sinopse

Décadas após a queda de Darth Vader e do Império, surge uma nova ameaça: a Primeira Ordem, uma organização sombria que busca minar o poder da República e que tem Kylo Ren (Adam Driver), o General Hux (Domhnall Gleeson) e o Líder Supremo Snoke (Andy Serkis) como principais expoentes. Eles conseguem capturar Poe Dameron (Oscar Isaac), um dos principais pilotos da Resistência, que antes de ser preso envia através do pequeno robô BB-8 o mapa de onde vive o mitológico Luke Skywalker (Mark Hamill). Ao fugir pelo deserto, BB-8 encontra a jovem Rey (Daisy Ridley), que vive sozinha catando destroços de naves antigas. Paralelamente, Poe recebe a ajuda de Finn (John Boyega), um stormtrooper que decide abandonar o posto repentinamente. Juntos, eles escapam do domínio da Primeira Ordem.

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Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força | Crítica

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Há uma diferença clara entre George Lucas e J.J. Abrams: enquanto um deu origem a Star Wars, um dos maiores fenômenos que a cultura popular vivenciou nas últimas quatro décadas, mas se sabotou ao explorar demasiadamente o potencial comercial de sua criação (vide as dispensáveis versões remasterizadas dos Episódios IVV e VI, o lançamento da animação The Clone Wars nos cinemas e, é claro, os decepcionantes Episódios I e II), outro é assumidamente fanático pela revolução causada por Uma Nova EsperançaO Império Contra-Ataca O Retorno de Jedi. E assim como fez em 2009 com o ótimo Star Trek, o cineasta transforma Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força numa experiência fabulosa e emocionalmente recompensadora para todos os públicos, enaltecendo o passado com a mesma habilidade que encara o presente e o futuro.

Escrito pelo próprio J.J. Abrams junto a Michael Arndt e Lawrence Kasdan (este último vem de O Império Contra-AtacaO Retorno de Jedi e Os Caçadores da Arca Perdida), este sétimo Star Wars é ambientado 30 anos após os eventos vistos no Episódio VI e se inicia retratando as ações da Primeira Ordem, uma ameaça visivelmente inspirada no Império Galáctico. Visando a destruição de Luke Skywalker, cuja localização é conhecida somente pelo androide esférico BB-8, os vilões liderados por Kylo Ren e pelo misterioso Líder Supremo Snoke se envolvem numa perseguição contra a jovem catadora Rey, o stormtrooper desertor Finn e o piloto Poe Dameron (dono do androide). Para garantir que o mapa que leva até o exílio de Luke não será adquirido pela Primeira Ordem, os três novos personagens terão que se aliar a figuras do passado da franquia, como Han Solo, Chewbacca, Leia Organa (que agora é general da Resistência), C-3PO e R2-D2; o que não é spoiler, pois trata-se de uma informação contida nos trailers e no pôster.

É verdade que a trama de O Despertar da Força reproduz claramente a estrutura de Uma Nova Esperança, da mesma forma como a dinâmica entre Darth Vader e Imperador (vista em O Império Contra-Ataca) influencia nitidamente a comunicação entre Kylo Ren e seu líder – e como se não bastasse, há (sem spoilers!) uma sequência de sonhos no segundo ato da película que me lembrou a alucinação de Luke dentro da caverna no sistema em que vive Yoda. Além disso, a produção segue de perto algumas tradições estilísticas da série, abrindo a projeção com um texto explicativo embalado pelo magistral tema composto por John Williams, preservando frases como “Eu tenho um mau pressentimento sobre isso“, trazendo interações consideravelmente familiares entre os personagens (se apoiando em arquétipos clássicos) e ainda aplicando na montagem aquelas transições que cruzam a tela ou se abrem ou fecham num ponto específico do plano. Ainda assim, me sinto na obrigação de dizer que a trilha incidental do mítico John Williams não é das mais inspiradas – e embora eu tenha saído da exibição de Episódio VII cantarolando algumas de suas composições instrumentais, nenhuma havia sido criada para este filme em especial, mas sim para seus antecessores.

Hábil ao apresentar os personagens e a situação atual da galáxia de maneira objetiva e econômica (notem, por exemplo, como o diretor não necessita de diálogos ou mais que 5 minutos para exemplificar o desconforto de Finn diante de sua vida como stormtrooper), J.J. Abrams brilha ao compor tomadas longas e fascinantes que enfocam batalhas de naves e confrontos menores. Da mesma forma, a associação entre o cineasta e o diretor de fotografia Daniel Mindel (colaborador habitual de Abrams) dá origem a imagens irresistíveis, como aquela que traz três tie fighters voando à frente do pôr do sol e, é claro, o instante que vem logo após a abertura, quando a sombra de uma nave colossal dos vilões sobrepõe a luminosidade de um planeta. Paralelamente, o design de produção é digno de nota ao trazer numerosas naves do Império soterradas nas locações de Jakku para indicar (novamente: com economia) como a memória dos antagonistas dos Episódios IVV e VI ainda permanece recente na História da galáxia e é difícil de ser inteiramente superada. E se os prequels pecavam pelo uso excessivo de uma computação gráfica arcaica, O Despertar da Força compartilha uma característica em comum com Mad Max: Estrada da Fúria ao alcançar resultados esteticamente magníficos privilegiando efeitos práticos, cenários construídos à mão e ação realizada no set de filmagens (e é por isso, inclusive, que aqui e ali surgem efeitos cuja natureza digital é levemente incômoda, como aqueles utilizados para conceber Snoke).

Mergulhando em diálogos quase metalinguísticos, O Despertar da Força trata os eventos vistos nos Episódios IVV e VI como lendas, histórias que há muito aconteceram e que muitos não conseguem acreditar que sejam verdadeiras. Assim, tal decisão se mostra acertadíssima ao fazer com que Rey, Finn e Poe representem o público que não conhece a saga Star Wars – o que é resultado de um cuidado digno de aplausos por parte do roteiro e do próprio Abrams. Inteligente ao trazer de volta os velhos personagens/itens da franquia de forma orgânica e sem apelar para introduções elaboradas demais (o que potencializa o impacto de reencontrar tais personalidades/objetos, já que aparecem nos momentos menos esperados), Episódio VII encanta pela nostalgia: Carrie Fisher aparenta se emocionar ao retornar à pele de Leia; C-3PO continua com o senso de humor afiado que o consagrou como um alívio cômico excepcional; R2-D2 aparece menos, mas surge em tela o suficiente para reconquistar a empatia do espectador; e Harrison Ford se diverte imensamente ao reviver Han Solo, que desta vez ganha contornos que o transformam numa versão descontraída e carismática de Obi-Wan Kenobi.

Admirável ao trazer minorias como personagens centrais (uma mulher, um negro e um latino) e tratar tal decisão com a devida naturalidade, Episódio VII traz uma protagonista feminina complexa e interessante que conta com uma jornada atraente e é correspondida com uma interpretação exemplar da novata Daisy Ridley, ao passo que John Boyega é dono de um timing cômico invejável ao viver o carismático Finn. BB-8, por sua vez, contém uma fisicalidade que falta aos androides dos prequels e consegue transmitir uma vivacidade extraordinária apenas movimentando sua cabeça (o que, sejamos sinceros, é um mérito e tanto!). E se Capitã Phasma é mais um deslumbre estético do que uma personagem intrigante (sim, isto é um problema), o piloto Poe Dameron é capaz de ganhar a empatia do público em apenas alguns minutos de filme (o que também é mérito do sempre ótimo Oscar Isaac). Enquanto isso, Maz Kanata também agrada pelo seu conceito que, de certa forma, remete à aura professoral de Yoda – embora seja impossível esquecer que se trata de uma criação digital (feita com base nos movimentos de Lupita Nyong’o). Já Kylo Ren surpreende por trilhar um caminho inverso ao de Darth Vader: enquanto um era seduzido pelo lado negro da Força, o outro luta para rejeitar o lado claro (e o fascínio que o novo vilão tem pelo antagonista da trilogia original – representado nas vestimentas sombrias e na modulação da voz – corrobora para torná-lo ainda mais verossímil, mas não menos ameaçador).

Ao mesmo tempo, o vilão chama a atenção por ser vulnerável e frágil – e ao cometer aquilo, é perceptível como o antagonista se encontra dividido ao executar tal atitude e como sofre na prática de tal ato; e Adam Driver surpreende ao retratar essa dor interna com exatidão. Por sua vez, J.J. Abrams evidencia sua competência ao dividir o rosto de Kylo Ren com as cores azul e vermelho durante a cena, banhando seu rosto com a luz vermelha na conclusão (que, por sinal, ocorre numa ponte, assim como outro encontro entre pai e filho: aquele do Episódio V). As cores também são fundamentais quando Rey é banhada por luz azul ao aceitar o lado dos Jedi durante a luta contra o vilão, provando novamente a sabedoria e minúcia de Abrams – que também se aplica, como bem apontou um amigo meu, a simbolismos que envolvem a manutenção da confiança (percebam que o raio da base Starkiller é carregado consumindo luz solar – ou seja: enquanto houver luz, há esperança). Por outro lado, há um momento que traz o general Hux discursando para inúmeros stormtroopers que apela para a obviedade quando faz alusões ao nazismo; mas trata-se de um pecado que merece absolvição diante da emocionante cena que vem logo em seguida.

Contudo, uma das virtudes mais surpreendentes de O Despertar da Força consiste em seu senso de humor: se afastando dos alívios cômicos tolos e sem imaginação dos Episódios III e III, este sétimo capítulo agrada com diálogos divertidos (“Usaremos a Força!“, diz Finn, no que é respondido por Han Solo com “Não é assim que a Força funciona!“) e imagens hilárias, como aquela que traz BB-8 usando seus mecanismos para emular um sinal de positivo feito com o polegar. Como se não bastasse, J.J. Abrams constrói o humor de maneira surpreendente – como exemplo, cito o momento onde a querida Millennium Falcon é apresentada (quem viu sabe como é a cena): se tal instante fosse comandado por um cineasta menos cuidadoso em relação à comédia (como George Lucas ao dirigir A Ameaça Fantasma), provavelmente a icônica nave de Han Solo e Chewbacca surgiria em tela durante o diálogo entre Rey e Finn, desperdiçando a graça e força de tal situação; mas o fato de aparecer depois se mostra fundamental ao pegar o espectador de surpresa.

E mais: se o Episódio V levava o espectador a um desejo incontrolável de assistir ao filme seguinte, O Despertar da Força também se revela capaz de deixar pontas soltas no intuito de criar no público o interesse em aguardar ansiosamente os próximos capítulos da saga. Empolgante a ponto de fazer com que o espectador torça para que a duração da película se alongue apenas para aproveitar a experiência por mais tempo (o que sempre é um ótimo sinal), Episódio VII é um belo exemplo de como encantar os fãs de longa data de uma saga e, ao mesmo tempo, demonstrar ter potencial para angariar uma nova geração de admiradores.

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